quinta-feira, outubro 20, 2016

From The Past Comes The Storms (Até que ponto nostalgia é saudável)



"Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára Não pára, não, não pára" - Cazuza

Pois é, quase 30 anos se foram desde que ele escreveu estas frases e a mentalidade humana em certas questões se mantém as mesmas, algumas para o bem, outras, como posso dizer... não tão bem assim.
Resolvi escrever este texto sobre algo que já tenho notado nestes últimos anos, pelo fato de ver o impacto na arte, no comportamento e valores na sociedade. Provavelmente pouquíssimas pessoas terão algum interesse em debater sobre isso, tanto aqui, tanto no grupo do Sonorica do Facebook.
Eu já tinha abordado a questão dos discos de vinil aqui (http://sonorica.blogspot.com.br/search/label/vinil), e também tenho notado o crescente número de grupos, bandas que retornam aos palcos ou até gravações, após seu fim. E não se trata de uma pausa em aberto que esses artistas escolheram, mas realmente o ciclo havia se encerrado, seja pela conclusão de um trabalho, como foi no caso do The Police, que encerrou suas atividades em 1985 pelos seus três integrantes concluírem em comum acordo, que era hora de encerrar e partirem para novos horizontes. Claro que fizeram reuniões até 2008 para relembrar os velhos tempos, mas felizmente até agora, estão voltados ao presente em suas carreiras e vidas particulares Ok, isso faz parte, como diz o slogan: "Recordar é viver". Mas nestes últimos anos, essa nostalgia tem recebido mais destaque do que deveria e praticamente estamos vivendo do passado.
Refilmagens, re-edições, re-gravações, re-lançamentos, vintage, retrô em quase todos os lugares.
Ironicamente, em uma das formas mais antigas de expressão artística, a literatura, não se tem notícias de autores re-escrevendo suas obras, ou fazendo um "remake", apenas as re-edições que normalmente ocorrem, com apenas novas artes de capa ou até mudança de editora, mas a obra em si permanece intacta.
No cinema, que é considerada a sétima arte, tem pouco mais que um século de existência e já se rende largamente aos remakes. A impressão que tenho é que há uma crise criativa entre os roteiristas. Neste século XXI, que era imaginado como a era do futuro e das novíssimas tecnologias, encabeçada pela informática, nunca houveram tantas refilmagens no mercado cinematográfico.
A parte do formato de mídia musical não vou me aprofundar, pois já escrevi sobre isto no link acima no texto, mas também, mesmo não se tratando apenas de vinil e fita k7, também há lançamentos em e CD e DVD de obras do passado, com sobras de gravação que foram rejeitadas pelos criadores e produtores. Bem, creio que houveram motivos plausíveis para rejeitar tais registros. Mas para o fã saudosista o refugo vira ouro. Um exemplo é o CD box do Funhouse do The Stooges. Vários takes e apenas introduções de algumas músicas que falharam. Se alguém é fã, fique em paz, cada um tem seus desejos e gostos, isto é apenas para reflexão sobre consumo. Vale pensar à respeito, sobre pagar um valor mais alto por algo feito no passado e que foi rejeitado pelos seus criadores, a não ser que ache que saiba mais o que é melhor fazer com essas coisas que o próprio Iggy Pop... (desculpe a ironia)
Bandas e grupos que resolvem retomar a carreira depois de longo tempo após a ruptura ou fim da carreira. Geralmente isso acontece com bandas de rock, que é, quer queira ou não, um símbolo de juventude, rebeldia (mesmo que seja pseudo). Às vezes se torna um freak show, com os integrantes mais velhos e não tendo obviamente aquele vigor físico, aparência do passado. Cruelmente o mercado de consumo impõe uma ditadura da beleza sem rugas e cabelos grisalhos. De um lado vendem a nostalgia e do outro, os cremes "anti-idade".
Nesta questão de bandas e grupos que voltam à ativa, gostaria de analisar alguns pontos.
Como disse antes, ok, não é nada nocivo um grupo relembrar seus bons tempos, como um encontro de amigos de longa data, levando em conta que os ex-membros estão realizados com suas carreiras atuais ou mudanças no estilo de vida.
Casos em que seus ex-integrantes buscam uma espécie de "fonte da juventude" ou "máquina do tempo" para se sentirem jovens novamente, tentando reencontrar algo que ficou ou foi esquecido ou perdido no passado.
Há casos em que os ex-integrantes não estão lá muito bem em vários aspectos em suas vidas atuais e encontram no chamado revival, uma chance de garantir algum meio de sobrevivência financeira e até existencial. Nesses casos, nem todos se encontram nesta situação e acabamos presenciando embates registrados nas mídias de batalhas judiciais em relação a direitos autorais, retornos de bandas que chegam a ter apenas um integrante, seja por ser o único a querer revisitar o passado, seja por ser o único sobrevivente ou no caso mais grave, relações irreconciliáveis que apenas se suportam para suprir suas necessidades financeiras ou realmente apenas de auto estima. Quem acompanhou a mídia especializada musical, provavelmente viu, leu ou ouviu sobre bandas que chegaram ao ponto de cancelarem turnês devido ao clima insuportável entre os colegas ou ex-colegas de banda.
Mas também há alguns casos alegres! Bandas que interromperam suas trajetórias por força maior e circunstâncias da vida, onde antigas amizades foram restauradas e um bom sinal disso:
Se reúnem para criar novas obras!
Mas são poucos e poucas que conseguem tal feito. Mas se levar no lado positivo, também há um aprendizado. Se não foi frutífero e satisfatório tentar novamente, não foi possível gerar novos frutos, os envolvidos não ficarão com dúvidas e frustrações por não terem tentado.
Tudo bem, não acho de maneira alguma que deveria se extinguir os revivals, remakes e rerturns of...
mas do jeito que está, seria prudente observar e analisar o que está acontecendo na arte e entretenimento.

 
 
Studio Ghibli Brasil