quinta-feira, janeiro 31, 2013

Arthur Doyle's Free Jazz Soul Orchestra ‎– Bushman Yoga (2007)

Ano novo, vida nova, nova hospedagem e assim segue a esperança de continuar a divulgar arte em forma de música sem obstruções corporativas.
Arthur Doyle é um dos prediletos da casa com sua arte única e está entre os sobreviventes da luta pela música criativa e livre de classificações e normas convencionais. Sua trajetória de vida passa por momentos difíceis, como seu injusto encarceramento, que nas entrelinhas se encontra o racismo. Hank Mobley passou por situação semelhante, gerou frutos: o album Slice Of The Top. Doyle compôs The Songwriter e centenas de composições quando esteve até privado de tocar seu saxofone.
Doyle não se limitou ao rótulo free jazz e transitou no solo fértil do manifesto artístico chamado de No Wave e fez parceria com o músico Rudolph Grey no grupo The Blue Humans. Apesar do nome Arthur Doyle até hoje ser de certa forma desprezado pela mídia musical, segue no árduo trabalho de fazer música e um de seus projetos, foi o Arthur Doyle's Free Jazz Soul Orchestra. Free Jazz Soul não quer dizer que você irá deparar com um free jazz e o groove da soul music. Estas três palavras são empregadas por Doyle de maneira fundamental, não como denominações estilísticas musicais. São cerca de 72 minutos divididos em 12 peças improvisadas numa jornada sonora onde são exploradas de maneira única, sopros, vozes, sons eletrônicos e percussivos. Quem conseguiu a tempo compartilhar dos dois compactos de Doyle que postei aqui (antes de ter minha conta do MediaFire suspensa), pode esperar o mesmo alto nível da arte de Doyle. Segue nos comentários do post o acesso ao Bushman Yoga.
Enfim, quem aprecia a arte de Arthur Doyle e tiver condições financeiras e amor à música, pode contribuir com Doyle comprando seus discos que estão disponíveis nos catálogos das gravadoras, lembrando que Doyle é um legítimo músico underground e outsider, logo, a venda de um simples CD sob seu nome, é uma contribuição em tanto!

segunda-feira, janeiro 28, 2013

Piranha - Big Fucking Teeth demo tape (1988)

"É um peixe voraz, de São Francisco, não, não, perdão, Amazonas..."*
Na verdade a banda de thrash metal se formou em Berkeley, California em 1987 por Paul Baloff, que foi vocalista de uma das mais importantes e influentes bandas dos anos 80. Gravou apenas um disco em estúdio, o Bonded By Blood, gravado  em Julho de 1984 e lançado em 25/04/1985 pela Torrid/Combat Records. O guitarrista Kirk Hammett (Metallica) que fez parte do Exodus, teve participação na composição de algumas músicas do primeiro album do Exodus que anteriormente teria o título de A Lesson In Violence. Paul Baloff era conhecido por ter problemas de alcoolismo que foi obstáculo para estar à frente de uma banda que estava em evidência, pois Bonded By Blood se tornou um clássico instantâneo. Então ele entrou em desacordo com seus colegas de banda e deixou o Exodus e logo em 1987 formou o grupo Piranha, composto por Ron Shipes: guitarrra, Al Voltage: guitarra, Erick Wong: baixo e Fred Cotton: bateria. O Piranha gravou apenas duas demo tapes com Paul Baloff que ainda em 1988 se tornou vocalista da banda Heathen. Baloff retornou ao Exodus e esteve na banda em 1993, entre 1997-98 e finalmente entre 2001-02, quando faleceu no dia 02/02/2002. Ainda em 1997 lançou um disco ao vivo com o Exodus, o Another Lesson In Violence, gravado em um show do dia 08/03/1997 no Trocadero em San Francisco,CA, uma casa de shows que foi inaugurada em 1892.
Me lembro quando ouvi o Exodus pela primeira vez, em 1986 na Woodstock Discos, centro de São Paulo. Foi um grande impacto imediato, assim como a introdução da música de abertura, Bonded By Blood que começa com o som de um avião à jato. Pedi pro Walcyr (proprietário da loja), me gravar uma fita k-7 do lp importado, que seria lançado no Brasil ainda no mesmo ano pelo selo Cogumelo Records, que começou como uma loja de discos em Belo Horizonte, MG, assim como a Woodstock Discos se tornou um selo. O Exodus foi tão importante para mim, que se tornou grande influência pessoal quando me juntei com amigos de infância para montar uma banda de thrash metal, o Megaforce, que inclusive o logotipo foi inspirado no do Exodus e o nome da banda, na gravadora do Metallica, pois nossas bandas preferidas da época eram Slayer, Metallica e Exodus.
Bem, talvez para a maioria dos que acompanham o Sonorica seja um tanto quanto estranho eu abordar este estilo de música, mas para mim, o Exodus me emociona tanto quanto o Art Ensemble Of Chicago ou New Order. Se deixarmos de lado todos os supérfluos e todos os conceitos, fica a essência da música, o sentimento, e então, um universo sem fronteiras se abre. Nos comentários o acesso para este pequeno registro de Paul Baloff.

