domingo, março 28, 2010

Giuseppi Logan Quintet (2009)

Finalmente o multi-instrumentista e compositor Giuseppi Logan está de volta. Chegou a ser dado como morto, provavelmente sepultado como indigente. Chegou a se tornar um tipo de lenda urbana do free jazz de New York, que andou desprovido de sanidade, que chegou a atacar pessoas na rua. O percussionista Milford Graves tentou reencontrá-lo, mas isso é muito complicado se tratando de uma das maiores metrópoles do mundo. Mas sentia que ele estava vivo em algum lugar da grande maçã.
Mas graças à Deus e um grupo missionário protestante, Logan foi resgatado e lhe foi devolvida sua dignidade como indivíduo, como artísta. Providenciaram-lhe uma moradia, próxima ao Tompkins Square Park e de amigos, instrumentos musicais, como uma flauta transversal e um clarinete baixo. Aos poucos Logan volta a ativa, em algumas apresentações ao vivo e agora com a gravação deste disco, ao lado de velhos companheiros dos anos 60, que são o pianista Dave Burrell e o percussionista Warren Smith.
Enfim, no meio de tantas adversidades nestes dias de hoje, surge uma boa nova para alegrar mais ainda meu coração, de alguém que estava "morto" e reviveu. Que Deus continue te abençoando, Giuseppi Logan.

Para conhecer o som de Giuseppi Logan, clique aqui:
Giuseppi Logan on last.fm

sábado, março 27, 2010

Frank Wright - Church Number Nine

Eis aqui um dos mais importantes livros da bíblia da música livre: Church Number Nine de Frank Wright.
Não é por acaso que o saxofonista nascido no Mississipi em 1935 era chamado de reverendo. Sua música mesmo tendo a forma livre que se denominou free jazz, sempre teve forte ligação, influência do gospel, a música cantada e tocada nas igrejas protestantes na América do Norte. Dentro do gospel, estão os elementos do blues e o que chamam de spiritual. Wright deu continuidade ao que foi iniciado com Ayler e Trane, até deixar este mundo em 1990, exilado de sua terra natal.
Church Number Nine é dividido em 2 partes, onde os músicos deixam o espírito fluir com total liberdade e intensidade que se pode sentir desde a primeira nota e batida. Wright está acompanhado do saxofonista Noah(Noé) Howard, que também possui uma sólida carreira no obscuro meio do free jazz dos anos 70, assim como o pianista Bobby Few. Agora como baterista, tenho que ressaltar a presença de Mohamed Ali, irmão de Rashied. Com certeza Mohamed seguiu as diretrizes lançadas pelo pioneiro Sunny Murray, além dos grandes veteranos de outras fases da música instrumental americana. Eu particularmente lamento a injustiça cometida em Mohamed, coisa que seu irmão não passou por conta de ter acompanhado Coltrane em sua última fase. Sem querer desmerecer o grande talento de Rashied, Mohamed ofereceu uma sonoridade mais interessante e intensa, em minha particular opinião. Um ouvinte mais atento poderá perceber este algo a mais em Mohamed, que não está só ressoando nas peles e pratos, a atmosfera que ele cria na música.
Voltando as atenções em Frank Wright, é notória a sua força no saxofone, digamos que Wright é a versão mais espiritual e ligada à Deus, de Peter Brötzmann. Brötz é a força da criação artística e Frank da espiritual, ambos com a mesma liberdade, intensidade sonora.
Enquanto Brötz continua sua jornada sonora na arte livre, Frank deixou seu legado, seus salmos, crônicas, testamento muiscal, alguns poucos com palavras e grande parte com gemidos inexprimíveis.
Clique na foto da capa para acessar o arquivo.

quinta-feira, março 18, 2010

Melvins - Lysol (1992)

