Ufa! Um dia de folga na semana do pião pra poder escrever o primeiro artigo de 2015. Acordando 04:40h da manhã pra encarar duas conduções para o local de trabalho é muito comum para o trabalhador de salário base. Bem mas isso não vem ao caso, assim como não vou abordar o livro de D.H. Melhem sobre arte e política, é apenas uma ilustração para o mesmo tema, mas talvez a minha abordagem seja bem diferente. Ainda mais que vou me restringir à música como forma de arte e ainda mais, num foco mais periférico, restrito à capital do estado de São Paulo, onde posso ser mais preciso.
Tive uma experiência pessoal com música e política no fim dos anos 80 e início dos 90 no que se chamou de cenário hardcore/punk. Realmente não tinha intenções de me agregar política de forma "panfletária" na música em que estava envolvido, simplesmente não acreditava nisso, já tinha os péssimos exemplos das bandas punk do início dos anos 80. Mesmo com pouca idade, já não sentia que isso realmente tinha algum efeito e que a minha conduta como pessoa, como cidadão tinha que ser no cotidiano e não em um local restrito, num palco de show de rock. Claro que no meio hardcore a maioria acreditava nesse engajamento político através da música, ok, respeito a escolha de cada um, mas continuo achando uma perda de tempo e comprometimento da qualidade da arte (música). Não? É só procurar por aí, via web, seja youtube, soundcloud, etc, onde os conceitos estão acima da música e só se tem ruídos, barulho, música mal executada, tendo como justificativa o conceito. Sei... Calma, eu não sou uma pessoa que só escuta música sinfônica precisa, ou de instrumentistas virtuosos e exibicionistas, gosto de um bom rock básico como Ramones, Discharge ou até Napalm Death.
Uma manifestação ou passeata tem mais efeito e faz mais barulho do que uma apresentação em um lugar restrito ou registrado em algum formato de mídia.
Agora no caso do cenário musical independente (em termos...) em São Paulo, é sintomático que o discurso é apenas teoria, pois os artistas em sua considerável parte está mais próximo dos candidatos à cargos públicos das eleições, onde palavras bonitas são ditas, assim como promessas, que ficam no vazio. Discorda? Ok, mas nem precisa de um microscópio pra sacar o que é esse tal cenário de música independente paulistano, feudos espalhados nesse campo de batalha que são as casas noturnas, espaços culturais públicos e privados, onde a vaidade corrompe qualquer ideal coletivo, libertário ou anti-sistema. Aliás isso é uma piada, a mentalidade mercantilista está estampada até em bandas punk!
E não só isso, pois muitas vezes não há capital, então resta o glamour, a fogueira das vaidades, onde muitos não reconhecem que querem de alguma forma serem adorados, como se o palco fosse um altar, pior que um templo de alguma religião, onde o artista está acima do simples expectador (e eu achando que a elevação do palco era apenas para melhor projeção sonora e visualização da apresentação).
E prossegue a batalha dos feudos, onde grupos de uma mesma vertente não dialogam entre si, onde datas de apresentações são muitas vezes conflitantes e por incrível que pareça, alguns ainda tem o maquiavelismo de agendarem com antecedência na mesma data de outro grupo, como uma espécie de disputa. Outro fato comum é de "colegas de trabalho", de artistas de um mesmo cenário nunca sequer terem prestigiado seus "colegas", mas vivem mandando convites para estes irem prestigiá-lo :p .
No balanço contábil é a música que perde nessa sujeira toda: proprietários de locais de apresentações que acham que estão fazendo um favor para o músico, sendo em que muitos casos, é a banda ou o músico que leva o público para o proprietário vender sua bebida super-faturada ao público e ainda arranca mais um pouco com a bilheteria. Músicos que se boicotam para poder garantir o seu $ em sesc's da vida numa disputa mesquinha e ninguém tem coragem de mudar isso, todo mundo é politicamente correto. Aliás, falando em política...
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quarta-feira, fevereiro 25, 2015
Arte e política, política e arte, política e politicagem e titica
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terça-feira, maio 21, 2013
Virada Cultural 2013 (ultimamente eu prefiro um virado à paulista...)
Como já era de se esperar, os resultados da Virada Cultural são debatidos entre a população paulistana. Duas opiniões distintas são a dos que acham tudo lindo e maravilhoso e a dos que acham um fiasco. Quem está certo? Na verdade, nenhum dos dois e isso não significada que ambas as correntes de pensamento tenham que aceitar isso, afinal, é apenas a minha opinião pessoal e quanto aos que estão abertos à reflexão, podem analisar o meu ponto de vista. Agora, quem não esta disposto a refletir sobre isso e não deseja abrir mão das duas correntes de pensamento (do maravilhoso e do fiasco), nem perca seu tempo lendo este texto, pois o tempo é precioso. Mas porquê digo que ambos os pensamentos estão errados? Bem, então vamos analisar rapidamente as questões.
A linha de pensamento do lindo e maravilhoso: Numa cidade tão pretensiosa que equivocadamente é comparada com metrópoles como New York, realmente está muito aquém de sua suposta equivalente Big Apple. É notória a falta de estrutura básica operacional desta cidade brasileira, que todos a esta altura sabem que cresceu desordenadamente e continua crescendo de qualquer jeito. Basta uma chuva forte de 10 minutos e São Paulo entra em curto circuito. Mas este país desenvolveu um mecanismo de aumentar sua auto-estima simplesmente jogando para debaixo do tapete todos os seus problemas sendo que grande parte não dá para deixar para uma futura ocasião. A música brasileira não conquistou o mundo e sim a norte-americana e a inglesa, sinto muito, rock é um estilo universal, coisa que o samba e a bossa estão longe de serem. Mas isto é apenas um detalhe para adentrar ao assunto. Não tem nada de lindo e maravilhoso um evento que não é mais do que a obrigação de uma cidade que se diz transpirar cultura e de um país que se diz celeiro de talento musical do mundo. E diga-se de passagem que esta obrigação de atividade de lazer civil é feita de modo bem a desejar e já deu o tempo de resolverem seus problemas latentes de cunho operacional. Eventos que convém à grupos específicos da sociedade paulistana, são feitos com mais esmero, como corridas de carros e afins. Então os setores dominantes que deixam se contaminar pelo jogo de interesses restritos (que infelizmente já foi incluído na argamassa da estrutura da nação) apenas jogam migalhas para os pombos disputarem nas beiras das calçadas. Seria em vão entrar na questão da tal da curadoria, pois só não vê quem não quer, ali também há favorecimento de interesses pessoais e parcialidade. Uma cidade de alto custo de vida te oferece um George Clinton e um James Chance e nego acha maravilhoso. Mas isso sai caro demais. Ah, a tal da violência que está chocando a população, principalmente a classe média... ora, ela sempre esteve presente desde a primeira Virada Cultural de São Paulo, só não viu porque não quis ou estava vacilando. E isso não tem haver com Racionais MC's, skinheads e a polícia. A própria população tem grande parcela de culpa nisso também, é muita demagogia colocar a culpa no Governo do Estado de São Paulo, da Prefeitura de São Paulo, da Guarda Civil Metropolitana, da Polícia Militar e Civil do Estado de São Paulo. São meros bodes expiatórios para uma população omissa de seus deveres civis, que acham que seus deveres são méritos. Já dizia o ditado popular que o povo tem o governo que merece, ainda mais porque o mecanismo é a eleição direta democrática.
A linha de pensamento do fiasco? Ora, se não tem Virada, e aí? Reclamação de que essa cidade, desse tamanho, não tem eventos culturais gratuitos ao público e isso e aquilo... A maioria dos que acham tudo um fiasco, não fazem nada para reverter o quadro negativo. Me lembro de uma cena do filme de Spike Lee, Do The Right Thing em que alguns homens que ficam bebendo num sofá na rua, reclamam de um asiático que está trabalhando, que está "roubando" os empregos deles.

