sexta-feira, maio 26, 2006

Tim Maia Racional


A gravadora Trama coloca no mercado pela segunda vez em cd o famoso disco Tim Maia Racional vol. 1.
Existiu um lançamento extra-oficial em cd só que com um detalhe, os dois volumes em 2 LP´s em um só cd. A Trama dividiu em 2 e não convém analisar o porquê disso. Criou-se um mito em cima destes discos, muitos deles por conta de gente querendo faturar em cima, poucas cópias editadas, recolhimento pelo rompimento de Tim com a Cultura Racional, etc. Também criou-se o mito de que eram os melhores trabalhos de Tim. Quem conhece realmente a obra de Tim Maia, sabe que não é bem assim, "Azul da cor do mar", "Padre Cícero", "Ela partiu", não são do Racional. Tive a sorte de adquirir os dois volumes do Racional em LP antes de atingirem os absurdos valores que vão de R$100 à R$500!!! Bem, os discos são muito bons, algumas composições já tinham sido compostas e até gravadas, como é o caso de "Que beleza", e as letras foram adaptadas para a Cultura Racional. Fala-se da riqueza dos arranjos e instrumental, a interpretação de Maia. Como disse seu filho, Leo Maia, Tim estava em estado de plenitude espiritual, cantando mais ainda com a alma, como sempre fez. Então sua interpretação é fascinante, emociona, apesar da pregação em todas as canções. É claro que o instrumental tem qualidade, todos os músicos se doaram, fora a notória linha dura a lá James Brown de Tim com a banda. Mas tudo aquilo era apenas pano de fundo para sua mensagem, pois muitos arranjos eram baseados em arranjos de bandas de funk americanas, como War, Mandrill, JB´s, etc. É só conferir as datas anteriores dos gringos e o Racional. Estava mais do que na hora colocar estes discos no mercado.
Trepudiando em cima de quem não está aqui para se defender
Também é muito provável que se Tim estivesse entre nós, não poderíamos adiquirir este cd. Um dos motivos de até agora não ter sido relançado, era o próprio Tim. Já se falou muito sobre isso por aí, suas entrevistas quando lhe perguntaram à respeito, seu desencanto com aquele universo envolto de goma e resina. Agora que ele está em um lugar melhor, pode-se deitar e rolar em nome dele. Artístas que estavam numa sopa morna, regravando porcamente suas canções de pregação, gravadora lucrando com o suor alheio. Só discordo do Tim na questão de não liberar o relançamento pelo simples fato de ser boa música. Mas entendo completamente o porquê disso e respeito. Ele poderia ter refeito a poética das músicas, lançado um grande disco. Mas como Tim era um grande ARTÍSTA, não tinha apego as suas criações a ponto de se expor ao ridículo e contradizer a si próprio.
Agora me aparece a banda que toca o Racional em homenagem à Tim Maia... Até seu filho entrou nessa! Como diz a expressão popular, "Tim deve estar rolando no caixão". Para as pessoas de plástico ou da "sala de jantar", pode ser um momento de alto nível da música brasileira. Mas é aquela coisa, teremos um produto bem acabado, de qualidade, mas... sem alma. Aquilo não pertence a nenhum músico envolvido, nem pro Carlos Dafé que participou da Cultura Racional. Aquilo é bom simplesmente porque é uma pessoa cantando com todo seu sentimento, acreditando em cada palavra cantada. Dos membros alí presentes para esse revival, quem por acaso dormiu na rua, quem pediu ajuda? Talvez continuem a fazer coisas erradas.

