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terça-feira, setembro 24, 2013

Plastic Underground ou a conotação de um "banana"

Não é a primeira vez que um artigo compartilhado no facebook que passaria desapercebido por mim ou de pouca relevância, me leva a refletir e fazer uma análise um tanto quanto irônica em alguns aspectos, mas com um fundamento e argumentação plausível, não apenas palavras inconsequentes e de pouco sentido. Talvez este assunto já esteja um tanto quanto exausto, mas como não lembro de nenhum outro artigo com uma ótica similar, resolvi comentar um pouco sobre isso aqui. (Afinal este weblog não é só um link de resenhas de discos esquisitos)
A mídia digital proporciona uma propagação tão rápida e abrangente que diversos assuntos ganham dimensões que não deveriam tomar, para o bem e para o mal, sim o mal uso da informação, o mal uso do tempo alheio e do próprio, é claro...
Procurarei ser bem objetivo sobre isso e usar poucas palavras. Hoje em dia é muito fácil ser underground, anti-midia (mas vejam só, quantos anti-midia que não saem do facebook...), uma autoridade da contra-cultura, um ícone do underground. Nunca vi tantos Forrest Gump's de vários rolês, nego já fez de tudo, tá parecendo aquela música perturbada do Seixas, de dez mil anos atrás. E no meio disso tudo, me sinto como um Hatfield ou um McCoy, um matuto que nunca tinha visto um frigorífico.
Então eu vejo, ouço, presencio todo o tipo de informação de muitas pessoas, que dizem que vieram, fizeram e venceram, portando seus estandartes gloriosos. Rapaz, eu fiz um rolê por aí nesse mundo, muitas coisas divertidas, presenciei momentos que muitos hoje consideram como história, posteridade. Poderia falar de alguns, mas isso realmente não vem ao caso, eu não ajudei a criar o Smile face, por exemplo... E depois, continuo dentro do transporte coletivo esculhambado que é muito mau gerenciado pela prefeitura e governo da cidade e Estado de São Paulo.
Os dias passam, e vejo muitos decretando tratados sobre movimentos artísticos, proclamando suas presenças no mural memorial da contra-cultura, condenando os cachorros mortos da sociedade, os personagens que o Angeli rotulou de "Psico-burguês", sendo que muitos deles não conseguem perceber o seu próprio reflexo.
Mesmo com a limitação da minha percepção, do meu ângulo de visão, muitos que se auto-proclamam alguma coisa, sobre determinadas coisas (vale uma citação de um rapaz apelidado de Assis:"Gosto de determinadas coisas, mas nada em específico"?!), não estavam lá quando estas coisas aconteceram, é como comprar a camiseta do Rock In Rio, "Eu fui", mas assistiu tudo em casa pela tv.
Desmembrando o trocadilho com a banda de um dos mais mau humorados personagens do rock, Mr. Reed:
-Velvet Underground, um sub-mundo ou sub-cultura de veludinho, cheio de fricotes, foi no playground e não se sujou de terra, e o que diria do undergound?
-Plastic Underground, tão químico, tecnológico, polímero sintético, facilmente transformável mediante o emprego de calor e pressão. "Plastic people, oh, baby, now you're such a drag"...
-Banana, antes fosse apenas uma baga epigínica da planta herbácea da família Musaceae...

terça-feira, abril 30, 2013

Funk Carioca e Música de Vanguarda, na verdade, ambos podem ir para o lixo...

Me lembro ainda no final dos anos 90 quando o pai de um amigo afirmou que o gênero musical conhecido como Funk Carioca estava fadado a extinção. Bem, estamos caminhando para mais de uma década que este tipo de música não só sobreviveu, mas proliferou como uma epidemia. Talvez por não ter uma visão imparcial e mais discernimento, não pude fazer uma projeção óbvia de que certos estilos musicais mais cedo ou mais tarde ganhariam espaço no mercado de consumo em massa. No começo dos anos 80, era difícil imaginar que o Rap seria trilha para comerciais de produtos na tv. Mesmo quando um dos elementos do Hiphop ganhou uma certa notoriedade na mídia, sim, o Breakdance, que foi usado como vinheta de abertura de uma novela, assim como filmes, o Rap em sí demorou cerca de 10 anos para ser aceito pelo público em geral. E o que dizer do Hardcore? O derivado mais radical do Punk Rock nunca teve acesso à grande massa, grande parte dos anos 90 foi restrito aos nichos culturais. Quem imaginaria que o Hardcore se tornaria vinheta de uma novela voltada ao público adolescente?
Hoje em dia há muita discussão à respeito do Funk Carioca, uma parte abomina completamente, alegando que é anti-música e outros defendem como espontânea e criativa arte popular. Afinal, quem está certo? Na verdade, os dois. Eu fiz um grande esforço em não entrar em discussões à respeito do Funk Carioca e vou continuar me mantendo longe disso, apenas vou expor a minha estrita e particular opinião sobre isso e realmente não vou dar prosseguimento neste assunto. E isso também serve para a música de vanguarda, experimental, improvisação, free jazz e outros blá, blá, blás.
Hoje em dia há até teses sobre esse fenômeno cultural, pessoas que tentam legitimar o Funk Carioca como uma arte extremamente criativa e legítima, que pode ser equiparado aos gêneros consagrados no universo da música. Creio que a esta altura, a maioria que defende o Funk Carioca de forma "acadêmica", sabe de suas origens no dialeto do Rap Norte Americano da Costa Leste, o Miami Bass, sua fusão com elementos musicais brasileiros, etc e etc. A corrente que abomina o estilo alega a pobreza musical, como as montagens com samplers repetitivos e colagens grosseiras, além do despreparo lírico, poético dos MC's. Claro que o MC não precisa ser um cantor de ópera, mas pelo menos que ele pronuncie legivelmente. Se bem que a maioria das letras é de conteúdo descartável. Então entra a questão de preferência pessoal e o início das vãs discussões.
No campo da música de vanguarda e suas ramificações, há duas vertentes equivocadas bem claras: Os que defendem como arte refinada e outros que acham que também não é música, está mais para trilha sonora de filme esquizofrênico. Os que tem como a música de vanguarda como algo superior, realmente deveriam rever seus conceitos sobre humildade, pois este tipo de música não transforma ninguém em um ser humano melhor, é apenas música. A parte da crítica negativista em relação a este tipo de música, está tão condicionada à um formato de música como produto, que não tem paciência e sensibilidade para ouvir e estar aberto a novas experiências sensoriais na arte. Estes que se contentem com o que o grande mercado de consumo oferece, seja em coleções de banca de jornal, seja em megastores.
Enfim, são questões inúteis e perda de tempo, cada um que faça uso de sua liberdade para consumir o que bem entender.

*ps.: Ultimamente houve uma discussão sobre a arbitrariedade da Justiça Brasileira em proibir os bailes funk nas ruas, postos de gasolina e praças da cidade de São Paulo. Muita gente se manifestou contra a decisão alegando uma ditadura, pré-conceito, coisa de "direita", de gente "quadrada", "careta". Uma boa parte das pessoas que se manifestou contra essa proibição, realmente já esteve em um baile funk de rua? Já viram a merda que acontece sempre nestes eventos? Se começar a ter baile funk na frente da casa do pessoal que protestou contra a proibição, eles ainda vão apoiar? Imagina a mãe, avó ou filhos desse pessoal às 03:00h da madrugada em suas casas e o baile bombando.

