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sexta-feira, março 04, 2016

Artesanal é? Sei...

Cada povo tem o rei que merece, já dizia a frase popular. O Brasil é um país de dimensões continentais com problemas na mesma proporção e um dos seus inúmeros, é uma educação extremamente deficiente que gera uma cultura problemática, e um de seus efeitos colaterais, é a superficialidade. Mas o que isso tem haver com o artesanato?
Vamos lá. Esse problema com a superficialidade é que a estética ou aparência se torna mais importante que o conteúdo e não me refiro á respeito de teorias complicadas sobre isso, mas num conceito simples e prático. Qualquer salgadinho industrializado de baixo valor disponível em supermercados se encontra os tais sabores com ervas finas, azeite com não sei o que, etc. Colocam uma mistura química qualquer que tenta emular o sabor e muitas destas substâncias sequer possuem o elemento que tentam reproduzir. Mas isso é apenas um exemplo e não é esse o foco do texto.
O bairro em que nasci se tornou um local enfadonho, um refúgio para a classe média que busca alguma sofisticação em serviços. Até uma simples compra no mercado se torna um "evento", lugar de gente feliz...
Triplicaram os estabelecimentos que servem refeições sob o temido rótulo "gourmet". E lá vamos nós recorrer ao significado das palavras:
Gourmet: Personne qui goûte la bonne cuisine en connaisseur. Ou seja, pessoa que aprecia a boa cozinha, que tem um conhecimento avançado em culinária e tem um paladar refinado apto para degustar pratos não convencionais. Daí o chef tem que fazer adaptações porquê o paladar brasileiro não está habituado a certos tipos de ingredientes... Aí o sujeito se enche de soberba porque foi à um bristrô mas ficou com nojinho do steak tartare...wtf!
Mas o que o artesanal tem haver com isso? Então, esses tipos de estabelecimento usam como atrativo o rótulo de artesanal. Tudo é artesanal e caro.
Novamente vamos ao significado das palavras:
Artesanato é essencialmente o próprio trabalho manual ou produção de um artesão (de artesão + ato). Mas com a mecanização da indústria o artesão é identificado como aquele que produz objetos pertencentes à chamada cultura popular.
O artesanato é tradicionalmente a produção de caráter familiar, na qual o produtor (artesão) possui os meios de produção (sendo o proprietário da oficina e das ferramentas) e trabalha com a família em sua própria casa, realizando todas as etapas da produção, desde o preparo da matéria-prima, até o acabamento final; ou seja, não havendo divisão do trabalho ou especialização para a confecção de algum produto. Em algumas situações o artesão tinha junto a si um ajudante ou aprendiz.
Daí o espertalhão proprietário do restaurante contrata desconhecidos para trabalharem no seu estabelecimento e não são a maioria que está contente com sua remuneração por mão de obra, que se assemelha a uma linha de montagem.
Pronto, jé é a permissão para se cobrar muito caro pelo produto e serviço ofertado. E isso sem contar com a possibilidade do estabelecimento usar matéria prima industrializada para confeccionar seu produto artesanal (isso no caso de um restaurante que poderia usar um ingrediente que poderia ser confeccionado de forma verdadeiramente artesanal).
Mas quem se importa? Vivemos esta cultura da superficialidade, das aparências e se paga caro por isso. E no mais, este é apenas um texto qualquer de internet. We're just a minor threat.

"Não sejas demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio; por que te destruirias a ti mesmo?" - Eclesiastes 7:16

segunda-feira, abril 21, 2014

Eu só queria comer um hamburger...