A linha de pensamento do fiasco? Ora, se não tem Virada, e aí? Reclamação de que essa cidade, desse tamanho, não tem eventos culturais gratuitos ao público e isso e aquilo... A maioria dos que acham tudo um fiasco, não fazem nada para reverter o quadro negativo. Me lembro de uma cena do filme de Spike Lee, Do The Right Thing em que alguns homens que ficam bebendo num sofá na rua, reclamam de um asiático que está trabalhando, que está "roubando" os empregos deles.
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Virada Cultural
segunda-feira, maio 14, 2012
A virada cultural embrulhou o estômago...
Mais uma vez volto a afirmar que certos procedimentos nas redes sociais digitais tem seus efeitos colaterais e um dos piores é a má interpretação de uma frase, um texto, uma afirmação, por estar desprovida de todos os detalhes importantes que um diálogo ao vivo possui, como a entonação das palavras, expressão facial, etc e principalmente tempo hábil para desenvolver o assunto. Ainda no início da madrugada de domingo desta última virada cultural promovida no centro de São Paulo, quando já estava em casa, por perceber e já ter previsto que após certo horário as coisas caminhariam para o oposto do bom senso, respeito, cidadania, o melhor e mais sensato a fazer era bater em retirada para preservar a integridade física e mental. O termômetro que usei para identificar o momento certo de cair fora era o número de garrafas PET de cor verde, copos descartáveis e latas de cerveja espalhadas pelo chão. Bem, quem persistiu pela madrugada e estava atento, sabe do que estou falando. Quanto ao assunto do facebook que é a rede social digital a qual me referi no início, foi que escrevi uma breve mensagem ao chegar em casa, dizendo que as apresentações de McCoy Tyner e Lou Donaldson tinham sido "OK", ou seja, que eu tinha apreciado mas não esperava lá grandes coisas por estar relativamente ao par das atividades de Tyner e mesmo ter me surpreendido por Donaldson ainda estar em plena atividade, não esperava que ele apresentasse algo diferente do que andou fazendo por mais de 50 anos ,de carreira. Foi então que um colega respondeu brincando comigo, pela surpresa de eu ter presenciado o vovô McCoy, pois se não me falha a memória, anteriormente já tinha manifestado que o pianista não figurava entre os meus favoritos e que ultimamente não me agradara o que Tyner havia feito nos últimos 20 anos. Foi então que também resolvi brincar e disse que seria melhor se fosse uma apresentação paga. Depois disso se desenrolou um debate por conta da má interpretação da minha frase, que levou ao questionamento de minha posição ideológica, social, política e civil. Eis que foram textos explicando os motivos da afirmação, que abordaram mais profundamente o assunto. Há uma certa conduta abominável de não se valorizar o que é concedido gratuitamente, um problema crônico do ser humano em sua maioria, pois tende-se a valorizar só o que é fruto do suor do seu trabalho e o que pesa na sua carteira. Não vou colocar aqui a interminável lista de exemplos sobre isso pois não haveria espaço.
Durante as apresentações, não houve muito espaço para a audição concentrada por conta das constantes interrupções causadas por ambulantes vendendo bebidas de forma ilegal no meio do público e por várias vezes estes se estacionavam a minha frente e ofereciam sua mercadoria aos berros com uma enorme caixa de isopor obstruindo meu campo de visão do palco. Parte do público que simplesmente não se importava com o que estava acontecendo no palco não parava de falar em alto volume e transitar freneticamente atrapalhando quem estava prestando atenção ao concerto. Esclareci que esta porção do público não fazia parte da injustiçada parcela da sociedade, mas pessoas que tiveram acesso à educação, tanto institucional quanto familiar, tinham um poder aquisitivo que lhes permitia acessar informação com certa facilidade, mas se portavam como crianças mimadas que fazem o que bem entendem. Foi aí que entrou a questão dos shows pagos, pois quando o indivíduo coloca a mão no bolso e paga, ele não vai querer perder seu investimento. Então outros colegas alegaram que isso acontece nas apresentações pagas também. Claro, mas há de concordar que o número de interrupções desta natureza diminuem drasticamente, principalmente em shows de jazz e por experiência própria, depois de dezenas de shows de jazz que estive presente, pude constatar isso.
Em um post anterior eu fiz minha defesa apologética sobre os ataques generalizados às instituições religiosas evangélicas e mais uma vez fui mau interpretado, como se eu estivesse irado ao redigir o texto. Ora, qualquer pessoa que ler o texto com bom senso e atentamente, pode constatar que não há em nenhum momento, alguma palavra colérica. Se alguma pessoa tiver a oportunidade de conversar sobre este assunto pessoalmente comigo, não terá dúvidas de que trato disso tranquilamente. Mas enfim, na maioria das vezes é a própria pessoa que está incomodada com o assunto e cria a sua versão a ponto de afirmar categoricamente o sentimento de quem redigiu o texto. Alguns textos deixam de forma óbvia e clara o sentimento do autor e até dispõem de mecanismos gramáticos como acentuações para evidenciar tal estado e não se faz necessário nenhuma habilidade paranormal para identificar isso. Mas enfim...
Durante as apresentações, não houve muito espaço para a audição concentrada por conta das constantes interrupções causadas por ambulantes vendendo bebidas de forma ilegal no meio do público e por várias vezes estes se estacionavam a minha frente e ofereciam sua mercadoria aos berros com uma enorme caixa de isopor obstruindo meu campo de visão do palco. Parte do público que simplesmente não se importava com o que estava acontecendo no palco não parava de falar em alto volume e transitar freneticamente atrapalhando quem estava prestando atenção ao concerto. Esclareci que esta porção do público não fazia parte da injustiçada parcela da sociedade, mas pessoas que tiveram acesso à educação, tanto institucional quanto familiar, tinham um poder aquisitivo que lhes permitia acessar informação com certa facilidade, mas se portavam como crianças mimadas que fazem o que bem entendem. Foi aí que entrou a questão dos shows pagos, pois quando o indivíduo coloca a mão no bolso e paga, ele não vai querer perder seu investimento. Então outros colegas alegaram que isso acontece nas apresentações pagas também. Claro, mas há de concordar que o número de interrupções desta natureza diminuem drasticamente, principalmente em shows de jazz e por experiência própria, depois de dezenas de shows de jazz que estive presente, pude constatar isso.
Em um post anterior eu fiz minha defesa apologética sobre os ataques generalizados às instituições religiosas evangélicas e mais uma vez fui mau interpretado, como se eu estivesse irado ao redigir o texto. Ora, qualquer pessoa que ler o texto com bom senso e atentamente, pode constatar que não há em nenhum momento, alguma palavra colérica. Se alguma pessoa tiver a oportunidade de conversar sobre este assunto pessoalmente comigo, não terá dúvidas de que trato disso tranquilamente. Mas enfim, na maioria das vezes é a própria pessoa que está incomodada com o assunto e cria a sua versão a ponto de afirmar categoricamente o sentimento de quem redigiu o texto. Alguns textos deixam de forma óbvia e clara o sentimento do autor e até dispõem de mecanismos gramáticos como acentuações para evidenciar tal estado e não se faz necessário nenhuma habilidade paranormal para identificar isso. Mas enfim...
segunda-feira, março 05, 2012
Improvisação livre em São Paulo: Cuidado com o disco voador ou tem boi na linha