quarta-feira, julho 04, 2012

Antes tinha, agora não tem! - Prefeitura de São Paulo e cidadãos paulistanos

 
Creio que assim continuarão as queixas via redes sociais digitais, sendo que vez ou outra algo se concretiza em atitudes positivas e negativas. Tenho evitado me envolver em questões político ideológicas pelo simples fato de minha opinião estritamente pessoal não vislumbrar alguma eficácia neste tipo de debate, conversa, que em muitas vezes são apenas monólogos proferidos ao mesmo tempo em um mesmo ambiente e talvez não se trate exatamente de uma conversa, diálogo, debate como está especificado em qualquer dicionário.
Claro, a liberdade de cada um não deve ser podada e assim eu desfruto também da minha liberdade de opinião.
Vivemos mais um período de eleições dos servidores públicos deste amontoado de pessoas no mesmo território físico denominado cidade. Quando eu era criança me lembro que existia uma grande expectativa (pelo menos de minha parte e de alguns) de uma grande mudança em nossas vidas. Mesmo na adolescência e parte do início da chamada fase adulta (pelo fato de ter requisitado meu título de eleitor aos 16 anos) esta expectativa ainda perdurou. Hoje em dia este sentimento vem sendo soterrado por uma avalanche de muito mais fatos (como se não bastasse os fatos do passado) que desbotam as cores da esperança de uma cidade melhor. Temos algumas calçadas de concreto armado, luminárias de LED, alguns metrôs operados por computador, mas é claro, só na sala de estar do barraco. Para quem usufrui da cidade como um todo, que utiliza os três principais meios de transporte coletivo sabe muito bem que este slogan da prefeitura de São Paulo: "Antes não tinha, agora tem", na verdade está exatamente ao contrário. Explico.
Deveria ser: "Antes tinha, agora não tem!" Antes tinha a desculpa de termos limitações tecnológicas e econômicas, a ditadura militar, o sub-desenvolvimento latente de terceiro mundo, o recente direito de voto da população, entre tantas precariedades da era analógica. Hoje a indústria, comércio e setor financeiro infla seu peito anabolizado e diz aos quatro ventos que o Brasil é a 8ª economia do mundo, que somos detentores de diversas tecnologias de ponta, que temos reservas naturais exclusivas e invejadas por todas as nações (opa, tão vendendo tudo debaixo de nossas fuças), que somos uma nação alegre (quem me vê sorrindo pensa que estou alegre - Cartola).
Será que vamos votar em qualquer um pois não faz diferença? Será que devemos votar em branco ou anular o voto como ato de protesto ou fingida atitude de omissão? Será que nossa cidadania acaba quando apertamos a tecla verde da urna eletrônica e pegamos nosso comprovante de voto? Será que não temos o dever de fiscalizar a administração de nossos servidores ao longo de seu mandato? Será que não temos nada haver com isso porque votamos nulo ou nosso candidato não foi eleito? Será que é só problema do seu vizinho? O seu voto faz a diferença, junto de sua atitude continua como cidadão pós eleições, no dia-a-dia?
Numa noite dessas eu voltava do Belenzinho após um workshop de música e não passava das 22:00h quando meu amigo me deixou na esquina de casa. A menos de 10 metros minha vizinha estava à minha frente indo para o nosso prédio. havia uma movimentação razoável nas ruas bem iluminadas do bairro que é relativamente seguro em proporção do que é esta cidade. Ela olhou rapidamente para trás para ver quem seguia logo depois dela e começou a aumentar o ritmo de suas passadas. Percebi e me compadeci daquela situação triste, do chamado cidadão de classe média paulistano, que perdeu o tato das ruas, que vive enclausurado em seus guetos sociais. Quando chegamos ao nosso prédio, ela já tinha ultrapassado o segundo portão (que mais parece grade de segurança, bem, você sabe...) e deu mais uma olhada para trás e vi nitidamente seu rosto apreensivo. Estávamos a menos de 4 metros de distância com uma boa iluminação do prédio e quando eu também ultrapassei o segundo portão ela deu aquele arranque de reta final de São Silvestre e adentrou na última porta. Eu estava certo de que ela como cortesia comum entre os condôminos, estaria me aguardando com a porta aberta, para eu não ter que reabri-la com minha chave. Então a tranca estralou junto com a porta em minha face. Falei comigo, "puxa vida", num misto de decepção e surpresa e abri a porta. Então logo no corredor, fiz questão de balançar o chaveiro para ela se certificar de que a porta não tinha sido arrombada. Então ela já na metade do primeiro lance de escadas, me olhou constrangida e me pediu desculpas alegando que não tinha me reconhecido e subiu apressadamente, sendo que seu apartamento é ao lado do meu. Bem, eu coloquei a música New York Is Full Of Lonely People, composta pelo Lester Bowie para ilustrar a situação. Seu filho não teve o prazer de brincar na nossa rua que era repleta de crianças...
Isso tudo tem haver com o que esta cidade está se tornando cada vez mais. 

segunda-feira, novembro 28, 2011

S.O.S. ARTESANATO DE SP (Feirinha da Teodoro Sampaio)

Um pequeno grupo de artesãos se instalou no quarteirão da R. Teodoro Sampaio, entre a Praça Benedito Calixto e Rua João Moura trazendo fôlego de vida numa importante via de acesso com calçadas estreitas e trânsito massivo e hostil. Está próxima a data em que completo 40 anos de residência nesta região e esta rua já foi muito mais amistosa ao transeunte pinheirense e paulistano. Tanto que na época natalina havia a ornamentação temática ao longo da via e até desfile de carnaval. Carros estacionavam na faixa direita da rua, permitindo um aceso mais agradável ao pedestre. Mas a população brazuca, sejam ricos ou pobres sucumbiram ao desejo insâno de preencherem seus vazios existenciais com ítens de consumo. É fácil averiguar isso em qualquer pesquisa ou nas ruas. A vida das pessoas praticamente se resume na compra de tv's, telefones celulares, computadores, vestimentas da moda e veículos motorizados. A pobre massa proletária sofre pagando cerca de 12 ou mais prestações por produtos que muitas vezes se esfarelam antes da quitação. Produtos que não são essenciais, são supérfluos, mas foram contaminados por essa ilusão, o desejo de fazer parte da sociedade, "eu tenho, eu compro, eu posso". Uma tentativa patética de elevar a auto estima para tentar ser incluído no modelo midiático social. Existem inúmeras questões que são profundas na configuração desta cidade, resumindo em sociedade como indivíduo, como sistema coletivo.
Isso faz parte do padrão arquitetado para as pessoas se confinarem em verdadeiros currais humanos, sejam shopping centers ou na própria residência, comendo a ração disponível para alimentarem a manjada máquina do sistema capitalista e proporcionar a vida suntuosa de um milésimo da população(no caso) paulistana.
A ausência de raízes e tradição do brasileiro em incluir a cultura, a arte em seu dia a dia, afeta diretamente o artesão, pois para o brasileiro contemporâneo de todas as classes, não há interesse real em consumir arte e produtos artesanais.
Para não me estender às raízes do problema, que iria em direção de patamares filosóficos e espirituais, temos um problema irreversível no âmbito político, social e econômico.
Já abordei a condição sinistra que envolve o cartel da associação dos "amigos" da Benedito. Aquilo é um caso perdido, ou melhor, um caso de polícia. Especificamente ao grupo de artesãos da Feirinha da Teodoro, além do que um dos articuladores fundamentais e artesão Vanderlei Prado tem exposto no seu blog Wanderart, existe uma pequena questão que eu gostaria de abordar aqui. Infelizmente no meio deste distinto grupo de artesãos dignos de seu ofício, se infiltraram alguns que deturpam a concepção do artesanato. Como? Vendem produtos industrializados e até os "piratas"(termo em voga no comércio). Com a justificativa de precisarem levar o pão à mesa, os filhos, o aluguel, a sobrevivência, praticam a contravenção. Também não vou dar espaço maior à esta questão, pois aqui não é a hora e nem lugar para isso, mas concluindo, os fins não justificam os meios. Outros mancham a imagem do artesão à um hippie sujo drogado com pouco interesse em ser útil e "levar a vida na flauta". Imagine um sábado com a família e você passa pela rua para apreciar o artesanato e comprá-lo e depara com expositores consumindo alcool sem bom senso (isto é, já se embriagando) na frente de crianças e alguns consumindo substâncias entorpecentes. Qual é a imagem que vai ficar? Não, nem pense em afirmar que sou um moralista equivocado, pois nem em Amsterdam onde é possível usufruir de certas liberdades, pois a maioria da população holandesa tem educação e bom senso para isso, se vê certas atitudes que ocorrem por aqui, onde é crime ou contravenção. A liberdade usada sem sabedoria se torna a corda da forca do indivíduo.
Este pequeno apêndice é mais uma arma que os interessados em exterminar a saudável pluraridade cultural da região usam à seu favor. Se faz necessário separar o joio do trigo, para que não haja brechas para o inimigo se infiltrar. É uma luta digna, mas permeada de injustiça e os artesãos são como o pequeno pássaro que leva água em seu bico para apagar o incêndio na floresta. Sei também que é extremamente tentador perder o controle e partir para o confronto, mas isso tem um alto custo que vale à pena parar, respirar e refletir, pois as contas e a despensa não são lá muito de esperar.
Como cidadão e morador do bairro, eu apoio os artesãos da Feirinha da Teodoro e peço perdão por não poder contribuir efetivamente nesta contenda. Como cristão convicto, peço que mantenham a perseverança pelo caminho justo, mesmo que tudo pareça sem uma solução justa. As vezes, o que parece perdido, na verdade é um passo para uma conquista muito melhor do que a almejada. Continuem a luta sempre seguindo o que é justo perante Deus e a sociedade e creio que poderão se alegrar com as novas conquistas e principalmente lembrar de que fizeram algo digno sem ter do que se envergonhar.

quarta-feira, novembro 23, 2011

Jingo De Lunch - Cursed Earth ep (1988)

Kreuzberg, uma província de Berlin, com cerca de 31,6% composta de imigrantes, sendo muitos deles descendentes de turcos, possui um histórico de contra-cultura e alto índice de desemprego. Um campo extremamente fértil para o segmento punk. O guitarrista Joseph Ehrensberger fazia parte do Vorkriegsjugend (um dos mais influentes grupos de hardcore da Alemanha, que inclusive teve um ep lançado no Brasil pelo selo independente New Face), se juntou à Tom Scholl, Henning Menke, Steve Hahn e a vocalista Yvonne Ducksworth (que chegou em Berlin no ano de 1983), para formar o Jingo De Lunch em Abril de 1987. Um dos melhores grupos que também recebeu o sub-gênero stenchcore. As influências do Jingo De Lunch são o punk rock, hardcore e hardrock e neste ep há versões de Thin Lizzy e Bad Brains. Clique na imagem para acessar o arquivo.

domingo, julho 17, 2011

O tempo não pode esperar na improvisação livre!!!

