sábado, abril 10, 2010

Cenário independente paulistano... dividir e conquistar! the vikings are coming!

A coletânea de bandas punk da escandinavia não tem nada haver com o post, mas esta capa é tão emblemática que a usei para ilustrar a situação. Dividir e conquistar é a tática do império romano e outros impérios para expandir seus domínios. Veja o que aconteceu com as nações da Africa, se fragmentou pela mão do pessoal da pesada que se encontra no continente acima, a Europa. A Europa se auto-proclamou como o centro do mundo e até como berço da civilização... tá bom...
Enquanto o pessoal "selvagem" do Oriente Médio já usava o sistema numérico que usamos e comia com talheres, o "velho mundo" se consumia em peste bubônica e outras mazelas nos seus chamados burgos.
Bem, vamos ao assunto em sí. Apesar de haver uma revitalização do cenário cultural, principalmente o musical independente em São Paulo, depois do grunge, que não podemos negar, causou uma boa movimentação, criando novas bandas e gravadoras, inspirado na pequena Sub Pop, que era apenas uma sala num prédio comercial em Seattle, cidade portuária longe dos centros culturais na California e New York. Até o consagrado grupo Titãs se aventurou nessa barca, convidando o produtor Jack Endino e cada membro se arriscando em projetos paralelos ("Será que isso o que eu necessito?!" - nome da música do disco Titanomaquia).
Mesmo o setor de música comercial se encontra numa situação não muito diferente do meio da música autoral independente. E as bandas que tocam covers, bandas intérpretes, de tributo, etc, adotaram uma técnica de sobrevivência no escasso mercado de bares, casas noturnas e happy hours da cidade. Elas fecham o cerco, limitam as opções às outras bandas, porque se não for desta maneira, fica sem trabalho. Ainda mais neste meio, onde sempre aparece alguém melhor e muitas vezes que cobra menos pelo trabalho e isso também gera uma degradação ao real valor do músico. O proprietário não está nem aí com essa qualidade, ele quer seu estabelecimento cheio e consumindo muito, mesmo que o som não seja feito lá com muito esmero (se for com criatividade e sentimento, esquece!). Se fazem as "panelinhas", que são tão fechadas e resistentes de fazer inveja a Panex, Rochedo e Clock. Mas o meio autoral não deveria ter este tipo de comportamento, pois vale é justamente a característica individual de cada artísta. A diversidade é extremamente benéfica ao meio artístico autoral.
Vamos fechar mais o foco. No caso do chamado cenário punk/hardcore, onde o brasileiro em sua maioria não entendeu que tudo era mais o conceito do que o estilo e sonoridade, acabou limitando tudo nos famosos "one, two, three, four" e 3 acordes. Não há muito o que fazer se o padrão musical foi limitado. Poeticamente, não é diferente, usar de ironia e revolta político social, mais ligada ao relacionamento entre população e orgãos políticos e ideologias. Isso migrou para o hiphop, com o tal do rap denúncia, que narra a injutiça social. Mas a maioria fica só reclamando e não tem uma atitude de efeito contra este mal. E pior quando algum artísta membro da periferia consegue alguma notoriedade e upgrade financeiro, passa a agir como seus opressores burgueses. Tá aí essa cultura do ouro, do "bling", numa atitude exibicionista de "provar" que venceu na vida. Mas na verdade se prostituiu e perdeu seus valores, se é que teve em algum momento.
Com o tempo, o hardcore também se enveredou por outros caminhos além do que era uma alternativa à cultura do consumo descartável. Muitos deste meio estão preocupados em estar "style", tênis tal, guitarra tal(e isso as vezes nem tem haver com a qualidade do instrumento), de serem vistos em lugares de prestígio do cenário, de estar com tal fulano, etc. O cenário musical do punk era estruturado na coletividade e união. Ainda bem que tudo não homogêneo e existem pessoas que fazem pela arte, pelo ideal. Mas coisa poderia ser bem melhor.
Vamos ajustar o microscópio no foco mais fechado: o free jazz e improvisação livre. Aí a coisa fica muito mais difícil. É um tipo de música que não agrada a maioria, pois está oposta ao modelo geral de música como forma de entretenimento. É um tipo de música desafiadora, que o ouvinte tem de parar suas atividades costumeiras para apreciar um terreno que ele não tem controle. O músico Ken Vandermark me disse que as pessoas preferem um papel de parede musical, uma música que seja apenas pano de fundo para suas atividades diárias e não querem ser desafiadas e surpreendidas pela música. E o número de músicos dispostos a se aventurar em um terreno destes, que conta com um reduzido número de apreciadores, também causa uma falta de contingente. Existe até a visão errônea e pré-conceituosa de quem faz este tipo de música, é porque não sabe tocar direito. Mas aí nem se perde tempo com este tipo de pensamento.
Em São Paulo quase não existem músicos que tocam free jazz e improvisação livre, e muito menos lugares para se prestigiar. Ainda bem que SP, seguiu a tendência internacional e este tipo de música encontra espaço em lugares como centros culturais, galerias de arte. Mas o pensamento provinciano coloca em xeque o crescimento deste setor musical. Nestes poucos anos em que surgiram poucas manifestações da música mais radical, já ocorreu a setorização do minúsculo meio. Houveram dois eventos coletivos de improvisação que não foram capazes de criar uma orquestra de improvisação, como é a tendência nos países consolidados no estilo. E isso não tem haver com o número de músicos. Os interesses pessoais, vaidade, ego, sempre prevalecem e emperram o progresso, a evolução musical. No curto espaço de tempo, escutei uma série de falácias neste reduzido meio. Um tal de um não falar com outro, de depreciar as habilidades alheias. Teve caso de parecer que se reinvindicavam um título de pioneiro do free jazz ou coisa parecida. Eu me descuidei e me encontrei no meio desta sujeira, mas pela misericórdia de Deus, rapei fora. A música é importante para mim, mas não ocupa o primeiro lugar em minha vida. Não adiantou muita coisa o Phil Minton, Veryan Weston e Peter Brötzmann tocarem por aqui. Se tornou apenas um evento social, não um aprendizado de humildade e respeito ao próximo. No caso do Brötzmann, o qual conversei rapidamente da vez que esteve aqui, me passou muita serenidade, simpatia e humildade, em contraste à sua arte, que é audaz, selvagem e em alto volume. Se deveria tomar como exemplo a se praticar, o título da gravação do Sonore, trio formado por Peter Brötzmann, Mats Gustafson e Ken Vandermark:
No One Ever Works Alone.
E assim as coisas por aqui caminham com uma dificuldade um tanto quanto desnecessária. E olha que tem gente falando em "energia positiva", "luz", "muito amor"...

"Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os hipócritas também o mesmo?
E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os
hipócritas também assim?"

Evangelho de Mateus capítulo 5, versos de 44 a 47.

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