Me lembro quando ouvi o Beastie Boys pela primeira vez no programa de videoclips da tv Gazeta, o Clip Trip. Era a música No Sleep Till Brooklyn. Achei o máximo! Eu já não era mais um B-Boy quando conheci o break em 1982 e estava engajado no heavy metal. Como não tinha deixado de gostar de hiphop, quando vi o Beastie Boys meio que misturar os dois estilos que eu gosto, (inclusive a música em si tem a participação do Kerry King, guitarrista do Slayer) curti na hora. Logo em seguida foi veiculado o video da música (You Gotta) Fight for Your Right (To Party), que era ainda mais crossover com o rock pesado. Não deu outra, fui atrás do disco nas lojinhas do bairro, o que era fácil tarefa, o meio dos anos 80 foi generoso com os lp's, dentro do possível na época, sem internet e defasagem de informação musical, se podia encontrar uma grande variedade de títulos, inclusive nomes obscuros para o mercado fonográfico brasileiro, como Laibach, 45 Grave, T.S.O.L., etc. Então comecei a desvendar os detalhes do Licenced To Ill. Era produzido por Rick Rubin, que tinha produzido LL Cool J, Run DMC, Public Enemy, The Cult e é claro, o disco Reign In Blood do Slayer. O disco já abria com a pesadíssima Rhymin & Stealin com o riff de guitarra da música Sweet Leaf do Black Sabbath e o sampler da bateria de John Bonham. Slow Ride continha sampler da música Low Rider do War (grupo de funk que viria a descobrir no início dos anos 90), Brass Monkey era bem familiar, como era o hiphop do inicio dos anos 80 e o beat clássico do estilo miami bass.
É engraçado como para um adolescente o tempo parece longo, mas já no final de 86 não achava mais sentido em ser um headbanger radical e o tal do estilo crossover vinculado ao hardcore me atraia. Isso implicava com a mudança da indumentária, sim, as roupas portavam uma ideologia além de mera estética. O uso de bonés de baseball, camisa xadrez de flanela, bermudas, skate faziam contraste com o preto, jeans, couro do headbanger tradicional.
Em 1989 é lançado o lp Paul's Boutique, simplesmente um dos tratados do hiphop, o livro mestre do sampling, assim como o 3 Feet High and Rising e De La Soul Is Dead. Paul's Boutique era a trilha sonora ideal para as skate sessions (o final dos anos 80 foi o ápice da 2ªonda do skate no Brasil) ao lado do hardcore. Paul's Boutique por incrível que pareça, passou batido quando foi lançado por aqui.
Então vieram os anos 90. O grunge, o manguebeat, a MTV. Um novo horizonte se abriu para a juventude ligada à música de forma mais contundente. Era possível acessar imagens dos artístas favoritos através dos videoclips e até shows captados e entrevistas. Programas especializados em gêneros, como o heavy metal, hiphop e música eletrônica. O engraçado é que a MTV dos anos 90 tinha um vínculo com a música independente no Brasil. Concorde ou não, o canal de tv UHF teve crucial participação na propagação do grunge e o manguebeat. Mas é claro que isso tudo ficou nos idos anos 90, pois a MTV teve que voltar às suas origens mais tenebrosas, ou seja, ser apenas uma vitrine da indústria fonográfica. Hoje em dia a MTV, é irrelevante e até alheia à música independente e realmente criativa feita neste país. Me lembro quando a tv teve que mudar sua diretriz radicalmente para não fechar o caixa no vermelho, quando passou a veicular videos do CIA do Pagode e É O Tchan. Meu Deus! A emissora que gozava de algo até meio cult, devido aos programas BUZZ, 120 Minutes, Lado B, Liquid Television, abria as suas pernas para ser arrombada pela porta da frente. Desde então a MTV não tem realmente mais nada haver com a música em sí.
Mas voltando um pouco antes do holocausto, em 92 é lançado o disco do Beastie Boys que mudaria grande parte parte da música jovem, o Check Your Head. Já contando com os primeiros passos da internet e a cobertura da MTV no Brasil, o Beastie Boys chegou transtornando o ambiente com os videos So Wat'cha Want e a versão hardcore de Time For Livin' do Sly And Family Stone, revelando a origem do Beastie Boys. De uma hora para outra o Beastie Boys se tornou unanimidade entra vários nichos da juventude dos anos 90, os grunges, os skatistas, indie-rockers, alguns headbangers... É feio mas é verdade: a classe média branca começou a curtir um hiphop. E vou te falar uma coisa, esse negócio de hiphop pertencer à periferia eu sempre achei equivocado, pois me lembro que muito "mano" e "função" nos anos 80 nem gostava de rap. Depois veio o Racionais debochando dos "playboys" e toda aquela contenda infrutífera que quase todo mundo já sabe...
Mas o caso é que Adam Yauch morreu de forma cruel, de câncer e não de forma estúpida como Tupac Shakur. Mas Easy-E também morreu doente. Acontece que Adam ou MCA foi instrumento de grandes mudanças e benefícios para a música através do Beastie Boys. Mas agora é tarde, MCA is dead, MCA is deaf... Precisamos seguir em frente como forma de respeito ao seu trabalho, assim como outros que ainda respiram boa música.
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