Com a renovação do público apreciador do chamado free jazz, da improvisação livre, notei que um nome figura unanime nos núcleos de conversas: Han Bennink. Por sua intensa atividade e criatividade, nada mais natural seu nome estar em evidência, principalmente entre o público mais jovem, que foi cativado não só pela sua musicalidade e técnica apurada, mas também pelo humor e irreverência em suas performances e sua personalidade. Han foi e é um dos núcleos percussivos da improvisação livre na Europa, mas jamais se deve esquecer de nomes fundamentais, como John Stevens e Paul Lovens, por exemplo, pois mr. Bennink não fez tudo sozinho.
Mas este post tem um cunho particular de quem vos escreve, ou seja, vou discorrer sobre os meus percussionistas preferidos neste campo de música mais ousada: Sunny Murray e Milford Graves.
Meus fundamentos de baterista englobam grandes nomes do jazz, como Buddy Rich, Art Blakey, etc, mas os que fizeram a diferença para mim, são Max Roach e Billy Higgins. E dentro do rock, o que mais me inspirou a tocar bateria: Mitch Mitchell, do Experience. Claro que vários nomes figuram, como Elvin Jones, Kenny Clarke, mas Max e Billy são os que estão mais vinculados a mim, como influência musical.
Sunny e Milford foram os que me impactaram por desmantelarem os rudimentos do jazz na bateria em um cenário extremamente amplo, mas com os elementos tradicionais expostos nitidamente, mesmo que num quadro radicalmente abstrato. As marching bands, New Orleans, etc, estão nítidos no som de Murray, enquanto todos os padrões e sessão rítmica cubana estão em Graves e consequentemente, as origens ancestrais africanas em ambos.
Murray ampliou sua pesquisa na vanguarda, no experimentalismo, nas novas técnicas, teorias e conceitos da música contemporânea e Graves ampliou para o lado ritualístico, das origens funcionais da música e o ser humano. Digamos que Sunny e Milford foram para mim, a segunda onda de impacto.
Mas porquê a foto do Han Bennink e mencioná-lo? Sinceramente, ele só foi introduzido para ilustrar o panorama percussivo da música livre e servir de contraponto sobre o assunto. Antes que surja alguma margem de equívoco, já está registrado o reconhecimento de sua importância para a música universal, mas para mim em particular, não é dos meus bateristas preferidos e não teve influência impactante. É uma mera questão de gosto musical, como existem tantos nomes que são tidos como "sagrados" e "intocáveis" para muitos bateristas brasileiros, como Jack DeJohnette, Tony Williams e Art Blakey.
Já escutei barbaridades sobre Murray e Graves por aí, que nem vale um parágrafo relatar. Mas vai se falar das limitações de um Edison Machado se não te mandam para a inquisição...
Mas toda esta polêmica é um tremendo enfado sem fim. O que vale mesmo é sempre lembrar dos desbravadores Sunny Murray e Milford Graves, que merecem mais reconhecimento.
Sunny desenvolveu uma técnica estudando junto com Cecil Taylor, no campo físico das notas musicais, das vibrações percussivas, da composição e o modo como ele conseguiu fragmentar os padrões do jazz na bateria é de uma riqueza e sofisticação única. Para quem pensa que o baterista de free jazz só bate à esmo sua bateria, sem a menor conexão, é porquê não está ouvindo atentamente o que é feito. É tudo extremamente bem integrado. Muitos falam de Rashied Ali, por sua associação com John Coltrane mas Rashied é o que é por conta de Sunny Murray.
Milford Graves veio de um lugar diferente, como eu já escreví aqui antes, da música cubana, das congas, dos timbales, dos tambores africanos, sinos e pratos do Oriente. Ele mesmo não se interessava pela bateria no jazz até acontecer a libertação do jazz. Graves me mostrou a integração mais nítida de algo que foi separado indevidamente, a percussão e a bateria. Deve-se lembrar que a bateria é um conjunto de instrumentos de percussão agrupados num "kit". A bateria tem essa ambiguidade de ser tal conjunto, como um também um único instrumento. Mas nem todo baterista é um percussionista em seu significado mais amplo e vice-versa. E Graves é um grande exemplo de possuir tudo isso dentro de uma unidade, aliado a liberdade extrema na música, bem diferente do caso de um Airto Moreira, por exemplo, que não tem esta característica de fundir estes elementos quando está num kit de bateria. Airto quando toca bateria é uma coisa e quando toca os outros instrumentos de percussão, é outra.
Sunny e Milford são as colunas principais dos fundamentos da libertação da bateria, que foi proclamada por Kenny Clarke e Max Roach anteriormente.
terça-feira, janeiro 25, 2011
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2 comentários:
Brother...
os blogs são pra isso: para libertar as opiniões.
Existem as opiniões de quem escuta com apuro e pesquisa e existe aquela outra opinião rasa, aquela do cara que ouviu falar que "Edson Machado foi o mais revolucionário baterista brasileiros e blá blá blá, blá..."
eu prefico saudar a primeira opção!!!
Aliás, foi vc quem me abriu os olhos e os ouvidos para esses dois caras, que ainda preciso escutar mais e mais vezes.
Abraço!
Valeu pelo comentário, Pitta. Ainda bem que contamos com a liberdade e universalidade da rede digital para nos libertarmos do monopólio, manipulação e discriminação de informações, às quais estávamos submetidos anteriormente. Não dependemos mais de informações tendenciosas de críticos e colecionadores que tinham acesso ao material, como antes. Basta um mínimo de bom senso crítico e vontade investigativa. E continuemos batalhando. abs
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