Ontem estava conversando com meu precioso amigo Antonio "Panda" Gianfratti, músico, percussionista, improvisador, pioneiro no Brasil do que se convencionou entitular de Improvisação Livre com o grupo Abaetetuba. Panda é um exemplo de criatividade, determinação e honestidade dentro da música e entrando na sexta década de vida, encarou um novo desafio de desbravar outras possibilidades no vasto campo da improvisação através do violoncelo. Nosso diálogo foi uma reflexão sobre a possibilidade de um cenário brasileiro deste segmento, sem opiniões passionais. O quadro que começa a se desenhar em primeira instância até parece promissor, com as oficinas ministradas pelo CCSP e os esforços de algumas pessoas que realmente acreditam na Improvisação Livre, novos músicos, novos grupos, novos espaços, novas possibilidades, como alternativa aos segmentos pré-determinados até do dito underground da música paulistana. Realmente quando nós iniciamos paralelamente nosso desenvolvimento nesta área musical, ainda no fim da década de 90, mais vinculado ao free jazz, parecia algo quase impossível, se formar uma orquestra de improvisação livre. De certa forma isso ainda está longe de existir de forma sólida e coesa, tudo ainda caminha (ou engatinha) em seus primeiros passos. E logo de início pode tomar rumos estranhos aos quais idealizamos conforme ocorre em outras partes do mundo. A facilidade de acesso à informação democratica pela rede digital mundial e a rapidez de acesso, inevitavelmente pode ser comparada ao sistema fast food, onde os resultados não são saudáveis. Inclusive o próprio país que gerou este sistema, agora tenta reverter este quadro com a nova tendência chamada de slow food. Hoje se pode acessar o conteúdo teórico de livros de Derek Bailey, John Zorn, entrevistas e depoimentos, videos de performances no YouTube, Terabytes de arquivos em audio, instrumentos musicais com preço acessível, redes sociais, enfim, um arsenal de informações para ir a guerra. Um simplório weblog como este pode se tornar uma fonte de informação, assim como a Wikipedia e milhares de sites interligados na world wide web. Mas é claro que qualquer pessoa de bom senso deve analisar mais de uma fonte de informação, pesquisar, questionar e não apenas ingerir informação como um BigMac, baseado na foto do menu. Hoje em dia temos uma torrente de pseudo jornalistas que escrevem material de qualidade extremamente duvidosa e este é o preço que se paga, é o efeito colateral do fast food cultural que estamos vivenciando neste século XXI. Pode soar uma diretriz rígida e retrógrada de membros jurássicos de uma organização tradicionalista, mas na Improvisação Livre, o fast food de informações, referências, etc, não funciona. Uma criança não vai nascer em 3 meses, ou pelo menos a ciência ainda não conseguiu criar uma tecnologia para isso acontecer. Não há como nascer um ser saudável se não passar pelo processo natural. Não é a participação de meia dúzia de oficinas e alguns ensaios semanais que vão gerar um bom improvisador. É um processo constante, que se aprimora só com a experiência, entre tentativas, erros e acertos, tudo no seu devido tempo. Não há como acelerar os ponteiros do relógio. Como escreveu o sábio rei Salomão no livro de Eclesiástes, há um tempo determinado para todas as coisas. Também não adianta em nada se inflar de todo o tipo de informação, técnica e apresentar um resultado meramente estético, mesmo que o ego se apoie na ilusão de que há uma filosofia que sustenta este fim. O resultado desta urgência, pode ser ilustrado como a foto abaixo:


sábado, junho 11, 2011

Nós não precisamos falar de revolução e muito menos de televisioná-la... (Gilbert Scott-Heron, 01/04/1949 - 27/05/2011)

Fiquei sabendo da partida de Gil Scott-Heron na mesma noite, por conta da agilidade da rede mundial digital. Mas ainda precisava de um tempo para falar sobre ele. Não, definitivamente não queria redigir um texto passional e tolo, dizendo frases a esmo, citando sem o menor fundamento uma de suas mais famosas frases: "the revolution will not be televised", afirmando que era o pré-cursor do rap, que isso, que aquilo, como muitos "jornalistas musicais" de ocasião escrevem porque é pauta do trampo enfadonho deles. Não, definitivamente Gil Scott-Heron não merece ser espetáculo mórbido para pessoas que simplesmente o ignoraram durante tanto tempo.
Então que esses jornalistas procurem falar sobre Jalal Mansur Nuriddin (Alafia Pudim), Abiodun Oyewole, Umar Bin Hassan, Richard Dedeaux, Father Amde Hamilton (Anthony Hamilton) e Otis O'Solomon enquanto estão entre os vivos. Ora, só homenagens postumas?
Por esses dias conversei com um amigo e ele ficou muito sentido em especial pela morte de Gil Scott-Heron e comentamos do impacto de sua arte em nossas vidas. Qualquer sebo de São Paulo se encontrava a compilação em lp "The Revolution Will Not Be Televised" pela mísera quantia de R$1,00, ou a versão em cd com mais músicas, por até R$5,00. Não precisava ser um arqueólogo musical para encontrar Gil Scott-Heron. Sua inconfundível voz grave e elegante destilava belas palavras e, palavras duras ao mesmo tempo. O menestrel tinha muito mais impacto do que um par de coturnos e jaquetas de napa coroados com uma "crista" levantada à sabão (agora esse neymarismo que se vê até entre as crianças...). Sim, o poeta do gueto nos deu uma injeção de ânimo em um momento em que o punk caminhava para um lugar horrível, de plástico colorido, de qualidade extremamente duvidosa, como essas reedições de calçados esportivos de grifes famosas (modelos dunk, sneaker, essas bobagens).
Gil Scott ainda teve tempo de voltar a dizer algo, mesmo depois de um tempo de reclusão devido as abordoadas e armadilhas que este mundo moderno lhe desferiu, de racismo, intolerância, capitalismo, drogas, HIV. O pranto pode durar uma noite, mas o sorriso há de vir pela manhã e, Gil Scott-Heron, continuamos te amando do mesmo jeito. Pedaços de um homem...

p.s.: Será que Sylvester Stewart não vai se recuperar?

quinta-feira, março 24, 2011

Obama, Obamis, Oba-Oba, você ainda acredita que este país tem jeito?

Yes, they can! E a tal da irreverência e descontração brazuca mais uma vez cumpre a sua função e vocação para servir o opressor. Eu me lembro nitidamente de pessoas que convergem com os ideais utópicos de Karl Marx, o socialismo, a esquerda revolucionária, o coletivismo, anarquismo, bandas punk, ideologias coletivas, passeatas pró-cannabis, rap, periferia (mas preferem estabelecer em bairros notórios de classe média), afrobeat, que apoiaram a eleição de Barack Obama. Pessoas de etnia caucasiana que parecem nutrir uma culpa ancestral com nossos irmãos descendentes africanos e apoiam eles em tudo, não importando que exemplo de vida eles representem. Snoopy Doggy Dog, Fifty Cent, Mike Tyson são aclamados, não importando suas atitudes péssimas como seres humanos. Só faltava essa gente apoiar o Baby Doc, O.J. Simpson, Ben Johnson... Aí ficam panfletando uma causa que não lhes diz respeito, pois só porque frequentam o Cooperifa, um eventual show de rap e tem alguns colegas que moram na "quebrada", acham que são "manos" também. Na hora que falta água numa temperatura escaldante de 30 graus, que falta luz, que falta ônibus, que falta vaga na escola pública de ensino péssimo, que rola chacina no boteco, tráfico de drogas e poder paralelo dos criminosos, adolescentes grávidas, falta de vaga em creche, preferem morar em bairros de classe média da zona oeste da cidade, onde tem delivery, 24 horas, galerias de street art, e claro, trabalhar em midias bancadas pelo nefasto universo publicitário, disfarçado pelo style de rua, gangueiro, etc. O que estes pretensos "revolucionários" parecem esquecer é que Obama é o presidente dos Estados Unidos da América do Norte, ícone do neo-liberalismo, do partido democrata que avança com suas garras no mercado exterior e o destroi, principalmente o do Terceiro Mundo (que somos nós brazucas, mesmo com tablets, iPhones). Aí partcipam de um ato do Greenpeace, bicicleta (por favor, não distorça os fatos, pois sou pró-transporte não poluente), ficam descendo a lenha em quem tem carro, sendo que a maioria da população da periferia quer ter um automóvel, apoiam a liberação da maconha, como se isso fosse resolver os problemas da violência e do crime, depois vão para suas casas ouvir Fela e Kanye West...
Estes mesmos apoiaram a Dilma e o prostituido PT, aquela conversinha de que são anti-machistas, que uma mulher na presidência é o melhor para o Brasil (por favor riot girls, não distorçam o que falo), mas a nossa presidenta permitiu mais um capítulo no histórico de humilhação brazuca em que os ministros de nosso "grandioso" país fossem tratados como foram pela segurança da águia de cabeça branca. A nossa querida Dilma ficou cheia de lisonjas para o dito presidente, que em nossa própria terra, outorgou ação de guerra, jogando na nossa cara que se nós não sucumbirmos mais ainda ao seu poderio, podemos amargar uma Tripoli da vida. Pré Sal? O petróleo é nosso? Hahaha, "How will i laugh tomorrow, when i can't even smile today?" (Suicidal Tendencies). Já que citei uma música do pessoal de Venice, aqui vai mais uma: "The Joke's On You" (Excel).

domingo, fevereiro 27, 2011

So What?

