sexta-feira, outubro 09, 2009

São Paulo está no caminho da India

Socialmente falando, deixemos de lado as questões espirituais. Também não levemos em conta a diferença cultural entre o oriente e o ocidente, pois há muito mais que um hemisfério e um imenso oceano que os separa. O sistema de castas na prática, é um sistema de injustiça para justificar a diferença social de uma nação. Se os antepassados foram ladrões, as futuras gerações estão fadadas a viver de delitos, mesmo que esta pessoa tenha a honestidade ardendo em seu coração. Se uma pessoa tem domínio do conhecimento da física quântica e faz parte da casta dos mendigos, só poderá aplicar tal conhecimento na arte da mendicância. Se uma pessoa que não tem a menor vocação para as finanças a ponto de esgotar suas riquezas e fizer parte da casta dos ricos, bem, alguém vai ter que arcar com as despesas deste ilustre para ele permanecer rico.
Mas o motivo deste post não é diretamente ligado ao assunto sobre este sistema indiano. Um dos dois motivos foi que nesta última terça-feira eu participei de um workshop com o pianista e compositor inglês Veryan Weston sobre orquestração na improvisação livre, no teatro da faculdade Santa Marcelina em Perdizes, São Paulo.
Haviam praticamente apenas os alunos de música da faculdade e notei uma grande diferença alí. A começar pela região da faculdade, que fica numa região que difere da grande maioria da cidade, assim, como Higienópolis, Moema, Morumbi, Pacaembú, Sumaré. Estes lugares são muito mais bem cuidados do que o resto da metrópole e há uma gritante diferença étnica. A maioria esmagadora de pessoas que formam a sociedade brasileira, nestes locais, são apenas funcionários remunerados com baixos salários e se residem na região, são os que moram no local de trabalho, como alojamento de funcionários ou quarto de empregado doméstico. Como meu cotidiano e as pessoas com quem me relaciono diariamente são o que chamam por aí de "povão", me sentí um estranho naquele teatro. Mesmo alguns dos alunos e parte da platéia serem estéticamente parecidos com pessoas do povão, algo os diferencia. Um exemplo? Muitos destes jovens de classe média e alta, quando se vestem de forma simples, há um refinamento. Como alguns que estavam de chinelo de couro, camiseta e bermuda. São roupas simples, mas percebe-se que são de uma grife, que são roupas mais caras. Sem contar quando estes conversam, mesmo com gírias adotadas das "ruas", há uma grande diferença, são como dialetos.O outro motivo foi um post sobre o público feminino afro-brasileiro que esteve na apresentação da dupla Les Nubians, composta por Helene e Celia Faussart no SESC Pinheiros. Este post se encontra no blog Eu, ela, o cão e o affair redivivo e este trecho que me chamou a atenção:

"
Já no hall de entrada, uma pergunta se fez aos meus botões e acompanhou-me até o final da apresentação – e continua em delay agora: quando não há show das Les Nubians na cidade, onde se escondem aquelas estonteantes negras todas?"

Me parece
que o autor do post fez uma pergunta retórica, a não ser que seu cotidiano tenha mudado drasticamente e tenha esquecido que mesmo o SESC tendo atividades e atrações com preços acessíveis à maioria da população, mesmo sendo criado para as atividades de lazer da população além do pricincipal, que é beneficiar a classe comerciária, este tipo de apresentação, neste tipo de local, não atrai o povão. Independente de ser ou não uma pergunta retórica, eu respondo a pergunta. Elas não se escondem em lugar nenhum. Talvez muitas delas não posssam usar uma bela vestimenta e caprichar tanto na maquiagem, por estarem em algum emprego que isto não é funcional. Se alguém resolver passear pela noite paulistana, mas fora do circuito centro-oeste e passar pela zona norte, por exemplo, vai encontrar muitas delas com certa facilidade. Mas eu as vejo todos os dias andando nas ruas de São Paulo, nos transportes coletivos, lojas, etc e etc.
O problema deste país é que se nega ou finge que não existe e não se vê. O sistema racista e o sistema de castas existe nesta cidade, mas só que de forma velada.

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