sábado, março 31, 2012

Desolation Angels - Desolation Angels (1986)

O Desolation Angels se formou em 1981 por dois amigos de infância, os guitarristas Robin Brancher e Keith Sharp na região de East End em London, UK. Em seguida convidaram o amigo Joe Larner para assumir o posto de baixista e vários bateristas passaram pelo grupo até a vinda de Brett Robertson em 1982. Em 1984 gravaram seu primeiro single, Valhala/Boadicea 7" em um estúdio em Cheltenham e em 1986 gravaram seu primeiro lp, Desolation Angels no Thameside Studios em Rotherhite, London. Em 1987 o grupo se mudou para Los Angeles, CA até encerrar suas atividades em 1994. O Desolation Angels faz parte da chamada New Wave Of British Heavy Metal, que tornaram consagrados nomes como Diamond Head, Iron Maiden, Judas Priest, Motörhead, Saxon, Samson, Girlschool, etc e o Desolation Angels é considerado herdeiro direto da sonoridade do Black Sabbath, que foi a primeira geração das bandas de rock inglesas que formaram as bases do estilo heavy metal, junto de grupos como Led Zeppelin e Deep Purple.
O heavy metal sempre foi alvo de criticas negativas, denominado como música para adolescentes desmiolados, etc. Mas deixando de lado os pré-conceitos e analisando a evolução de mais um segmento do rock'n'roll, encontram-se grupos de música criativa e de qualidade. Clique na imagem para acessar o arquivo.

quinta-feira, março 29, 2012

Grant Green - Alive! (1970)

A guitarra no estilo musical que denominaram jazz ganhou destaque e uma linguagem notória com Charlie Christian e foi se desenvolvendo, ganhando força e reconhecimento com Wes Montgomery, Herb Ellis, Django Reinhardt, Joe Pass, entre muitos. Também se tornou um instrumento enfadonho e perseguido por muitos como sinônimo de exibicionismo desnecessário e o engraçado é que ninguém questionou o que Charlie Parker e Coltrane fizeram em seus saxofones, aliás, Charlie Christian desenvolveu sua linguagem que se tornou fundamento do instrumento no jazz, baseado na técnica do saxofone. Eu em particular prefiro os guitarristas do rock do que os do jazz, nunca fui lá muito chegado nos guitarristas de jazz conhecidos na sua forma mais, digamos, tradicional. Aquele timbre limpo e aveludado não me atraia de maneira alguma e num comentário mais grosseiro, achava uma tremenda chatice. Aí vieram os guitarristas do chamado fusion e muitos infelizmente uniram o que tinha de mais chato no jazz e no rock, depois nos anos 80, veio a era dos super guitarristas, que adicionaram a destreza das técnicas da música erudita, as dificílimas composições para violino de Niccolo Paganini, com glissandi e arpeggios usados de forma um tanto quanto exagerada causando mais repulsa pelos guitarristas.
Bem, mas graças ao chato do Herbie Mann, as coisas mudaram, pois descobriu o talento de Sonny Sharrock que veio para mudar radicalmente a sonoridade do instrumento no jazz. Mesmo ainda predominando os guitar heroes com suas asas de pavão, temos sonoridades muito mais interessantes, como Keiji Haino, Marc Ribot, Jeb Bishop, etc.
Apesar de pessoalmente detestar um certo sub-gênero do jazz que serviu de inspiração à umas das maiores baboseiras ligadas ao estilo, o chamado acid jazz (vai ver que o tal do ácido derreteu o cérebro) o disco Alive! de Grant Green possui uma das melhores versões de Sookie Sookie, composta por Don Covay.
Grant Green nasceu em St. Louis, Missouri em 06/06/1935. Teve sua primeira performance profissional aos 12 anos de idade e suas principais influências musicais foram Charlie Christian, Charlie Parker, Ike Quebec, Lester Young, Jimmy Raney, Jimmy Smith e Miles Davis. Sua primeira gravação foi com o saxofonista Jimmy Forrest, contando com Elvin Jones na bateria. Foi apresentado à Alfred Lion do selo Blue Note por Lou Donaldson, considerado o pai do Soul Jazz (que foi a base do acid jazz) e iniciou uma profílica carreira com inúmeras gravações sob sua direção. Muitos consideram Grant Green como o herdeiro direto de Wes Montgomery e o pai do acid jazz, tendo sua música imortalizada nos samplers décadas depois. Clique na imagem para acesar o arquivo.

