quarta-feira, setembro 17, 2008

Música, arte em São Paulo, que já tem Starbucks!

A tecnologia anda à passos largos e apressados, boas novas da Islândia ou Lýðveldið, que saiu na frente e já desenvolveu os automóveis movidos à hidrogênio. Um país que ganhou sua autonomia apenas em 1874. Ah, ficou mais conhecida para quem gosta de música através do grupo Sugarcubes e Björk.
E a nossa São Paulo, o orgulho de desenvolvimento brazuca, av.Paulista, rua Oscar Freire e suas outras "maravilhas", como a aberração desumana na rua Mercúrio, uma favela vertical, em frente a nova diversão da classe média, o mercado municipal e os famosos pastéis de bacalhau e sanduba de mortadela. Sim, o crack continua rolando pelas ruas. Mas isto é um assunto para os candidatos à prefeitura e vereadores que tem uma fórmula mágica para resolver tudo isso. Aqui o assunto é mais descartável: música contemporânea paulistana e tecnologia.
A bossa nova ainda é tratada como a última bolacha do pacote, como se o mundo tivesse mudado por conta dela. Caso algum brasileiro ainda não saiba, a música que mudou e tem mudado o mundo em grande escala, foi o chamado Jazz, o Rock'n'roll, o Rap e a House music. Aqui em São Paulo, mesmo que pareça, a coisa não evolui nos seus fundamentos, apenas em sua estética, temos tv's de plasma e apenas menos de 10 canais de tv abertos em VHF, com programas em formato criado à 50 anos. O paulistano ainda depende do que os estrangeiros fazem para que depois eles se "arrisquem". Eu já tinha abordado este assunto aqui antes, esse lance de "rap underground", isso é uma tremenda bobagem, pois o rap brasileiro não precisa deste rótulo, mesmo presente em jingles de comerciais, não tem o orçamento milionário dos norte-americanos, com seus carros de luxo, mansões e outras bobagens. Mesmo o Racionais, que é o mais famoso, tem dificuldades em se manter e ser respeitado pela indústria cultural. Os grupos de rock atuais podem até parecer com o que acontece no chamado primeiro mundo, mas é só estética, não tem fundamento, pode ser bem produzido, devido as facilidades tecnológicas que estão mais acessíveis, mas não tem consistência. Nos anos 80( por favor, sem saudosismo), os grupos de rock inspirados no pós-punk, tecno-pop americano e inglês, os grupos de punk rock e de heavy metal podiam até ser precários, instrumentos musicais ruins, roupas meio cafonas, gravações de baixa qualidade, muitas ingênuas, mas tinham um frescor e personalidade, mesmo que muito influenciadas pelos estrangeiros. Eles queriam fazer o som próprio deles, do jeito que eles podiam. Muita gente pode discordar, de que não era diferente de hoje em dia, só que hoje temos recursos. Não, se fizermos uma análise despida de conceitos pessoais, veremos que a verdade é outra. O conceito de influência foi distorcido, veja o caso de Jimi Hendrix, ele tinha influência de muitos bluesmen como Muddy Waters, Otis Rush, etc., mas o que ele fazia era bem diferente. John Coltrane tinha influência de Johnny Hodges, Charlie Parker, Sonny Rollins, depois Ornette, Ayler, mas depois criou algo diferente, com seus próprios conceitos. Os jovens de hoje em dia, muitas vezes querem reproduzir exatamente igual os seus ídolos e chamam isto de influência. Mais honesto seria dizer que são "covers". Capas, aparencias, uma simulação, estética. Aqui só se usa o termo cover quando um grupo toca as músicas de seus ídolos, como Beatles cover, U2 cover, Pink Floyd cover, etc. Aqui em São Paulo a maioria dos grupos de "jazz" se expõem ao ridículo de imitarem os solos dos músicos do passado, dizendo que estão improvisando. Como a maioria dos ouvintes carece de informação musical, não percebe isto e consomem uma arte cadaverizada como se fosse a cereja do bolo. E aqui o jazz parou nos anos 50! O brasileiro não entende que o jazz está na vida dos norte-americanos, existe uma tradição, não uma mumuficação. O New Orleans não é mais o mesmo, nem o Congo Square. Muita coisa é preservada por questão de documento histórico e turístico, mas o jazz continua caminhando, sempre em frente, seja com o Neo-Bop, o M-BASE, a Free improvisation, o Free jazz. Eles usam os elementos ditos tradicionais não por referência estética, mas porque são parte de sua essência e não soa como uma coisa de parque temático, como grupo de jazz "New Orleans" paulistano.
A chamada "street art". Muita gente fala mal, muita gente abraça.Tem coisas realmente interessantes, mas muitas a gente olha, depois vê uma revista importada de anos atrás e se sente enganado. Mas no saldo geral, até que vai bem, pois é muito enfadonho o feudo das artes pláticas que sempre existiu em São Paulo, cheio de conceitos que são do começo do século passado. Nas artes plásticas, o que importa é a pessoa olhar e gostar, causar um impacto, se não, é melhor comprar uma gravura impressa na tok&stock ou etna, que sai bem mais em conta...

