quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Equívoco das Indias e os dejetos da rede grobo

Novela já não é de longe a melhor opção de lazer, mas muita gente deixa de fazer coisas importantes para acompanhar os melodramas. Um sintoma grave da alienação eu mesmo pude presenciar, pessoas acreditando que novelas de época são o retrato fiel de um país naquele período que foi usado como tema, como se fosse um documento histórico. Muita gente acha que a imigração no Brasil foi como na novela das 20h... (?!).
Agora a nova polêmica é sobre esta nova novela que é ambientada na India. Eu ví uns trailers e já achei engraçado os indianos com sotaque carioca, valeu? Depois o que me chamou a atenção foi a matéria publicada no Jornal Da Tarde falando do equívoco cometido pela autora, Glória Perez.
"Os dalits não são mais pessoas discriminadas na Índia. A autora precisa atualizar essa novela, tudo o que vejo lá é de, pelo menos, 60 anos atrás. Nós indianos ficamos aflitos em ouvir as gírias erradas. 'Badi', por exemplo, que é usada em referência ao pai, está errada. 'Badi significa balde, 'Babadi' que significa pai", patrulha Dinesh Rajput, de 36 anos, que vive no Brasil há 11 anos
.
"Eu acabei de chegar da Índia, e as coisas não são como é mostrado na novela. É tudo muito desatualizado.", segundo Kiran Patil, sobrinho de Bianca Shiva Nandini, monja e presidente da Associação Cultural Brasil Índia.
Bhuvana Mohandas, 63 anos, que viveu 11 anos como monge na Índia, reforça que toda novela é um exagero da realidade. "Não dá para julgar a Índia por uma novela, assim como não dá para julgar o Brasil a partir de Cidade de Deus. A novela oferece a primeira impressão da Índia e mostra uma abordagem superficial do país e de sua cultura. Existem muitos caminhos para as Índias."
Pra variar a "humildade" brazuca:
Glória Perez, por sua vez, insiste em que a pesquisa feita por ela e sua equipe, em sites de relacionamento e blogs, é fiel à realidade atual do país.

É isso aí pessoal, este é o nível de pesquisa que nós temos aqui...

PS.: Na boa é bem melhor ler um livro, dar um passeio do que ficar assistindo novela, mas como disse um amigo, pra quem é tá bom demais. Isso é muito triste, me ajuda aê Datena, pô!

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Vandermark 5, Elastic Arts Foundation 25/01/2009


Ken Vandermark (bar, ts, cl)
Dave Rempis (ts, as)
Fred Lonberg-Holm (clo)
Kent Kessler (b)
Tim Daisy (d)

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Milford Graves

Até pouco tempo atrás, este nome era desconhecido no Brasil e inclusive no mundo. Lembro-me que à 10 anos atrás, só ouvia falar de Graves em publicações especializadas estrangeiras, de suas gravações com Albert Ayler e o lendário New York Art Quartet. Dentro do contexto de uma sessão de improvisação de Free Jazz ou uma composição, não identificava tantas diferenças nos aspectos percussivos da bateria para cada músico. Mesmo músicos que possuem personalidades bem distintas, como o pioneiro Sunny Murray, Andrew Cyrille, Denis Charles ou Steve McCall, existia um, digamos, certo "padrão" em seu melhor sentido, nas gravações e performances do Free Jazz norte americano nos anos 60. Talvez de um modo bem simplório poderíamos detectar pelo menos no timbre uma diferença mais destacada no som de Graves, uma sonoridade mais fragmentada do que a maioria dos bateristas, mesmo em comparação à Sunny Murray, a ausência do som da esteira na caixa, o timbre mais seco, pois Graves não utiliza pele de retorno em toda sua bateria. Percebe-se que alí não está diretamente ligado às tradições da bateria no Jazz. Tem muito mais ligação com os tambores tocados com as mãos, outros instrumentos de percussão, padrões rítmicos fora do Jazz. Graves acabara de lançar seu disco solo pela Tzadik, o Grand Unification e uma entrevista sua que fora publicada numa revista específica para bateria e ele falava sobre esta gravação. Fiquei interessado nas suas concepções sobre percussão, mesmo que algumas me parececem absurdas, como cura pelo som dos tambores e física quântica. O Grand Unification ele dizia ser a junção de todas essas teorias e conceitos sintetizadas nesta gravação. Por oportunidade lá estava o cd de Graves jogado na prateleira da Fnac, com um preço bem alto e um nome desconhecido. Como já ouvia falar do talento espantoso de Graves, não temí comprar o disco e não sentí a necessidade de ouvir antes de comprar. Realmente foi um grande impacto, pois Graves é um verdadeiro artísta e se doa à música e isso se reverte em um trabalho extremamente tocante. Sua capacidade é surpreendente, que não parece que ele está fazendo tudo aquilo sozinho. Graves tocando seus tambores e pratos parece uma tempestade, uma avalanche. Alí eu percebí suas raízes, das quais ele dissera em sua entrevista: a música cubana. Milford Graves tocava congas e timbales, em sua juventude tocava em uma banda de salsa com Chick Corea, gravou com Montego Joe. Em suas gravações se percebe a utilização dos padrões rítmicos cubanos e consequentemente africanos mesmo em uma peça tão "abstrata". Graves também disse que não se interessava pela bateria no Jazz por achar monótono o jeito de tocá-la, até que ouviu Elvin Jones com Trane, tocando My Favourite Things, onde descobriu mais liberdade rítmica, pois esta composição é uma valsa em 5/4, com as divisões modernas que tomaram forma com Kenny Clarke. Posteriormente a cultura oriental teve grande influência na vida de Graves, estudou tabla em 1965 com Wasantha Singh, se tornou mestre em artes marciais, herbalista, acumputurista. E lógicamente isso refletiu em sua maneira de fazer música, tanto que isso está evidente na gravação Grand Unification. Essa mudança é nítida se compararmos suas gravações com Ayler e New York Art Quartet como também sua Percussion Ensemble com Sunny Morgan e o Dialogue Of The Drums, com Andrew Cyrille. Sem dúvida Milford Graves é um talento único na percussão.