terça-feira, março 20, 2012

Masada e John Zorn em São Paulo: John Zorn, você é malvado!

Eu já tinha me pronunciado à respeito da apresentação do Masada no estabelecimento de entretenimento em São Paulo, sua taxa de serviços, a configuração em que se deu tudo isso e agora, a saliva se torna a vedete de uma noite enfadonha na capital mais equivocada do hemisfério sul do planeta.
Ao longo do último fim de semana, desde à sexta-feira, venho captando diversas opiniões, comentários sobre o nosso querido odiado John Zorn. Pobremente e equivocadamente conhecido como o saxofonista judeu de jazz que ouve rock e faz muito barulho, agora ganha destaque nas rodas de conversas do micro-cosmo cultural de São Paulo. Como sempre acontece, certos artistas ganham uma notoriedade efêmera sempre que se apresentam por aqui, apesar de Zorn ter se apresentado em São Paulo em 1989. O curioso é que o público supostamente culto ou bem informado, que tem um acesso acima da média em relação a informação cultural geral, acaba agindo como um povoado de um vilarejo nos confins da terra que fazem uma festa, um banquete, para recepcionar o forasteiro, mesmo que ele seja apenas um simples viajante só de passagem. Aí diante de todas as honrarias e procedimentos hospitaleiros, os nativos atentam para qualquer informação do mundo exterior em uma grande conferência, como se fosse uma assembléia geral da cidade e aguardam contos grandiosos da grande cidade ou seja lá onde for, como as crianças que se juntam para ouvir as estórias do vovô.
Antes de tudo, no domingo à noite, quando estava voltando da igreja de minha noiva, em Guarulhos, ainda no ônibus, um bom amigo me telefonou e queria me relatar sobre a apresentação do Masada no dia anterior. Como estava perto de sua casa, desci do micro ônibus antes e fui até lá. Esse meu amigo é confiável em todos os sentidos e ainda mais nestas questões sobre música, pois possui um amplo conhecimento e sempre aplica uma análise empírica sobre qualquer assunto, jamais deixando sua opinião pessoal interferir ao relatar um fato ou transmitir algum tipo de informação. Ele me contou que a apresentação foi boa, que foi mais energética do que a que tinha presenciado em Tokyo à alguns anos atrás. Comentou sobre o costumeiro "unifome" de Zorn, calça militar camuflada, que Dave Douglas tinha envelhecido bastante desde a última vez que o viu e que o Joey Baron por ser careca, não mudou muito. Gostou das variações dos temas do Masada e questionou que possivelmente os incidentes com a organização e parte do público influenciaram Zorn a tocar furiosamente seu já costumeiro incendiário saxofone alto.
Mesmo o Masada ter vindo de uma estafante série de apresentações na américa do sul quase sem pausas, no estilo Do It Yourself (Zorn cuidou pessoalmente do managing do grupo), isso não interferiu na performance do Masada, que ofereceu o seu melhor.
Mas o motivo deste post foi a série de comentários á respeito dos incidentes e principalmente alguns comentários em particular que estão no post do weblog Free Form, Free Jazz de Fabrício Vieira. Chamaram o Fabrício de elitista, que exigia um protocolo, etiqueta e procedimentos extremamente rígidos, descabíveis para o público do local. Ora, francamente, quem tem 100 mangos para bancar uma "balada"(isso mesmo, pra muitos era apenas uma balada), teve acesso à educação e sabe ou deveria se comportar de forma coerente. A apresentação do Masada não é um show do Spinal Tap, nem sempre todo show é "rockenrrou", latas de cerveja amassadas na testa e as entoadas guturais da platéia. Às vezes nos sentamos para contemplar, ouvir música, pelo fato de tal tipo de música necessitar um grau diferente de atenção.
No mais, como Zorn tem apenas o compromisso de fazer o seu melhor em relação a arte e não paparicou e nem fez média com o brazilian people (precisamos erradicar essa visão de que o brasileiro é um povo especial e que merece um tratamento diferenciado dos gringos, pois somos todos iguais) e ainda por cima escarrou no "pobre" espectador e ganhou o apodo de esnobe e antipático. Misericórdia, se o gringo que vier ao Brasil não falar "i love samba, Pelé, Brazil!", não visitar um ensaio de escola de samba e tomar uma caipirinha, ele se torna uma persona non grata...
Bem, como senti a necessidade de falar sobre isso, não vou me estender mais do que isso, só lamento pela mentalidade das pessoas, que se tornam cada vez mais cruéis, irresponsáveis, incoerentes e intransigentes. Em resumo, o brasileiro em geral assemelha-se à uma criança mimada e mal educada, que gosta de hostilizar e fazer chacota de todo mundo, mas quando alguém faz qualquer observação, esperneia e diz que está sendo alvo de discriminação, preconceito, injustiça. etc.
No mais deixo o link do post sobra o Zorn no weblog do Fabricio Vieira e friso uma atenção aos comentários do leitor no post em específico:

