segunda-feira, agosto 28, 2006

O underground paulista sempre adorou MPB... tá bom

Depois que a indústria abandonou a barca furada do Grunge, deixando à deriva o contingente de sonhos do underground paulista, ocorreu a migração para outras terras, seja o Rap, Reggae, Jazz, Hardcore, etc e a MPB. É sempre saudável quando o colapso de uma sensação acarreta um amadurecimento ou coisa parecida. Mas é engraçado ouvir dos meus contemporâneos, essa valorização repentina da MPB. Num passado nem um pouco distante, tinha gente que achava que se eu estivesse curtindo MPB, me transformaria num bicho-grilo vendedor de artesanato. Parte de uma geração que cresceu na década de 80 sem o menor apego a arte nacional, influenciada pela mídia que bombardeou a juventude com basicamente rock estrangeiro. Até aí tudo bem, liberdade de expressão e é um saco os nacionalistas de ocasião. Agora é muito fácil dizer que sempre curtiu MPB. O exemplo mais básico, é de novos artístas que dizem sempre ter curtido MPB, seja nos velhos discos dos pais, que ouviam Cartola pra ninar, etc.
Poderia até ser visto de um ângulo positivo esse tardio resgate de valores, mas no geral, isso não é nada bom. Pois o que temos é uma jovem elite cultural ditando regras e se apropriando do que não lhes pertence. E ainda por cima essa elite decide o que é bom e o que é "real". Então de uma hora pra outra, decidem que Jorge Aragão, Fundo de Quintal e Raça Negra, não é samba de verdade(?!), que samba de verdade é igual da velha guarda da Portela e blá, blá, blá... Outros(turminha do samba-rock), dizem que samba paulista não existe!(então de onde era o Geraldo Filme, Adoniran e Germano Mathias?).
Mas pra que brigar por isso não é? Justo agora que tá tudo lindo, na santa paz, todo mundo nasce com o privilégio de curtir música boa. Que geração abençoada a qual pertenço, ninguém curtiu produtos de mercado de qualidade duvidosa, como White Zombie, Lenny Kravitz, Jamiroquai...
Engraçado que se 10 anos atrás eu falasse bem do Caetano Veloso, minha masculinidade seria colocada em dúvida...

quarta-feira, agosto 09, 2006

A revolução não será televisionada simplesmente porque ela não ocorreu

No saldo geral, a geração da dita contra-cultura, que praguejou contra a "alienação" hippie, a indiferença e pessimismo da "geração X", também deu com os burros n'água.
Ao analisar alguns segmentos mais representativos em contingente juvenil, é fácil detectar como seus ideais de origem, perderam sua força de ação, ironicamente, de atitude. Claro que existem os minúsculos focos de resistência, que por romantismo, não abrem mão dos ideais coletivos, mesmo que custando caro para suas vidas particulares. Agora a grande maioria, não vai adimitir que está mergulhada na filosofia neo-liberal, do não me venha contar seus problemas, que está na busca alucinada por conforto material, e isso não quer dizer o desejo por Audi's A3, bolsas Louis Vuitton, tv de plasma, i-pod's. Pois os que almejam ítens assim, já nasceram corrompidos, tem nojo dos pobres, etc e etc.
O caso mais grave é dos indivíduos que se apossaram dos ideais derivados do anarquismo e socialismo, que se julgam "cidadãos conscientes", simplesmente por conhecer bandas estrangeiras de contra-cultura, fanzines e revistas, serem ecológicamente corretos(sendo que boa parte possui automóvel), boicotarem o McDonald's, e outras coisas menores. O que adianta um belo discurso inflamado num bar da rua Augusta ou Vila Madalena, ou numa casa noturna ou chopperia do Sesc, se no dia seguinte, o indivíduo falta com ética e solidariedade à seus próximos, inclusive os ditos amigos?
" Cada um com seus problemas". Pois é, uma frase pra lá de constante no unido underground paulista. Uma associação de 12 donas de casa tem muito mais poder de ação e união do que uma multidão de jovens que se dizem adimiradores de Che Guevara.
Uma coisa a ser reparada, é que as pessoas que tem condições de ajudar, só ajudam se tiver tempo ocioso para gastar ou que a ajuda não cause despesas. E ainda por cima usam a situação para promover mérito pessoal e aliviar um pouco a consciência. É, todo mundo quer ser herói de HQ, com super poderes, uma bela garota e final feliz. Mas quem quer ser herói de verdade? No sentido da mitologia grega, onde o herói tem que estar preparado para o sacrifício supremo.
Bem, mas voltando ao título do post, não haverá revolução, pelo menos por um tempo, até a próxima geração ter autonomia de ação civil e mudar este quadro, pois as gerações anteriores, a mais recente com indivíduos orbitando na faixa etária de 20 à 30 anos aproximadamente, está nesta busca do "El dorado" de consumo, seja DVD do Fela, Minutemen, livro do Noam Chomsky, etc.
 
 
Studio Ghibli Brasil