Não é definitivamente aquela música de Kind Of Blue, não tem clima cool, o negócio é mais porrada mesmo, o buraco é mais embaixo. Também não é nenhuma novidade a degradação dos valores sociais e consequentemente culturais deste país, que abraça qualquer restolho, como se fosse um tesouro ou a cereja do bolo.
Temos duas estréias no cinema, o documentário sobre Justin Bieber e o filme da Bruna Surfistinha. Não, aqui não tem espaço para pré-conceito ignorante e pseudo-moralista para apedrejar a prostituta (no caso, ex-profissional do sexo).
O caso aqui é meramente o baixo nível de qualidade cultural mesmo. Realmente o cinema nacional consegue abordar e esbanjar dinheiro em cada assunto... Por favor, não me venham dizer que o filme é construtivo, que mostra uma realidade sobre a prostituição e outros argumentos, por favor, se alguém é simpatizante do filme, ignore sumariamente este blog. Assim como o documentário de Justin Bieber, que já escreveu uma biografia, só falta ter um filho e
plantar uma árvore, para seguir este jargão estúpido. O rapaz está bem acessorado, é melhor fazer estas coisas, antes de cair no ostracismo, como outros produtos de mercado fonográfico. Olha o nível, antes o que se tinha como prodígio, era o Michael Jackson nos tempos de Jackson 5, Stevie Wonder em sua adolescência. Agora está valendo tudo mais do que nunca, já chamam o jogador Dentinho de ator, o Neymar também, a Paris Hilton também chamam de artísta, de cantora... What a woderful world!
E mais uma vez o monopólio televisivo esfrega na cara da população e goela abaixo o que determinam. Mais uma vez Regina Casé se presta ao papel de que é bonito ser "feio", no seu programa que "é a cara do povo", assim contribuindo para os poucos neurônios da população trabalhar menos ainda. Afinal é domingo, né? Quem quer saber de cultura, arte, reflexão, crítica e auto-crítica em pleno domingão? Não são todos filhos de Deus? Já não chega a massacrante rotina da labuta semanal? O povo quer curtir, relaxar, beliscar um petisco e tomar uma geladinha, em frente da telinha... plim, plim... evil has no boundaries!
E o que chamam de elite cultural não está imune à essa contaminação. Até no gueto da música improvisada, do free jazz, da arte de vanguarda, já se manisfestam os embustes artísticos, que produzem uma massaroca sonora ou visual, camuflada com um "release" conceitual recheado de citações alheias e referências, como fazem os publicitários, mas o conteúdo é oco como uma árvore infestada de cupins. E a platéia chama para o encore... maravilha! Mas quem se importa? E daí? So what?


So What - Ministry

Die! die! die! die!
Scum sucking depravity debauched!
Anal fuck-fest, thrill olympics
Savage scourge supply and sanctify
So what? so what?
Die! die! die! die!

Die! die! die! die!
You said it!
Sedatives supplied become laxatives
My eyes shit out lies
I only kill to know i'm alive
So what? so what?
Die! die! die! die!

Die! die! die! die!
So what, it's your problem to learn to live with
Destroy us, or make us saints
We don't care, it's not our fault that we were born too late
A screaming headac
he on the brow of the state
Killing time is appropriate
To make a mess and fuck all the rest, we say, we say
So what? so what?
Die! die! die! die!

Die!
Now I know what is right
I'll kill them all if I like
I'm a time bomb inside
No one listens to reason,
It's too late and i'm ready to fight!
So what? now i'm ready to fight!

sexta-feira, novembro 12, 2010

A morte do Hardcore Punk

Estamos no final da primeira década do séc.XXI e mais um óbito de uma cultura é presenciado: A morte do Hardcore. Não? Bem, se você faz parte dos envolvidos neste movimento e estilo cultural, político e musical, que ainda frequenta apresentações (gigs), lê ou publíca zines, tem uma banda ou coisa semelhante, sugiro que faça um panorama reflexivo, sem paixões sobre o Hardcore Punk hoje em dia. Ah, o Do It Yourself Never Dies... Mas isso não é uma invenção do HC e sim de culturas e movimentos que já passaram por este mundo. Mas você tem toda a liberdade de discordar (dischord) e dizer que a chama ainda queima (flame still burns). Então não perca tempo lendo este post. Este não é um blog segmentado.
O Hardcore Punk viveu sua "época de ouro" nos anos 80 e uma parte dos 90 com a proliferação de bandas, zines, programas de rádio, midia em geral através do mundo. Aqui no Brasil, as coisas sempre chegaram com um certo atraso e distorção de valores, que hoje em dia não acontece como antes, devido à era digital e a world wide web, que permite o acesso direto à fonte. Eu posso falar sobre boa parte do que ocorreu aqui em São Paulo, pois participei desta cultura, portanto não sou um pesquisador de laboratório que nunca foi à campo, teórico ou alguém que só leu algo na net ou outro veículo de informação. Mas não estou aqui para fazer uma autobiografia e nem uma biografia sobre o Hardcore Punk paulistano neste reduzído espaço digital.
A intenção aqui é avaliar o que existe e resiste hoje em dia. Existem algumas casas noturnas que abrigam apresentações de bandas estrangeiras periodicamente, há alguns poucos espaços que são direcionados ao HC, algumas lojas de discos, alguns zines, muitos blogs e sites, alguns festivais, etc. Mas o que era concebido como cenário HC já não existe mais, as coisas mudaram, ou melhor, sofreram uma mutação e não uma evolução, infelizmente. O HC teve o mesmo fim que o movimento Flower Power dos anos 60, que ainda deixa resquícios ou sequelas de seu impacto, mas a sua força e autonomia já se foi, sinto muito.
Os remanescentes praguejam contra produtos como NX Zero, CPM 22, etc, mas isso nunca foi novidade em movimento musical que já existiu. Sempre a indústria, os empresários ou pessoas que são carentes de pertencerem à um grupo e portar algum rótulo se infiltraram em qualquer que seja a denominação coletiva musical e cultural.
E de pensar que o termo emocore (emotional hardcore) veio de grupos de Boston como Rites Of Spring, Embrace, etc, iria desembocar em coisas como Fresno e afins, realmente é trágico (como diria o sr. Omar, do seriado "Todo Mundo Odeia o Chris").
Hoje já vemos jovens na faixa dos 30 anos relembrando das gigs noturnas na metrópole paulistana, das saudosas lojas de discos na Galeria do Rock, que eram o ponto de encontro deste segmento. Alguns se assemelham aos punks quarentões que vivenciaram o início do Punk nos anos 80 e lamentam seu declínio entre goles de cerveja ou outro goró mais forte. Decline of the western civilization... Mas alguém ainda grita: "This is not the end!" (citação de uma música do Agent Orange).
O Hardcore se auto destruiu, deu o famoso tiro no próprio pé, seu radicalismo sufocou a sí mesmo. Nem os diamantes são eternos, tudo passa na história da humanidade. Mas não precisava ser assim, uma morte sem dignidade, uma morte agonizante e desapercebida, como morre um indigente debaixo de um viaduto. As coisas poderiam ter evoluído, se aprimorado e se adaptando aos tempos contemporâneos, assim como ocorre felizmente com o chamado free jazz na Europa e EUA. Nestes continentes o Hardcore Punk ainda encontra um espaço com dignidade, mesmo que bem mais reduzido, por manter o bom senso, sem levar em conta que preservou certas colunas de sustentação básicas para existirem, sem distorcer de forma bizarra sua criação.
Bem, alguns aqui até que estão tentando fazer alguma coisa, outros fazendo documentários (ou seriam obituários?) e não posso dizer com exatidão os seus fins e suas reais intenções.
Aquele côro do Youth Of Today que dizia: Keep it up!, soa tão distante agora...

domingo, outubro 31, 2010

Ornette, Vandermark, Brötzmann no Brasil... mas e daí?

