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domingo, março 11, 2012

Anthony Braxton - This Time... (1970)

Dando continuidade aos artístas que despensam comentários, temos aqui uma pequena particula do universo sonoro criado por uma mente fora do comum, Anthony Braxton. É simplesmente assombroso o pleno domínio sobre quase todos os instrumentos de sopro que usam palheta e flautas. E não é só apenas sua técnica, velocidade, precisão, mas expressão, complexidade e beleza que saem de forma torrencial de uma mente que provavelmente não para de elaborar estruturas sonoras a todo instante. Me lembro da primeira vez que vi uma foto de Braxton, com instrumentos incomuns, como o clarinete contra-baixo ou o saxofone contra-baixo. Seus óculos e cachimbo me pareciam a mistura de um nerd, cientista louco como dos filmes, de professor de química. E ao deparar com os títulos, simbolos e figuras que denominavam suas composições, isso reforçou minhas impressões. Apreciador do tabuleiro de xadrez, amplo conhecimento da matemática aliados a maturidade e convicção artística estruturam o suporte para Braxton expressar suas emoções. Em meio a números, letras e diagramas, encontramos outros aspectos de Braxton, como Charlie Parker Project, Six Monk Compositions, interpretações de composições de John Coltrane, revelando as emoções, sentimento e espiritualidade, só que com a característica complexa e original dentro de seu amplo campo de criação. Braxton é o músico e compositor que melhor simboliza a junção da música criativa, que possui vários adjetivos, rótulos, o que denominaram vanguarda européia, afro norte americana, free jazz, free improvisation, enfim, essas baboseiras criadas pela indústria fonográfica e as midias musicais.
Em This Time... Braxton contou com a colaboração de parceiros grandiosos: Leroy Jenkins, Leo Smith e Steve McCall, que contribuiram de forma única e preciosa para o desenvolvimento da música criativa de forma coletiva e individual. Todos desenvolveram sua arte em torno dos conceitos da AACM, transportando para outros níveis o que floresceu no fim dos anos 40 na america do norte. Clique na imagem e compartilhemos este tempo...

ps: Muitos associam os nomes de revolucionários na formação de outros, como no caso de Braxton, mas é interessante como as coisas acontecem. Numa entrevista, o músico fala de suas influências na juventude e relatou que o pai de seu amigo lhe apresentou a música de Ornette Coleman e ele estranhou sua música e tinha preferência por Paul Desmond, o grande parceiro de Dave Brubeck. Só depois de algum tempo que Braxton digeriu a música de Ornette.

terça-feira, julho 19, 2011

Itamar Assumpção (Por quê não o perceberam antes?!)

Ontem assistí o documentário "Daquele Instante Em Diante" sobre Itamar Assumpção, numa sessão gratuita na sala de cinema do shopping Frei Caneca, região central de São Paulo. Não tinha nem metade da capacidade de lotação na pequena sala, talvez pelo horário da sessão, 18:00h de uma segunda feira, em plena capital desenfreada que é São Paulo, onde todo mundo confunde as prioridades da vida, isso é bem compreensível. Não vou falar aqui sobre o já estigmatizado papo de que o Itamar era o artísta maldito da vanguarda paulistana, incompreendido, injustiçado, etc e etc, já chega dessa ladainha, afinal também o Nego Dito já tava bem a pampa dessa conversa. Eu tive a benção de nascer no bairro de Pinheiros, que é encostado do bairro Vila Madalena, onde era comum encontrar pelas ruas, pessoas, como o próprio Itamar, Gigante Brasil, Piriri, Raul de Souza, Jr. Blow (pra quem não sabe, um dos pioneiros do hiphop no Brasil), grafites da Rainha do Frango Assado, bares como o falecido Paulicéia, a loja do selo Lunário Perpétuo, O Lira Paulistana, a sala Rock Show no Calcenter, a Feira de Vila antes de se tornar (ou se vender) o que é, a mesma coisa com a feira da Benedito (blergh!1000X). Ainda encontro a Suzana Salles andando por aqui, mas este bairro já não é mais o mesmo desde o fim dos anos 90, quando um padrão escroto tem transformado tudo numa sucursal dos Jardins, com padarias de luxo, condomínios de "alto padrão"(+ um blergh 1000x) e outras porcarias. Então Itamar para mim é tão natural, como as orquídeas que ele gostava de cultivar em seu quintal. Um amigo e vizinho de bairro, gostava muito do Itamar, tinha todos os discos, misturados aos lp's de heavy metal e grindcore e isso era tão natural, enquanto o microcosmo moderninho descolado tinha pavor das "coisas" cantadas em língua portuguesa, em plena era pseudo grunge, indie ou sei lá o quê. Bom, agora tem uns espertinhos de plantão que estão querendo vampirizar o Nego Dito, acreditando que estão descobrindo a América e tal, mas isso também não é nenhuma novidade chocante. Olha, foi legal mesmo ter visto o documentário pelos registros, pelo Itamar. Como cinema, tem um lance que me incomoda, sei lá um lance meio estranho do tal do novo cine brazuca, mas isso é minha opinião restrita e particular. Não fizeram mais do que a obrigação de registrar o cara, ele merecia. "Como eu não pensei nisso antes?" Agora é tarde... ...deixa de conversa mole...