Ouça Milford Graves com o New York Art Quartet

terça-feira, fevereiro 03, 2009

A Jeannie é que é um gênio!

Polêmica Zorn:
"Para começar, esta historia de genio multifacetado não existe, não passa de um mito.
Unico, historico e ultimo genio multifacetado q conheço é Da Vince. Até o Picasso, considerado o genio da pintura seculo 20, vá ver as esculturas dele. não passa de lixo. Exemplos mais proximos, vá ver os moveis do Oscar Niemayer, lixo. Atualmente em exposição no Rio, pinturas e tapeçarias do Burle Max, considerado genio do paisagismo. Concordo, mas as pinturas, tapeçarias e paineis do B Max não passam de lixo, chega a ser constrangedor olhar os trabalhos, do tipo qq professor primario daria 0 nos trabalhos. Acho q qq artista deveria ter um minimo de senso critico. Gravou uma experimentação, não ficou bom, guarda como registro pessoal. Não quero, e não tenho saco para ficar ouvindo 50 gravações de um determinado musico para garimpar alguma coisa q preste. Esta tarefa é do musico. Quando baixo qq material do Parker, Powel, C Brown, Coltrane, McLean, H Silver, Monk, M Davis, Mingus, A Shepp tenho a certeza da qualidade do "selo", no mínimo é bom, podendo ser genial. O sujeito, no minimo, precisa de humildade para dicernir. E não lançar qq merda achando q a gente vai engulir aquela porra."