*Uma citação de uma canção de Alypyo Martins

quarta-feira, janeiro 23, 2013

Linha 702U-21, um conto urbano.

No final da manhã do dia 22 de Janeiro de 2013, me encontrava na região do Parque Dom Pedro II, centro de São Paulo. Conhecida como zona cerealista, onde se encontram alimentos vendidos em grande quantidade e preços mais justos, lá estava eu com 2 kilos de cereal matinal que comprara para meu pai. Sob o viaduto em frente ao Museu Catavento, instalado no Palácio das Indústrias e antiga sede da prefeitura, se encontra uma parada de ônibus, onde passa o 702U-21(Pinheiros/Pq. Dom Pedro II). Esta linha tem uma peculiaridade, pois seu itinerário de volta ao ponto inicial em Pinheiros, passa pela rua Arthur de Azevedo, uma das principais do bairro, mas que não possui um tráfego intenso de ônibus. Se não me engano, só duas linhas passam nesta rua que possui 5 paradas. É um ônibus que sempre causa "problemas" aos usuários, mas por culpa deles mesmos. Sempre que faço uso desta linha encontro passageiros que ignoram o itinerário que está exposto no para-brisa dianteiro e ao lado da porta de embarque, que indicam o trajeto pela Arthur de Azevedo e também não perguntam aos funcionários do ônibus, qual é o trajeto.
Quando ainda me encontrava na avenida Senador Queiroz, embarcaram mãe e filho, a mãe era descendente de japoneses e o filho deveria ter menos de 10 anos de idade. O menino era alegre e se maravilhou com o veículo de piso rebaixado na parte dianteira, pois nunca tinha embarcado neste tipo de veículo e disse para a mãe que queria viajar de novo. Sua mãe e alguns passageiros (inclusive eu), acharam engraçado a empolgação do menino com uma coisa tão simples. A pureza de uma criança.
Havia uma senhora nordestina vestida com elegância que desejava ir à avenida Angélica, que é paralela à avenida Consolação, parte do trajeto do 702U-21. Por falta de atenção, ela não desembarcou na parada desejada, no corredor de ônibus em frente ao cemitério da Consolação. Então ela quase entrou em pânico, já buscando culpar alguém e vários passageiros tentaram lhe confortar informando que ainda havia uma parada no final da avenida Paulista, que lhe deixaria em frente da avenida Angélica. Mas a senhora relutava em aceitar a recomendação coletiva e também não compreendia a informação, pois não estava disposta a tal, queria de qualquer maneira fazer a sua vontade. Disse várias vezes que era para descer no ponto do cemitério, e eis que o menino perguntou: "Quem morreu?". A senhora já muito nervosa disse: "Eu nunca mais pego essa peste!", se referindo ao 702U-21. Então ela desceu na parada da avenida Paulista e muitos passageiros disseram para ela descer ali mesmo, pois a avenida Angélica estava quase a sua frente. Ela desembarcou contrariada mas não seguiu a recomendação dos passageiros e seguiu em direção contrária.
A peculiaridade do 702U-21, é justamente sua trajetória pela rua Arthur de Azevedo pelo bairro de Pinheiros, e não pela rua Cardeal Arcoverde, via principal dos ônibus na região. O 702U-21 percorre apenas por duas das oito paradas desta rua. Quando o 702U-21 passa pelas duas paradas, faz uma conversão para a rua Henrique Schaumann para seguir pela rua Arthur de Azevedo. É neste momento que os passageiros desavisados ficam aflitos, nervosos, indignados e até furiosos, enfim...
Então havia uma outra senhora no 702U-21, que provavelmente já estava irritada com a empolgação do menino e não contava com a trajetória do ônibus, que aumentou sua irritação. Enquanto a mãe do menino se dirigiu rapidamente ao cobrador para tirar suas dúvidas, a senhora irritada rapidamente foi ao assento onde se encontravam o menino e a mãe e pediu para o menino retirar a bolsa da mãe pois queria sentar-se ali. O menino explicou que o assento estava ocupado e a senhora se irou com o menino e de forma grosseira disse que não tinha ninguém ali e ordenou que retirasse os pertences de sua mãe para ela se sentar, queria sentar mais perto da porta pois iria desembarcar em breve. Mas havia outro assento vago logo à frente, inclusive mais perto da porta. A mãe do menino logo retornou ao seu lugar e de forma gentil explicou que tinha apenas se dirigido ao cobrador para tirar uma dúvida e ainda indicou o assento vago para ela. Mas a senhora repetiu a atitude com a mãe do menino e seguiu praguejando até desembarcar do ônibus. O detalhe é que o incidente durou cerca de um minuto, pois a senhora iniciou a contenda à cerca de 100 metros do seu ponto de desembarque.
Durante o trajeto do 702U-21, permaneci calado observando os acontecimentos dentro do ônibus, e no meio de conversas que em sua maioria são de pessoas falando mau de outras, reclamações em geral, fofocas, semblantes insatisfeitos, havia uma menino muito feliz.
Antes do meu desembarque, ouço a mãe do menino dizer: "Hoje aconteceu de tudo nesse ônubus".