Antes de alguém pensar que sou um pessimista, já adianto que devemos abandonar nossos anseios e observar a nossa realidade. Sim, eu particularmente me alegro com a visita destes músicos mais ousados por este país, mas daí a vislumbrar São Paulo como mais uma conexão do restrito cenário do free jazz e improvisação livre, é um tanto quanto prematuro e incerto.
Por quê? O que temos por aqui? Onde estão os artístas brasileiros? Tudo bem, existe o trabalho pioneiro do meu amigo Panda e seu projeto Abaetetuba, mas seus outros integrantes estão trabalhando no circuito europeu. Ah, mas tem o Ibrasotope (que está mais ligado a outro cenário musical), o Otis trio... Mas estes por acaso estão se integrando, formando a base de um cenário ou cada um está fazendo o seu próprio caminho? Eu mesmo confesso que não tenho me empenhado em meu próprio projeto ou voltado a trabalhar em algo futuro com o Panda.
Veja o caso do meu caro Ivo Perelman, que parece preferir trabalhar de forma independente, como atração estrangeira, não tendo muito sucesso em se relacionar com os músicos brasileiros. Há algumas especulações em relação a isso, e uma delas não é muito agradável e é polêmica e
não é oportuno abordar agora. Então, mesmo que o Ivo seja brasileiro, já se tornou um estrangeiro em sua terra à muito tempo. O que temos?
Eu mesmo testemunhei uma situação tenebrosa que ocorreu mais de uma vez com meu amigo Panda, que posssui relações sólidas com grandes artístas da improvisação livre, como Veryan Weston, Hans Koch entre outros e ele é sumariamente boicotado nos eventos destes artístas quando se apresentam por aqui, promovidos por certas instituições culturais. Mas pela amizade e afinidade musical, o Panda consegue organizar alguma sessão de improvisação livre com eles, mas longe dos holofotes do enfadonho, mesquinho, provinciano e restrito circuito cultural paulistano. Não? Eu presenciei uma das melhores sessões com o Panda, Thomas Rohrer, Veryan Weston e Trevor Watts num local hostil, uma tabacaria na região dos Jardins. Dava para contar nos dedos de uma mão o número da platéia, não contando com os habitués do recinto que foram pegos de surpresa e que estavam lá por conta da atração oficial da casa.
As duas vezes que o Veryan Weston esteve em São Paulo, o Panda, seu parceiro musical, foi sumariamente excluído da programação dita oficial.
Alegaram que o Panda não era um nome conhecido naquele circuito, que transita no chamado meio independente paulistano. Quem entende e percebe realmente quando uma sessão de improvisação livre é bem sucedida, testemunhou o fiasco daquela fatídica noite no CCSP em que Veryan Weston, Mark Sanders, Luc Ex, Ivo Perelman e outros músicos se reuniram no mesmo palco. Minto? O Panda me relatou o que Veryan, Mark e Luc acharam daquela situação a qual não exporei para não ofender à ninguém.
Na Europa e particularmente em Chicago, nos EUA, o cenário de free jazz e free improvisation existe, mesmo que de forma restrita, por conta de uma comunhão dos músicos, que procuram agregar-se sempre. Todo mundo toca com todo mundo, possibilitando novas experiências musicais para músicos e público.
Será mesmo que estamos caminhado para o certo?

sexta-feira, agosto 27, 2010

Liberdade de expressão, leitura e reflexão da informação para edificação do ser humano


Enforque-se na corda da liberdade! Quem costuma dizer esta frase acima é o Abujamra no programa de tv Provocações. Não sei se foi ele que elaborou a frase ou citou de alguém, como costuma fazer, mas achei uma frase certeira como um arqueiro de competição olímpica.
E a world wide web nos permite uma imensa liberdade de expressão pessoal, principalmente nos weblogs, os blogs, ou diários digitais. Alguns chegam ao patamar de publicações impressas como jornais e revistas e até semelhantes às programações de rádio e tv.

Eu louvo à Deus por ter este espaço virtual ao qual posso me expressar com liberdade. Escolhi escrever sobre assuntos ligados às artes em geral, especificamente a arte musical. Claro que outros setores artísticos me interessam, como os filmes de animação ou não, artes plásticas, literatura, dança, etc, mas não disponho de tempo para pesquisar e fazer pelo menos a "lição de casa", seja, fazer uma pesquisa séria, procurar entender com uma certa base e segurança para publicar algo no blog, mesmo que apenas uma pessoa acesse o Sonorica por dia, ou até por semana. Na minha opinião pessoal e restrita, tenho este dever, esta responsabilidade e consciência de não sair digitando qualquer coisa sem conhecer o assunto em sí, coisa que falta em muitos que até publicam livros, artigos impressos com tiragens que chegam à milhares de unidades e muitas vezes, propagando falácias inundadas de arrogância, soberba e equívoco para muitas pessoas que usam destes meios como fonte de informação e conhecimento.
Mas aí é que está! Temos a liberdade de expressão! Cabe ao indivíduo ter o mínimo de senso crítico e filtrar as informações, averiguar se tal assunto tem coerência. Bem, restringindo ao campo musical, que por sí só já é extremamente amplo, façamos uma reflexão.
O Brasil nunca possuiu um veículo de informação de boa qualidade em conteúdo. Isso em todas as formas de midia até agora. Revistas e sites publicam conteúdos parciais sujeitos aos índices de acesso e vendas, patrocínios e o pior, das opiniões vaidosas dos ditos jornalistas musicais. Dificilmente se encontra por exemplo, uma resenha sobre um lançamento fonográfico em que o jornalista apenas informe o conteúdo da obra de forma imparcial de forma que o leitor tenha uma idéia aproximada do que realmente pode esperar em sua audição. Este tipo de matéria não é para ser uma obra literária autoral, aliás, o jornalismo, pelo que eu entendo, não é pra isso. A função é apenas informar e causar uma reação de reflexão.
Mas devemos averiguar qualquer tipo de texto publicação, não só musical e me sinto em falta só falando do universo musical, pois há um problema crônico generalizado nos meios de informação. E a leitura é uma ferramenta essencial para o aprimoramento do intelecto humano, e intelecto humano não tem nada haver com os estereótipos arrogantes e sim, com a capacidade de raciocinar, até para tarefas simples, como colocar a medida certa de óleo para fritar um ovo. A leitura estimula o cérebro de uma forma única. Pergunte a um deficiente visual a diferença de ouvir um texto gravado em audio e ler um texto em Braille (sistema de leitura por tato inventado pelo francês Louis Braille). Ler e refletir é extremamente edificante!

Vou usar como exemplo o livro mais lido pela humanidade: a Bíblia (que em grego significa, rolo pequeno de papiro e é um conjunto de livros). Este conjunto 66 de livros, (a bíblia católica inseriu posteriormente mais 7 livros, chamados de apócrifos. Apócrifo vem do latim apocryphus e este do grego ἀπόκρυφος, que significa oculto ou não autêntico) divididos em Antigo e Novo Testamentos, narram a história e o relacionamento de Deus e a humanidade desde a criação do mundo, tendo como Jesus Cristo, o centro de todos os livros. A maioria das pessoas tem um grande pré-conceito em relação a Bíblia.
Muita calma nesta hora:
-Ateus, agnósticos, céticos ou apenas leitores sem compromisso
, se quiserem, leiam como apenas um livro despidos de pré-conceitos e terão a oportunidade de encontrar uma leitura interessante com excelente qualidade e diversidade de estilos literários;
-Religiosos, tentem refletir no conteúdo bíblico, se é que realmente o lêem e o entendem. Depois coloquem em prática no cotidiano;
-Cristãos, é a palavra de Deus, como se Ele falasse contigo. Mas como Deus diz, a fé sem obras é uma fé morta, por isso, mãos à obra;
-Fanáticos religiosos
, não vão fazer nenhuma bobagem! Afinal, o Deus que vocês servem diz que a fé é racional;

*p.s.: Não é porque tivemos a Flip e a Bienal do livro que devemos ler por modismo, ler é um hábito saudável e deve ser contínuo. Leia todos os dias, nem que seja a bula do remédio ou o rótulo do pacote de bolacha!

segunda-feira, julho 26, 2010

Free Jazz, Free Improvisation no Brasil? Isso é anormal!