Mesmo que as oficinas não tenham conseguido atingir seu objetivo no planejamento de seus ministradores, algo de substancial aconteceu nestes pouquíssimos anos que a improvisação livre conseguiu romper a barreira de isolamento que vários setores sócio-culturais impuseram. Como este blog já tinha abordado antes, há um grande mérito ao projeto iniciado por Antonio "Panda" Gianfratti e Yedo Gibson, o Abaetetuba, que agregou Rodrigo Montoya, Renato Ferreira, Luis Gubeissi, Thomas Rohrer, como coluna de fundamento, foco de resitência da música criativa. Obviamente existiam outras iniciativas que começaram a florescer posteriormente, mas algumas ainda continuam de certa forma, isoladas. Alguns dos participantes das oficinas deram continuidade da iniciativa gerada nas circunstâncias e alguns deles tenho cultivado um vínculo e eles por sua vez, tem impulsionado o setor operacional independente dos improvisadores em formação em São Paulo.
Creio que meus colegas já tenham percebido que não podem depender de nenhuma instituição, seja SESC's, ou mesmo o próprio Centro Cultural São Paulo, que abrigou as oficinas e promoveu a maioria das apresentações de improvisadores de outros países, para tornarem o que se chama de circuito de improvisação livre em SP efetivo. Mesmo as instituições culturais de iniciativa pública, sejam municipal ou governamental, ligada ao setor terciário da indústria, tem seus vários poréns em relação às manifestações artísticas. Não se engane, estas instituições e fundações não são os "bons mocinhos" desta terrível e cruel fábula que é viver em uma megalópole fora de controle. Há interesses políticos e econômicos que estrategicamente não são manifestados para tudo se manter no controle e simplesmente ser apenas mais um tubo de dreno do suor e sangue da população. Hum, isto está parecendo um seriado de investigação misturado com suspense, ficção... Acorde! É simplesmente a realidade. Portanto meu querido(a), lute para manter livre a sua mente e espírito, pois são as únicas coisas que você pode realmente ser livre. Não se iluda, você está dentro do sistema. Não, não é uma passeata, uma agremiação, camiseta do Che ou Dalai, livro do Marx, do Huxley, uma estrela, uma foice, o Fela, nem chamar o Sun Ra lá de Saturno (ainda mais que lá não acontece muita coisa mesmo), que vai te fazer livre. Calling planet earth, calling planet earth... You can call me mr. Mystery...

O que me intriga é o interesse de pessoas que até pouco tempo não se importavam com a improvisação livre, mesmo elas tendo acesso a diversos meios de informação sobre este segmento musical. Elas ignoravam as iniciativas do Abaetetuba, que se apresentava periodicamente pela cidade e não eram apresentações secretas e mal divulgadas, simplesmente essas pessoas não estavam interessadas. O Phil Minton foi um dos primeiros improvisadores a se apresentar em São Paulo e mesmo assim, mesmo com o costumeiro frenesi paulistano por artístas estrangeiros, mais uma vez, essas pessoas não se interessaram.
O cenário independente ou underground cresceu de forma peculiar em São Paulo. A diversidade teve um saldo mais deficitário do que deveria. A busca de identidade própria causou uma distorção digamos, grotesca (como meu amigo Panda costuma dizer).
A improvisação livre musical ou free improvisation como é conhecida no mundo, tem sua própria identidade, mesmo que hajam diversas formas estéticas. Como é natural do ser humano tender a complicar as coisas, existem segmentos na música. Então temos que tolerar certas burocracias para não sermos impedidos de operar, afinal qualquer pessoa com o mínimo de bom senso não vai tirar um "racha" com sua bicicleta perante um caminhão de cinco eixos. E nesse louco processo, a improvisação livre por não poder ainda ter a sua caixa postal indiviual, teve que dividir o espaço com a música experimental, o que chamam de jazz e free jazz. Mas essa divisão de espaço não é no sentido positivo de comunhão, mas de ser colocada no mesmo "saco", por negligência mesmo.
Neste habitat, onde não há fronteiras, (afinal, não é livre esta tal de improvisação livre?) acaba sempre entrando interferência. Opa, tem boi na linha... Pois é, como tinha dito anteriormente, agora as tais pessoas desinteressadas pela improvisação livre tem voltado seus olhos para esta pequena e frágil muda que começou a florescer. Realmente é um mistério o interesse destas pessoas nisso. Na Free Improvisation de forma global, há pouco dinheiro, não há fama, quase nenhum reconhecimento pelo público e midia cultural, há público reduzido, muito trabalho e muitas dificuldades. Afinal, o que eles querem? Por que eles querem se apropriar de algo que sempre ignoravam e nunca prejudicou seus "nichos", "territórios"?
A nave pousou e desembarcaram alienígenas em forma de músicos, organizadores, simpatizantes que apenas querem usar a improvisação livre como moeda de troca no jetset cultural, mesmo sendo underground. Aí está o mistério, não há glamour, mas a vaidade floresce mesmo no monturo. Estes já iniciaram suas atividades e tem usado de seus recursos para favorecer seus próprios interesses. Não há como negar, assim como o que nega ter comido o doce tendo os lábios lambusados. Estive conversando com meus amigos que fazem parte do esforço de trabalho pela música criatviva e eles também detectaram estas coisas. Não há muito o que fazer além de continuar a seguir com o trabalho, dedicação e sinceridade. Os gafanhotos vem devorar a lavoura, o que resistir manifestará a sinceridade sem necessidade de uma palavra sequer, apenas sons, apenas música.
Improvisadores, principalmente vocês meus caros, que estão iniciando esta jornada, cuidado com o disco voador. Sim, há joio no meio do trigo mas não se pode arrancar, pois ele ainda se assemelha muito com o trigo. Só no final da colheita, quando vier a chuva serôdia, é que há de se manifestar quem realmente são. E alguns já tem dado seus sinais. (parece uma profecia supersticiosa, mas é simplesmente uma forma poética de dizer algo muito real, racional e previsível)
sábado, fevereiro 11, 2012
Sorry John Zorn, i can't see you soon...

Passaram os anos e hoje compreendo a obra musical de John Zorn e ela é relativamente acessível no mundo virtual. Sim, seria um prazer presenciar Zorn em uma apresentação ao vivo. Mas como em boa parte dos casos, existe um considerável porém.
Primeiro lugar, o preço: R$100,00. Muita gente vai me argumentar que no caso é o Zorn, que é uma oportunidade a qual seja possível não ter novamente e blá, blá, blá... Não vem ao caso questionar a qualidade de sua arte, pois é ridiculamente óbvia. O porém reside na confecção desta "grande oportunidade", ou melhor, de oportunismo. O lance nem é de grana, pois Zorn não esbanja simpatia no mercado fonográfico no mundo inteiro. Sim, mesmo no Japão, onde é comum e sólido o circuito de música não convencional, meu amigo sempre consegue comprar discos de Zorn e seu selo Tzadik numa espécie de baciada, a preço de banana. As condições da vinda de Zorn me soam muito mal mesmo, envolve um exclusivismo abominável na noite dita underground paulistana. Alguém vai me dizer que se lasque o local, as pessoas que estão agenciando e o que importa é que Zorn está vindo! Pois é, acho que deixei-me influenciar demais por certas ideologias quando estava mais ativo nos segmentos underground, como heavy metal e hardcore, que impossibilitam-me de abstrair-me de certos poréns e usufruir de certos prazeres. Ainda mais vivendo em um mundo cercado de capitalismo por todos os lados, muitas ideologias, como a do punk, acabam se tornando um tiro no pé.
Mas fazer o que? Na minha escolha pessoal, eu não vou abrir uma exceção. Numa ilustração mais dramática, eu não vou meter os canos pra pipar uma pedra. É isso mesmo, soa radical demais, não? Eu abro mão. Os straight-edgers preferem não beber, assim como a maioria dos evangélicos, que além disso, abrem mão do desejo por um breve momento e só desfrutam dos prazeres do sexo com uma única pessoa que escolheram para amar até o fim. A vida nos oferece sempre escolhas e muitas vezes elas são cruciais e não há meio termo.
Posso viver sem isso e continuar a ser feliz? Sim! Sem dúvida nenhuma! E outra, creio que possa surgir uma outra oportunidade de ver um show do John Zorn sem ter que compactuar com algo que vai contra minha ideologia, da mesma forma que acabei tocando com Han Bennink e Sabu Toyozumi sem vislumbrar uma possibilidade de isto acontecer e ainda sem ter que deixar de lado minhas convicções sócio-políticas e morais.
Olha só, uma coisa eu concordo com que uma pessoa disse sobre punk e hardcore (mas isso independe de estilo ), que se alguém um dia curtiu punk e hardcore e hoje em dia não curte mais, é porque nunca foi.
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sexta-feira, fevereiro 03, 2012
documentários "bruxa de blair" na música