sexta-feira, janeiro 18, 2013

Frank Wright Quartet - Live In New York City Summer 1973


Frank Wright nasceu no dia 9 de Julho de 1935 na cidade de Grenade, Mississipi, tocou baixo elétrico em sua juventude, tocou em grupos de R&B em Memphis e Cleveland (cidade natal de Albert Ayler, onde o conheceu). Ayler o inspirou a mudar para o saxofone tenor e Wright mudou-se para New York no começo da década de 60 e ingressou no cenário do chamado free jazz e tocou com Larry Young, Noah Howard, Sunny Murray e brevemente com John Coltrane e Cecil Taylor. Sua primeira gravação foi em 1965 com seu trio composto por Henry Grimes no contra-baixo e Tom Price na bateria pelo selo ESP. No fim dos anos 60 mudou-se para a França onde tocou com Noah Howard, Bobby Few, Art Taylor, Alan Silva, Muhammad Ali e entre os anos 70 e 80 trabalhou na Europa e América do Norte, gravou em pequenos selos na Europa com Peter Brötzmann e Marvin "Hannibal" Peterson. Em 1988 participou de um concerto com o Art Eensemble Of Chicago no Petrillo Bandshell em Chicago,IL. Suas últimas gravações foram entre 1989-90 com um trio composto por Frank Wollny no contra-baixo e o artísta plástico alemão A.R. Penck na bateria.
Frank Wright definitivamente foi um músico do underground, jamais gravou por uma grande gravadora e seu nome é praticamente conhecido apenas no gueto do free jazz. Mas seu estilo e sua música de certa forma foram influência para outros músicos, como Glenn Spearman, Sabir Mateen, Charles Gayle, e Thomas Borgmann por exemplo. Sem dúvida o estilo de Ayler teve influência, mas Wright desenvolveu seu próprio estilo no saxofone tenor. Coltrane e Ayler são referência de espiritualidade no jazz, inclusive isto é exposto diretamente em suas gravações, mas Wright também faz parte desta ala de músicos, tanto que era conhecido como Reverend Frank Wright e para quem não se desligou do seu lado espiritual, pode sentir isso em sua música. Digo isso pelo fato de muitas pessoas que procuram racionalizar este tipo de música, sendo pelo lado horrível de análise teórica musical, como um manual técnico de química, matemática e física ou como uma palestra de pós-graduação em história da arte e estética. Ora, por esses motivos que me abstenho de várias conversas sobre música, um tempo gasto numa ode à vaidade do acumulo de dados de conhecimento que apenas levam à centenas de artigos e livros que são substituídos por sessões de audição (cá entre nós, é bem mais agradável), sem contar que muitos aspectos jamais poderão ser descritos, literalmente falando. Afinal, são sentimentos...
Bem, o outro motivo deste post é sobre esta gravação do quarteto de Frank Wright composto por Bobby Few: piano e voz, Alan Silva: contra-baixo e voz e Harold E. Smith: bateria e voz. São duas peças de improvisação com cerca de 40 minutos cada e sem título, captadas durante o New York Musicians Festival no verão de 1973. Nos comentários do post.

Obs.: Não posso aceitar a arbitrariedade equivocada dos orgãos que lidam com direitos autorais e fonográficos (na real esse lance todo, é sobre o vil dinheiro) e sigo tentando divulgar a arte de pessoas que na minha simples e particular opinião, merecem ser reconhecidas. Espero que as cabeças de granito finalmente entendam que este weblog não quer lucrar um centavo sequer às custas da arte alheia. Se outras pessoas usaram os arquivos que eu disponibilizei, de forma inapropriada, me isento com a consciência limpa de tais fatos. No mais, vamos celebrar a música de Frank Wright!