sábado, março 17, 2012

Archie Shepp – A Sea Of Faces (1975)

Archie Shepp também faz parte dos músicos da música popular afro norte americana que dispensam comentários. Muito já foi relatado à seu respeito e infelizmente muitos apenas comentam sobre seu passado, sua associação com John Coltrane, encerrando-o no sepulcro dos ícones do jazz ou sei lá o que. Fire Music, Attica Blues... até quando vão ficar regorgitando sobre este assunto? O fato é que Shepp ainda está na ativa, não despeja mais sua fire music através do saxofone tenor, pois agora as limitações físicas o impedem de fazê-lo. Nas últimas décadas Shepp remodelou seu discurso, nos entrega uma arte mais serena. Destilou todo seu conhecimento, pesquisa, experiências e sua trajetória de vida do ponto de vista de um artísta fruto da diápora africana que se estabeleceu na américa do norte em poema cantando o blues. Sim, aquele mesmo blues que muitos conhecem, mas os campos de algodão se transformaram em edifícios, automóveis, o chicote e as correntes em sub-empregos e marginalidade. Mas o separatismo ainda está presente, não de forma explicita e legalmente exposta como antes, mas diluída num mar de faces da multidão. Shepp tem seus altos e baixos, o que é comum na maioria dos artístas, muitas gravações não acrescentaram nada de significativo para a música criativa. Afinal Shepp também é um ser humano igual a todos nós e as contas à pagar não levam em conta seus tempos de fire music. Em A Sea Of Faces, Shepp conta com grandes parcerias das quais gostaria de destacar, que são o pianista e compositor Dave Burrell, ainda em atividade, que deveria ter o reconhecimento devido por ser um dos principais pianistas do que ainda relutam em chamar de free jazz, ao lado e na mesma estatura de Cecil Taylor. O outro é o baterista Beaver Harris, que infelizmente ficou ofuscado por ser tratado apenas como o baterista do saxofonista que tocou com Coltrane. Beaver Harris além de tudo mais, avançou e desbravou outros territórios e participou do que se chamou de No Wave no undergound de New York. Também contou com a belíssima voz de Bunny Foy para declamar seu poema blues. Clique na imagem para acessar o arquivo.