Mais uma vez o avanço tecnológico e mercadológico contribuíram na viabilidade de fazer arte cinematográfica sem a limitação e necessidade de orçamentos milionários. Ora, essa democratização finalmente chegou à chamada sétima arte, claro que um pouco mais custosa do que foi para a música, que puxou um belo rodo na tenebrosa indústria fonográfica mundial. Como sempre ao longo da história humana, a liberdade gera benefícios e malefícios em proporções oscilantes.
Ultimamente os segmentos chamados independentes ou underground, tem a chance de registrar em documento visual, as suas recentes trajetórias, com a possibilidade de realizá-lo com muitos de seus personagens ainda em atividade e não tendo que recorrer tanto às montagens de cartazes, fotos, registros em áudio e clima póstumo. Muitos documentários de músicos do chamado jazz são precários, pois na época só gigantescas empresas possuíam equipamentos de filmagem.
Boa parte destes documentários sobre artístas e "cenário" musical, feitos atualmente, principalmente aqui no Brasil, são um tanto fantasiosos, a la bruxa de blair, fake. Como ainda não se formou uma base sólida na confecção de documentários (não importa o formato de midia), ou uma escola, as distorções de realidade ainda predominam. E essa distorção não vem de hoje, pois isso vem desde o primeiro documentário da Terra Brasilis, feito por Pero Vas de Caminha. Só os grandes estúdios cinematográficos comerciais possuíam equipamento audio visual adequado, além de não haver o menor interesse em se fazer um documentário sobre Albert Ayler por exemplo. Mas que raios isso tudo tem haver com a bruxa de blair? A bucha é
o seguinte:
Os documentários estão a mercê da memória do produtor e dos envolvidos, que na maioria dos casos, romantiza e idealiza como os fatos realmente aconteceram, deixando de lado a análise empirica e se entregando às emoções, idealizações, distorcendo a realidade. Isso acontece porque na maioria dos casos, seja sobre a trajetória e uma banda ou nascimento de uma "cena" ou movimento musical, ninguém tinha a visão de começar a colher dados e registrá-los desde o início, como fazem os pais, que guardam a pulseirinha de identificação da maternidade, o primeiro dente de leite que vai, etc. Então o que se registra, é uma imagem onírica do que realmente foi, como se tudo fosse muito bonito, emocionante e tal. Claro que existem depoimentos controversos em alguns casos, mas mesmos estes ganham uma roupagem que travestem em mal ou tristeza poética(???!!!). Claro que muitos que participam destes documentários realmente acreditam que foi da maneira como lembram e as emoções acabam contaminando a legitimidade como documentário, pois a maioria dos que estão envolvidos no projeto, tem uma forte ligação emocional (não que não deva existir), que sobrepõe e distorce os fatos, comprometendo o objetivo jornalístico, se realmente há esta intenção.
O resultado é a geração posterior comprando a idéia de que tivemos momentos maravilhosos nos movimentos musicais de uma forma perfeita, como uma propaganda de margarina, mesmo com os seus conflitos e a geração que vivenciou fica dividida em pessoas tristes por ver o delírio de outros que tem ou não consciência da realidade e sustentam isso.
Mas quem se importa, não é? Muita gente ainda crê que a proclamação da independência do Brasil foi igualzinho a pintura de Pedro Américo e a imigração foi como a novela Terra Nostra...
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domingo, janeiro 22, 2012
Feirinha da Teodoro: agonia e tristeza, a sociedade morre mais um pouco
A Feirinha da Teodoro, que ocorria no quarteirão da rua Teodoro Sampaio entre as ruas Lisboa e João Moura, deixou de existir por conta da nova diretriz da prefeitura da cidade. Tecnicamente a Feirinha da Teodoro e a feira da Benedito Calixto, tem muitas diferenças, mas num ângulo mais abrangente seriam praticamente a mesma coisa. Mas como a feira organizada na Teodoro era desvinculada aos mecanismos burocráticos, corporativos e políticos, teve sua existência revogada. Não que os artesãos da feirinha da Teodoro quisessem fazer as coisas de forma a ferir as leis constitucionais, muito pelo contrário, queriam legitimar e legalizar formalmente a sua situação e poder expor e comercializar seu artesanato dentro dos estatutos.
Mas prevaleceu a vontade de outros grupos. Não vou estender sobre esta questão em particular por já ter abordado isso por aqui anteriormente. Também não vou citar a diretriz extremamente equivocada tomada pelas autoridades em relação ao artesanato independente.
Tenho consciência plena de que haverá discordância do que estou emitindo aqui. Claro, qualquer pessoa tem o direito de discordar e fazer algum comentário, mas será perda de tempo argumentar para mudar minha opinião, pois ela se baseia meramente em fatos e resultados, não em suposições e teorias e ideologias.

Recentemente, um grupo dos movimentos dos sem terra invadiu uma propriedade que estava em desuso pelo proprietário por um longo período, sendo dada por abandonada. Existe até um mecanismo de lei que legitima esta ocupação, o termo usucapião. Mas depois da invasão o proprietário tomou conhecimento e resolveu acionar a reintegração de posse, mesmo que fosse para continuar com sua propriedade sem uso algum. Os ocupantes na intenção de fixar moradia e transformar o local como fonte de sustento, com foco na agricultura, se mobilizaram e formaram um pequeno exército para um confronto com as autoridades. A Justiça decidiu por anular a reintegração de posse e buscar um meio sensato de resolver o conflito. Os ocupantes responderam com resistência e convicção e conseguiram um resultado mais favorável até então.
O caso da Feirinha da Teodoro que é menos complexo que este que citei não teve o mesmo resultado. Se você observar a foto abaixo ou se esteve no local em questão nestes últimos meses, pode constatar que permaneceu apenas um número irrisório de artesãos engajados na luta pelos seus objetivos. Não chegou nem de perto a 10% dos que expunham seu artesanato que participou do foco de resistência. É frustrante ver que um bando de adolescentes tem mais perseverança em conseguir o melhor lugar no show da Britney Spears do que muitos que simplesmente entregaram os pontos quando se baixou o decreto autoritário da prefeitura. Não era nada garantido que se todos os artesãos continuassem a sua vigília de protesto até agora, teriam conseguido atingir seu objetivo. Mas é mais do que óbvio que se todos tivessem se unido totalmente, algo teria acontecido de forma mais positiva para os participantes da feirinha. A união faz a força para se fazer ouvir.
Teriam sem dúvida deixado um belo zumbido de indignação nos ouvidos da autoridade arbitrária. Mesmo que se não conseguissem o direito de continuar com a feirinha, a luta não teria de maneira alguma sido em vão. Mas as vozes foram abafadas no meio do trânsito e da multidão, multidão de pessoas, carros, interesses sócio-político econômicos. Se a Feirinha da Teodoro deu seu último suspiro, ninguém ouviu, ninguém se deu conta, ninguém se comoveu e mais um pedaço de vida desta cidade morreu. Não há funeral, não há flores e muito menos a bandeira a meio mastro. Quem descansou em paz?
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quinta-feira, janeiro 12, 2012
Sabu Toyozumi e a música