PS.: Esta gravação é um bootleg, logo, deixem-me em paz. (orgãos de direitos fonográficos, etc)

quinta-feira, janeiro 17, 2013

MediaFire, ganância, direitos fonográficos e falta de entendimento

AMIGOS DO SONORICA, INFELIZMENTE INFORMO QUE TODOS OS LINKS FORAM BLOQUEADOS E MINHA CONTA DO MEDIAFIRE FOI SUSPENSA POR CONTA DOS ORGÃOS RESPONSÁVEIS POR DIREITOS AUTORAIS E FONOGRÁFICOS DOS TRABALHOS QUE DIVULGUEI NESTE ESPAÇO.
POR MAIS QUE EU EXPLICASSE A SITUAÇÃO DO BLOG, QUE TEM VISITANTES EM SUA MAIORIA AQUI EM SÃO PAULO, QUE É UM NÚMERO IRRISÓRIO DE ACESSOS, QUE ABORDA QUASE SEMPRE A DIVULGAÇÃO DE ARTÍSTAS DESCONHECIDOS, DE GÊNEROS MUSICAIS QUE DESPERTAM POUQUÍSSIMO INTERESSE, QUE TEM OBRAS PRATICAMENTE INDISPONÍVEIS NO MERCADO BRASILEIRO E QUE NEM TODOS TEM CONDIÇÕES DE COMPRAR PELA INTERNET, QUE MUITOS SEQUER PODEM POSSUIR UM CARTÃO DE CRÉDITO INTERNACIONAL, QUE NÃO PODEM COMPRAR UM PRODUTO FONOGRÁFICO COM AS TAXAS E IMPOSTOS EXTRAS INCLUÍDOS, NUNCA TEVE O INTERESSE DE LUCRAR SOBRE A OBRA ARTÍSTICA DE NINGUÉM.
AOS INTERESSADOS NOS REGISTROS PUBLICADOS NO SONORICA, O QUE POSSO FAZER, É ATRAVÉS DE UM PEDIDO PARTICULAR DE CADA LEITOR, PROVIDENCIAR O QUE FOR NECESSÁRIO DE FORMA PARTICULAR.

FRIENDS OF SONORICA, INFORM UNFORTUNATELY THAT ALL LINKS ARE BLOCKED AND MY ACCOUNT WAS SUSPENDED BY MEDIAFIRE ACCOUNT OF BODIES RESPONSIBLE FOR COPYRIGHT AND PHONOGRAPHIC OF WORK SPACE DISCLOSED IN THIS. FOR MORE I EXPLAINED THE SITUATION'S BLOG THAT HAS VISITORS IN YOUR MOST HERE IN SAO PAULO, WHICH IS A NUMBER OF WHIMSY ACCESS, WHICH EVER RELEASES FOR UNKNOWN ARTISTS, MUSICAL GENRES THAT AROUSE LITTLE INTEREST, WHICH HAS ALMOST UNAVAILABLE IN WORKS BRAZILIAN MARKET AND CONDITIONS THAT NOT EVERYONE HAS TO BUY THE INTERNET THAT MANY MAY EVEN HAVE A CREDIT CARD INTERNATIONAL, WHICH CAN NOT BUY A PRODUCT WITH PHONOGRAPHIC  FEES AND TAXES INCLUDED EXTRAS NEVER HAD THE INTEREST OF PROFIT ON THE WORK OF ARTISTIC NOBODY.INTERESTED IN RECORDS TO PUBLISHED IN SONORICA, WHAT CAN I DO, IT IS THROUGH A REQUEST FOR EACH PARTICULAR PLAYER, WHAT IS NECESSARY TO PROVIDE FOR PARTICULAR WAY.

http://www.mediafire.com/policy_violation/account_suspension.php

terça-feira, janeiro 15, 2013

terça-feira, janeiro 08, 2013

Feliz ano novo! rá!

