Estamos no final da primeira década do séc.XXI e mais um óbito de uma cultura é presenciado: A morte do Hardcore. Não? Bem, se você faz parte dos envolvidos neste movimento e estilo cultural, político e musical, que ainda frequenta apresentações (gigs), lê ou publíca zines, tem uma banda ou coisa semelhante, sugiro que faça um panorama reflexivo, sem paixões sobre o Hardcore Punk hoje em dia. Ah, o Do It Yourself Never Dies... Mas isso não é uma invenção do HC e sim de culturas e movimentos que já passaram por este mundo. Mas você tem toda a liberdade de discordar (dischord) e dizer que a chama ainda queima (flame still burns). Então não perca tempo lendo este post. Este não é um blog segmentado.
O Hardcore Punk viveu sua "época de ouro" nos anos 80 e uma parte dos 90 com a proliferação de bandas, zines, programas de rádio, midia em geral através do mundo. Aqui no Brasil, as coisas sempre chegaram com um certo atraso e distorção de valores, que hoje em dia não acontece como antes, devido à era digital e a world wide web, que permite o acesso direto à fonte. Eu posso falar sobre boa parte do que ocorreu aqui em São Paulo, pois participei desta cultura, portanto não sou um pesquisador de laboratório que nunca foi à campo, teórico ou alguém que só leu algo na net ou outro veículo de informação. Mas não estou aqui para fazer uma autobiografia e nem uma biografia sobre o Hardcore Punk paulistano neste reduzído espaço digital.
A intenção aqui é avaliar o que existe e resiste hoje em dia. Existem algumas casas noturnas que abrigam apresentações de bandas estrangeiras periodicamente, há alguns poucos espaços que são direcionados ao HC, algumas lojas de discos, alguns zines, muitos blogs e sites, alguns festivais, etc. Mas o que era concebido como cenário HC já não existe mais, as coisas mudaram, ou melhor, sofreram uma mutação e não uma evolução, infelizmente. O HC teve o mesmo fim que o movimento Flower Power dos anos 60, que ainda deixa resquícios ou sequelas de seu impacto, mas a sua força e autonomia já se foi, sinto muito.
Os remanescentes praguejam contra produtos como NX Zero, CPM 22, etc, mas isso nunca foi novidade em movimento musical que já existiu. Sempre a indústria, os empresários ou pessoas que são carentes de pertencerem à um grupo e portar algum rótulo se infiltraram em qualquer que seja a denominação coletiva musical e cultural.
E de pensar que o termo emocore (emotional hardcore) veio de grupos de Boston como Rites Of Spring, Embrace, etc, iria desembocar em coisas como Fresno e afins, realmente é trágico (como diria o sr. Omar, do seriado "Todo Mundo Odeia o Chris").
Hoje já vemos jovens na faixa dos 30 anos relembrando das gigs noturnas na metrópole paulistana, das saudosas lojas de discos na Galeria do Rock, que eram o ponto de encontro deste segmento. Alguns se assemelham aos punks quarentões que vivenciaram o início do Punk nos anos 80 e lamentam seu declínio entre goles de cerveja ou outro goró mais forte. Decline of the western civilization... Mas alguém ainda grita: "This is not the end!" (citação de uma música do Agent Orange).
O Hardcore se auto destruiu, deu o famoso tiro no próprio pé, seu radicalismo sufocou a sí mesmo. Nem os diamantes são eternos, tudo passa na história da humanidade. Mas não precisava ser assim, uma morte sem dignidade, uma morte agonizante e desapercebida, como morre um indigente debaixo de um viaduto. As coisas poderiam ter evoluído, se aprimorado e se adaptando aos tempos contemporâneos, assim como ocorre felizmente com o chamado free jazz na Europa e EUA. Nestes continentes o Hardcore Punk ainda encontra um espaço com dignidade, mesmo que bem mais reduzido, por manter o bom senso, sem levar em conta que preservou certas colunas de sustentação básicas para existirem, sem distorcer de forma bizarra sua criação.
Bem, alguns aqui até que estão tentando fazer alguma coisa, outros fazendo documentários (ou seriam obituários?) e não posso dizer com exatidão os seus fins e suas reais intenções.
Aquele côro do Youth Of Today que dizia: Keep it up!, soa tão distante agora...
sexta-feira, novembro 12, 2010
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3 comentários:
No geral o mundo passa mesmo por uma crise de identidade
Muito bom blog
Valeu pela participação com sua opinião, Vanderlei, um abraço e parabéns pelo seu blog também.
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