quinta-feira, fevereiro 28, 2008

O drama do artísta...

Engraçado, não é só no aspecto físico, mas um disparo tem mais eficácia com a proximidade do alvo. O projétil em questão pode ser uma palavra de conteúdo agradável ou não. Os elogios tanto trazem o beneficio do incentivo, como causam danos trazendo arrogância. Mas é tudo uma questão de bom senso, humildade, é só aceitar a realidade, que não existe nenhum ser humano melhor do que o outro. Vamos nos concentrar na crítica, no julgamento, o projétil que é atirado com a intensão de ferir ou matar.
Todo mundo está sujeito a esta saraivada de balas de todo tipo de pessoa, inclusive dos amigos e familiares. Algumas destas palavras que ferem podem ter uma boa intenção, de mostrar o erro, tentar corrigir, alertar, mas a maioria das vezes é feito de uma maneira errada, que causa muito mais dano do que benefício. Quem não passou por isso pelo menos uma vez na vida? Pior é quando nós ficamos sabendo de coisas por terceiros. Pessoas que convivemos por longos períodos de nossas vidas e criamos laços preciosos de amizade e respeito que por sua vez dizem até o grau de consideração(se não são nossos familiares, dizem que nos consideram como se fossemos). Mas aí você vira as costas e vai passear, o tempo passa e é atingido, pois o projétil tinha um alvo(eu ou você). Como não vímos a pessoa próxima mirar em nós e disparar, não esperamos ser atingidos, é como se a pessoa fosse um ás do gatilho e atirou para o ar ou direção oposta calculando friamente que a bala ricocheteie e enfim acerte seu alvo(eu ou você). Mas como no aspecto físico existe a condição de identificar de onde veio o disparo e qual foi a arma através de um exame de balística, podemos identificar os projéteis verbais que nos atingem, mais cedo ou mais tarde. Mas o que isso tudo tem a ver com o título deste post? Agora eu concluo.
Nesta sociedade corrompida pelos valores materiais em que nós vivemos, o verdadeiro artísta é um dos mais atingidos, como se tivesse um grande alvo pintado nas costas. A maioria das vezes é incompreendido pela sociedade, inclusive por familiares e amigos. A criação artística depende de 90% de esforço e 10% de inspiração, o artísta está em constante trabalho e estudo para aperfeiçoar sua arte. Mas a maioria das pessoas não consegue enxergar isso, pois elas acham que trabalhar é apenas acordar cedo bater o cartão no emprego e voltar para casa exausto e orgulhoso de sua jornada de trabalho. E a esmagadora maioria das pessoas que julga injustamente o artísta vive uma vida infeliz, mesmo dizendo que são gratas aos seus empregos e rotinas, mas sempre estão reclamando da vida, das pessoas, dos fatos, do governo, do mundo... Que frustrante não? " I believe in the power of love..."(Dee-Lite). O verdadeiro artísta vive em função do amor, mesmo que seja uma vida de restrições, sim, o artísta muitas vezes tem uma vida material restrita, não pode ter uma tv de plasma e canais pagos, um celular multifuncional, jantar fora, um carro, roupas novas, etc. Mas viver bem é comprar coisas e pagar as contas? Matar os sonhos é evoluir, amadurecer? Para mim como artísta, isso é a morte. Eu escolhí como artísta uma vida mais restrita em bens materiais, mas sou feliz, não há nada que pague isso. Meus sonhos estão vivos em mim, e alguns deles se realizaram, com a graça de Deus. Jesus disse ao diabo(podem ser as tentações também) que não é só de pão(coisas materiais) que vive o homem mas sim da palavra que vem de Deus, e a principal delas é o AMOR! E como um pastor disse que podemos nos comparar a um pequeno rio que vai em direção ao mar(Deus), recebemos pedradas que fortalecem o leito do rio, recebemos esgoto que acaba adubando ao nosso redor e gerando vida, damos de beber a todo tipo de forma de vida que mostra como devemos ser generosos. E tudo isso não impede que o rio alcance o mar.

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Fugazi...