Antes de qualquer coisa, eu gosto de free jazz e free improvisation e isso pouco importa. Estamos em um país desprovido de cultura para este tipo de extravagância musical, mesmo que na verdade em sua essencia, não seja. É apenas música em mais uma forma, não está acima de nenhuma outra e nem abaixo, apenas mais uma cor do prisma musical. Mesmo vivendo em São Paulo, que tem estes ares de ser uma metrópole evoluida e outras baboseiras, isso é tudo uma mera superfície frágil. A trilha sonora da cidade está em estilos que os musicólogos e outras anomalias e minorias sociais abominam ou fazem populismo. Sim, estamos presenciando uma fissura na brecha e podemos vez ou outra, assistir uma performance de improvisação livre e algo similar ao free jazz na capital paulistana. Mas isso não chega a ser o mínimo que devería existir para a saúde, coerência da diversidade de uma cidade grande. O problema é como esta fissura está se formando. Ao invés de ser um pequeno nicho saudável, como costuma ser ao redor do mundo, aqui, as coisas tem a tendência em se transformar em metástase sócio cultural de elite e isso não quer dizer apenas cifras monetárias. Tem haver com o que eu escreví no texto anterior sobre a movimentação social ao redor da apresentação de um trio holandês de improvisação livre e outros grupos no Centro Cultural São Paulo neste mês de Julho. Infelizmente, já existe uma forte bifurcação que vai em direção da arrogância da elite cultural hermética que sabota a sí própria. Bem, na verdade este tipo de discussão não tem muito efeito, como os inúteis debates do que é ou não é jazz, arte ou não arte, street art é ou não é, se Peter Brötzmann toca jazz ou não. Isso importa mesmo? Vaidade. Como escrever sobre música em pontos que são desnecessários, pois a música fala por sí só. Tudo bem, é a liberdade de expressão, mas que é desnecessário, ah, isso é. A informação sobre a música tem uma função prática, sobre eventos, gravações, filmes e outros produtos da indústria cultural, seja ela independente e artesanal ou não.
Eu como músico, artísta, quero que exista este pequeno nicho para este tipo de arte musical se formar nesta cidade e existir de forma simples e saudável, mas este futuro é extremamente incerto. A tirinha abaixo diz: "No, you go see if it's free jazz!"

domingo, julho 18, 2010

Cultura não é educação (Apresentação do grupo EKE no CCSP)

Sem dúvida, o saxofonista Yedo Gibson é um grande artísta. Já fazem alguns bons anos que ele fixou residência na Holanda, onde pôde desenvolver seu trabalho de uma maneira que seria inviável no Brasil. Como ele mesmo disse, em sua apresentação com o grupo EKE, teve a satisfação de estar de volta neste último sábado, dia 17 de Julho, depois de 10 anos em que se apresentou no Centro Cultural São Paulo na rua Vergueiro. EKE conta com Oscar Jan Hoogland: electric clavichord e Gerrie Jaeger na bateria.
Mas eu vou me abster de comentar a apresentação que foi de alto nível e focar sobre o ambiente deste tipo de evento. Existe algo no ar, eu não sei bem o que é, que destoa da realidade desta cidade e isso não tem haver com a falta de espaços para se apreciar este tipo de música que a maioria da população não tem acesso ou não tem interesse. A maioria das pessoas quer ouvir uma melodia temperada, padrões rítmicos que não sofrem mudanças bruscas, querem algo que possam assimilar com facilidade. A cultura brasileira gira em torno das canções moldadas na melodia européia clássica, que se abstem das dissonâncias inusitadas. Mas existe uma parcela mínima da população que buscou o acesso à cultura e suas fontes de informação e isso não quer dizer que todas elas pertençam á elite da sociedade, de maneira alguma. Muitos são estudantes de classes sociais onde não há luxo de colégios particulares ou de familias e bairros mais bem abastados. Digamos que no geral são do que se chama classe média, onde se vislumbra com mais nitidez a importância da cultura e a educação, os cursos superiores, as expressões artísticas. E olha que você pode ter alcance desta cultura pelas publicações populares à venda em bancas de jornal e centros culturais de prefeituras e governos, de forma gratuita, como é o caso do Centro Cultural São Paulo, algumas atividades e atrações dos SESCs, etc.
Enfim, teoricamente temos uma platéia "civilizada" que sabe se comportar em vários ambientes e não fazem "barraco", desligam seus celulares e aparatos eletrônicos como se recomenda a cada início de apresentação, fazem aquele silêncio solene até aplaudir cronometradamente a entrada dos artístas, como manda a cartilha. Sem dúvida, quando a música começa, o que importa é desfrutar daquele momento único que a improvisação livre proporciona.
Quando as peças e a performance se encerra, entra justamente o que eu quero falar neste post. Fui a esta apresentação porque um amigo que além de músico é parente do Yedo, me avisou do evento e também gostaria de revê-lo, uma pessoa agradável, independente de sua reputação e talento, o qual tive a honra de compartilhar uma peça de improvisação em uma outra ocasião.
Estava com um bom amigo, que não entende bulhufas deste tipo de cultura, que estava trabalhando de faxineiro, mas tem a mente aberta para preciar este tipo de música. Encontrei algumas pessoas conhecidas, mas há um certo procedimento similar à etiqueta de uma côrte, algo que não tem leveza, como eram as coisas nos tempos de reis e rainhas na Europa.
Creio que a maioria das pessoas alí presentes possui um leque de informação cultural muito mais amplo do que eu e meu amigo, apreciam a arte sofisticada de Stravinsky e Marc Chagall, já leram Nietzsche e Dostoyevsky, entre outras coisas.
Na tentativa de conversar brevemente com Yedo e seu irmão, fui interrompido por pessoas sem a menor cerimônia e posso afirmar categoricamente que isso não ocorre num churrasco de quintal, sem que se ouça um: "licença, faz favor".

sexta-feira, julho 02, 2010

Cenário musical independente paulistano e seus depoimentos

Me lembro de um dos motivos de ter criado este blog a cerca de quatro anos. A web digital proporcionou um avanço grandioso para o cenário musical independente, que não dispunha de muitas ferramentas. Tinhamos os zines, que tinham um alcance muito limitado, as vezes alguns programas de rádio fm, alguns artigos em revistas de comportamento jovem e a raridade de alguma coisa veiculada na tv aberta. Hoje em dia, temos tudo isso e muito mais, informação simultânea e ligada ao mundo inteiro e etc. Não creio que seja necessário me aprofundar nestas ferramentas de midia, como o blog, sites, podcasts, myspace, twitter, pois o que não falta são dissertações sobre estes meios de comunicação da era digital.
Me lembro do meu erro ao não checar as fontes de informação de forma correta, ou seja, se a fonte era confiável e se havia coerência com a verdade. E isso não foi feito de forma irresponsável, pois era um assunto ao qual eu tinha vivenciado, mas como não me foi concedido a onipresença e onisciencia, não pude apurar a verdade dos fatos de forma cem por cento isenta de opiniões pessoais, alheias. Enfim, foi um aprendizado e hoje as coisas estão claras.
Últimamente tenho visto a documentação de movimentações culturais em formato digital, coisa que não podia ser feita no fim dos anos 80 e 90 até. Quem iria ficar andando com uma câmera de video high 8 ou gravador k7 nas baladas e shows de São Paulo o tempo todo, ou nas rodas de conversa das pessoas que participaram deste cenário? E vejo como a memória humana pode ser falha ou infelizmente, tendenciosa. Cada um conta sua história do jeito que lembra, do jeito que queria que tivesse sido. O irônico dissso é que a contra cultura paulistana que rebateu e repugnou a parafernália burguesa, a ditadura e o poder, acabou fazendo algo semelhante ao relatar sua curta trajetória. Depoimentos e textos são feitos de forma romantizada e idealizada e não raramente, totalmente fora da realidade. É como a maiora da documentação da história da humanidade, os livros tratam a fundação de nações e cidades como uma coisa linda e maravilhosa e quem tem bom senso sabe que nunca foi assim. A história do homem foi escrita com sangue, mas não sangue como adjetivo de esforço e trabalho, mas como violência, instintos malignos, interesses próprios não visando o bem coletivo e outros ransos.
Mas hoje em dia, eu particularmente não vejo, não sinto necessidade e não quero buscar, pesquisar, investigar e divulgar sobre o que realmente aconteceu e acontece neste meio cultural paulistano com intuito de jornalismo investigatório ou documental. Se houver alguma relevância, tudo será esclarecido de alguma forma, cedo ou tarde a verdade aparece. Cada um que conte a sua história como deseja seu coração e sua consciência. E depois, muita coisa não tem importância, vai se dissolver no avançar do tempo, a vida envolve coisas muito mais importantes do que isso, a não ser que as pessoas coloquem a arte como carro chefe de suas breves existências nesta terra. Breves existências? Sim, pois se todo ser humano pudesse viver exatamente cem anos, o que é cem anos perante a eternidade, a qual não temos a verdadeira noção de sua dimensão.
"
Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece.
" Tiago 4.14

quarta-feira, junho 02, 2010

Improvisação Livre e Free Jazz no Brasil, temos um futuro?

