quinta-feira, março 05, 2009

Street Art X Arte, Contracultura X Cultura, quem ganha, quem perde?

Sobre a chamada Contra-cultura, isso me soa um assunto já antigo, me lembro do Burroughs, etc. Hoje o que se chama Street Art também já existe a algum tempo, já que esta denominação está ligada diretamente ao graffiti. Outros também consideram Street Art as ilustrações, desenhos de cartazes e panfletos ligados aos shows de bandas punks no fim dos anos 70. Temos uma variação que se chama Toy Art, a versão em formato de "escultura" da Street Art. As ilustrações nos produtos ligados ao skate também fazem parte desta estrutura. É pertinente lembrar das teorias e afirmações de Andy Warhol sobre a arte e produto, mas aqui o espaço é muito reduzido para ser tratado com relevância digna.
Seria um grande equívoco não reconhecer a legitimidade artística de muitos que se enquadram na Street Art, realmente muitos artístas se libertaram do mero aspecto ilustrativo, que muitas vezes só tinham uma função decorativa, para funções políticas e outras dentro do universo artístico.
Mas vamos analisar em termos de grandes cidades do Brasil, onde pessoas tem acesso a informação globalizada, que sofrem com a crise de identidade, divididas entre a realidade de pais sub-desenvolvido e a identificação com a cultura do chamado primeiro mundo. Como acontece em qualquer parte do mundo, pois o ser humano é o mesmo, independente de sua cultura, nacionalidade, sistema político-econômico, o modus-operandi, as questões existenciais são basicamente as mesmas. Levando em conta que existem os pontos positivos da Street Art, que é um segmento muito novo aqui no Brasil, no aspecto deste segmento se reconhecer como Street Art e começar a criar aos poucos sua própria identidade, há muitos pontos negativos, que são reflexo do comportamento em larga escala da juventude.
O que me chamou a atenção foi uma sessão de fotos de uma recente exposição de Street Art no Rio de Janeiro, que bem poderia ser em São Paulo. A esmagadora maioria do que compõe este universo, é extremamente genérico e previsível. Mesmo os artístas de ponta da Street Art no Brasil soam com um "delay" do que é feito nos E.U.A., Europa e Japão. Tanto o público quanto os artístas da Street Art carecem de uma identidade, de uma originalidade. Roupas, lugares, gírias são incorporadas de forma sintética, simultaneamente os gostos pessoais de cada um não foge muito ao gosto coletivo. Isto se reflete na arte criada, muitas vezes comprometendo o valor criativo da obra, se tornando apenas um produto de função estética impessoal, como se fosse fabricado em série. Talvez os bonecos de Toy Art tenham a intenção de romper isso, sendo personalizados pelo artísta ou o consumidor em contraponto dos bonecos serem fabricados em série.
No geral, a Street Art se tornou apenas mais um segmento de mercado. Os que fazem parte deste segmento podem argumentar e não aceitar isso, mas o que acontece demonstra que sim, é apenas mais um nicho de consumo. Mesmo que se usem ícones libertários e revolucionários, façam a chamada intervenção urbana que intenta em ser uma função catalizadora de mudança na sociedade. A última revolução da semana foi televisionada: portabilidade...

4 comentários:

Vagner Pitta disse...

interessante...apesar de eu ter vindo de uma escola erudita, a qual eu não segui formalmente, mas a sigo de forma informal tentando enriquecer minhas técnicas e concepções de arte através da arte mais puramente composta, escrita e elaborada...a mais complexa...bem, embora eu seja desse seguimento, já há algum tempo em que venho estudando o rap e hip hop, a livre improvisação, o pop, as relações e rupturas entre cultura e contra cultura, cultura popular e cultura erudita, modernismo e pós-modernismo, a arte de rua e a arte das grande galerias...enfim, em todas há criatividade e legitimidade. Quanto há esse post, digo que sou ainda um tanto leigo pra opinar de forma mais rica...mas vejo muita legitimidade na street art ainda mais do que o rap em si que, na maioria das vezes e dos casos, usa uma poesia pobre e com alusão à marginalidade...mas tem muitas formas de rap underground, feito com criatividade musical e poética, bem como tem muitos artistas de ruas que fazem uma arte bem politizada e criativa...um exemplo até meio clichê é o jean michel basquiat, pintor excepcionalmente criativo que veio dos meios do grafitti.

estou lendo um livro super interessante: chama-se A Cultura da Mídia, de Douglas Kelnner. O filósofo é sensato e perpicaz: ele analisa o rap e o grafitte, a blaxpoitation, a filosofia da escrita e dos filmes de Spike Lee, os fenômenos da cultura pop como Madona e Michael Jackon, as séries de televisão como Beavis and Buthead, entre muitas outras culturas jovens que fizeram e ainda fazem a cabeça da juventude desde a década de 90 até os dias de hoje...

bem interessante...em breve eu escreverei algo, com embasamento no jazz, lá no farofa!


Abrax!

Unknown disse...

Sim Pitta, o Basquiat, assim como o Keith Haring, são muito importantes para a arte. O que coloquei em questão foi a digamos, terceira geração a qual muitos ilustradores de publicidade migraram para o segmento "graffiti indoor". E o caso esoecífico do Brasil que tem dificuldades de romper com suas influências e criar sua própria identidade, como nacontece em muitos países onde a sua nacionalidade é emancipada.

Anônimo disse...

E ai tudo bem ? Curti seu comentario a respeito da galeria nem um dos post anteriores no qual dei minha opinião.
A respeito da street art, acho que vale o mesmo para expressões como a música também. Influências - não há como criar nos dias de hoje sem ter alguem fazendo igual la na finlandia por exemplo ou sem ter uma referência de algo já realizado. É certo que no Brasil é exagerado a chupinhança de países de primeiro mundo, clones do que já existe la fora, pessoas da street art ganhando o pão com sua arte que virou produto em tempos de matar um leão por dia. Ainda mais antes da moda da street art se a pessoa já era antenada apenas roubou a identidade do gringo para fazer a sua aqui e ganhar ainda reconhecimento por isso, afinal ele 'chupinhou' antes de ser moda no terceiro mundo ou seja o pioneiro na imitação! Nada contra o artista que usa da referencia, mas é assim que se resume a cultura atual ao meu ver. Paciencia, só acho que poderia ter mais identidade e menos cópia.

Unknown disse...

Valeu pelo comentário, mas influência, referência são coisas distintas. Veja o caso de Jimi Hendrix, ele tinha influência de Muddy Waters, Otis Rush entre outros, mas criou algo diferente, com sua própria identidade apartir de suas influências. Agora se o artísta usa da referência, ou seja, da alusão de outro artísta, fica mais difícil de detectar até que ponto isto é realmente usado no processo criativo ou apenas é um artifício estético e muito menos para que finalidade.
Definitivamente não sou contra a Street Art, apenas faço uma análise empírica sobre ela, sem paixões pessoais. Sobre a arte ter uma semelhança em várias partes do mundo, isso é comum e sadio, mas em muitos casos, principalmente no Brasil, não é bem assim, por isso eu citei o "delay", de pelo menos 3 anos de diferença, depois que a linguagem as obras já foram assimildas e expostas pelo mundo afora. Aí no caso fica totalmente descartado o teor vanguardístico e isso nem sempre é necessário. Mas eu particularmente creio ser um tanto enfadonho esperar sempre alguém dar o primeiro passo e depois de estabelecido uma "segurança", uma aceitação, para o artísta seguir os mesmos passos.

 
 
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