Enfim, todos estes ítens que são interpretados de forma distorcida são necessários para produzir uma arte de alta qualidade e criatividade, tanto fisicamente como espiritualmente, mas os métodos jamais devem ocupar o espaço que não lhe pertence, os meios não devem sobrepujar os fins, os métodos não devem sobrepor os resultados, são apenas veículos, ferramentas. Isso é comprovado no horrível formato que a maioria dos músicos brasileiros acabam adotando, seguindo rascunhos pra lá de equivocados e no máximo se tornam uma imagem refletida de uma instituição como a Berklee College Of Music, mas só que é um reflexo de um espelho de parque de diversões. Institutos de tecnologia guitarrada e caixinha de fósforo ou sei lá o que, vão produzindo em série sub-produtos em um molde como os produtos da 25 de Março, homogêneos, com gosto (ou sem) do achocolatado em pó genérico que vem na cesta básica mais em conta.
Mas tudo isso é assunto para uma outra pauta, pois o que é interessante e proveitoso para quem apenas quer desfrutar da música vinda da nascente, cristalina, isto é, vinda de nossos sentimentos, emoções, pensamentos, auxiliada e arquitetada pelo nosso lado racional, deve atentar para o que Sabu Toyozumi pôde transmitir em sua breve passagem por estas terras. Ele afirmou várias vezes o quanto é danoso o músico entrar em desequilíbrio no aperfeiçoamento musical, deixando a técnica ocupar espaço demasiado no indivíduo. A técnica só precisa ser eficiente para representar com o máximo de fidelidade possível o sentimento do artista. Sabu afirmou várias vezes que devemos criar música, tocar como uma criança, com aquele frescor, sem se preocupar com a opinião de outras pessoas, ser livre de conceitos pré-determinados, humilde, de coração aberto.*
Depois que o sr. Toyozumi expressou de forma mais abrangente possível no curto espaço de tempo disponível o que é e como se deve compreender sobre música, no caso específico a improvisação livre, foi diretamente ao assunto: tocar. O estudo é apenas o veículo, não haverá proveito se o músico não interagir com outros músicos, ouvintes e o meio ambiente. Absorver informações e sensações e transformar tudo num belo gesto sonoro. Ora, isso é tudo tão óbvio, quantos textos e ensinamentos já não foram proferidos ao longo da história da arte sobre isso? Mas a vaidade humana insiste em complicar tudo...
* "Portanto, aquele que se tornar humilde como uma criança, esse é o maior no reino dos céus." - Mateus 18:4
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segunda-feira, novembro 28, 2011
S.O.S. ARTESANATO DE SP (Feirinha da Teodoro Sampaio)

Isso faz parte do padrão arquitetado para as pessoas se confinarem em verdadeiros currais humanos, sejam shopping centers ou na própria residência, comendo a ração disponível para alimentarem a manjada máquina do sistema capitalista e proporcionar a vida suntuosa de um milésimo da população(no caso) paulistana.
A ausência de raízes e tradição do brasileiro em incluir a cultura, a arte em seu dia a dia, afeta diretamente o artesão, pois para o brasileiro contemporâneo de todas as classes, não há interesse real em consumir arte e produtos artesanais.

Para não me estender às raízes do problema, que iria em direção de patamares filosóficos e espirituais, temos um problema irreversível no âmbito político, social e econômico.
Já abordei a condição sinistra que envolve o cartel da associação dos "amigos" da Benedito. Aquilo é um caso perdido, ou melhor, um caso de polícia. Especificamente ao grupo de artesãos da Feirinha da Teodoro, além do que um dos articuladores fundamentais e artesão Vanderlei Prado tem exposto no seu blog Wanderart, existe uma pequena questão que eu gostaria de abordar aqui. Infelizmente no meio deste distinto grupo de artesãos dignos de seu ofício, se infiltraram alguns que deturpam a concepção do artesanato. Como? Vendem produtos industrializados e até os "piratas"(termo em voga no comércio). Com a justificativa de precisarem levar o pão à mesa, os filhos, o aluguel, a sobrevivência, praticam a contravenção. Também não vou dar espaço maior à esta questão, pois aqui não é a hora e nem lugar para isso, mas concluindo, os fins não justificam os meios. Outros mancham a imagem do artesão à um hippie sujo drogado com pouco interesse em ser útil e "levar a vida na flauta". Imagine um sábado com a família e você passa pela rua para apreciar o artesanato e comprá-lo e depara com expositores consumindo alcool sem bom senso (isto é, já se embriagando) na frente de crianças e alguns consumindo substâncias entorpecentes. Qual é a imagem que vai ficar? Não, nem pense em afirmar que sou um moralista equivocado, pois nem em Amsterdam onde é possível usufruir de certas liberdades, pois a maioria da população holandesa tem educação e bom senso para isso, se vê certas atitudes que ocorrem por aqui, onde é crime ou contravenção. A liberdade usada sem sabedoria se torna a corda da forca do indivíduo.
Este pequeno apêndice é mais uma arma que os interessados em exterminar a saudável pluraridade cultural da região usam à seu favor. Se faz necessário separar o joio do trigo, para que não haja brechas para o inimigo se infiltrar. É uma luta digna, mas permeada de injustiça e os artesãos são como o pequeno pássaro que leva água em seu bico para apagar o incêndio na floresta. Sei também que é extremamente tentador perder o controle e partir para o confronto, mas isso tem um alto custo que vale à pena parar, respirar e refletir, pois as contas e a despensa não são lá muito de esperar.
Como cidadão e morador do bairro, eu apoio os artesãos da Feirinha da Teodoro e peço perdão por não poder contribuir efetivamente nesta contenda. Como cristão convicto, peço que mantenham a perseverança pelo caminho justo, mesmo que tudo pareça sem uma solução justa. As vezes, o que parece perdido, na verdade é um passo para uma conquista muito melhor do que a almejada. Continuem a luta sempre seguindo o que é justo perante Deus e a sociedade e creio que poderão se alegrar com as novas conquistas e principalmente lembrar de que fizeram algo digno sem ter do que se envergonhar.

segunda-feira, novembro 21, 2011
Let me free! Let me free!! ...and do not bother me.