Me lembro quando comprava lp's pelo correio e veio o catálogo da Boner Records com muitas bandas interessantes, a maioria eram hardcore. Tinha ouvido falar que o Melvins influenciara em muito o Nirvana dos tempos do album "Bleach" e que o baixista do Mudhoney gravou o primeiro disco. O curto release falava sobre a sonoridade letárgica, algo como Black Sabbath, só que muito mais lento e pesado. Me interessei pelo Melvins, a capa do disco que tinha sido lançado era o Bullhead, com uma salada de frutas desenhada na capa e títulos de músicas como "If I Had An Exorcism", "Your Blessened" e "Cow" me chamaram a atenção. Ora, resolvi encomendar, pois não passava de U$12,00 contando as despesas postais. Passados 20 e tantos dias, chega o aviso para retirar na agência. Toda aquela expectativa e romantismo de pegar o pacote, como uma carta de amor. As vezes, dependendo do transporte, empenava o vinil, como aconteceu com um lp do grupo Fastbacks, que depois eu ofereci depresente ao Carlos Alberto Dias, vinha numa capa de plástico transparente e vinil vermelho.
Quando eu ouvi, entendi o que se falava sobre o Melvins e Nirvana. Só que King Buzzo fazia a parada com muito mais autoridade, não desmerecendo os méritos que o Bleach do Nirvana possui. Gostei muito do Melvins, uma espécie de doom metal só que sem aquela perda de tempo com caveiras e temáticas satânicas, mas com bom humor. Depois inventarm o rótulo de stoner rock, mas isso é tão estranho como a reedição do tênis de basquete da Nike, o Air Jordan, que não merece lá muita atenção. E de quebra fiquei sabendo depois de muitos anos, que a baixista Lorax era filha da atriz mirim Shirley Temple (aqui nós temos um genérico, a Maisa, do Sábado Animado) e foi despedida da banda, pois Buzz é um cara exig
ente e sério com música.
Lysol foi lançado em 1992 e teve problemas com o nome, pois é um produto desinfectante, produzido pela Reckittt Benckiser, que não liberou o nome para o título do disco. Então a gravadora colocou um adesivo preto em cima do nome e lançou.
As faixas "Second Coming" e "Ballad Of Dwight Fry" são de Alice Cooper e Sacrifice do grupo Flipper.

Clique na foto da capa do disco para acessar o arquivo.

*Lysol é a combinação das palavras lysosome e solvent, em inglês. O princípio ativo é o Clorato de
Benzalkonium.

domingo, março 14, 2010

Fórmula Indy e Feira Country em São Paulo... Nunca fomos tão brasileiros!













Estamos bem representados neste país em termos de cultura. Bossa nova, samba? Que nada sô! Olha aí a feira country, coisa legítima do sertão brasileiro. Lembro de uma reportagem sobre os chapéus de palha que os costumeiros jeca tatus da vida usavam, com o capim na boca. Os artesãos do interior reclamavam que seu negócio estava falindo porque o pessoal só comprava chapéu do tipo norte americano, dos cowboys dos filmes de John Wayne. Mas o country não é do Brasil? Se a calça jeans fosse criação de brasileiro, não teria um nome em lingua portuguesa? Ah, mas isso é a globalização, pós modernismo e etc.

E a formula indy(ota)? E o povo abraça este engodo, um esporte para ricos, o máximo que acontece é alguém enforcar o orçamento e comprar um ingresso onde só se vê os carros passando de relance. E a massa fica confinada a ver a corrida pela tv. É que nem os esportes nauticos onde os maiores expoentes do esporte são brasileiros com nomes como Torben Grael. Falaí seu Zé, produto 100% nacional!

sábado, março 13, 2010

Geraldão, Geraldinho, Glauco, Raoni, a morte e a solicitude da vida

Sinceramente eu não escreveria nada sobre este fato porque todos os dias, os Joilsons, Josés, Marias e Jabersons tem sus vidas ceifadas neste mundo. Mas como Glauco tinha uma projeção nacional por conta de sua arte, virou notícia.
Fiquei sabendo da tragédia poucas horas após os homicídios terem se consumado, por conta da rede mundial de computadores. A primeira coisa que me veio ao coração foi um versículo da epístola do apóstolo de Jesus, Tiago, que diz assim:
"Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece."
Lembrei-me das poucas vezes que encontrei com o Raoni nas minhas andanças pelo bairro de Pinheiros e depois de alguns anos quando ele estava bem engajado em certo grupo espiritual. Um rapaz precoce, que eu pensava comigo: caramba o Glauco tem um filho desse tamanho... Também me encontrei algunas vezes com o filho do Angeli e inclusive quando eu tocava em uma banda, ensaiamos no estudio da casa dele com a presença do Sebastian, aquele notório performer dos comerciais da C&A com o slogan abuse use. Enfim, enquanto escrevo este post, também me lembrei de um trecho de uma música do Dorsal Atlântica: "
Viajando na estrada, um ruído seco

