sexta-feira, setembro 28, 2012

Ah... o conhecimento!

A cada dia que se passa tenho deparado e comprovado os efeitos na geração pós internet. Sim, apesar de eu estar prestes a completar apenas 4 décadas de existência nesta terra (não, não se trata da suposta crise dos 40, rá!) e ainda tendo um longo caminho de aprendizado a cumprir, presenciei o nascimento da era digital, a transição do lp, k7 e vhs para o cd, dvd e mp3, cartas manuscritas e seladas para os e-mails, entre tantas outras mudanças na transição do século XX para o século XXI.
Uma das grandes mudanças que gostaria de abordar aqui neste simplório espaço virtual, é sobre a relevante quantidade de experts, connoisseurs, peritos, especialistas, etc, em várias áreas do conhecimento humano já em sua tenra idade. Meu Deus, se em minha fase de pós adolescência e início da fase adulta, tanto eu quanto meus contemporâneos tivessem uma pequena fração do conhecimento que a nova geração possui, quem sabe algumas coisas teriam iniciado um processo um pouco melhor para a formação de uma sociedade melhor? Claro, isso teria que ter iniciado já a pelo menos 2 gerações anteriores à minha, para florescer algo hoje em dia. Mas isso foi inviável devido a má formação de uma nação desde seu início extremamente recente. Bem, águas passadas, quem vive olhando para trás vai inevitavelmente levar um grande tropeço hoje e nos dias que virão.
Como tenho relatado aqui em diversas ocasiões, até de forma exaustiva, sobre a facilidade ao acesso de informações por conta da world wide web, que tem ajudado em muito o acesso ao conhecimento, também é acompanhado dos efeitos colaterais desta overdose de informação. É mais do que óbvio e necessário o ato de analisar, filtrar, confrontar, questionar as informações que estão a disposição de quem as acessa.
Além do mais, dados, informação até uma máquina pode possuir, inclusive com mais precisão que um ser humano pensante. Mas o que fazer para processar essa avalanche de dados e informação para transformar em conhecimento útil? E digo mais, o conhecimento desprovido da sabedoria, pouco proveito se tem, se torna apenas vaidade. A sabedoria não se adquire com um processador de 4 núcleos, memória RAM de 10GB. Não importa quantos Terabytes se possa armazenar no hd orgânico (cérebro), sem a sabedoria, nada disso tem proveito, é apenas vaidade.

E, demais disto, filho meu, atenta: não há limite para fazer livros, e o muito estudar é enfado da carne. Eclesiastes 12:12

Em minha ignorância começo a compreender o que os mais velhos sempre dizem, com suas cabeças ornamentadas por corôas brancas ou grisalhas sobre sabedoria e experiência. A sabedoria se adquire pela experiência de vida, com o tempo, mas não apenas o tempo cronológico em si, mas com o volume de experiências e percepções sobre elas e seu entendimento.
Sim, eu já fui um jovenzinho mais impetuoso e arrogante em relação aos "corôas" e os tinha como ultrapassados que não "flagravam a parada" entre outros pensamentos típicos da imaturidade. Quão conflitante é a adolescência, o período em que não somos mais crianças e não somos adultos ainda e não somos levados à sério na maioria das vezes. Claro, na adolescência somos inconstantes mesmo, mudamos de idéias num simples toque no touch screen do smartphone, não é mesmo?
E o início da fase adulta então? 18 anos, carteira de habilitação, vestibular, faculdade, etc. Muitos jovens adultos no alto de seus vinte e poucos anos já acham que sabem de quase tudo sobre a vida e ainda mais hoje, com acesso a uma infinita biblioteca em pdf, acervos intermináveis em mp3, mp4, avi, mkv, flac, mpeg, etc.
Numa noite comum nas ruas desta cidade de São Paulo, onde a balada está em toda extensão das ruas e não apenas em locais específicos, tive uma breve conversa sobre música, aliás não foi só uma vez que isso aconteceu, mas várias vezes. Profundos debates sobre conceitos sobre música numa mera calçada da cidade, confronto de idéias, de opiniões, enfim. Em um certo momento perguntei se a pessoa praticava música. Ela disse que não e se não me falha a memória, fazia discotecagem (se bem que alguns eu tenho certeza que assim afirmaram sua relação com a música não apenas como ouvinte). Ah sim, hoje também dizem que os dj's são músicos, mas há dj's e dj's. Outros tinham uma relação mais de pesquisa, alguns se formando teóricos, jornalistas ou críticos.
Geralmente este tipo de conversa pouco proveito se tira, ainda mais se a pessoa está apenas desejando um ouvinte passivo que concorde com suas idéias. Na maioria das vezes eu sou presenteado com uma palestra a qual eu não me inscrevi, mas como tenho consciência da minha defasagem de informações em relação à nova geração de apreciadores de música e músicos, eu me coloco a participar deste tipo de conversa e tento aprender alguma coisa. Claro que nem sempre há lá muito o que se aproveitar, pois por incrível que pareça, mesmo havendo um verdadeiro universo de informações, parece que as pessoas vão às mesmas fontes, sendo que algumas delas são um tanto quanto questionáveis.
Nesta última segunda feira, depois de ter passado à tarde passeando pelo centro da cidade com o saxofonista Tobias Delius e o baixista Joe Williamson, fui tomar um chá com alguns integrantes da ICP no bar ao lado do hotel. Han Bennink me disse que após Sunny Murray ter imigrado para Paris, se tornou um sujeito digamos, um tanto falastrão e que muito do que anda dizendo por aí é questionável. Viu só? Até com os mais experientes acontece este tipo de situação, quanto mais com os mais jovens.
Toda vez que tenho oportunidade de conversar com grandes músicos experientes, quase não conversamos sobre música como os que tenho encontrado eventualmente. Benkyou, benkyou, vivendo e aprendendo, em minha limitada inteligência, tenho procurado falar menos e dar espaço ao ouvir para aprender mais sobre a vida e adquirir sabedoria. Os ouvidos não trabalham muito bem se as cordas vocais estão trabalhando o tempo todo...