terça-feira, março 13, 2012

Nuclear Assault – The Early Demos 84-85 (2010)

Ainda me lembro quando o lp Game Over foi editado no Brasil com pouco menos de um ano de atraso em relação ao lançamento oficial. Sem dúvida está entre os meus grupos favoritos de thrash metal e o Nuclear Assault sempre teve um vinculo com o hardcore na sua sonoridade, sendo muito próximo do estilo denominado crossover, que se tornou conhecido pelo grupo D.R.I.. Inclusive posso fazer uma analogia do Dirty Rotten Imbeciles com Ornette Coleman. Como?! Deixando de lado o elitismo musical detestável que foi imposto por aí, lançando fora as inúteis diferenças estilísticas, tudo é música, seja boa ou ruim e mesmo assim o que é bom ou ruim é pessoal e relativo. Assim como o título do disco de Ornette Coleman, Free Jazz, se tornou um rótulo de um estilo musical dentro da música feita na América do Norte nos anos 60, Crossover do D.R.I. também se tornou um rótulo na música feita na América do Norte nos anos 80.
Com certeza o Nuclear Assault influenciou e modificou significativamente o cenário heavy metal mundial assim como no Brasil. Tanto que teve grande influência num grupo que foi o divisor de águas de todos os tempos, o Sepultura. Não é por acaso que a tipografia do disco Schizophrenia, lançado no fim de Outubro de 1987, é a mesma de Game Over do Nuclear Assault de 1986. Schizophrenia foi a grande mudança do Sepultura em relação aos trabalhos anteriores, o split album Bestial Devastation e o lp Morbid Visions, com sonoridade voltada ao death metal tradicional, para a sonoridade mais thrash metal, com influencia do hardcore punk. E também se deu uma parceria com o grupo Ratos de Porão, ilustrando efetivamente o termo crossover. E aqui neste bootleg das duas primeiras demo tapes do Nuclear Assault podemos ouvir o início do desenvolvimento de mais um trabalho inovador que sempre teve em sua estrutura, o baixista Dan Lilker, sempre presente nas novas direções do rock mais agressivo, como o Anthrax, S.O.D., Extra Hot Sauce, Brutal Truth e suas ligações importantes com o grindcore. Clique na imagem para acessar o arquivo.

domingo, março 11, 2012

Anthony Braxton - This Time... (1970)

Dando continuidade aos artístas que despensam comentários, temos aqui uma pequena particula do universo sonoro criado por uma mente fora do comum, Anthony Braxton. É simplesmente assombroso o pleno domínio sobre quase todos os instrumentos de sopro que usam palheta e flautas. E não é só apenas sua técnica, velocidade, precisão, mas expressão, complexidade e beleza que saem de forma torrencial de uma mente que provavelmente não para de elaborar estruturas sonoras a todo instante. Me lembro da primeira vez que vi uma foto de Braxton, com instrumentos incomuns, como o clarinete contra-baixo ou o saxofone contra-baixo. Seus óculos e cachimbo me pareciam a mistura de um nerd, cientista louco como dos filmes, de professor de química. E ao deparar com os títulos, simbolos e figuras que denominavam suas composições, isso reforçou minhas impressões. Apreciador do tabuleiro de xadrez, amplo conhecimento da matemática aliados a maturidade e convicção artística estruturam o suporte para Braxton expressar suas emoções. Em meio a números, letras e diagramas, encontramos outros aspectos de Braxton, como Charlie Parker Project, Six Monk Compositions, interpretações de composições de John Coltrane, revelando as emoções, sentimento e espiritualidade, só que com a característica complexa e original dentro de seu amplo campo de criação. Braxton é o músico e compositor que melhor simboliza a junção da música criativa, que possui vários adjetivos, rótulos, o que denominaram vanguarda européia, afro norte americana, free jazz, free improvisation, enfim, essas baboseiras criadas pela indústria fonográfica e as midias musicais.
Em This Time... Braxton contou com a colaboração de parceiros grandiosos: Leroy Jenkins, Leo Smith e Steve McCall, que contribuiram de forma única e preciosa para o desenvolvimento da música criativa de forma coletiva e individual. Todos desenvolveram sua arte em torno dos conceitos da AACM, transportando para outros níveis o que floresceu no fim dos anos 40 na america do norte. Clique na imagem e compartilhemos este tempo...