Ainda perduram questões em relação à música, que também é um campo vasto de perder a vista. Mesmo se restringirmos a um estilo ou linguagem específicos, ainda continuará fora de nosso alcance e controle. Sempre escapará entre as garras de nossa racionalidade limitada e correrá livre, indomável, se locomovendo segundo a sua própria vontade.
Ultimamente tenho captado diversas discussões sobre o que chamam por aí de Improvisação Livre e colocam no mesmo balaio o Free Jazz e a tal da Música Experimental. Na realidade em minha opinião particular, que só tem relevância para minha pessoa, acho tudo isso uma perda de tempo. (Não que seja nocivo jogar conversa fora, aliás isso é divertido como lazer, faz bem até. Afinal quem aguenta um colega que inicia um papinho de firma em pleno churrasco depois de 4 meses sem feriado? Misericórdia! Aquele dia de folga que passa voando, que se tem a oportunidade de desplugar a tomada da rotina de trabalho e se descontrair com seus amigos, vem um colega te lembrando das metas e planilhas do dia seguinte?! Por isso eu trinco geral com Jesus: "Não vos inquieteis, pois, pelo dia amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal." - Mateus cap.6, v.34)
Que se dane a Improvisação Livre e o Free Jazz, a música de Vanguarda, o experimental, o Xenakis, o Coltrane, os Beatles!!! Caramba, um bando de marmanjos e muitos já com seus fiapos grisalhos, com picuinhas vergonhosas que constrangem até um gurí da creche.
Um dia, alguém com muita imundice no coração proferiu a seguinte afirmação: "Conselho bom não se dá, se vende" ou "Se o conselho fosse bom, não se dava de graça" Meus Deus! Olha só que coisa abominável! Mais uma síntese de mesquinharia, egoísmo humano. Eu tô fora dessa, se eu tiver um bom conselho, eu dou de graça, com toda satisfação e convicção. E o conselho que eu dou para os nóias e fiscais da teoria da arte, da música, etc, é que parem um pouco com tudo, vão à barraquinha e comprem uma água de côco verde bem fresca e gelada, sentem à sombra e contemplem o céu, as árvores, os pássaros, as crianças brincando no parque e agradeçam por este momento maravilhoso.
Bem, eu vou continuar a fazer música, tocar Improvisação Livre (hahahahaha), independente de minha amada, minha família, meus amigos e colegas gostarem ou não. O farei com alegria e amor, pois isso é para a glória de Deus, que me presenteou com essa pequena capacidade de criar arte, fazer música, mesmo que meu amigão que gosta de Metallica ache a minha música uma chatice ou coisa de gente doida, pois ele é meu amigo, gosta de mim pelo que sou como pessoa e não pelo supérfluo motivo de gosto musical.
A Improvisação Livre, o Free Jazz, a música contemporânea de vanguarda, a música experimental, eletro-acústica não mudaram o mundo, apenas tornaram o mundo particular de cada indivíduo envolvido, em um mundo melhor. A verdadeira revolução não depende de um partido político, um movimento social coletivo, armas, foices, estrelas e bandeira vermelha e muito menos uma letra "A" com um círculo em volta, ela se dá dentro de cada pessoa, mudança de comportamento e pensamento pessoal.
Viva a música livre e criativa! (teorias do lado de fora, por favor...hahahahahaha!)
"Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?" - Mateus cap.6, v.25
"Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece." - Tiago cap.4, v.14
"Ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova" - Mateus cap.15, v.14
terça-feira, maio 31, 2011
Archie Shepp, jornalecos e revistas lidas enquanto se usa o vaso sanitário...

Fora que já é notório que os ingressos no SESC sempre esgotam rápido, não só pelo fato de uma atração internacional por um preço "atraente" ter grande interesse do público, mas porque uma considerável fração de ingressos já é reservada de antemão para convidados, digamos, "diferenciados" (um salve pra rapa de Higienópolis, in full effect, yo!)
Agora sobre Shepp, eu não fui por realmente não ter muito interesse em sua faze atual, onde ele se dedica mais ao chamado blues, a sua pequena limitação física por problemas de embocadura ao saxofone (e isso não sugere que é decadente), pois ele tem uma bela voz, também o grupo que o acompanhou não é dos meus prediletos em termos de gosto pessoal. Uma coisa que me incomoda quando os jornalistas brasileiros abordam Shepp e Pharoah Sanders também, é a mesma conversinha de associação com John Coltrane. Deixem o defunto em paz! Tanto Shepp e Sanders já caminham por conta própria à décadas e esse tipo de associação é muito débil. Caramba, depois do advento da web, o que não falta é informação para o pessoal escrever um artigo com um mínimo de qualidade. "Ah, mas isso se faz necessário para introduzir o leigo e blá, blá, blá..." Não, não! Essa não cola, pois há inúmeras maneiras de redigir um texto para leigos sem usar deste degradado, gasto e pobre recurso, para informar de forma simples e eficaz. Esses jornalistas e pseudo pesquisadores de música podem dar as mãos com o MEC e caminharem juntos em direção às trevas da ignorância lendo os livro...
Enquanto isso, só resta à Archie Shepp cantar o blues, não mais o lamento nos campos de algodão e na segregação racial, mas blues sobre a esculhambação da arte.
*P.S.: Uma empresa paulistana que fornece material para forrar gaiola de passarinho, embrulhar bananas, que também publica uma revista periódica com a intenção de ser "fina" Será fina(?), publicou mais dois artigos medonhos sobre Miles Davis. Coitado do Miles, que não pode protagonizar o lendário boxeador Jack Johnson e dar um upper cut neles e levá-los à lona ou miles away...
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sexta-feira, fevereiro 18, 2011
Música em São Paulo, vai pensando que tá bom...

Mas o cenário independente é que perdeu muito do que era dos anos 80 até hoje. Sim, as bandas podem contar com instrumentos de qualidade e até um equipamento de som satisfatório para as apresentações, assim como os locais, pois eu me lembro que assistí muitos shows de heavy metal que eram efetuados de forma amadorística em colégios da rede municipal e estadual, e depois os de hardcore, invadindo as pistas de dança dos night clubs undergrounds que tinham um público alvo diferente.
Até podemos contar com apresentações esporádicas de improvisação livre, situação que era impossível até então. Mas infelizmente, não relatamos um crescimento significativo e apenas a variação dos mesmos músicos nos mesmos espaços. Ainda não se formou um cenário coeso de improvisadores e nem de jazz aqui em São Paulo, que muitos insistem de forma constrangedora de sermos comparados às grandes metrópoles no mundo. Só em contingente populacional, pois em termos de infra estrutura e cultura, continuamos capengando de forma vergonhosa, mesmo com uma linha de metrô que opera sem condutor(eita que maravilha esta tecnologia, hein?).
Mesmo que por vez ou outra faraós e orquestras intergalácticas nos visitem, ainda nos encontramos numa em situação em que se reinicia(restart) o sistema...
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sábado, fevereiro 12, 2011
Cultura brasileira ou seria curtura brazuca? (Nunca fomos tão provincianos no pior sentido da frase...)

Bem, mais uma vez o uso indevido das palavras é usado e aqui nesta terrinha, a tal da descontração brazuca trata de transfigurar as coisas e numa liberalidade tal, que promove a inutilização do dicionário da língua portuguesa e o que dirá sobre a estrangeira. O jeitinho brasileiro faz tudo à seu modo, não importando o que seja realmente correto. Como diria Homer Simpson, "Dane-se Flanders!, ou melhor, dane-se, dicionário!".
Como morador do bairro, seria beneficiado em muitos termos neste projeto, mas na verdade o que me incomodou foi uma observação no projeto, que segundo os idealizadores, é inspirado nos boulevards europeus. Aí reside o cancro sócio-cultural brazuca, o desespero de se equiparar com algo supostamente superior, chic, sofisticado, etc. Uma convulsão violenta tenta empurrar para debaixo do tapete as mazelas de uma cidade em crescimento desordenado, tomando conta de tudo e de todos. Quando não é possível maquiar a cidade com uma fachada de pretenso primeiro mundo, tenta-se justificar com um cenário vintage (Estilo que resgata a estética de décadas passadas) que nunca existiu, como por exemplo, a onda de botecos que assolou a Vila Madalena, ou a propaganda recente da cerveja Bohemia. Até parece que o brasileiro tomava a birita ao som do swing ou ragtime, nas primeiras décadas do séc.XX, num boteco na Rua Boa Vista...
A realidade é bem diferente, o cidadão toma cerva de pouca qualidade num bar de azulejos genéricos ao som estridente de música de péssima qualidade, como pagode, sertanejo e axé, com a possibilidade de haver uma briga, um assalto, alguém vomitar no seu pé, regado à fumaça preta e carregada de poluentes dos ônibus e o cheiro de óleo velho da máquina de frituras.
Do outro lado, temos um pequeno trecho da Rua Oscar Freire, onde fizeram o tal do boulevard, onde os pobres(no sentido espiritual) paulistanos abastados tentam se sentir em Champs-Élysées ou numa parte de Manhattan.
Só aqui em Pinheiros, brotaram alguns bistrôs e é muito triste observar os frequentadores e seu comportamento soberbo. Mais uma vez, vamos ao dicionário:
Bistrô: restaurante ou bar pequeno e simples, porém muito aconchegante. Muito populares na França, onde se servem bebidas alcoólicas, café e outras bebidas. Servem também comidas simples a preços acessíveis.
Quem sabe alguém tem a má idéia ( suspeito que existem alguns estabelecimentos que já tiveram esta brilhante idéia) de tornar em algo elegante o famoso PF de bar. Aí meu caro, pra comer barato, só no Bom Prato...