2 comentários:

Marcus Diniz disse...

Não é de hoje que a grande maioria dos brasileiros tentam improvisar até a própria psicologia para poder se adequar a um 'semi-padrao-primeiro-mundo', não só o caso das televisões que você até citou, mas também em outros fatores que me pergunto o porquê de acharem que estão no primeiro mundo, simples detalhes como a carência de serviçõs essenciais 24 horas por dia (coisas básicas como supermercados, farmácias e até pizzaria) não são abertas a pessoas que moram em locais mais afastados de áreas como Jardins ou Moema, o próprio governo e prefeitura não se lembram que, por mais que um Geraldo Alckmin consiga os votos da classe média, na verdade é o voto da classe C-D que conta, afinal, a zona leste domina a população da metrópole, o Lula ganhara as últimas eleições devido ao fator nordeste, isso não precisa nem ser citado, mas enfim..
Eu, particularmente eu, que sou uma pessoa que gosta muito de aprender e vou atrás de informações que me interessam, careço de cultura na arte musical, se me perguntarem sobre Jazz eu sequer consigo responder coisas decentes, eu tenho muito o que aprender, e ainda por cima estou citando a minha pessoa.. a que vai atrás de tudo pela internet, e mesmo assim, sou carente de informação.
A sociedade brasileira só se impõe culturalmente em projetos que visam popularizar a bossa nova, como você mesmo disse, até a própria Folha de SP está lançando CDs de Bossa devido ao aniversário, a mesma lançou há alguns meses atrás uma outra coleção, mas de Jazz, e se algum bom conhecedor de Jazz pegasse aquela coleção ele veria que ali não há nada demais, não há nada para se conhecer, no máximo um simples resumo da biografia dos músicos e alguns títulos muito bem conhecidos, e olha só.. essa coleção era visada ao público da Folha, que, segundo o IBGE, é considerado um dos públicos mais cultos do Brasil.
Quanto ao RAP, nem há muito o que falar, só que o pessoal esquece o que o RAP é (Rhythm and Poetry), mas insistem na idéia de preservar essa inescrupulosa cultura americana popular, chamando de RAP. (Se bem que já criaram várias variações, já viu?)

Unknown disse...

A técnologia acessível para a juventude é apenas um sintoma do que a educação liberal acarretou: superficialidade. Exceto uma pequena fração da população, o resto perece na ausência de fundamentos não só da educação e cultura, mas dos procedimentos básicos de convivência social. Os direitos vêm antes dos deveres, há clara deficiência de comunicação(ex.: mesmo um teclado de computador proporcionando velocidade de digitação, cada vez mais as pessoas escrevem errado e isso se torna um hábito até chegar ao ponto de esquecerem como se escrevem certas palavras). Parece que estamos vivendo outro período das travas, onde se queimavam livros. Mas o ponto do post é a distorção de valores e significados com a justificativa de dar lugar a "modernidade".

 
 
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