Sim! Feliz ano novo para todos. Depois de pensar bem à respeito do primeiro post de 2013, optei por não escrever sobre música. Aos que acompanham regularmente o Sonorica, creio que já saibam da minha relutância de abordar certos assuntos em relação à música. Muitas outras mídias já abordam o assunto e cada vez mais na minha opinião pessoal, algumas áreas da música eu vejo o quão é desnecessário falar.
Bem, o fato é que o ano de 2012 foi generoso para a música criativa em São Paulo, como foi relatado no Free Form, Free Jazz, autoria de Fabricio Vieira. Tivemos apresentações, workshops e devo ressaltar o importante fato do início da mobilização dos improvisadores que se reuniram em São Paulo e hoje trabalham para construir o que se convencionou a se chamar de Circuito de Improvisação Livre (SPImpro), articulando diversas apresentações em várias datas ao longo do ano e esporádicas reuniões para desenvolvimento musical.
Agora quero relatar a chegada de alguns amigos no mês de setembro, amigos que fiz em outras terras no ano de 2011. O mais chegado de todos, fez 70 anos recentemente e continua com sua energia e alegria e foi maravilhoso reencontrá-lo. A minha amiga que me hospedou em sua casa, infelizmente não pode vir. Conheci novos amigos e dois deles, eu pude conviver um pouco mais. Depois do workshop que participei, Joe Williamson perguntou se alguém queria tomar uma cerveja mais tarde. Apenas eu e o Marcio fomos nos encontrar com Joe. O hotel era bem perto da rua Augusta e sugeri que fizessemos um pequeno passeio para conhecer a cidade. Fomos a pé até a praça da República e já era quase meia noite. O centrão da cidade fica mais bonito à noite, mas lá estava o cheiro de esgoto e mendigos nos calçadões. Joe é um cara sem frescuras, um canadense que mora na Suécia e tem um senso de humor bem peculiar. Conversamos sobre diversos assuntos num boteco pé sujo e para mim é um tanto quanto estranho só pelo fato de que eu não bebo, mas o que importa é estar com os amigos. No dia seguinte, combinamos de almoçar, mas o Marcio não pode comparecer. Aí apareceu o Tobias Delius, um inglês que mora na Alemanha e é bem parecido com o Joe, um cara sem frescuras. Fomos a pé até o bar restaurante Estadão comer um virado à paulista e eles gostaram muito do prato típico. De barriga cheia fomos passear pelo Vale do Anhangabaú e Centro Velho, parando para um café dentro do metrô São Bento. Tobias precisava descansar um pouco e eu e Joe seguimos com o passeio, passando pelo Pátio do Colégio, Sé e pelo bairro da Liberdade. Joe pediu para tomar uma cerveja e paramos num boteco qualquer na rua da Glória. Ficamos um bom tempo por lá pois caiu uma chuva bem forte. Chegamos no fim de tarde no hotel e encontramos os outros integrantes da orquestra no bar ao lado e ficamos alí conversando por um bom tempo. Uma coisa muito legal que aconteceu foi que o Han Bennink pegou o telefone e ligou para a minha amiga que não pode vir, a Susanna, e me colocou para falar com ela. E mais uma vez, como foi naqueles dias na Holanda, quase não conversamos sobre música. Mary Oliver tinha detestado a rua Oscar Freire e suas madames com os cachorrinhos e aquela arrogância toda. Pude conhecer um pouco melhor o Michael Moore, que virou fã do frango à passarinho. Ao longo da semana ocorreram as apresentações, pude conversar um pouco mais com alguns e menos com outros e combinei com Tobias, uma feijoada no sábado, como despedida. E lá fomos eu e o Tobias para o Largo do Parí, num lugar extremamente simples, onde os caminhoneiros que abastecem um entreposto agrílcola, almoçam. Basicamente o local é quase uma tenda, com mesas de metal, que as marcas de cerveja oferecem aos bares e uma lona transparente que separa o restaurante dos corredores apertados onde circulam as mercadorias (basicamente predomina o aroma de coentro no local). O legal de lá é que você mesmo se serve e pode repetir. Depois, com a barriga explodindo, Tobias pediu para andarmos pelas ruas da região, na zona cerealista, av. do Estado, Pq. Dom Pedro e ele gostou muito e disse que gosta de conhecer o lado verdadeiro das cidades, onde o povo circula. Me disse que não gostou do Mercado Municipal, achou que era coisa para turistas (isso comprova minha opinião de que não se leva os gringos para os "cartões postais" de sampa). Descobri que o Ab Baars também não tem frescura com essas coisas, que ele encarava bares pé sujo e restaurantes "feios" desde que ofereça boa refeição. Eu pensava que ele não curtiria um rolê desses, pois o homem sempre se veste com muita elegância. Tá vendo como as aparências enganam? Vivendo e aprendendo...
Com certeza estes momentos são os que mais lembrarei com saudades da passagem da ICP Orchestra em São Paulo.
 
 
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