Lembro-me do ano de 1987, quando tive contato com o Minor Threat, a compilação da Dischord, Teen Idles, Rites Of Spring, etc. Depois o Fugazi... Mas para mim, numa opinião particular, não houve uma epifania, fosse musical ou política, pois eu tive exemplos de outros lugares, outras pessoas. Não é de maneira alguma uma questão de desvalorização do nosso amigo que já dizia "We're not the first, i hope we're not the last..." Mas é claro, que bom que o Fugazi desencadeou mudanças em muitas pessoas, que tenha ampliado horizontes. Mas também seria proveitoso após esta reação desencadeada por MacKaye e seus amigos, analisar os princípios disso tudo, que as coisas não brotam do nada, é a continuação de algo que teve um início anterior. Sim, é natural cada um eleger o seu preferido, mas é muito proveitoso também pesquisar e descobrir as origens, as fontes. Isso inevitavelmente soma, desmitifica, abre o entendimento e de forma alguma vai desvalorizar o que gostamos, a não ser que a obra não tenha sua forma própria, sua personalidade e sinceridade. Eu já fui questionado por não me empolgar tanto com o Fugazi e também já ouví gente dizer que não se empolgou com John Coltrane. Mas por exemplo, se o Minutemen e fIREHOSE(bandas que Mike Watt participou) causaram epifania em alguém, é porque John Coltrane causou epifania em Watt. Não, não precisa gostar tanto de Trane ou mais que as bandas de Watt, mas fica muito mais claro entender porque o Minutemen, fIREHOSE ou a música de Mike Watt, George Hurley, D. Boon, Ed Crawford causaram efeito. Por sua vez, é muito proveitoso conhecer Sydney Bechet, Steve Lacy, Sonny Rollins, Dexter Gordon, Charlie Parker, Coleman Hawkins, Ben Webster, Lester Young, Ornette Coleman, Albert Ayler para entender John Coltrane. Enfim, não é mistério, não é novidade, a música está interligada, muito mais próxima do que a estética mostra. Se a culinária chinesa tem mais de 3000 pratos diferentes, porque ficar só no Chop Suey, Frango Xadrez e Rolinho Primavera? Sashimi? Tem mais de 50 tipos, não é só atum e salmão!

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Limites ou limitações da erudição artística

Neste post o ponto de vista é particular, não é de maneira alguma uma verdade absoluta, a não ser para mim mesmo. Talvez um ou outro concorde, enfim, é apenas um blog.
Foi exatamente em 1982 que iniciei minha jornada musical de modo mais focado, comprando um disco dos Beatles (Hey Jude, aquele com quase todos barbudos em frente à uma porta. Não sei porque escolhí este) aos 9 anos de idade. Quando era criança, gostava de tudo um pouco e no meio disso tudo, veio o HipHop, o breakdance. Mas também pelos mais velhos do bairro, tive contato com o Heavy Metal que me colocou definitivamente no caminho da música como instrumentista, porque as aulas de violão erudito não eram lá muito empolgantes para mim. O universo metaleiro quase me deixou alienado ao restante da música mas fui salvo pelo meu apego ao que sempre gostei desde pequeno. Depois veio o Punk, Hardcore, tudo misturado, nunca deixei de gostar de música "pop" mesmo em tempos de headbanger (claro que tinha que negar isso em frente aos colegas do metal, nossa, era muita rigidez para um garoto essas condutas de grupo que parecem seitas). Paralelamente sempre gostei de desenhar, isso veio até bem antes do interesse musical mais específico, fiz cursos de desenho e pintura, até chegar à faculdade. Já na música, desenvolví um descrédito aos métodos de ensino musical e os evitei (até tentei a ULM). Depois daqueles tempos iniciais em que praticava violão erudito, depois melodias e contrapontos no Metal e coisas mais simples no Hardcore, o rítmo no Funk e derivados, veio a bateria com a libertação dentro do rock (Mitch Mitchell me inspirou muito), depois a fundamentação no dito Jazz, com Max Roach, Billy Higgins entre muitos, até a libertação total com Sunny Murray e Milford Graves. A bateria levei bem a sério, pesquisei sua origem, dos tambores africanos, as caixas medievais com esteira de tripa de animal, Baby Dodds, Sonny Greer até os dias de hoje. Depois veio o clarinete-baixo, pois o som que Eric Dolphy fazia me fascinou. Mais familiarizado com o instrumento, notei que estava presente nos desenhos animados de minha infância.
Estudo: significa pesquisar, praticar exercícios para dominar os intrumentos, tocar com outras pessoas e finalmente a chamada performance ao vivo. A bateria e o clarinete não dispus de aulas com professor (só tive 2 aulas de bateria e infelizmente não me acrescentou nada, sem desmerecer o mestre, simplesmente me passou exercícios que já praticava sozinho), e continuo os meus estudos.
Morton Feldman, Roman Haubenstock-Ramati, Lourié, Mossolov, Protopopov, Roslavetz, Lou Harrison, Cornelius Cardew, Xenakis, Arnold Schönberg, John Cage, Pierre Boulez, Anthony Braxton, Peter Brötzmann, Duke Ellington, Charlie Parker, Ramones, Iron Maiden, Devo, Run DMC, Sun Ra, Sonic Youth, Circle Jerks, The Sisters Of Mercy, Metallica, Mudhoney, etc e etc., tudo tem seu valor, mas não precisa conhecer tudo. Nas artes visuais: Pollock, Renoir, Basquiat, Rothko, Rammelzee, cinema: Bergman, Zemeckis, Lucas, Kitano, Miyazaki, Otomo, Morimoto, Fellini, Von Trier, Almodovar, Lynch, etc e etc. Joyce, Burroughs, Andrade, Camões, Barreto, Lessa, Thompson, Tolkien, etc e etc. Nossa! quantos nomes!
Na arte, quando se opta por ser artísta, é sempre bom conhecer a obra do passado e presente, mas não precisa saber tudo, isso é impossível. O mais importante é saber a essencia dela, o que a produz, o processo, a técnica e prática. Enfim, para ser um artísta no melhor sentido da palavra, é necessário viver a vida como ser humano, a inspiração que oferece os melhores resultados estão na maioria das vezes, na esquina de casa, dentro de um ônibus, uma conversa cotidiana, uma notícia no jornal. E é claro, praticar sempre, seja sozinho seja em grupo. Na música a atividade em grupo ensina muito. Agora se escolher ser um teórico, crítico, prepare-se para uma vida de horas e horas de leitura, audição, inúmeras sessões de cinema e video, exposições, peças e tudo mais. E ainda por cima o crítico tem que abdicar de suas paixões pessoais para não comprometer seu trabalho, produzindo muitas vezes resultados tendenciosos e equivocados. Como diz o Devo: Freedom of choice is what you got, freedom of choice is that you want...

