terça-feira, novembro 09, 2010

Pede pra sair, 02!!! (Tropa de Elite 2) - A polêmica, os devaneios teóricos e a realidade

"Pede pra sair, 02, você é um fraco..." - Assim fala um dos instrutores do curso de operações especiais da polícia do Rio de Janeiro ao corrupto capitão Fábio, que tentou entrar no Bope para não ser executado, no primeiro episódio do filme que gerou grande polêmica no Brasil.
Ontem, segunda-feira, aproveitei o evento Projeta Brasil das salas da rede Cinemark, em que se podia assistir cinema brasileiro à R$ 2,00 e pacote de pipoca de bom tamanho à R$ 4,00. Fazia tempos que não ia ao cinema por falta de orçamento (é meu caro, eu não tenho R$ 15 para ir ao cinema sempre) e ainda mais numa sala de projeção dentro de um shopping center. Por questões práticas, me dirigí ao insólito shopping Iguatemi, que também não entrava fazia muito tempo e constatei um ambiente deprimente. O irônico é que este shopping quando foi inaugurado em meados dos anos 60 do séc.XX, não era um lugar tão cobiçado quanto é hoje e teve muita dificuldade de atrair lojas. Eu pessoalmente frequentei este local entre os anos 70 e 80 com certa regularidade por conta do cinema, lojas e serviços que eram mais acessíveis à população menos abastada economicamente, tanto que se encontravam estabelecimentos como Lojas Americanas, mercado, lanchonetes semelhantes aos botecos (não essas aberrações "chic"da Vila Madalena como Filial, Genésio e Posto 6) de bairro. Hoje se tornou um ícone de ostentação ao luxo, com lojas que são alvo de quadrilhas organizadas (oportuno isso e sugestivo ao post, não é?), por conta de seus artigos caríssimos. Como as salas de cinema são no oitavo andar, ao qual preferí chegar não pelo elevador e sim pelas escadas rolantes do local, pude observar o aspecto transformado dos tempos de minha infância e adolescência. Me deparei com o extermínio de lojas populares para dar espaço à inquilinos de grife e me lembrei que tinham até duas lojinhas de mágica, aquelas bem povão mesmo, que vendiam bala com pimenta e outras traquinagens, duas lojas de discos que podia se comprar um lp do Dead Kennedy's ou Iron Maiden, por exemplo. O mais triste foi o aspecto dos frequentadores do local, membros de uma parcela mínima da população que ganha muito mais do que 10 salários mínimos mensais, e tentam se sentir em um lugar sofisticado, pois eles não podem de fato estar em lugares como Manhattan, Louvre ou um boulevard requintado na Europa. Irônico também é que nos ditos países de primeiro mundo que essas pessoas cobiçam, os shoppings são considerados lugares até cafonas pela elite.
Deprimente também são os frequentadores que não possuem um bom patrimônio econômico, que são formados por exemplo, por recepcionistas, operadores de telemarketing, sub-gerentes de lojas, etc, que almejam se enquadrar neste bizarro cenário de bens materiais e consumo fútil, mesmo que tenham que comprar uma "réplica" de uma bolsa Louis Vouitton na 25 de Março, para se sentirem "iguais" na aparência. Mas só que no final do passeio, alguns poucos se dirigem ao estacionamento e adentram em seus carros que nem sempre são um BMW, enquanto boa parte tem que enfrentar um ônibus lotado em direção à periferia.
Bem, entro na sala de projeção e começa o entretenimento. Eu não sou um cinéfilo, não sou um crítico de cinema, não sou um Rubens Ewald Filho, Leon Cakoff ou Amir Labaki para fazer uma profunda análise crítica do Tropa de Elite 2. Não acho o Godard, Truffaut, Lars Von Trier as cerejas do bolo e também não gosto de bobagens como Velozes e Furiosos, filmes da Pixar studios, Lost, Friends e outros anestésicos de entretenimento em massa.
Então não fui assistir o Tropa com um entuito de prestigiar a "sétima arte", tanto que esperei a oportuna bilhetria à R$ 2,00. Também não esperava ter uma epifania sobre a realidade do país por conta de uma obra de ficçao baseada em fatos reais. Amigos, o Tropa de Elite não é um documentário, é apenas um filme! Existem muitas pessoas ditas cultas que precisaram assistir um Cronicamente Inviável, Ensaio Sobre a Cegueira, Carandirú ou até o Cidade de Deus para ter uma noção da realidade do Brasil?!
Não faltaram debates inflamados promovidos por intelectuais sobre os danos que o capitão Nascimento estava causando na população, que o filme é uma ode a repressão policial, do herói fascista, de direita e outros blá, blá, blás. É só mais um filme...
Eu particularmente gostei do filme, serviu para me entreter numa tarde de muito calor e trânsito caótico na bizarra metrópole paulistana. Alguns aspectos do filme me entristeceram, como a corrupção, a crueldade e injustiça humana, que já me deparei pessoalmente várias vezes, que estão ilustradas no filme de José Padilha. Não reparei se o enquadramento, a fotografia e outros elementos do filme eram bons ou não, inclusive sobre a qualidade do roteiro. Relembrar da realidade cotidiana numa confortável sala com ar condicionado e sistema de som Dolby, Surround ou DTS numa enorme projeção é algo bem peculiar. Mais impactante é sair após a sessão e deparar com aquele cenário surreal do shopping Iguatemi, atravessar a avenida Faria Lima, esperar pela van que vêm lá da periferia da zona sul em rumo ao Hospital das Clínicas e me dirigir ao culto de ensinamento bíblico na Assembléia de Deus num humilde salão em Pinheiros, onde tenho comunhão com pessoas que em sua maioria, sequer cogita em comentar algo sobre arte, como Truffaut enquanto come algo no América.

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