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domingo, janeiro 16, 2011
Cine Belas Artes (1952 - 2011), descanse em paz...

E o cinema Belas Artes sempre foi referência do cinema como arte, evitando ao extremo, os títulos descartáveis dos grandes circuitos de salas de projeção, resistindo com dificuldade aos novos tempos, em que, se a cultura não é um ítem supérfluo para a maioria da população, tem o significado diferente. Aí entra aquele antigo problema de educação no país, falta de discernimento, preparo e tantos outros, que não quero desenvolver aqui neste post.
Agora tratam o proprietário do imóvel em que se encontra o Belas Artes, como um criminoso, pois ele quer obter um retorno maior de investimento financeiro no seu bem material, que se encontra em um dos locais mais valorizados no ramo imobiliário. Que fique claro que eu não me alegro com a idéia de haver uma loja no lugar de um cinema que é uma das raras alternativas à mesmice dos anestésicos audiovisuais que abundam na cidade. Mas compreendo o pensamento do proprietário do terreno, ele não tem nenhuma obrigação de manter um investimento que não satisfaz suas expectativas.
Mas também existe a culpa da população que abandonou as salas de cinema, pela comodidade que surgiu com a fita VHS, depois os DVD's e Blue Ray's, alugados ou comprados, os home theaters, televisores de grandes polegadas e até projetores digitais. As pessoas, principalmente um certo setor da sociedade, também ficou com medo e preguiça de sair de casa para os cinemas. Como tem gente que não gosta de gente! Ah não ser é claro, se for "gente bonita"...
Será que o cine Marabá aguenta? Pois está localizado no centrão da cidade, a não ser que permaneça até a tão sonhada re-urbanização do centro, que almeja ter boulevards, como nas capitais européias, mas tem que sumir com a "gente feia" dalí... Tá bom...
Enquanto isso, o Marabá tem que se virar, passando alguma bobagem de cartoon 3D ou filme com artísta de novela global, para pagar as contas. Quem vai querer assistir O Sétimo Selo ou algum filme do Dogma num sabadão à tarde no centrão, com rapa, dvd do tapa olho a 5 mango, dorme-sujos, 2 cines pornozão em frente, algum nóia, invasões dos Sem-Teto, etc? Só us guerrêro, meu caro...

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terça-feira, novembro 16, 2010
Repressão ao artesanato de rua pela Prefeitura de São Paulo e a Associação de Amigos da Praça Benedito Calixto

Comandada pela Associação de Amigos da Praça Benedito Calixto, uma organização particular que não é composta por moradores das residências ao redor da praça, que tem violado direitos constituicionais e do espaço público.


Então muitos tem procurado a feirinha da Teodoro, que caminha independente da Benedito, mas é extremamente próxima a ela, que pratica preços justos e acessíveis, possui bom atendimento por parte dos artesãos e consequentemente tem ganhado a aprovação dos frequentadores da região.

Em contrapartida, a Associação de Amigos da Praça Benedito Calixto e alguns expositores, tem se comportado como empresas de capitalismo selvagem, que usam dos meios mais abomináveis para eliminar a livre e saudável concorrência, tentando impor uma ditadura, eliminando a oferta e direcionando a procura pelos seus produtos, impondo seus preços e sua "lei". Ora, isso se chama Cartel, Máfia ou coisa parecida. Usando de suas influências, tem acionado a Guarda Civil Metropolitana, a Polícia Militar e fiscais da Sub-Prefeitura para oprimir e confiscar o material dos artesãos, como se eles fossem contrabandistas e membros da pirataria de produtos, que é um notório problema da região central da rua 25 de Março.
Se você tiver interesse nesta questão de cidadania, procure o blog do Wanderlei, habilidoso artesão e cidadão articulado, que pode lhe esclarecer com mais precisão esta vergonhosa situação. Exerça sua cidadania e apoie a liberdade de expressão!
http://wanderart.blogspot.com/



sexta-feira, novembro 12, 2010
A morte do Hardcore Punk
O Hardcore Punk viveu sua "época de ouro" nos anos 80 e uma parte dos 90 com a proliferação de bandas, zines, programas de rádio, midia em geral através do mundo. Aqui no Brasil, as coisas sempre chegaram com um certo atraso e distorção de valores, que hoje em dia não acontece como antes, devido à era digital e a world wide web, que permite o acesso direto à fonte. Eu posso falar sobre boa parte do que ocorreu aqui em São Paulo, pois participei desta cultura, portanto não sou um pesquisador de laboratório que nunca foi à campo, teórico ou alguém que só leu algo na net ou outro veículo de informação. Mas não estou aqui para fazer uma autobiografia e nem uma biografia sobre o Hardcore Punk paulistano neste reduzído espaço digital.
A intenção aqui é avaliar o que existe e resiste hoje em dia. Existem algumas casas noturnas que abrigam apresentações de bandas estrangeiras periodicamente, há alguns poucos espaços que são direcionados ao HC, algumas lojas de discos, alguns zines, muitos blogs e sites, alguns festivais, etc. Mas o que era concebido como cenário HC já não existe mais, as coisas mudaram, ou melhor, sofreram uma mutação e não uma evolução, infelizmente. O HC teve o mesmo fim que o movimento Flower Power dos anos 60, que ainda deixa resquícios ou sequelas de seu impacto, mas a sua força e autonomia já se foi, sinto muito.
Os remanescentes praguejam contra produtos como NX Zero, CPM 22, etc, mas isso nunca foi novidade em movimento musical que já existiu. Sempre a indústria, os empresários ou pessoas que são carentes de pertencerem à um grupo e portar algum rótulo se infiltraram em qualquer que seja a denominação coletiva musical e cultural.
E de pensar que o termo emocore (emotional hardcore) veio de grupos de Boston como Rites Of Spring, Embrace, etc, iria desembocar em coisas como Fresno e afins, realmente é trágico (como diria o sr. Omar, do seriado "Todo Mundo Odeia o Chris").
Hoje já vemos jovens na faixa dos 30 anos relembrando das gigs noturnas na metrópole paulistana, das saudosas lojas de discos na Galeria do Rock, que eram o ponto de encontro deste segmento. Alguns se assemelham aos punks quarentões que vivenciaram o início do Punk nos anos 80 e lamentam seu declínio entre goles de cerveja ou outro goró mais forte. Decline of the western civilization... Mas alguém ainda grita: "This is not the end!" (citação de uma música do Agent Orange).
O Hardcore se auto destruiu, deu o famoso tiro no próprio pé, seu radicalismo sufocou a sí mesmo. Nem os diamantes são eternos, tudo passa na história da humanidade. Mas não precisava ser assim, uma morte sem dignidade, uma morte agonizante e desapercebida, como morre um indigente debaixo de um viaduto.