ps: Muitos associam os nomes de revolucionários na formação de outros, como no caso de Braxton, mas é interessante como as coisas acontecem. Numa entrevista, o músico fala de suas influências na juventude e relatou que o pai de seu amigo lhe apresentou a música de Ornette Coleman e ele estranhou sua música e tinha preferência por Paul Desmond, o grande parceiro de Dave Brubeck. Só depois de algum tempo que Braxton digeriu a música de Ornette.

sexta-feira, março 09, 2012

Mal Waldron with Eric Dolphy and Booker Ervin – The Quest (1961)

Na verdade pensei duas vezes antes de fazer o post deste disco. Em primeira instância não queria pelo fato de ser uma gravação conhecida, de nomes bem acessíveis e substanciais fontes de informação disponíveis. Depois, por se tratar de um registro de 1961 e isso não desqualifica a riqueza da música registrada, mas devemos estar atentos ao contemporâneo até dentro do que se chama jazz, há muitos trabalhos interessantes para apreciarmos e eu particularmente como músico, não acho nada saudável ficar só ouvindo os grandes discos de jazz do passado.
Por fim resolvi fazer o post em lembrança do trabalho de Dolphy, que teve uma carreira curta e fatalmente interrompida. Qualquer gravação fuleira de algum standard do cancioneiro popular norte americano interpretado por Dolphy se transforma numa obra de arte fascinante. É sempre bom lembrar de Dolphy. Nas sessões de The Quest encontramos Ron Carter usufruindo de sua habilidade no violoncelo, deixando o contra baixo por conta de Joe Benjamin, baixista de New Jersey, com extensa carreira no jazz, basta pesquisar, assim como no caso de Booker Ervin e Charles Persip. Ah, o líder da sessão: Mal Waldron... o que dizer sobre ele? De Lady Day à Steve Lacy, com seu som vigoroso de fortes raízes ajudou a redigir a história da música afro americana do século XX. Clique na imagem para acessar o arquivo. Não há mais nada necessário à dizer.

quinta-feira, março 08, 2012

All - Everything Sucks demos (1996)

