segunda-feira, outubro 04, 2010

Improvisação Livre, improvisação, improvisadores e "improvisadores"

Ultimamente o Brasil (mais em São Paulo), tem desenvolvido um pequeno circuito de música mais ousada, conhecida como Free Improvisation, às vezes ligadas ao Free Jazz. Ainda é um espaço microscópico, mesmo dentro do circuito cultural metropolitano, mas já desenvolveu um intercâmbio com grandes músicos do cenário mundial como: Phil Minton, Veryan Weston, Mark Sanders, Trevor Watts, Hans Koch e já passaram por aqui, Peter Brötzmann, Han Bennink e Michael Moore (numa situação bizarra com a Mantiqueira?!), Art Ensemble Of Chicago, etc. Alguns grupos e músicos individuais iniciaram seus trabalhos com muita dificuldade no início da década de 2000 e continuam lutando para manter viva esta música.
O grupo Abaetetuba foi o pioneiro na improvisação livre coletiva e músicos como Marcio Mattos (radicado na Inglaterra) e o suiço Thomas Rohrer participaram deste projeto, que surgiu dos encontros de Antonio Panda Gianfratti e Yedo Gibson. A maioria de seus membros está "exilada" na Europa: Rodrigo Montoya faz parte da London Improvisers Orchestra e outros projetos, Yedo Gibson e Renato Ferreira na Holanda com a Royal Improvisers Orchestra e outros projetos e já
possuem o reconhecimento de seus talentos e arduo trabalho e dedicação à música no seu estado mais puro como arte.
Também tem surgido uma nova geração de músicos interessados em Free Jazz e Free Improvisation, assim como um pequeno e até significativo público interessado nesta metrópole totalmente desordenada e cheia de paradoxos. Poucos são os meios de divulgação e informação em termos de mídia produzidos em São Paulo e se não fosse o ilimitado acesso da world wide web, que possibilita todo o tipo de informação e intercâmbio com o cenário mundial destes estilos musicais, estariamos em uma situação miserável em termos de cultura.
Infelizmente os meios mais acessados de informação, inclusive digital, pecam no conhecimento mais abrangente em relação a música livre e ainda vemos pessoas emitindo informações cheias de equívocos e opiniões pessoais que não deveriam ultrapassar as conversas informais com amigos.
Até o circuito de música independente, que teve seu apogeu nos anos 90 com o fenômeno artificial e sintético do Grunge, é até hoje amorfo, prostituido de seus ideais (se é que ainda existe algum ideal no sentido mais poético). Então por essa precariedade do circuito underground, o Free Jazz e a Free Improvisation acabam circulando pelos mesmos espaços, não que isto seja negativo.
O problema reside num problema que remete à raiz educacional e cultural deste país. O improviso ganha um sinônimo de despreparo e estes estilos musicais são justamente o contrário disso. O verdadeiro improvisador, tanto da Free Improvisation e o Free Jazz precisa ter à mão, um vocabulário desenvolvido e um domínio razoável de suas ferramentas, e isso não quer dizer de maneira nenhuma que o músico tenha que ser um prodígio de seu instrumento.
Então encontramos alguns músicos que tem acesso sobre o assunto, mas na prática, estão longe de se enquadrarem no perfil do verdadeiro improvisador. Muitos deles conhecem nomes, gravações de artístas fundamentais, mas isso não habilita tais como improvisadores. Como a maioria do público é formada de leigos, mas abertos à uma sonoridade mais inusitada, ainda não desenvolveram a percepção o suficiente para detectarem se uma peça improvisada foi bem sucedida ou não. Um grande emaranhado de noise e clusters, performances meramente estéticas podem impressionar o novato público. Mas a peça de improvisação possui início, desenvolvimento e conclusão de uma idéia criada naquele instante, contando com o repertório pessoal de cada envolvido. É obviamente equivalente a uma conversa entre pessoas sobre determinado assunto, cada participante necessita estar ao par do assunto, conhecê-lo, para desenvolver o debate, expor suas impressões e a conversa se concluir. Caso contrário, é similar a um bate-papo de ébrios na mesa de um bar, só como pretexto entre as doses ingeridas e o estado de consciência não exige um contexto que se conclua e faça um sentido lógico.
Aos que estão interessados em desfrutar deste estilo musical no seu estado mais puro e livre em termos de arte, tanto como ouvinte ou músico, aproveite o fácil acesso à informação na midia digital, reflita nas reportagens e entrevistas dos musicos que já possuem um histórico neste campo, ouçam e comparem as performances e logo identificarão as características distintas entre este aparente emaranhado de notas e sons. É como um verdadeiro enólogo ou sommelier (sem pré-conceitos de gênero, é apenas uma comparação), que sabe distinguir as suaves diferenças entre as safras de uvas, sabor, qualidade de um vinho. Só que na música, não é recomendada a moderação na quantidade de doses, pois quanto mais, melhor se apura, ao contrário do vinho que quanto mais doses, diminui a percepção. Aprecie com moderação.

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