Dentro de um ônibus atiraram em um inocente por pura ignorância, ninguém esperava sentir como a vida é tão fugaz..."
O que dizer? Só resta pedir à Deus que console os corações dos que ficaram e sofrem estas perdas abruptas.
Sobre o trabalho do Glauco, ora, ele estava todos os dias no jornal bem conhecido da capital paulistana, no caderno cultural e as vezes no caderno especial infantil, onde o personagem inspirado em seu filho, Geraldinho, se divertia equilibrando refrigerante e guloseimas. Mas eu não vou ser unânime sobre sua arte só por conta do que ocorreu. Alguns trabalhos eu não gostava, tipo Ozetês, Faquinha e algumas tirinhas de célebres personagens.
Mas Glauco fez a sua história, deixou sua arte que nos divertiu e outras vezes nos fez parar para refletir em algo, importante ou não.
Também me lembrei de um provérbio escrito pelo rei Salomão no livro de Eclesiastes, no capítulo 7: "
Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos os homens, e os vivos o aplicam ao seu coração."
Hoje é mais um momento para reflexão, mas isto só terá proveito se a sabedoria for colocada em prática.

sexta-feira, março 05, 2010

P-Funk Guitar Army - Tributes to Jimi Hendrix Vol.2 [1995] Return of the Gypsy

Este tributo quase não comentado é uma bela homenagem à Jimi Hendrix pelos músicos que participaram do P-Funk, por isso o nome do projeto é P-Funk Guitar Army.
Andre Foxxe, Johnny Graham, Gary 'mudbone' Cooper, Dee Dee 'dirty Mugg' James, Bootsy Collins, Darryl Plummer Band, Ras Kente e Menace prestam homenagem com composições originais e muito interessantes.
Andre Foxxe e Johnny Graham tem uma abordagem mais rock e blues, mas com uma sonoridade mais atual. Menace já faz seu tributo dentro da linguagem do P-Funk. Ras Kente mostra o lado do rock pesado, com extenso solo.
Clique na foto da capa ou no título do post para acessar o arquivo.

Jimi Hendrix, Johnny Alf...