Ainda me lembro quando comprei meu primeiro lp do Descendents, o Liveage, numa loja de discos na notória rua 24 de Maio, numa galeria ao lado da Galeria do Rock. Isso foi por volta de 1989 e minha trilha sonora das skate sessions obviamente incluiam o Descendents, que vim a conhecer pelas músicas Theme e Coolidge que eram parte da trilha sonora escolhida pelos participantes do Savannah Slamma, um clássico das competições de street skate, como aqui em São Paulo tinhamos o Ladeira da Morte na modalidade downhill.
O Descendents se diferenciava pela sua sonoridade apurada dentro do punk, a guitarra de Stephen Egerton colocava a estética e técnica de Eddie Van Halen a serviço do punk rock, o baixo de Karl Alvarez me remetia aos contrapontos melódico-harmônicos de Paul McCartney. Bill Stevenson estava entre os bateristas mais criativos do hardcore norte americano, preciso, ágil e pesado, além de ser um grande compositor. Milo Aukerman com certeza derreteu muitos corações com sua voz simples e romantica. Como muitos que acompanhavam as notícias do cenário hardcore, Milo escolheu se ausentar do Descendents por conta de sua vida acadêmica, sim, Milo é cientista (não é a toa a aurea nerd que virou símbolo do grupo, que é a caricatura de Milo nos tempos de colégio fez, o tal do bullying que hoje tanto se fala). Então os integrantes do Descendents resolveram desenvolver outro projeto enquanto Milo não voltava, surgindo o All, uma materialização dos conceitos proclamados no último disco do Descendents: All, de 1987, que possuia até um manifesto/constituição em forma de música: All-O-Gistitcs. A primeira fase contou com Dave Smalley que cantava no DYS, Dag Nasty e posteriormente no Down By Law. Com a entrada de Scott Reynolds, o All consolidou sua sonoridade mais apurada, que passeava naturalmente pela música popular norte americana, ou seja, ali estavam, o ragtime, country, rock'n'roll, pop, hardrock e é claro o punk rock de forma homogênea e original. Depois veio Chad Price com um estilo mais rock, mais agressivo e o All deixou um pouco de lado as inúmeras variações nas músicas e ficou mais pesado. Embora Chad Price tivesse algo semelhante a Scott Reynolds, não possuia digamos, a fluidez soul de seu antecessor. O All se tornou mais primal e de certa forma se aproximou mais do Descendents, tanto que os dois projetos acabaram se misturando.
Quase 10 anos depois do último registro inédito do Descendents, o tão esperado retorno de Milo em Everything Sucks, com músicas inéditas. Milo não esteve distante de seus amigos, tanto que participou das gravações de Breaking Things, do All, o disco em que Chad Price assumiu o posto de vocalista. E atestando que o All e Descendents eram um só, independente do fato que todos os integrantes são os mesmos e só se diferenciam pelos vocalistas, sonoridade e composições, temos aqui a versão All do Everything Sucks do Descendents, com músicas inéditas e versões das outras incluidas na versão oficial. Clique na imagem para acessar o arquivo. Enjoy!

quarta-feira, março 07, 2012

Jodie Christian - Rain Or Shine (1993)

Recentemente foi publicado aqui no blog sobre o pianista, compositor e co-fundador da AACM, Jodie Christian, em sua homenagem póstuma, aqui podemos apreciar um de seus trabalhos ao lado de Art Porter, saxofonista nascido em 03/08/1961 na cidade de Little Rock - Arkansas, U.S.A., filho de um baterista com quem começou sua carreira musical na adolescência. Em meados dos anos 80 mudou-se para Chicago e tocou con Von Freeman, Pharoah Sanders e Jack McDuff. Entre 1992 e 1998 lançou cinco albuns e infelizmente sua carreira encerrou-se prematuramente quando estava participando do Thailand International Jazz Festival em 23/11/1996. Estava em um barco que naufragou e se afogou. Tinha apenas 35 anos de idade.
Rain Or Shine conta com Roscoe Mitchell, que despensa comentários. O baixista Larry Gray nasceu em Chicago e é também professor na Universidade de Illinois, tendo trabalhado com McCoy Tyner, Jack DeJohnette, Danilo Perez, Branford Marsalis, Benny Green, Freddy Cole, Benny Golson, Steve Turre, George Coleman, Lee Konitz, Bobby Hutcherson, Sonny Fortune, Ira Sullivan, Junior Mance, David "Fathead" Newman, Willie Pickens, Ann Hampton Callaway, Charles McPherson, Antonio Hart, Jackie McLean, Sonny Stitt, Eddie "Lockjaw" Davis, Al Cohn, Randy Brecker, Nicholas Payton, Kurt Elling, Eric Alexander, Phil Woods, Jon Faddis, Roscoe Mitchell, Von Freeman, Wilbur Campbell, Eddie Harris, Les McCann, Kenny Burrell, Joe Pass, Tal Farlow, Donald Byrd, Harry "Sweets" Edison, e Tom Harrell. O baterista Vincent Davis nasceu em Chicago e como membro da AACM trabalhou com Nicole Mitchell, Fred Anderson, Ernest Dawkins' New Horizons Ensemble, Greg Ward, Kidd Jordan entre outros. O baterista Ernie Adams estudou na North Texas State University e the University of Wisconsin, trabalhou com Joe Williams, Douglas Spotted Eagle, Orbert Davis e The Chicago Jazz Philharmonic, Patricia Barber, Stefon Harris, Art Porter, Stanley Turrentine, Dizzy Gillespie, Dianne Reeves, Bill Summers, Kurt Elling, Karen Briggs, Billy Dickens, Steve Cole, Phil Upchurch, Baabe Irving III, Von Freeman, Melvin Rhyne, Bobby Lyle, Richie Cole, James Moody, Rufus Reid, Buster Williams, Ursula Dudziak, Joe Zawinul, Slide Hampton, Frank Morgan, Arturo Sandoval, Charles Earland, Wycliff Gordon, Claudio Roditi, Ken Peplowski, Michael Wolff, Marvin Stamm, Clark Terry, Pharoah Sanders, Ahmad Jamal, James Spaulding, The Bodeans, Kenny Drew Jr, Anthony Jackson, Orbert Davis, Grazyna Auguscik, Red Holloway, clinicas com Victor Wooten, Steve Bailey, Jack McDuff, Joey DeFrancesco e Piero Esteriore. Clique na imagem para acessar o arquivo.