sábado, setembro 15, 2012

Wuthering Heights, o rádio e a infância

Pois é, graças a um simples post sobre esta canção composta e interpretada por Kate Bush, que um amigo publicou no facebook, me veio a tona um sentimento de muito tempo atrás, de minha infância.
Wuthering Heights foi baseada no livro de Emily Brontë, escrito entre Outubro de 1845 e Junho de 1846, sobre o trágico romance entre Catherine Earnshaw e Heathcliff, um pequeno orfão adotado pelo patriarca da família Earnshaw.
Na canção de Kate Bush, ela interpreta Catherine ou o fantasma de Cathy, que chama por Heathcliff e pede para deixá-la entrar pela janela de sua casa. O video feito no fim dos anos 70 evidentemente não dispunha dos infindáveis recursos digitais de hoje em dia mas é melhor do que dezenas de videos super produzidos atualmente. Isso pelo fato da música ser consistente, bela e a interpretação de Kate é impecável, não é uma coreografia que tem mais cunho estético, que não diz muita coisa, como são os videos de Beyoncé, Britney Spears e Lady Gaga, onde há uma coreografia extremamente precisa e profissional.
Wuthering Heights foi sucesso na minha infância e por isso era executada nas rádios fm muitas vezes durante a programação.
O sentimento do qual eu disse no início, era de quando eu não tinha alcance aos lp's e k7's, só viria a comprar meu primeiro lp (Hey Jude - The Beatles) em 1983, aos 9 anos de idade. Então eu escutava o rádio e não havia também um programa de videoclips na época, já que a MTV foi ao ar em uma canal de tv à cabo em New York no dia 1º de Agosto de 1981.
O rádio era um mundo mágico onde as músicas despertavam muito a minha imaginação, pois não sabia de quem eram as vozes e o que eram os instrumentos que produziam aqueles sons. Cada música era um momento único e especial, pois não sabia se voltaria a ouvi-las novamente, então estava sempre atento para captar cada momento e guardar em minha memória. Eu escutava o rádio no carro do meu pai e muitas audições se davam quando íamos visitar minhas primas, na zona leste de São Paulo, perto do ABC e também na região da rodovia Raposo Tavares. Ora, para uma criança, esses trajetos eram uma grande viagem, uma aventura em que se contemplava cenários longe do alcance, afinal naquela idade, não podia nem andar até o extremo do meu próprio bairro. E as músicas do rádio eram a trilha sonora dessas minhas viagens.
Até mesmo depois, no meio dos anos 80, quando eu era um pivete headbanger de 13 anos, que já me aventurava em ir de ônibus ao centro de São Paulo, para ir à Woodstock discos e Grandes Galerias, era ouvinte dos programas de heavy metal e punk da época. Também escutava com atenção cada música, pois também não sabia se as ouviria novamente e se teria acesso ao lp. Então meu pai comprou um rádio gravador portátil para mim e meu irmão e deu início a minha vida de pesquisa musical. Gravava as músicas do rádio e compilava seleções em fitas k7 virgem. Gravava discos de amigos e outras fitas também. No centro da cidade se faziam gravações dos discos importados e a maioria dos títulos até hoje não foram lançados no mercado brasileiro.
Fui crescendo e até tive a oportunidade de assistir ao vivo o que só podia ouvir em casa. Outros tive até algo mais inesperado, como conhecer pessoalmente o baterista e compositor Max Roach. E depois muito mais do que poderia imaginar, tocar ao lado de Han Bennink e Sabu Toyozumi.
Até outro dia, não me interessava pela música de Kate Bush, só tinha em minha memória, uma cantora do fim dos anos 70 com uma voz bem aguda.
Mas depois do post do meu amigo no facebook, escutei com atenção a música e assisti novamente o video de Wuthering Heights, que me tornaram a sentir aquelas impressões de minha infância e descobri uma linda música. Não o rádio não é mais o que era e nem voltará a ser. Também o Youtube, Vimeo, Soundcloud, etc, não produzem aqueles sentimentos, hoje, aqueles sentimentos tocam apenas em meu coração. But, the song remains the same