Bem, alguns aqui até que estão tentando fazer alguma coisa, outros fazendo documentários (ou seriam obituários?) e não posso dizer com exatidão os seus fins e suas reais intenções.
Aquele côro do Youth Of Today que dizia: Keep it up!, soa tão distante agora...
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terça-feira, novembro 09, 2010
Pede pra sair, 02!!! (Tropa de Elite 2) - A polêmica, os devaneios teóricos e a realidade

Ontem, segunda-feira, aproveitei o evento Projeta Brasil das salas da rede Cinemark, em que se podia assistir cinema brasileiro à R$ 2,00 e pacote de pipoca de bom tamanho à R$ 4,00. Fazia tempos que não ia ao cinema por falta de orçamento (é meu caro, eu não tenho R$ 15 para ir ao cinema sempre) e ainda mais numa sala de projeção dentro de um shopping center. Por questões práticas, me dirigí ao insólito shopping Iguatemi, que também não entrava fazia muito tempo e constatei um ambiente deprimente. O irônico é que este shopping quando foi inaugurado em meados dos anos 60 do séc.XX, não era um lugar tão cobiçado quanto é hoje e teve muita dificuldade de atrair lojas. Eu pessoalmente frequentei este local entre os anos 70 e 80 com certa regularidade por conta do cinema, lojas e serviços que eram mais acessíveis à população menos abastada economicamente, tanto que se encontravam estabelecimentos como Lojas Americanas, mercado, lanchonetes semelhantes aos botecos (não essas aberrações "chic"da Vila Madalena como Filial, Genésio e Posto 6) de bairro. Hoje se tornou um ícone de ostentação ao luxo, com lojas que são alvo de quadrilhas organizadas (oportuno isso e sugestivo ao post, não é?), por conta de seus artigos caríssimos. Como as salas de cinema são no oitavo andar, ao qual preferí chegar não pelo elevador e sim pelas escadas rolantes do local, pude observar o aspecto transformado dos tempos de minha infância e adolescência. Me deparei com o extermínio de lojas populares para dar espaço à inquilinos de grife e me lembrei que tinham até duas lojinhas de mágica, aquelas bem povão mesmo, que vendiam bala com pimenta e outras traquinagens, duas lojas de discos que podia se comprar um lp do Dead Kennedy's ou Iron Maiden, por exemplo. O mais triste foi o aspecto dos frequentadores do local, membros de uma parcela mínima da população que ganha muito mais do que 10 salários mínimos mensais, e tentam se sentir em um lugar sofisticado, pois eles não podem de fato estar em lugares como Manhattan, Louvre ou um boulevard requintado na Europa. Irônico também é que nos ditos países de primeiro mundo que essas pessoas cobiçam, os shoppings são considerados lugares até cafonas pela elite.
Deprimente também são os frequentadores que não possuem um bom patrimônio econômico, que são formados por exemplo, por recepcionistas, operadores de telemarketing, sub-gerentes de lojas, etc, que almejam se enquadrar neste bizarro cenário de bens materiais e consumo fútil, mesmo que tenham que comprar uma "réplica" de uma bolsa Louis Vouitton na 25 de Março, para se sentirem "iguais" na aparência. Mas só que no final do passeio, alguns poucos se dirigem ao estacionamento e adentram em seus carros que nem sempre são um BMW, enquanto boa parte tem que enfrentar um ônibus lotado em direção à periferia.
Bem, entro na sala de projeção e começa o entretenimento. Eu não sou um cinéfilo, não sou um crítico de cinema, não sou um Rubens Ewald Filho, Leon Cakoff ou Amir Labaki para fazer uma profunda análise crítica do Tropa de Elite 2. Não acho o Godard, Truffaut, Lars Von Trier as cerejas do bolo e também não gosto de bobagens como Velozes e Furiosos, filmes da Pixar studios, Lost, Friends e outros anestésicos de entretenimento em massa.
Então não fui assistir o Tropa com um entuito de prestigiar a "sétima arte", tanto que esperei a oportuna bilhetria à R$ 2,00. Também não esperava ter uma epifania sobre a realidade do país por conta de uma obra de ficçao baseada em fatos reais. Amigos, o Tropa de Elite não é um documentário, é apenas um filme! Existem muitas pessoas ditas cultas que precisaram assistir um Cronicamente Inviável, Ensaio Sobre a Cegueira, Carandirú ou até o Cidade de Deus para ter uma noção da realidade do Brasil?!
Não faltaram debates inflamados promovidos por intelectuais sobre os danos que o capitão Nascimento estava causando na população, que o filme é uma ode a repressão policial, do herói fascista, de direita e outros blá, blá, blás. É só mais um filme...
Eu particularmente gostei do filme, serviu para me entreter numa tarde de muito calor e trânsito caótico na bizarra metrópole paulistana. Alguns aspectos do filme me entristeceram, como a corrupção, a crueldade e injustiça humana, que já me deparei pessoalmente várias vezes, que estão ilustradas no filme de José Padilha. Não reparei se o enquadramento, a fotografia e outros elementos do filme eram bons ou não, inclusive sobre a qualidade do roteiro. Relembrar da realidade cotidiana numa confortável sala com ar condicionado e sistema de som Dolby, Surround ou DTS numa enorme projeção é algo bem peculiar. Mais impactante é sair após a sessão e deparar com aquele cenário surreal do shopping Iguatemi, atravessar a avenida Faria Lima, esperar pela van que vêm lá da periferia da zona sul em rumo ao Hospital das Clínicas e me dirigir ao culto de ensinamento bíblico na Assembléia de Deus num humilde salão em Pinheiros, onde tenho comunhão com pessoas que em sua maioria, sequer cogita em comentar algo sobre arte, como Truffaut enquanto come algo no América.
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domingo, outubro 31, 2010
Ornette, Vandermark, Brötzmann no Brasil... mas e daí?

Por quê? O que temos por aqui? Onde estão os artístas brasileiros? Tudo bem, existe o trabalho pioneiro do meu amigo Panda e seu projeto Abaetetuba, mas seus outros integrantes estão trabalhando no circuito europeu. Ah, mas tem o Ibrasotope (que está mais ligado a outro cenário musical), o Otis trio... Mas estes por acaso estão se integrando, formando a base de um cenário ou cada um está fazendo o seu próprio caminho? Eu mesmo confesso que não tenho me empenhado em meu próprio projeto ou voltado a trabalhar em algo futuro com o Panda.
Veja o caso do meu caro Ivo Perelman, que parece preferir trabalhar de forma independente, como atração estrangeira, não tendo muito sucesso em se relacionar com os músicos brasileiros. Há algumas especulações em relação a isso, e uma delas não é muito agradável e é polêmica e não é oportuno abordar agora. Então, mesmo que o Ivo seja brasileiro, já se tornou um estrangeiro em sua terra à muito tempo. O que temos?
Eu mesmo testemunhei uma situação tenebrosa que ocorreu mais de uma vez com meu amigo Panda, que posssui relações sólidas com grandes artístas da improvisação livre, como Veryan Weston, Hans Koch entre outros e ele é sumariamente boicotado nos eventos destes artístas quando se apresentam por aqui, promovidos por certas instituições culturais. Mas pela amizade e afinidade musical, o Panda consegue organizar alguma sessão de improvisação livre com eles, mas longe dos holofotes do enfadonho, mesquinho, provinciano e restrito circuito cultural paulistano. Não? Eu presenciei uma das melhores sessões com o Panda, Thomas Rohrer, Veryan Weston e Trevor Watts num local hostil, uma tabacaria na região dos Jardins. Dava para contar nos dedos de uma mão o número da platéia, não contando com os habitués do recinto que foram pegos de surpresa e que estavam lá por conta da atração oficial da casa.
As duas vezes que o Veryan Weston esteve em São Paulo, o Panda, seu parceiro musical, foi sumariamente excluído da programação dita oficial.

Na Europa e particularmente em Chicago, nos EUA, o cenário de free jazz e free improvisation existe, mesmo que de forma restrita, por conta de uma comunhão dos músicos, que procuram agregar-se sempre. Todo mundo toca com todo mundo, possibilitando novas experiências musicais para músicos e público.
Será mesmo que estamos caminhado para o certo?
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