segunda-feira, março 05, 2012

Improvisação livre em São Paulo: Cuidado com o disco voador ou tem boi na linha

As oficinas ou workshops ministradas por músicos de diversos países, apresentando a improvisação livre de forma mais acessível ao público em geral em São Paulo tem dado seus frutos, mas ainda há uma fragilidade. Como a primeira safra de um novo fruto, existe o processo de adaptação do clima, do solo, da resistência às pragas. Sim, as pragas, não há plantação que não esteja sujeita aos danos predatórios.
Mesmo que as oficinas não tenham conseguido atingir seu objetivo no planejamento de seus ministradores, algo de substancial aconteceu nestes pouquíssimos anos que a improvisação livre conseguiu romper a barreira de isolamento que vários setores sócio-culturais impuseram. Como este blog já tinha abordado antes, há um grande mérito ao projeto iniciado por Antonio "Panda" Gianfratti e Yedo Gibson, o Abaetetuba, que agregou Rodrigo Montoya, Renato Ferreira, Luis Gubeissi, Thomas Rohrer, como coluna de fundamento, foco de resitência da música criativa. Obviamente existiam outras iniciativas que começaram a florescer posteriormente, mas algumas ainda continuam de certa forma, isoladas. Alguns dos participantes das oficinas deram continuidade da iniciativa gerada nas circunstâncias e alguns deles tenho cultivado um vínculo e eles por sua vez, tem impulsionado o setor operacional independente dos improvisadores em formação em São Paulo.
Creio que meus colegas já tenham percebido que não podem depender de nenhuma instituição, seja SESC's, ou mesmo o próprio Centro Cultural São Paulo, que abrigou as oficinas e promoveu a maioria das apresentações de improvisadores de outros países, para tornarem o que se chama de circuito de improvisação livre em SP efetivo. Mesmo as instituições culturais de iniciativa pública, sejam municipal ou governamental, ligada ao setor terciário da indústria, tem seus vários poréns em relação às manifestações artísticas. Não se engane, estas instituições e fundações não são os "bons mocinhos" desta terrível e cruel fábula que é viver em uma megalópole fora de controle. Há interesses políticos e econômicos que estrategicamente não são manifestados para tudo se manter no controle e simplesmente ser apenas mais um tubo de dreno do suor e sangue da população. Hum, isto está parecendo um seriado de investigação misturado com suspense, ficção... Acorde! É simplesmente a realidade. Portanto meu querido(a), lute para manter livre a sua mente e espírito, pois são as únicas coisas que você pode realmente ser livre. Não se iluda, você está dentro do sistema. Não, não é uma passeata, uma agremiação, camiseta do Che ou Dalai, livro do Marx, do Huxley, uma estrela, uma foice, o Fela, nem chamar o Sun Ra lá de Saturno (ainda mais que lá não acontece muita coisa mesmo), que vai te fazer livre. Calling planet earth, calling planet earth... You can call me mr. Mystery...
O que me intriga é o interesse de pessoas que até pouco tempo não se importavam com a improvisação livre, mesmo elas tendo acesso a diversos meios de informação sobre este segmento musical. Elas ignoravam as iniciativas do Abaetetuba, que se apresentava periodicamente pela cidade e não eram apresentações secretas e mal divulgadas, simplesmente essas pessoas não estavam interessadas. O Phil Minton foi um dos primeiros improvisadores a se apresentar em São Paulo e mesmo assim, mesmo com o costumeiro frenesi paulistano por artístas estrangeiros, mais uma vez, essas pessoas não se interessaram.