quinta-feira, maio 18, 2006

Rap do dia das mães

Domingão do dia das mães típico. Aquele friozinho de outono, mas com um belo céu azul e sol. Encontrei meus amigos do grupo de HipHop, o Julgados Culpados uma semana antes, perto da Pça Benedito Calixto em Pinheiros, zona oeste, SP. O lugar é notório pela feira de antiguidades e o comércio hippie em volta. Hoje é um ponto de encontro do pessoal mais sintonizado com a cultura em geral. Eles me convidaram para o evento das mães no domingo, lá no Jd. Nakamura, zona sul. Peguei o ônibus até o Terminal Sto.Amaro, de onde sai uma lotação em direção a represa de Guarapiranga, onde fica o Jd. Nakamura. Fui a casa de meu amigo de infância, o Serginho, que mora no Riviera, ao lado do Nakamura. Fomos a pé até lá, passando pela comunidade local e procurando amigos para nos acompanharem. Pra quem acha que favela é só no "Cidade de Deus", lá na zona sul de SP, passei pelas vielas agora cimentadas da favela, onde a luz do dia, crianças brincam, donas de casa conversam na porta de casa, trabalhadores se descontraem no boteco, no churrasco ou com o jogo na tv. O mesmo lugar que na calada da noite, ocorreram atos brutais. As periferias são muito parecidas em muitas partes do país, casas com engenharia ousada que beira ao perigo, o tijolinho baiano à mostra, as lajes, as rabiólas de pipa presas nos fios elétricos, etc. Mas tem uma coisa muito característica mesmo: o calor humano. A maioria te cumprimenta, mesmo sem te conhecer, se vc é amigo de alguém de lá, já é bem vindo em lares que nunca esteve, te oferecem o pouco que têm com a maior generosidade. Um fato engraçado, mesmo o bairro tendo um nome japonês, eu em certos momentos fui visto como uma curiosidade, pois sou descendente de japoneses. Mesmo tendo meus pais nascidos aqui e eu também, em certas situações não sou visto como um simples brasileiro. Mas o pessoal mais humilde é mais descolado mesmo, te perguntam pra ver se eu sou daqui mesmo, e quando eu falo que gosto de feijão de corda, fica tudo em casa. No meio do caminho, numa rua estava rolando um forró, mas daqueles mais modernos, só com teclados. Não conseguí chegar ao evento desde o início, pois é quase 2 horas da minha casa. Mas conseguí ver boa parte do show do Julgados Culpados, que tem muito talento, misturando elementos da música brasileira e jamaicana de uma forma natural e interessante. Com muito pouco se fez a alegria da juventude da periferia. Artístas querendo fazer bonito para os presentes, sem a pompa de casas noturnas, etc. Tudo que é bom dura pouco, precisava ir embora. Meu amigo estranhou de não haver ronda na area, pois rola o tráfico geral. E para quem acha que isso só tem haver com bandido, gente armada, tem uma parte que foi pega pelo vício e falta de perspectiva, gente que é pai de família, mãe, que trabalha na obra e gasta com vício. Quando cheguei em casa, ví o q tinha acontecido na TV. E olha que na volta ainda esperei o ônibus dentro do Terminal Sto Amaro. Não fiquei surpreso. Já esperava por coisas assim. A burguesia causou isso literalmente, sei que é um discurso gasto, mas é a pura realidade. Falando em coisas gastas, vai o ditado, quem planta colhe. E enquanto o caos rolava no estado inteiro, a periferia estava em paz.

quinta-feira, maio 04, 2006

Uma tarde com o tio Phil

Não, não é o pai do Carlton(Não podia perder a piada). Beleza, chega de hahahas e vamos ao post.
Eis que na manhã de terça feira, 2 de Maio, o Tiago me liga perguntando se eu estaría afim de fazer um rolê no centro da cidade com o Phil Minton, Thomas Rohrer e o Lauro, com a intenção de fazer um som com crianças de rua, desempregados, moradores de rua, músicos de rua. Vixi doido, nem pensei nada, batí a xepa, catei um trompete, um pífano de plástico e caí pro centrão e encontrei eles no metrô Anhangabaú. Feitas as apresentações, fomos à um kilo na 7 de Abril para eles almoçarem. Phil falava das impressões sobre SP, que não esperava encontrar algo tão similar às cidades européias e como SP é populosa. Primeira parada foi no Vale do Anhangabaú, estavamos indecisos se tentaríamos primeiro com as crianças ou com os adultos. Bem, com os adultos, só conseguimos bater um papo e ouvir alguns cantarem, pois eles não estavam no barato de participarem da fita, queriam chapar de cachaça mesmo. Com as crianças, mesmo sendo muito difícil por estarem entorpecidas por solventes, rolou uma interação, que não durou muito, pois logo elas perderam o interesse. Fomos a pé em rumo a Praça da Sé. No caminho, nas ruas do centro velho, Phil deu algumas moedas à um sanfoneiro cego que estava na rua. Na praça, não encontramos ninguém que estivesse receptivo ou algum músico. O ambiente lá é tenso e triste. Sugerí o Parque da Luz, pois lá é bem mais tranquilo. Foi muito legal, pois encontramos alguns adultos que foram muito receptivos e conseguímos fazer um som com eles. Bem, no saldo geral, foi bem divertido. Foi um passeio muito instrutivo, inclusive aprendí que o interior da igreja do Largo São Bento serve de negociata para celulares roubados. Mas o principal foi que a cidade está triste, carente, muito mais do que parece.
 
 
Studio Ghibli Brasil