Antes de tudo, não é um post sobre o conhecido disco de Stanley Clarke, School Days (1976). Muita gente detesta Stan, que ficou estigmatizado como um exibicionista do baixo elétrico, como acontece com os guitarristas. Mas ele está além disso, é um brilhante músico e compositor, que participou de um clássico de Pharoah Sanders, o Black Unity (1971), do Moon Germs de Joe Farrell (1972) e do grupo Return To Forever. Só coloquei a foto porque gosto da capa (do disco também) e serviu para ilustrar o assunto que meditei nesta manhã.
Tempos de escola. Indiretamente tem ligação ao que ocorreu no Rio de Janeiro, mas não é sobre bullying, armamentos, ou coisa parecida. Veio à memória meus tempos de escola, onde havia o complemento da rede social da maioria das pessoas, que começa pela família, depois os vizinhos e a escola, onde boa parte de nossa infância e adolescência passamos. Complementando com os amigos da vizinhança, os da escola muitas vezes moram em outros bairros, mas convivemos de forma intensa, se assim o desejamos. Acontece de integrarmos os amigos da escola com os das ruas do bairro, e até ambos estão nos dois lugares. No meu caso tive amigos de escola que eram vizinhos de bairro.
Bem, gostaria de falar especificamente sobre os últimos três anos letivos que compunham o chamado colegial do currículo das escolas estaduais. Estavamos crescendo e deixando aos poucos a fase mais turbulenta que é a adolescencia, dos 15 aos 17 anos de idade. Misturam-se os sentimentos e o turbilhão de informações em nós, que estávamos no meio do caminho, não querendo ser mais crianças, e sermos levados à sério, mas não possuindo a experiência, capacidade e maturidade de um adulto (aliás, muitos adultos ainda não as tem). As meninas confundem sua "maturidade" por conta da acelerada mudança corporal em relação aos meninos, que lidam com seus conflitos, o receio ou não do serviço militar obrigatório, a virilidade, a habilitação de motorista e ambos em relação à faculdade. Enfim, muitos artigos, livros e teses redigidos com mais competencia por profissionais de comportamento explicam sobre isso.
Lembrei do forte vínculo que estabelecí com um grupo de amigos, pois estudamos na mesma classe por três anos consecutivos. Duas meninas, três meninos e mais alguns de outras classes de forma menos intensa. Creio que um grupo que girava em torno de 10 amigos. Compartilhamos sonhos, vandalismo, estudo, paixões, conflitos, um micro mundo, um esboço social para cada indivíduo que possuía personalidade distinta uma da outra, mas que conseguia conviver harmoniosamente. Sim, às vezes nos desentendíamos, mas isso não passava de um dia de aula ou um fim de semana. Alguns já pensavam no lado mais prático da vida futura, em ganhar dinheiro, em ser bem sucedido de acordo com o padrão capitalista, outros no romantismo do amor à profissão ou ideal filosófico e artístico, outros já direcionavam seus barcos à deriva, na ilusão de que seriam jovens para sempre, que bastava colar na prova e estava tudo certo, que chegariam sempre em casa com roupa lavada, comida feita e contas pagas pelos pais. Os que deixaram de orientar o leme de suas vidas no bravio mar da sociedade impessoal, foram tragados pelas marés, mas estes em sua maioria, foram os amigos de bairro. A maioria dos meus amigos de bairro não deram continuidade nos estudos, alguns foram para caminhos tristemente medíocres e tortuosos. E outros encontraram o crime, a prisão, a violência e a morte.
Mas os meus amigos do grupo da escola, todos se estabeleceram dentro dos padrões da sociedade, alcançaram grande parte de seus objetivos, a maioria constituiu família, renda, etc. Tentamos nos reunir em alguma ocasião, mas nunca conseguímos reunir o grupo todo. Questões geográficas, do cotidiano tornaram isso inviável, além do fato mais triste: a falta de interesse. O conceito de amizade é relativo para cada pessoa, cada um determina o seu. Outro fator é que cada um não quer abrir mão, nem que seja uma vez, de sua rotina. Me lembro que fui em uma reunião de ex-alunos da escola e até certo ponto foi divertido rever muitas pessoas. Mas também foi um choque social, pois meus amigos em sua maioria se tornaram os "caretas adultos" aos quais criticavamos em nossa adolescência. A maioria abandonou seus sonhos e ideais e apenas se ajustaram à maquina da sociedade onde o indivíduo gera renda e consumo, sem questionamentos. E em seus medos, angústias, conflitos e anseios as pessoas se defendem no bunker do egoísmo, ignorando que entraram em uma armadilha feita por sí próprias.
"E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará." - Mateus 24:12
"E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus." - Romanos 12:2
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