segunda-feira, outubro 17, 2011

A tal da improvisação livre

Finalmente começam a nascer os frutos da pequena e frágil muda de improvisação livre em terras brasilis (no caso, a cidade de São Paulo é o foco e epicentro), graças ao arduo trabalho pioneiro de Antonio "Panda" Gianfratti e Yedo Gibson com o grupo Abaetetuba e seus integrantes, aos irmãos Mesquita que articularam a vinda de Phil Minton, potencializando a centelha inicial desta tenra caminhada e também o recente e essencial esforço louvável de Juliano Gentile junto ao Centro Cultural São Paulo, que tem proporcionado uma estrutura realmente significativa para o desenvolvimento da música livre criativa. É incontestável o mérito destas pessoas e quem tiver uma opinião contrária, lamento informar que se embriagou no sedutor vinho da soberba e vive um delirium tremens sem uma única gota etílica ingerida.
Então no final desta primeira década, tivemos a alegria de prestigiar expoentes importantes e contemporâneos da improvisação livre mundial, como Hans Koch, Phil Minton, Veryan Weston, Han Bennink, Marcio Mattos, Ken Vandermark, Mark Sanders, Trevor Watts, Ab Baars entre outros e o mais importante, de forma totalmente acessível. Não se iluda com os eventos do sesc, pois existem vários parênteses e não foi lá tão acessível prestigiar Peter Brötzmann, Ornette Coleman e membros da AACM nas unidades da corporação (mas esta é uma outra, digo, outra história, se é que me entende...). Aliás me recordo da arapuca armada para o trio de Bennink no sesc com um certo conjunto musical local, que segundo o próprio Bennink, prefere esquecer que aquilo aconteceu, mas não alterou o seu amor pelo Brasil (isso posso falar com toda a certeza, pois ouvi dele pessoalmente quando estive em sua pátria). Além de performances, foram e continuam sendo ministradas oficinas (se acha mais "chic", tem o termo workshop) totalmente gratuitas e acessíveis com vários destes artistas, que são geradoras dos tais frutos destes esforços pela música pura e simples. E este é o ponto crucial e motivador desta nota (ou post, enfim).
Podemos realmente considerar que o marco inicial e até oficial documentado na improvisação livre no Brasil está no cd lançado de forma independente, o Liberdade - duo Antonio Panda Gianfratti e Yedo Gibson (2003). A história é tão recente, que em 2006, quando Phil Minton se apresentou em São Paulo, pouquíssimas pessoas compareceram ao concerto gratuito e a maioria nem tomou conhecimento ou o mínimo de interesse por esta forma de arte que vem se desenvolvendo à decadas. Não meu caro, sem desculpas, pois já estavamos vivendo o conforto, rapidez, facilidade e acessibilidade proporcionada pela world wide web e suas ferramentas, como os blogs, sites de música e músicos, sites de busca, de video streaming, radio streaming, enfim, nego não tava nem aí pra isso. Fora que já temos um histórico de contato com uma música mais ousada (mesmo que de forma muito menos acessível), como por exemplo John Zorn no free jazz festival de 1989 e o Lounge Lizards em 1988. Mais recentemente também tivemos o grupo do guitarrista francês Claude Barthélémy em 2009 de forma completamente acessível ao público em geral, nas costumeiras segundas na unidade do sesc da av. Paulista, onde o público fiel era praticamente o mesmo, com baixíssima audiência mais jovem, que era composta por estudantes de música e alguns eventuais transeuntes com horário disponível. Realmente quase ninguém dava atenção ao nicho que inclue o chamado free jazz, free music, free improvisation ou até o duvidoso rótulo de avant-garde.
O que mais me "assusta" nisso, é que mesmo a maioria das pessoas que tem oportunidade e acesso à informação e cultura desta provincia travestida de megalópole, tem uma pedância de uma suposta aquisição de detenção de cultura completamente deficiente e distorcida em todos os sentidos, na esmagadora maioria das vezes agindo abominavelmente como as cortes reais de séculos passados, com muita pompa, peruca, maquiagem, "sangue azul", mas internamente corroídos por toda sorte de doenças (não só no sentido clínico). E qual o vínculo disto com os frutos da improvisação livre em São Paulo? Logo concluo a questão.
Quem já passou da faixa etária dos 30 anos de idade, possivelmente já ouviu falar da tal Generation X, se esteve ligado aos movimentos artísticos dos anos 80, do underground. Depois denominaram a Generation Y, infectada com a repugnante e nociva ideologia neo- liberalista. E hoje presenciamos o que obviamente se chama de Generation Z, composta de uma juventude com "a faca e o queijo na mão", ou seja, acesso quase que total à todo tipo de informação em velocidade digital, volume incalculável de dados, interligados simultaneamente em todo globo terrestre pela internet. Mas como um computador, que pode armazenar terabytes de dados, trabalhar em altíssima velocidade com processadores de multiplos núcleos refrigerados à nitrogênio, softwares intuitivos e altamente desenvolvidos, soa morto como um vil pedaço de metal (talvez silicio seja o termo mais adequado), se não tiver um operador (usuário) experiente.
Are You Experienced? Jimi Hendrix indagava a questão numa época analógica em que não existiam "maçãs" e nem "janelas" e tanto Bill Gates quanto Steve Jobs nem tinham espinhas no rosto. Mas afinal, o que isso tudo tem haver com improvisação livre?
Eu creio que para uma pessoa com o mínimo de entendimento, tudo que está escrito até aqui, pode ser compreendido com esta conclusão:
Para não pecar em minhas palavras e ser interpretado de maneira equivocada, vou me colocar como um elemento meramente ilustrativo. Mesmo eu tendo iniciado em 1994 minhas pesquisas no terreno da música mais ousada e livre, tanto por dados teóricos, jornalísticos, documentais, aliados à experiência em campo, ou seja, na prática, tendo o privilégio de aprender e trocar experências com o Panda e até recentemente com os membros da Dutch Impro Academy e participantes de diversos países e qualidades únicas, mesmo tendo um diploma com a assinatura de Han Bennink me testificando como improvisador capacitado além de sua aprovação pessoal em nossas breves sessões, ainda me considero no continuo processo de aprendizado, e isso de maneira alguma é falsa modéstia (meu Deus, que sonda mentes e corações, sabe disto). Isso sem contar com as oficinas que participei por conta do Centro Cultural São Paulo (mais uma vez muito obrigado, Panda e Juliano, que Jesus os abençoe!), ainda me mantenho e me esforçarei para assim permanecer até o fim, com esta postura de aprender continuamente e me sentiria extremamente desconfortável e equivocado, achando que meia dúzia de workshops me fariam um bona fide improviser e muito menos apto a ministrar workshops por aí.
Quem tem ouvidos, ouça, quem tem entendimento, bem, nuff said!









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