quarta-feira, janeiro 23, 2013

Linha 702U-21, um conto urbano.

No final da manhã do dia 22 de Janeiro de 2013, me encontrava na região do Parque Dom Pedro II, centro de São Paulo. Conhecida como zona cerealista, onde se encontram alimentos vendidos em grande quantidade e preços mais justos, lá estava eu com 2 kilos de cereal matinal que comprara para meu pai. Sob o viaduto em frente ao Museu Catavento, instalado no Palácio das Indústrias e antiga sede da prefeitura, se encontra uma parada de ônibus, onde passa o 702U-21(Pinheiros/Pq. Dom Pedro II). Esta linha tem uma peculiaridade, pois seu itinerário de volta ao ponto inicial em Pinheiros, passa pela rua Arthur de Azevedo, uma das principais do bairro, mas que não possui um tráfego intenso de ônibus. Se não me engano, só duas linhas passam nesta rua que possui 5 paradas. É um ônibus que sempre causa "problemas" aos usuários, mas por culpa deles mesmos. Sempre que faço uso desta linha encontro passageiros que ignoram o itinerário que está exposto no para-brisa dianteiro e ao lado da porta de embarque, que indicam o trajeto pela Arthur de Azevedo e também não perguntam aos funcionários do ônibus, qual é o trajeto.
Quando ainda me encontrava na avenida Senador Queiroz, embarcaram mãe e filho, a mãe era descendente de japoneses e o filho deveria ter menos de 10 anos de idade. O menino era alegre e se maravilhou com o veículo de piso rebaixado na parte dianteira, pois nunca tinha embarcado neste tipo de veículo e disse para a mãe que queria viajar de novo. Sua mãe e alguns passageiros (inclusive eu), acharam engraçado a empolgação do menino com uma coisa tão simples. A pureza de uma criança.
Havia uma senhora nordestina vestida com elegância que desejava ir à avenida Angélica, que é paralela à avenida Consolação, parte do trajeto do 702U-21. Por falta de atenção, ela não desembarcou na parada desejada, no corredor de ônibus em frente ao cemitério da Consolação. Então ela quase entrou em pânico, já buscando culpar alguém e vários passageiros tentaram lhe confortar informando que ainda havia uma parada no final da avenida Paulista, que lhe deixaria em frente da avenida Angélica. Mas a senhora relutava em aceitar a recomendação coletiva e também não compreendia a informação, pois não estava disposta a tal, queria de qualquer maneira fazer a sua vontade. Disse várias vezes que era para descer no ponto do cemitério, e eis que o menino perguntou: "Quem morreu?". A senhora já muito nervosa disse: "Eu nunca mais pego essa peste!", se referindo ao 702U-21. Então ela desceu na parada da avenida Paulista e muitos passageiros disseram para ela descer ali mesmo, pois a avenida Angélica estava quase a sua frente. Ela desembarcou contrariada mas não seguiu a recomendação dos passageiros e seguiu em direção contrária.
A peculiaridade do 702U-21, é justamente sua trajetória pela rua Arthur de Azevedo pelo bairro de Pinheiros, e não pela rua Cardeal Arcoverde, via principal dos ônibus na região. O 702U-21 percorre apenas por duas das oito paradas desta rua. Quando o 702U-21 passa pelas duas paradas, faz uma conversão para a rua Henrique Schaumann para seguir pela rua Arthur de Azevedo. É neste momento que os passageiros desavisados ficam aflitos, nervosos, indignados e até furiosos, enfim...
Então havia uma outra senhora no 702U-21, que provavelmente já estava irritada com a empolgação do menino e não contava com a trajetória do ônibus, que aumentou sua irritação. Enquanto a mãe do menino se dirigiu rapidamente ao cobrador para tirar suas dúvidas, a senhora irritada rapidamente foi ao assento onde se encontravam o menino e a mãe e pediu para o menino retirar a bolsa da mãe pois queria sentar-se ali. O menino explicou que o assento estava ocupado e a senhora se irou com o menino e de forma grosseira disse que não tinha ninguém ali e ordenou que retirasse os pertences de sua mãe para ela se sentar, queria sentar mais perto da porta pois iria desembarcar em breve. Mas havia outro assento vago logo à frente, inclusive mais perto da porta. A mãe do menino logo retornou ao seu lugar e de forma gentil explicou que tinha apenas se dirigido ao cobrador para tirar uma dúvida e ainda indicou o assento vago para ela. Mas a senhora repetiu a atitude com a mãe do menino e seguiu praguejando até desembarcar do ônibus. O detalhe é que o incidente durou cerca de um minuto, pois a senhora iniciou a contenda à cerca de 100 metros do seu ponto de desembarque.
Durante o trajeto do 702U-21, permaneci calado observando os acontecimentos dentro do ônibus, e no meio de conversas que em sua maioria são de pessoas falando mau de outras, reclamações em geral, fofocas, semblantes insatisfeitos, havia uma menino muito feliz.
Antes do meu desembarque, ouço a mãe do menino dizer: "Hoje aconteceu de tudo nesse ônubus".

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