Perdão, essa não podia deixar escapar, como eu disse no post anterior sobre os anos 80, precisei refletir sobre estas declarações acima, que estão numa comunidade de discussão sobre Jazz no orkut. Ainda bem que certas coisas só circulam como opiniões pessoais periféricas na vasta rede digital, pois se isso vira ítem até de wikipedia (que é imprecisa), algum desinformado vai acreditar que é verdade.
1. É um tanto descabido comparar o Da Vinci neste contexto, pois o que está sendo debatido é sobre a genialidade(chega desse troço de gênio, por misericórdia!) multifacetada dentro dos músicos de jazz, sim independente de opiniões estritamente pessoais, Zorn tem formação no jazz, ele pode tocar o chamado "straight-ahead jazz" com emoção e maestria se ele quiser. Sobre Picasso, o objetivo de muitas de suas esculturas, não é o aspecto formal, como a cabeça de touro com peças de bicicleta, o ready-made. Seria enfadonho só existirem obras renascentistas. Sobre o arquiteto de Brasília, se observarmos a arquitetura no espectro mundial, ele está longe de ser a cereja do bolo. Quanto ao Burle Marx, pode ser lixo para muitos e outros tantos podem achar bom, isso é uma questão de gosto pessoal;
2. Onde está a liberdade de expressão? Quem disse que a experiência não ficou boa? Só porque alguém não apreciou o resultado, isso não quer dizer que o objetivo não foi alcançado. E outra, o Zorn gravou suas experimentações pela sua própria gravadora e não ameaçou ninguém com uma metralhadora israelita Uzi a ninguém consumí-las.
3. Mesmo grandes artístas do Jazz, como Bud Powell gravaram material dispensável, por questões contratuais. Vejam o caso de Archie Shepp, que gravou pela Denon discos que são fracos em comparação a sua obra. O aclamado Ballads de Coltrane e o disco com Johnny Hartman foram gravados por obrigação contratual e não por vontade de Trane e isso não quer dizer que sejam discos ruins. Mas no contexto artístico, da criação, são dispensáveis e não expressam o melhor do artísta. Miles Davis então, mesmo sendo ótimos discos, muitos deles não há uma sessão que não tenha sido editada por Teo Macero, por conta da debilitação técnica de Miles por conta das drogas, muitos solos inteiros são uma colagem de várias sessões diferentes. Fora que nos anos 80 Miles gravou discos fracos em relação a sua obra, pois precisava se manter no mercado.
4. A verdadeira humildade para dicernir é respeitar a obra, principalmente se a pessoa nem tem a capacidade de fazer algo tão bom ou ruim quanto. Eu me coloco como um mero exemplo disso, o próprio Zorn tem muita coisa que eu acho chato mesmo, mas por meu gosto estritamente pessoal e não acho que seja um lixo, simplesmente não gosto. Milhares de pessoas acham a Ivete Sangalo o máximo e até genial (...), mas eu não vou perder o tempo tentando denegrir o talento da cantora, simplesmente é um universo paralelo para mim.
5. Se a comunidade é focalizada no estudo e crítica do Jazz, no mínimo a pessoa deveria ter mais paciência para fazer uma pesquisa mais profunda, principalmente se fizer uma crítica negativa. É necessário ter uma sólida argumentação para afirmar categoricamente sua análise. Se não fica uma coisa infantil (que um professor primário daria nota zero) do tipo: "Eu não gosto, é feio!". Eu não vou me envolver num debate sobre Javon Jackson enquanto não houver algo no trabalho dele que me desperte interesse. Mesmo quando um debate me leva a pesquisar sobre um artísta que não conheço, como a Anat Cohen, não vou depois sair dizendo que é um lixo, pois isso não é verdade, o mesmo vale para o Frank Aguiar. Eu simplesmente não gosto e o tempo que eu gastaria pensando e falando mau de algo eu uso anunciando as boas novas.

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Saudosa maloca, cuidado com a nostalgia!

É inevitável, mas toda vez que ouço uma declaração enfática que tenta definir fatos de maneira tão conclusiva, isso me inspira uma reflexão. O artísta Edgar Scandurra afirmou que se precisa passar 20 anos para reconhecer a genialidade (mais hein, outra vez esse troço de gênio?) na produção musical dos períodos antecessores. Bem, se as pessoas que não vivenciaram a época por mera questão de compatibilidade cronológica, isso acontece mesmo, e existem pessoas que simplesmente ignoram o que veio antes e preferem consumir a música contemporânea. Já faz um tempo que se fala dos anos 80, desde o início dos anos 90. Criou-se até artifícios para desfrutar da produção dos anos 80 de forma que tenha um certo glamour, status ou qualquer coisa dispensável como estas. É o chamado "trash" ou "cult", dentro do "revival". Até perto da minha residência existe uma casa noturna dedicada aos anos 80, onde moças e mancebos que já passaram dos 30 podem se deleitar na pista de dança ao som dos hits dos anos 80, sem culpa, pois até Menudo e Xuxa entram na fita. Isso acontece desta forma como em uma festa do clube dos "easyriders" brazucas, onde os durões na resistem ao refrão do Village People, com direito a coreografia. Mas tem muita coisa que era odiada simplesmente porque não era de qualidade e hoje muitos procuram resgatar, como filmes, desenhos animados, seriados, além da música. E é aí que a coisa fica estreita, pois muitos perdem suas referências por saudosismo. Eu particularmente aprecio a música o filme, etc, simplesmente pela obra em sí, não como um mecanismo de nostalgia, não é porque foi de uma boa época, é que vou gostar.
O que vejo de interessante nos anos 80 na música, é diretamente ligado à tecnologia. Os artístas estavam experimentando ferramentas realmente novas para criação, os equipamentos eletrônicos, digitais, como os sintetizadores e novos processos de gravação e produção. O sintético refletiu não só na música, mas em tudo, como nas roupas. Muita coisa eu achava feia mesmo em sua época, como penteados melecados com o tal do New Wave Glitter Gel, blazers com cores cítricas, a Eletric Band do Chick Corea...
O engraçado é que no jetset sempre é necessário um compendio teórico para justificar os gostos pessoais de cada um, sempre há uma análise semiótica para justificar uma pessoa que comprou o disco do Kajagoogoo na Benedito Calixto.
PS:
Este post foi escrito ao som de Bauhaus, Tony Macalpine, Byrds, Helloween e The Human League.
 
 
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