De um ponto de vista, música e comida tem um mesmo parâmetro, o gosto. Alguém precisa de um crítico pra te convencer a consumir? O que muitos detestam, outros acham uma maravilha. Uma questão de gosto? Sim, mas também há muitos casos de se adaptar o paladar, tanto alimentar como de audição. Como um simples café. Culturalmente foi acostumado a se tomar com açúcar e muitos acham o café sem açúcar uma coisa horrível, como se estivesse tomando dipirona sódica, mas quando o paladar se adapta, o amargor diminui e se acentua o sabor do café. Mas também pode simplesmente ser uma questão de gosto mesmo, mas a maioria não aceita experimentar algo novo, e isso me lembra uma entrevista com Ken Vandermark que fiz anos atrás:

8. Você concorda com John Zorn quando ele declara que free jazz, improv e outras vanguardas musicais em geral não vão alcançar o grande público, mas que seu público se renova a cada geração mantendo mais ou menos o mesmo número de pessoas envolvidas?
Eu penso que os assuntos enfrentados pelos músicos de jazz e improvisação são múltiplos. Primeiro, eu acredito que a mídia mainstream especializada em jazz colocou a forma artística em um gueto musical elitista, ajudando a removê-la da percepção ou interesse da população em geral. Em segundo lugar, a maior parte dessa música é desafiadora para os músicos e, portanto, pro público. A maioria da população não é interessada de verdade em música, eles estão interessados em um papel de parede sonoro – algo bom pra ter por perto desde que não interrompa seu ambiente ou desafie suas expectativas. Estou interessado em encontrar uma maneira de quebrar a noção pré-concebida, desenvolvida pela mídia e por muitos músicos que é impossível que a música improvisada encontre um lugar real na sociedade contemporânea. A questão é encontrar fãs de música. Esse é o público que vai aos meus shows na América do Norte e na Europa, pessoas entre 20 e 40 anos que ouvem todo tipo de música: jazz, rock, reggae, funk, hip hop, música erudita, etc. e são essas pessoas que os músicos de improvisação precisam encontrar e tocar para, não para o fã elitista de jazz que já tem uma definição de como a arte pode ou não ser.

Pois é, depois de uma resposta dessas, realmente é necessário dizer mais alguma coisa? Bom, quando eu fiz esta entrevista, nem havia sequer um pequeno grupo de pessoas tentando criar um digamos, cenário musical ou comunidade para esse tal de free jazz, improvisação livre ou até música experimental em certo sentido.
Algumas coisas até que de certo modo progrediram, mas outras que são essenciais, ainda continuam na era da pedra lascada, e põe lascada nisso, visse? Em plena segunda década do século XXI me deparo com discussões inúteis sobre arte e música, que não chegam a lugar nenhum, a não ser no centro do ventre de quem promove este tipo de debate.
Se eu preciso elaborar uma teoria toda complexa para explicar a minha música, algo deu errado. Na verdade o processo é muito simples: Ela agrada ou não, soa bem aos ouvidos ou não e ainda tem que contar com o gosto pessoal. Tem certos tipos de música que realmente não me acrescentam nada, mas isso é estritamente pessoal. Já vi alguns elaborarem um complexo discurso para justificar o tal do "funk carioca".
Uma coisa enfadonha é uma pessoa da classe média ou alta tentar explicar a cultura popular ou do povão. Aí eu realmente preciso ir para o intervalo comercial, mudar de canal ou melhor, desligar, dar um shutdown.
Ah, o Sashimi... o tal do peixe crú, tem gente que fica com vontade de vomitar só de falar e no meu caso, acho um trilhão de vezes o gosto do salmão crú mais saboroso do que cozido, grelhado, frito ou assado. Minha descendência japonesa? Sinceramente, não influi, pois gosto de uma boa feijoada até um tanto mais do que o sashimi.
Mas enfim, cada vez mais as coisas  ficam ainda mais complicadas, mesmo com o paralelo de pessoas que dizem gostar de um monte de coisas, mas nada em específico (mais uma vez parafraseando o Assis, autor da frase e hoje em dia reside no Japão).
E uma coisa que para mim é constrangedora e enfadonha, ouvir alguém tentando justificar seu gosto com alguma teoria, tentando requintar algo tão simples. Ora, eu gosto e pronto.
Cada vez mais, é mais difícil esta situação, tanto na música, na arte em geral, quanto na culinária (mas muitos gostam de usar o termo gastronomia, mas sinceramente, esse termo pra mim me lembra algo sobre nossas vísceras), tudo tem que ter um tratado, uma tese pra justificar, seja música de vanguarda ou um simples hamburger, que agora tem o tal do hamburger gourmet. É apenas carne moída e um pão, o resto é desnecessário, não que eu rejeite informações, mas isso não vai convencer meu paladar, tanto físico, como existencial.
Houve um rei israelita extremamente sábio que disse  o seguinte:

