É realmente muito bom o critério da produção do festival, que procura trazer artístas de expressão no cenário atual da música instrumental ou direcionada ao que chamam de jazz. Creio que o nome foi a substituição de patrocínio, que antes era de uma bebida, que trouxe artístistas que destoaram completamente do que o público habitual deste tipo de evento costuma ver, como Andrew Cyrille, James Newton e Archie Shepp. Desta vez tivemos o Don Byron e seu New Gospel Quintet, com Pheeroan AkLaff na bateria. Claro que o organizador é ponderado em relação ao casting, pois imagine se ele escalasse o cenário da improvisação livre européia atual? Seria um desastre de bilheteria, os desavidados sairiam xingando do recinto e ficaria uma dezena de pessoas para apreciar as cacofonias dos músicos. A improvisação livre é um tipo de manisfestação artística muito restrito, não é superior a nenhuma arte musical, apenas é mais uma gama dela.
Mas o assunto sobre este post é sobre o evento, independente de quem está no palco. O local onde ocorre o evento anual antes era conhecido como Palace, lugar sempre escolhido para acolher um cantor que insistem em chamar de rei fazia seus concorridos shows. Tinha um certo glamour sobre este lugar. Mas quando você entra no local onde acontece as apresentações, se depara com mesas se apertando e balançando com suas pernas tortas, com um certo desconforto que não condiz com o preço dos ingressos. Mas as pessoas se sujeitam a isso tudo pela carência de um evento internacional. Há uma certa aura de elevação intelectual entre o público em sua maioria, afinal está em um evento internacional de jazz, de música sofisticada. Tudo mera ilusão. A maioria depende de seu curto repertório(às vezes é a aquela coleção de jazz da folha de são paulo) para poder assimilar a música executada. A codificação em suas mentes do que é jazz se moldou à um modelo totalmente equivocado. Mas ninguém sai ferido nesta batalha sonora, todos voltam para casa e com assunto durante a semana em seus respectivos empregos e atividades profissionais e sociais. Eu poderia descrever com mais detalhes as situações que ocorrem neste tipo de vento, mas não vejo necessidade. Sim, com um esforço se abstrai o local, as pessoas, as conversas e se desfruta de boa música. Para mim foi melhor, por chegar ao evento já com as apresentações em andamento e a saída rápida após o encerramento. O que não se pode evitar é o intervalo entre as atrações, onde dividí a mesa com desconhecidos e é complicado abstrair o teor dos diálogos. Outra situação é o costume de aplaudir os solos individuais na música, que atrapalha a audição e muitos o fazem porque se tornou uma convenção em shows de jazz. Isso provavelmente ocorria de forma espontânea em jam sessions antigamente entre os músicos, que se empolgavam com a performance de seus colegas. Hoje isso ocorre de uma forma tão sincronizada e artificial, que parece script de platéia de programa de auditório, tipo Silvio Santos, onde se levanta uma placa escrito: "aplausos", por trás das câmeras.
Em alguns momentos eu fiquei me questionando o que estava fazendo naquele lugar, mesmo compreendendo estas mazelas e convenções sociais. Claro que este tipo de evento sempre trará alguma atração que eu aprecie e terei que fazer o exercício de abstração para apreciar somente a música. Mas é assim mesmo, the show must go on.
ps.: Agradeço ao meu colega Wagner Pitta e seu blog Farofa Moderna pela cortesia.
domingo, maio 23, 2010
Bridgestone Music Festival 2010, mas a música não é o assunto principal
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