O cenário independente ou underground cresceu de forma peculiar em São Paulo. A diversidade teve um saldo mais deficitário do que deveria. A busca de identidade própria causou uma distorção digamos, grotesca (como meu amigo Panda costuma dizer).
A improvisação livre musical ou free improvisation como é conhecida no mundo, tem sua própria identidade, mesmo que hajam diversas formas estéticas. Como é natural do ser humano tender a complicar as coisas, existem segmentos na música. Então temos que tolerar certas burocracias para não sermos impedidos de operar, afinal qualquer pessoa com o mínimo de bom senso não vai tirar um "racha" com sua bicicleta perante um caminhão de cinco eixos. E nesse louco processo, a improvisação livre por não poder ainda ter a sua caixa postal indiviual, teve que dividir o espaço com a música experimental, o que chamam de jazz e free jazz. Mas essa divisão de espaço não é no sentido positivo de comunhão, mas de ser colocada no mesmo "saco", por negligência mesmo.
Neste habitat, onde não há fronteiras, (afinal, não é livre esta tal de improvisação livre?) acaba sempre entrando interferência. Opa, tem boi na linha... Pois é, como tinha dito anteriormente, agora as tais pessoas desinteressadas pela improvisação livre tem voltado seus olhos para esta pequena e frágil muda que começou a florescer. Realmente é um mistério o interesse destas pessoas nisso. Na Free Improvisation de forma global, há pouco dinheiro, não há fama, quase nenhum reconhecimento pelo público e midia cultural, há público reduzido, muito trabalho e muitas dificuldades. Afinal, o que eles querem? Por que eles querem se apropriar de algo que sempre ignoravam e nunca prejudicou seus "nichos", "territórios"?
A nave pousou e desembarcaram alienígenas em forma de músicos, organizadores, simpatizantes que apenas querem usar a improvisação livre como moeda de troca no jetset cultural, mesmo sendo underground. Aí está o mistério, não há glamour, mas a vaidade floresce mesmo no monturo. Estes já iniciaram suas atividades e tem usado de seus recursos para favorecer seus próprios interesses. Não há como negar, assim como o que nega ter comido o doce tendo os lábios lambusados. Estive conversando com meus amigos que fazem parte do esforço de trabalho pela música criatviva e eles também detectaram estas coisas. Não há muito o que fazer além de continuar a seguir com o trabalho, dedicação e sinceridade. Os gafanhotos vem devorar a lavoura, o que resistir manifestará a sinceridade sem necessidade de uma palavra sequer, apenas sons, apenas música.
Improvisadores, principalmente vocês meus caros, que estão iniciando esta jornada, cuidado com o disco voador. Sim, há joio no meio do trigo mas não se pode arrancar, pois ele ainda se assemelha muito com o trigo. Só no final da colheita, quando vier a chuva serôdia, é que há de se manifestar quem realmente são. E alguns já tem dado seus sinais. (parece uma profecia supersticiosa, mas é simplesmente uma forma poética de dizer algo muito real, racional e previsível)
 
 
Studio Ghibli Brasil