Mais uma vez Jimi é enfoque do jornalismo musical. É sobre o lançamento de gravações póstumas inéditas. A estratégia de marketing das gravadoras não permite que tenhamos acesso rápido ao material, pois faz parte do jogo. Mais uma vez teremos o re-relançamento dos albuns do Experience, só que com ítens adicionados para justificar o preço e relançamento, como out takes, encartes, DVD, etc. Fazer o que? A indústria fonográfica tem de sobreviver. Veja o caso dos Beatles por exemplo, tentam extrair tudo quanto é possível para lançar no mercado, deixando os colecionadores em polvorosa. O ápice foi a discografia completa enclausurada em um pendrive (essa foi uma forma coerente, afinal estamos na era digital) em forma de maçã. O problema é que quando o material substancial se esgota, começam a colocar no mercado ítens dispensáveis. Porque o nome out takes? Ora, o artísta rejeitou o resultado de sua performance de gravação. Mas sabe como é fã, quer acreditar em qualquer coisa para ter mais um pouco de seu artista preferido, como um out take que tem apenas 3 segundos a mais de diferença do que a editada oficialmente.
Eu gosto muito do Jimi, só que quando eu atingi quase 30 lp's em minha coleção, eu percebi q
ue o negócio já estava pra lá de bom e passando disso já seria uma obssessão. Comprar um compacto, sendo que é a mesma versão do lp, isso é fetiche. Mas fora estas coisas de produtos, Jimi é um nome presente na música popular tão óbvio, que dispensa mais comentários. Quer um exemplo atual? Vernon Reid é um músico que se sente esta influência, mas não só de Jimi, mas também de Arthur Rhames. Uma das mais coerentes homengens em minha opinião pessoal são as gravações do P-Funk Guitar Army, no Tribute To Jimi Hendrix, em 2 volumes. Talvez seja um tanto quanto desconhecido para os típicos fãs radicais de rock, que geralmente ignoram e odeiam na ignorância outros nomes da música. Eddie Hazel que foi guitarrista do Funkadelic e Parliament é herdeiro direto de Hendrix, sua influência é 100% audível. Mas Hazel não sobreviveu tempo suficiente para participar desta homengem e ficou nas mãos de seus companheiros sucessores no mundo P-Funk, como Michael Hampton, Gary 'Mudbone' Cooper, Blackbyrd McKnight, etc.
Bem, porque Johnny Alf? Eu encontrei uma ligação entre ele e Jimi e isso não tem haver com a arte de cada um simplesmente por serem caminhos diferentes. A morte tem um ponto em comum, só que os casos são opostos. Jimi morreu no auge de sua carreira, muito jovem, nem completou 30 anos de idade. Johnny Alf morreu com 80 anos com uma longa carreira. Talvez Alf passe por um processo parecido com o de Hendrix, talvez relancem seus discos, artístas gravem um tributo, novos artístas e novo público "redescubra" sua obra. Mas é claro que não será da mesma forma que Jimi, que teve um impacto na arte mundial. Alf quase não é citado em seu próprio país, o Brasil. Não teve tanto efeito catalístico na música de uma forma geral, mas isso não tira seu mérito e talento. Eu gostei dele uma vez que o Paulinho da Viola o entrevistava e falavam sobre a influência dos músicos do chamado jazz. Paulinho tinha mais interesse por pianistas como Thelonioius Monk e Johnny já preferia algo mais tradicional, como Nat King Cole. Também gostei da sensação de uma pessoa amável tranquila que Alf me passou. Meu amigo estava de alguma forma envolvido com sua atividade musical no Japão, onde poucos mas fiéis admiradores extrapolaram as fronteiras do hemisfério Sul. Eu até assinei um cartão coletivo que seria entregue ao Johnny, junto ao nome de editores, apreciadores, amigos, críticos japoneses. Mas eu nunca fui muito chegado no trabalho de Johnny. Mesmo hoje em dia, que não fico mais só ouvindo Heavy Metal. Tem uma coisa e outra que eu gosto, mas a bossa não me diz muita coisa. Muitos dizem que a bossa é o supra sumo da música brasileira, mas isso é algo tão particular, que esse tipo de afirmação não reflete a verdade. Quando falam que os gringos "piraram" com a bossa, isso não quer dizer muita coisa. Veja o caso do Stan Gets, Archie Shepp. O jazz já não era uma unanimidade em seu próprio país de origem, o rock vindo da Inglaterra é que dominava em popularidade. A bossa ficou conhecida entre os músicos, pois o público americano, europeu, preferia outro tipo de música. Recentemente falam da suposta febre da bossa no Japão. É uma grande ilusão, pois o público japonês tem preferencia pela música local, como o JPop e o Pop norte americano. Há um nicho específico que gosta de bossa no Japãp, mas é bem restrito, como o público que aprecia jazz em São Paulo.
A verdade é que Johnny Alf estava meio que jogado para escanteio nestes últimos anos, queiram acreditar ou não. Ele quase não se apresentava, por falta de interesse mesmo. E gravar um disco então? Não recebia a atenção e destaque que tinha direito. Agora com sua morte vão falar uma coisa ou outra e tudo mais que eu escreví acima. Mas logo mais vai voltar à penumbra. Estou errado? Espero que sim, pois veja o caso do maestro Moacir Santos. Fizeram homengens,
relançaram gravações, mas não passou do terrritório restrito. O povo quer é ser "chicleteiro" mesmo.
Música como forma de arte é um artigo de luxo, um ítem dispensável na cesta básica. Hoje o momento é do entretenimento musical, que sempre é confundido com a arte musical. Hoje em dia não sobra muito espaço para o refinamento musical de Johnny Alf, talvez também não sobrasse para Jimi Hendrix se estivesse vivo.

Obrigado Jimi, obrigado Johnny, vocês fizeram música, apenas música.
 
 
Studio Ghibli Brasil