Num sábado típico de outono de céu limpo e ensolarado com baixa temperatura, encontrei com um amigo, o músico especializado em Improvisação Livre, Antonio "Panda" Gianfratti. Enquanto ele consertava suas peças de bateria no luthier, conversamos sobre vários assuntos e principalmente sobre música. Basicamente lamentamos a distorção sobre o conceito musical difundido no Brasil, do modelo equivocado e segmentado que faz escola até os dias de hoje, como se fosse uma tradição à zelar. Comentei que fui à uma escola de música especializada em Jazz e o professor me disse que suas aulas se baseavam no estilo do trompetista norte americano Woody Shaw. Ótimo trompetista, mas eu caí fora, pois não creio que este seja o melhor método de ensino para um instrumento, centralizando no estilo de um músico em particular e se fosse apenas usado como um de inúmeros exemplos, poderia ser positivo na didática. Este assunto veio à tona pois estávamos na região da rua Teodoro Sampaio, conhecida como rua dos músicos, pela alta concentração do comércio de instrumentos musicais, algumas escolas de músicas e onde ocorrem algumas apresentações musicais. Alí naquelas três quadras vemos o efeito do modelo imposto e sua consequente padronização de produtos. Dificilmente se encontra um instrumento como oboé, fagote, saxofone sopranino ou outros modelos e marcas de instrumentos mais conhecidos, como saxofones e guitarras. Automaticamente esta padronização se transferiu aos músicos, suas referências e estilos. Inúmeras vezes presenciei performances de ótimos músicos no quesito técnico, mas desprovidos de personalidade. Falando em personalidade, quando já estava para se encerrar uma performance musical semanal que é promovida por uma loja de instrumentos musicais que o público prestigia na calçada, nós estávamos perto e o Panda ouviu o som do saxofone tocando e disse-me: "Parece o Fábio". Eu respondí que poderia ser, pois ele costuma tocar naquele local. Fábio participou do projeto ao qual o Panda é desenvolvedor, o grupo de Improvisação Livre Abaetetuba, que hoje tem a maioria de seus membros radicados na Europa. Fábio havia se afastado do grupo por divergencias musicais e naquela tarde se reencontrou com o Panda depois de muitos anos. Quando Fábio terminou sua apresentação, se uniu a nós na copnversa que se prolongou até certa hora da noite. Discutimos os rumos da improvisação livre, os avanços dela nos países europeus, das dificuldades de espaço e mantimento do cenário musical que é naturalmente restrito em todo o mundo. Em certo momento, Panda contou da sua frustração de não poder ficar residindo na Europa, onde alguns anos atrás, teve a oportunidade de fazê-lo e poder desenvolver seu trabalho ao lado de grandes improvisadores do cenário europeu e aconselhou ao Fábio, que aproveitasse enquanto tivesse tempo oportunidade, pois é uma grande experiência à se vivenciar. Mas o fato do Panda não poder ficado naquela época, teve seu propósito, pois ele se mantendo aqui no Brasil, fez uma sólida parceria com o músico suiço radicado em São Paulo, Thomas Rohrer, que juntos, mantiveram vivas as possibilidades de haver algo mais consistente por aqui. Também não o impediu de novamente ir à Europa e ter novas experiências e fazer novas alianças com outros músicos, como foi o caso do William Parker. E o trabalho desta dupla abriu uma porta para outros músicos, como a jovem pianista Michelle Agnes e até este que vos escreve que teve o privilégio de participar de bons encontros musicais após 2007.
Como eu disse ao Panda e ao Fábio, talvez em 10 anos, contando com o fim das barreiras de acesso à informação com o advento da rede mundial de comutadores que nos fornece amplo acesso e de forma simultânea com os
outros países possamos vislumbrar um cenário de música de improvisação livre, mesmo que restrito, mas sólido e contínuo em São Paulo ou até em outras partes do Brasil.

quinta-feira, maio 20, 2010

MPB, taí uma coisa que brasileiro não gosta...

Os números e as cifras não mentem, a maioria da população não está nem aí para a mpb, pra Chico, Tom, as novas cantoras. Não? Se você só assiste a TV Cultura e lê os 2 jornais de maior tiragem do estado de São Paulo, pode até se iludir de que isso não seja verdade. Fato recente, na virada cultural quem quis prestigiar um show de mpb, foi atrapalhado pelo blá-blá-blá do povo que não estava nem ai pra música. Os rankings apontam o pop amorfo americano no topo das paradas, nas rádios mais populares de São Paulo. Mas e o samba? Ilusão também. Dá aquela impressão no carnaval, nos pagodinhos de bar, mas mesmo o pagode que o povo gosta já está contaminado com a super produção espelhada nos artístistas do R'n'B americano e o mesmo acontece com o sertanejo e o axé. Cada vez mais este lugar vai tomando um aspecto genérico e sem identidade, como se fosse uma tv samsung ou coisa parecida, tanto faz, afinal é apenas um grande retângulo preto fino e brilhante. Esse troço de brasilidade é da classe média intelectual, que coloca nome nos filhos de Antonia, Maria, Domingas, pois na perifa é Jenifer, Mikely, Jonathan.

terça-feira, abril 27, 2010

O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento

A frase acima é um trecho do livro do profeta Oséias, no Antigo Testamento. O texto especificamente fala sobre o povo israelita que rejeitou a lei de Deus e ficaram à sua própria sorte, tendo que arcar com a consequência de seus atos e sua cidade foi destruída por outros povos.
A manipulação da palavra causa muitos males e a ignorância mais ainda. A religião fundada pelo profeta Mohammed, não se baseia em homens-bomba, violência e fanatismo, fala de paz. A maioria dos praticantes que entram nestas questões radicais, são manipuladas pelos seus lideres que não tornam acessível o conhecimento das palavras contidas em seu livro sagrado. Só divulgam de forma isolada algumas frases que são o suficiente para causar graves danos. O Vaticano fez a mesma coisa com a Bíblia, tudo era em latim(língua morta e complexa), que só os líderes tinham domínio. As missas também eram conduzidas da mesma forma, o povo ficava a mercê dos padres, bispos e papa. Foi instaurado um clima de medo e obscuridade, de castigo, etc. Promoveram massacres a outros povos que não compartilhavam de sua opinião religiosa, como fizeram com os muçulmanos. Mas a questão não é essa.
Podemos usar esta frase em nosso cotidiano, livre de questões religiosas. O conhecimento é um ítem que realmente tem a capacidade de nos poupar de situações adversas. Por exemplo, se tivermos o conhecimento básico aprendido numa escola pública, ao comprarmos algum produto no mercado e lermos as especificações no rótulo, saberemos se poderemos consumí-lo sem nos causar dano. Minhas aulas de química não eram das melhores(estudei em escola pública, em meio a muitas greves), mas o pouco que aprendi me ajuda no dia a dia, ao comprar alimentos, produtos de limpeza, etc. Compreender as clausulas de um contrato ou um documento evitam problemas posteriores, tanto que existe um dito popular: "Escreveu e não leu, o pau comeu".
O que me motivou a escrever este post, foi o uso indevido da palavra apocalipse em muitos textos e frases que tenho lido e escutado por aí. E isso não vem de pessoas que foram privadas do ensino básico, muito pelo contrário, tiveram acesso ao chamado nível superior de ensino, como USP, PUC, etc. Alguns deles trabalham no jornalismo, onde é essencial um certo domínio do conhecimento das palavras. Afinal publicam textos tanto via impressa como virtual para o público. São pessoas que leram muito mais livros que eu lí, escrevem a muito mais tempo do que eu. Eu apenas gostava de fazer redações na escola e depois de muito tempo, comecei a escrever neste blog.
Vamos lá:
Apocalipse(
αποκάλυψις): palavra de origem grega que significa revelação.
Como se pode perceber, há uma enorme diferença entre o verdadeiro significado e o que as pessoas supõem que signifique. Apocalipse não significa o fim do mundo. Talvez por não ter se traduzido o título do último livro da Bíblia(em grego, conjunto de livros), tenha gerado esta distorção do significado. Sim, o conteúdo de Apocalipse trata sobre o fim do mundo, mas não é só sobre isso. Talvez por pré-conceito, ignorância, preguiça ou outros motivos, as pessoas reproduzem uma informação sem averiguar realmente do que elas falam(E olha que no jornalismo é regra examinar as fontes de informação).
Mas em tempos de escrever palavras como: "vc", "naum", "aki", "xego", "flei", que importância tem? Deixe a forma correta de escrita da língua portuguesa para os fósseis da Academia Brasileira de Letras...
Oséias 4.14: "...pois o povo que não tem entendimento será transtornado."

ps.: Diz aê professor Pasquale!

sábado, abril 10, 2010

Cenário independente paulistano... dividir e conquistar! the vikings are coming!