sábado, outubro 09, 2010

Henry Threadgill: Complete Novus/Columbia Recordings - Mosaic Records Limited Edition Box Set

É um alívio ver um artísta ser reconhecido antes que seja tarde, como costuma acontecer.
Henry Threadgill é um saxofonista e flautista, compositor, bandleader, arranjador, membro co-fundador da AACM, junto com Muhal Richard Abrams, fez parte de um dos melhores trios de jazz contemporâneo, o Air, ao lado do baixista Fred Hopkins e o baterista Steve McCall, colaborador dos projetos de Bill Laswell, sendo que o Material é um deles e inúmeros outros projetos. Henry Threadgill continua em plena atividade, produção e criatividade e me faltariam adjetivos para descrever mais sobre seu trabalho.
Como não sou jornalista musical profissional, não disponho de tempo suficiente para escrever o que é justo sobre Threadgill, apenas uma fração de informações que consegui em minhas pesquisas pessoais. Nos links abaixo, há um pouco mais de informações sobre Henry Threadgill, a AACM e este box de cd's.

http://www.mosaicrecords.com/henry-threadgill

http://aacmchicago.org/henry-threadgill

sexta-feira, março 05, 2010

Jimi Hendrix, Johnny Alf...

Mais uma vez Jimi é enfoque do jornalismo musical. É sobre o lançamento de gravações póstumas inéditas. A estratégia de marketing das gravadoras não permite que tenhamos acesso rápido ao material, pois faz parte do jogo. Mais uma vez teremos o re-relançamento dos albuns do Experience, só que com ítens adicionados para justificar o preço e relançamento, como out takes, encartes, DVD, etc. Fazer o que? A indústria fonográfica tem de sobreviver. Veja o caso dos Beatles por exemplo, tentam extrair tudo quanto é possível para lançar no mercado, deixando os colecionadores em polvorosa. O ápice foi a discografia completa enclausurada em um pendrive (essa foi uma forma coerente, afinal estamos na era digital) em forma de maçã. O problema é que quando o material substancial se esgota, começam a colocar no mercado ítens dispensáveis. Porque o nome out takes? Ora, o artísta rejeitou o resultado de sua performance de gravação. Mas sabe como é fã, quer acreditar em qualquer coisa para ter mais um pouco de seu artista preferido, como um out take que tem apenas 3 segundos a mais de diferença do que a editada oficialmente.
Eu gosto muito do Jimi, só que quando eu atingi quase 30 lp's em minha coleção, eu percebi q
ue o negócio já estava pra lá de bom e passando disso já seria uma obssessão. Comprar um compacto, sendo que é a mesma versão do lp, isso é fetiche. Mas fora estas coisas de produtos, Jimi é um nome presente na música popular tão óbvio, que dispensa mais comentários. Quer um exemplo atual? Vernon Reid é um músico que se sente esta influência, mas não só de Jimi, mas também de Arthur Rhames. Uma das mais coerentes homengens em minha opinião pessoal são as gravações do P-Funk Guitar Army, no Tribute To Jimi Hendrix, em 2 volumes. Talvez seja um tanto quanto desconhecido para os típicos fãs radicais de rock, que geralmente ignoram e odeiam na ignorância outros nomes da música. Eddie Hazel que foi guitarrista do Funkadelic e Parliament é herdeiro direto de Hendrix, sua influência é 100% audível. Mas Hazel não sobreviveu tempo suficiente para participar desta homengem e ficou nas mãos de seus companheiros sucessores no mundo P-Funk, como Michael Hampton, Gary 'Mudbone' Cooper, Blackbyrd McKnight, etc.