quinta-feira, setembro 06, 2012

Dutch Week In São Paulo (de 22 à 30 de setembro)




Se você tem interesse pela música como forma de arte e não apenas um mero entretenimento, um pano de fundo sonoro para outras atividades, no mês de setembro esta cidade caótica oferece uma maravilhosa oportunidade de apreciar música criativa de qualidade sem esfolar o seu bolso. Sim, você não está nas mãos de estabelecimentos e instituições pseudo-sociais que usam de critérios duvidosos para oferecer à população, a dita arte e cultura.
O Centro Cultural São Paulo, localizado na r. Vergueiro #1000, SP, oferece várias atividades culturais para o público em geral de forma acessível e proporcionou na última semana do mês de semtembro, apresentações gratuitas dos projetos musicais holandeses que representam o que há de mais criativo na música sem fronteiras da atualidade.

ICP - Instant Composers Pool
Mistura de banda de jazz e grupo de câmara, a ICP é uma orquestra formada em 1967 pelo baterista Han Bennink e pelo pianista Misha Mengelberg. No palco, o espaço entre o piano e a bateria é ocupado por um trio de cordas - viola, violoncelo e contrabaixo - e, juntamente com eles, cinco metais. A música é repleta de surpresas, reviravoltas, agilidade e erupções inusitadas.
Sábado 22/09, às 20:00h
Entrada franca - sem necessidade de retirada de ingressos
Praça Mário Chamie (Bibliotecas) - 170 lugares

ps.: O Circuito de Improvisação Livre em São Paulo organizou para terça-feira dia  25/9 na Trackers, Rua Dom José de Barros, 337 - 2º andar, Centro e quarta-feira dia 26/09, um encontro da ICP com a união de músicos paulistanos no Espaço Puxadinho da Praça na Rua Belmiro Braga, 216 – Vila Madalena tel.(11) 2597-0055.                                                                                                    


Shackle
Anne La Berge (flauta e eletrônicos) e Robert van Heumen (laptop)
O duo trabalha com um sistema de comunicação computadorizado que propõe vários elementos de composição para cada instrumentista - tempo, textura, dinâmica e outros parâmetros musicais.
Quinta-feira 27/09, às 21:00h
Entrada franca - sem necessidade de retirada de ingressos
Praça Mário Chamie (Bibliotecas) - 170 lugares

Corkestra
Cor Fuhler (clarinete, orgão/sintetizador, piano, composições), Anne La Berge (flauta e eletrônicos), Ab Baars (clarinete e saxofone tenor), Tobias Delius (saxofone tenor e clarinete), Nora Mulder (cimbalom), Michael Vatcher (percussão, singing saw), Tony Buck (percussão) e Wilbert de Joode (contrabaixo) Punk e música eletrônica se combinam neste grupo que reúne oito expoentes da improvisação. O ponto de partida são os riffs e as linhas melódicas e de baixo escritas por Cornelius Fuhler, sobre as quais os outros integrantes tocam suas próprias criações de maneira orgânica, formando novas peças no momento da apresentação.
Sexta-feira 28/09, às 21:00h
Entrada franca - sem necessidade de retirada de ingressos
Praça Mário Chamie (Bibliotecas) - 170 lugares


The Ex
Desde seu início, em 1979, o The Ex tem desenvolvido um caldeirão de diferentes estilos musicais: noise, rock, jazz, improvisação e música étnica. Guitarras altamente rítmicas, a bateria em um estilo quase africano e a intensa entrega das letras, muitas vezes irônicas, dão à música do grupo seu caráter especial.
Domingo 30/09, às 17:00h
Entrada franca - sem necessidade de retirada de ingressos
Jardim Suspenso (fachada Vergueiro) - 250 lugares
 
 
Studio Ghibli Brasil