A coletânea de bandas punk da escandinavia não tem nada haver com o post, mas esta capa é tão emblemática que a usei para ilustrar a situação. Dividir e conquistar é a tática do império romano e outros impérios para expandir seus domínios. Veja o que aconteceu com as nações da Africa, se fragmentou pela mão do pessoal da pesada que se encontra no continente acima, a Europa. A Europa se auto-proclamou como o centro do mundo e até como berço da civilização... tá bom...
Enquanto o pessoal "selvagem" do Oriente Médio já usava o sistema numérico que usamos e comia com talheres, o "velho mundo" se consumia em peste bubônica e outras mazelas nos seus chamados burgos.
Bem, vamos ao assunto em sí. Apesar de haver uma revitalização do cenário cultural, principalmente o musical independente em São Paulo, depois do grunge, que não podemos negar, causou uma boa movimentação, criando novas bandas e gravadoras, inspirado na pequena Sub Pop, que era apenas uma sala num prédio comercial em Seattle, cidade portuária longe dos centros culturais na California e New York. Até o consagrado grupo Titãs se aventurou nessa barca, convidando o produtor Jack Endino e cada membro se arriscando em projetos paralelos ("Será que isso o que eu necessito?!" - nome da música do disco Titanomaquia).
Mesmo o setor de música comercial se encontra numa situação não muito diferente do meio da música autoral independente. E as bandas que tocam covers, bandas intérpretes, de tributo, etc, adotaram uma técnica de sobrevivência no escasso mercado de bares, casas noturnas e happy hours da cidade. Elas fecham o cerco, limitam as opções às outras bandas, porque se não for desta maneira, fica sem trabalho. Ainda mais neste meio, onde sempre aparece alguém melhor e muitas vezes que cobra menos pelo trabalho e isso também gera uma degradação ao real valor do músico. O proprietário não está nem aí com essa qualidade, ele quer seu estabelecimento cheio e consumindo muito, mesmo que o som não seja feito lá com muito esmero (se for com criatividade e sentimento, esquece!). Se fazem as "panelinhas", que são tão fechadas e resistentes de fazer inveja a Panex, Rochedo e Clock. Mas o meio autoral não deveria ter este tipo de comportamento, pois vale é justamente a característica individual de cada artísta. A diversidade é extremamente benéfica ao meio artístico autoral.
Vamos fechar mais o foco. No caso do chamado cenário punk/hardcore, onde o brasileiro em sua maioria não entendeu que tudo era mais o conceito do que o estilo e sonoridade, acabou limitando tudo nos famosos "one, two, three, four" e 3 acordes. Não há muito o que fazer se o padrão musical foi limitado. Poeticamente, não é diferente, usar de ironia e revolta político social, mais ligada ao relacionamento entre população e orgãos políticos e ideologias. Isso migrou para o hiphop, com o tal do rap denúncia, que narra a injutiça social. Mas a maioria fica só reclamando e não tem uma atitude de efeito contra este mal. E pior quando algum artísta membro da periferia consegue alguma notoriedade e upgrade financeiro, passa a agir como seus opressores burgueses. Tá aí essa cultura do ouro, do "bling", numa atitude exibicionista de "provar" que venceu na vida. Mas na verdade se prostituiu e perdeu seus valores, se é que teve em algum momento.
Com o tempo, o hardcore também se enveredou por outros caminhos além do que era uma alternativa à cultura do consumo descartável. Muitos deste meio estão preocupados em estar "style", tênis tal, guitarra tal(e isso as vezes nem tem haver com a qualidade do instrumento), de serem vistos em lugares de prestígio do cenário, de estar com tal fulano, etc. O cenário musical do punk era estruturado na coletividade e união. Ainda bem que tudo não homogêneo e existem pessoas que fazem pela arte, pelo ideal. Mas coisa poderia ser bem melhor.
Vamos ajustar o microscópio no foco mais fechado: o free jazz e improvisação livre. Aí a coisa fica muito mais difícil. É um tipo de música que não agrada a maioria, pois está oposta ao modelo geral de música como forma de entretenimento. É um tipo de música desafiadora, que o ouvinte tem de parar suas atividades costumeiras para apreciar um terreno que ele não tem controle. O músico Ken Vandermark me disse que as pessoas preferem um papel de parede musical, uma música que seja apenas pano de fundo para suas atividades diárias e não querem ser desafiadas e surpreendidas pela música. E o número de músicos dispostos a se aventurar em um terreno destes, que conta com um reduzido número de apreciadores, também causa uma falta de contingente. Existe até a visão errônea e pré-conceituosa de quem faz este tipo de música, é porque não sabe tocar direito. Mas aí nem se perde tempo com este tipo de pensamento.
Em São Paulo quase não existem músicos que tocam free jazz e improvisação livre, e muito menos lugares para se prestigiar. Ainda bem que SP, seguiu a tendência internacional e este tipo de música encontra espaço em lugares como centros culturais, galerias de arte. Mas o pensamento provinciano coloca em xeque o crescimento deste setor musical. Nestes poucos anos em que surgiram poucas manifestações da música mais radical, já ocorreu a setorização do minúsculo meio. Houveram dois eventos coletivos de improvisação que não foram capazes de criar uma orquestra de improvisação, como é a tendência nos países consolidados no estilo. E isso não tem haver com o número de músicos. Os interesses pessoais, vaidade, ego, sempre prevalecem e emperram o progresso, a evolução musical. No curto espaço de tempo, escutei uma série de falácias neste reduzido meio. Um tal de um não falar com outro, de depreciar as habilidades alheias. Teve caso de parecer que se reinvindicavam um título de pioneiro do free jazz ou coisa parecida. Eu me descuidei e me encontrei no meio desta sujeira, mas pela misericórdia de Deus, rapei fora. A música é importante para mim, mas não ocupa o primeiro lugar em minha vida. Não adiantou muita coisa o Phil Minton, Veryan Weston e Peter Brötzmann tocarem por aqui. Se tornou apenas um evento social, não um aprendizado de humildade e respeito ao próximo. No caso do Brötzmann, o qual conversei rapidamente da vez que esteve aqui, me passou muita serenidade, simpatia e humildade, em contraste à sua arte, que é audaz, selvagem e em alto volume. Se deveria tomar como exemplo a se praticar, o título da gravação do Sonore, trio formado por Peter Brötzmann, Mats Gustafson e Ken Vandermark:
No One Ever Works Alone.
E assim as coisas por aqui caminham com uma dificuldade um tanto quanto desnecessária. E olha que tem gente falando em "energia positiva", "luz", "muito amor"...

"Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os hipócritas também o mesmo?
E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os
hipócritas também assim?"

Evangelho de Mateus capítulo 5, versos de 44 a 47.

quinta-feira, abril 01, 2010

O retrato da cultura do paulistano, do brasileiro

Nesta última terça me encontrei com um amigo que está de mudança para Curitiba. Ele me convidou para tomar um café na rede Starbucks. Sempre que aparece este tipo de coisa, fico um tanto quanto arisco, pois aqui nesta cidade, uma coisa corriqueira se torna fonte de status. E lá fomos ao Starbucks localizado no cruzamento da Alameda Campinas e Alameda Santos, um endereço "nobre"(blergh!) de sampa. Primeiro o lado bom, o local é agradável, ar condicionado um tanto quanto frio, mas os produtos são bons. Tomamos um café com baunilha acompanhado de pão de queijo e muffin de blueberry. Tudo com um ótimo sabor, tamanho satisfatório, o café foi servido naqueles copos grandes com tampa, como se vê nos filmes norte americanos e o muffin era de massa úmida e boa quantidade de fruta como recheio e o pão de queijo crocante por fora e macio por dentro. Não é como boa parte de lugares em São Paulo que servem estas iguarias com preço alto e o muffin parece um bolinho da Seven Boys com prazo de validade vencido e o pão de queijo como aqueles instantâneos de supermercado.
Bem, vamos ao assunto do post. Algumas pessoas agem de modo mais saudável, estão desfrutando apenas de um serviço gastronômico de boa qualidade, apenas isso. Mas a maioria se deixa levar pelas suas própias ambições e acreditam que estão se elevando socialmente. Querem ser vistas nestes locais e se sentirem especiais, mais nobres. Mas numa rede fastfood? Isso ocorre na loja de alfajores Havana, Häagen-Dasz, Burguer King. Como se este tipo de atitude pudesse proporcionar um upgrade intelectual e de status. Passamos na loja da Fnac, que tinha como intuito inicial, ser um megastore mais voltado à cultura. Mas o povo vai lá é para folear semanário e paquerar produtos eletrônicos. A variedade de cd's caiu mais de 65% e deu lugar a prateleiras forradas de dvd's da Ivete, Claudia e etc. Livros? Costuma ser o carro chefe da Fnac, mas a maioria dos exemplares são livros são de um tipo de literatura um tanto quanto, o que posso dizer, Paulo Coelho? Dan Brown? Crime e Castigo? Ora, Dostoievski eu encontro numa maquina de livros pocket na estação de metrô.
Aí fomos ao outro extremo. Descemos a rua Augusta, onde a modernidade jovem voltou a habitar, junto das casas de strip tease degradantes. Um fim de feira livre tem uma aparência mais digna. Vistamos amigos, isso já ao lado do edifício Copan e fomos numa churrascaria com sistema de rodízio, que fica na praça da República. A Trilha Gaúcha, é o oposto do Starbucks. Quem está na churrasqueira é o "Ceará", o piso está sempre seboso, as carnes nem sempre estão no ponto, as vezes salgadas demais, as vezes queimadas e endurecidas. Mas as pessoas que frequentam o Trilha não ligam pra isso, o negócio é a quantidade. O sistema de rodízio lhes permitem se empanturrar de carne, pois não podem gastar tanto dinheiro com carne em seus lares. Ou se come uma costela em casa ou deixa de pagar umas das 20 pretações da tv de lcd comprada nas Casas Bahia.
Isso tudo já não é novidade, pois em São Paulo, sempre foi assim. Então se torna um tanto quanto alienígena escrever sobre jazz, afrobeat, volta dos discos de vinil para colecionadores. Ainda bem que isto aqui é só um blog.
 
 
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