"E, demais disto, filho meu, atenta: não há limite para fazer livros, e o muito estudar é enfado da carne." - Eclesiastes 12:12

E no mais, eu só queria comer um hamburger (pode ser um hamburger vegetariano também) ouvindo uma música do Ramones, sem alguem tentando elaborar uma teoria qualquer...

quinta-feira, abril 01, 2010

O retrato da cultura do paulistano, do brasileiro

Nesta última terça me encontrei com um amigo que está de mudança para Curitiba. Ele me convidou para tomar um café na rede Starbucks. Sempre que aparece este tipo de coisa, fico um tanto quanto arisco, pois aqui nesta cidade, uma coisa corriqueira se torna fonte de status. E lá fomos ao Starbucks localizado no cruzamento da Alameda Campinas e Alameda Santos, um endereço "nobre"(blergh!) de sampa. Primeiro o lado bom, o local é agradável, ar condicionado um tanto quanto frio, mas os produtos são bons. Tomamos um café com baunilha acompanhado de pão de queijo e muffin de blueberry. Tudo com um ótimo sabor, tamanho satisfatório, o café foi servido naqueles copos grandes com tampa, como se vê nos filmes norte americanos e o muffin era de massa úmida e boa quantidade de fruta como recheio e o pão de queijo crocante por fora e macio por dentro. Não é como boa parte de lugares em São Paulo que servem estas iguarias com preço alto e o muffin parece um bolinho da Seven Boys com prazo de validade vencido e o pão de queijo como aqueles instantâneos de supermercado.
Bem, vamos ao assunto do post. Algumas pessoas agem de modo mais saudável, estão desfrutando apenas de um serviço gastronômico de boa qualidade, apenas isso. Mas a maioria se deixa levar pelas suas própias ambições e acreditam que estão se elevando socialmente. Querem ser vistas nestes locais e se sentirem especiais, mais nobres. Mas numa rede fastfood? Isso ocorre na loja de alfajores Havana, Häagen-Dasz, Burguer King. Como se este tipo de atitude pudesse proporcionar um upgrade intelectual e de status. Passamos na loja da Fnac, que tinha como intuito inicial, ser um megastore mais voltado à cultura. Mas o povo vai lá é para folear semanário e paquerar produtos eletrônicos. A variedade de cd's caiu mais de 65% e deu lugar a prateleiras forradas de dvd's da Ivete, Claudia e etc. Livros? Costuma ser o carro chefe da Fnac, mas a maioria dos exemplares são livros são de um tipo de literatura um tanto quanto, o que posso dizer, Paulo Coelho? Dan Brown? Crime e Castigo? Ora, Dostoievski eu encontro numa maquina de livros pocket na estação de metrô.
Aí fomos ao outro extremo. Descemos a rua Augusta, onde a modernidade jovem voltou a habitar, junto das casas de strip tease degradantes. Um fim de feira livre tem uma aparência mais digna. Vistamos amigos, isso já ao lado do edifício Copan e fomos numa churrascaria com sistema de rodízio, que fica na praça da República. A Trilha Gaúcha, é o oposto do Starbucks. Quem está na churrasqueira é o "Ceará", o piso está sempre seboso, as carnes nem sempre estão no ponto, as vezes salgadas demais, as vezes queimadas e endurecidas. Mas as pessoas que frequentam o Trilha não ligam pra isso, o negócio é a quantidade. O sistema de rodízio lhes permitem se empanturrar de carne, pois não podem gastar tanto dinheiro com carne em seus lares. Ou se come uma costela em casa ou deixa de pagar umas das 20 pretações da tv de lcd comprada nas Casas Bahia.
Isso tudo já não é novidade, pois em São Paulo, sempre foi assim. Então se torna um tanto quanto alienígena escrever sobre jazz, afrobeat, volta dos discos de vinil para colecionadores. Ainda bem que isto aqui é só um blog.
 
 
Studio Ghibli Brasil