terça-feira, fevereiro 05, 2008

Religião

Quando se fala em religião, muitos confundem as coisas. A palavra deriva do termo latino "re-ligare", que significa "religação" com o divino, com Deus.
Eu não creio que as religiões produzam bons resultados para a humanidade se elas se tornam seitas, instituições que induzem ao fanatismo, separatismo e coisas afins. É fácil constatar estes danos por conta de atos de agressão, pré-conceito, segregação entre seres humanos, que são todos iguais perante Deus. E também quando o uso distorcido da palavra religião leva o indivíduo à alienação do mundo em que todos nós vivemos.
Pregar o Evangelho é simplesmente anunciar a Boa Notícia, não tentar persuadir alguma pessoa de forma desagradável a participar de uma sociedade fechada. A "regra de ouro", a coisa mais importante do tão difamado Evangelho é amar ao próximo como a sí próprio, principalmente a quem não te ama, pois que mérito há em amar quem te ama?

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Inviabilidade só porque não é swinging London? Nem pensar!

Tenho reparado no fascínio do meio cultural paulistano em relação ao exterior. É certamente contraditório, paradoxal, entre tantos outros adjetivos. Um país sem pátria, sem raízes, sem tradições (no bom sentido). Uma capital que se proclama a mais evoluida em termos econômicos e principalmente culturais onde nos deparamos com aberrações como: irish pubs, canadian pubs, bistrôs, cofee shop's, luzes da ribalta. Ao mesmo tempo brotam simulacros de uma São Paulo que nunca existiu que ninguém vivenciou, como botequins de samba da velha guarda ornamentados de petiscos consumidos por pessoas que se recusam cruzar a ponte, onde os corregos com esgoto são a nossa Veneza. Antes, o temor e a repulsa de ir ao centro da capital, lugar de assaltos, gente feia e pobre. Hoje é "sofisticado e cultural" comer um sanduíche de mortadela e pastel de bacalhau no mercadão(ué, mas não era coisa de pobre?). Poucos anos atrás tudo isso era repudiado e encoberto com acordes tristes do rock inglês, suposta debilidade do heavy metal, punk, depois o embuste grunge, hardcore, post-rock, emo, underground rap, dub, roots reggae, entre tantos gêneros importados. Tudo bem, São Paulo antes da ponte nunca foi Brasil, não tem nenhum mal nisso, é o preço de ser uma metrópole, mesmo que capenga. O rap e o samba eram ignorados pela classe média(tudo bem, já sabemos disso). Um pouco antes o forró através do baião, xote, etc., veio por meios acadêmicos, no micro-cosmos chamado campus da USP. Ahá, a USP é depois da ponte! O forró universitário moldado num imaginário que deixou de existir a muitas décadas, onde os teclados e melodias do pop americano, bebida barata e roupas made in china são a realidade. O samba não podia ser diferente, ou até o chorinho(muitos podem e vão discordar, mas é um gênero moribundo). O verdadeiro samba paulistano é tocado com cavaquinho amplificado, pele de pandeiro de plástico espelhado, tênis Nike AirJordan e relógios Timex. O rap também sofreu suas mutações, a São Bento não existe mais em termos ideológicos, aquele frescor mesmo que com pouquíssimos recursos, se foi. Agora que um dj pode ter uma MK da Technics, aquela atmosfera não pode mais voltar, isso é impossível.
Mas mesmo assim, tudo caminha, vai adiante com seus progressos, uns chamam de evolução para soar melhor. E segue a tradição nociva herdada dos grupos, segmentos, idolatria em vários níveis perceptíveis ou não. Até os chamados coletivos artísticos se comportam como clãs medievais, só que não se usam clavas, espadas e flechas no sentido literalmente material. Mas tem o mesmo objetivo em termos ideológicos, através de atitudes verbais, hermetismo, soluções heterogeneas num grande recipiente em comum que é a capital paulistana.
Eu sei, este assunto já foi abordado, é um assunto recorrente e exaustivo, mas é que a cada novo momento surgem dados em conversas longe dos holofotes, em que cada vez mais se aprofunda o panorama disso tudo, como se com um microscópio se visualize melhor a trama de retalhos que é composta a nossa rede cultural. Uma rede frágil, cheia de emendas e muitas delas muito mau executadas, que não se congregam.
 
 
Studio Ghibli Brasil