Bem, porque Johnny Alf? Eu encontrei uma ligação entre ele e Jimi e isso não tem haver com a arte de cada um simplesmente por serem caminhos diferentes. A morte tem um ponto em comum, só que os casos são opostos. Jimi morreu no auge de sua carreira, muito jovem, nem completou 30 anos de idade. Johnny Alf morreu com 80 anos com uma longa carreira. Talvez Alf passe por um processo parecido com o de Hendrix, talvez relancem seus discos, artístas gravem um tributo, novos artístas e novo público "redescubra" sua obra. Mas é claro que não será da mesma forma que Jimi, que teve um impacto na arte mundial. Alf quase não é citado em seu próprio país, o Brasil. Não teve tanto efeito catalístico na música de uma forma geral, mas isso não tira seu mérito e talento. Eu gostei dele uma vez que o Paulinho da Viola o entrevistava e falavam sobre a influência dos músicos do chamado jazz. Paulinho tinha mais interesse por pianistas como Thelonioius Monk e Johnny já preferia algo mais tradicional, como Nat King Cole. Também gostei da sensação de uma pessoa amável tranquila que Alf me passou. Meu amigo estava de alguma forma envolvido com sua atividade musical no Japão, onde poucos mas fiéis admiradores extrapolaram as fronteiras do hemisfério Sul. Eu até assinei um cartão coletivo que seria entregue ao Johnny, junto ao nome de editores, apreciadores, amigos, críticos japoneses. Mas eu nunca fui muito chegado no trabalho de Johnny. Mesmo hoje em dia, que não fico mais só ouvindo Heavy Metal. Tem uma coisa e outra que eu gosto, mas a bossa não me diz muita coisa. Muitos dizem que a bossa é o supra sumo da música brasileira, mas isso é algo tão particular, que esse tipo de afirmação não reflete a verdade. Quando falam que os gringos "piraram" com a bossa, isso não quer dizer muita coisa. Veja o caso do Stan Gets, Archie Shepp. O jazz já não era uma unanimidade em seu próprio país de origem, o rock vindo da Inglaterra é que dominava em popularidade. A bossa ficou conhecida entre os músicos, pois o público americano, europeu, preferia outro tipo de música. Recentemente falam da suposta febre da bossa no Japão. É uma grande ilusão, pois o público japonês tem preferencia pela música local, como o JPop e o Pop norte americano. Há um nicho específico que gosta de bossa no Japãp, mas é bem restrito, como o público que aprecia jazz em São Paulo.
A verdade é que Johnny Alf estava meio que jogado para escanteio nestes últimos anos, queiram acreditar ou não. Ele quase não se apresentava, por falta de interesse mesmo. E gravar um disco então? Não recebia a atenção e destaque que tinha direito. Agora com sua morte vão falar uma coisa ou outra e tudo mais que eu escreví acima. Mas logo mais vai voltar à penumbra. Estou errado? Espero que sim, pois veja o caso do maestro Moacir Santos. Fizeram homengens,
relançaram gravações, mas não passou do terrritório restrito. O povo quer é ser "chicleteiro" mesmo.
Música como forma de arte é um artigo de luxo, um ítem dispensável na cesta básica. Hoje o momento é do entretenimento musical, que sempre é confundido com a arte musical. Hoje em dia não sobra muito espaço para o refinamento musical de Johnny Alf, talvez também não sobrasse para Jimi Hendrix se estivesse vivo.

Obrigado Jimi, obrigado Johnny, vocês fizeram música, apenas música.
 
 
Studio Ghibli Brasil