domingo, fevereiro 27, 2011

So What?

Não é definitivamente aquela música de Kind Of Blue, não tem clima cool, o negócio é mais porrada mesmo, o buraco é mais embaixo. Também não é nenhuma novidade a degradação dos valores sociais e consequentemente culturais deste país, que abraça qualquer restolho, como se fosse um tesouro ou a cereja do bolo.
Temos duas estréias no cinema, o documentário sobre Justin Bieber e o filme da Bruna Surfistinha. Não, aqui não tem espaço para pré-conceito ignorante e pseudo-moralista para apedrejar a prostituta (no caso, ex-profissional do sexo).
O caso aqui é meramente o baixo nível de qualidade cultural mesmo. Realmente o cinema nacional consegue abordar e esbanjar dinheiro em cada assunto... Por favor, não me venham dizer que o filme é construtivo, que mostra uma realidade sobre a prostituição e outros argumentos, por favor, se alguém é simpatizante do filme, ignore sumariamente este blog. Assim como o documentário de Justin Bieber, que já escreveu uma biografia, só falta ter um filho e
plantar uma árvore, para seguir este jargão estúpido. O rapaz está bem acessorado, é melhor fazer estas coisas, antes de cair no ostracismo, como outros produtos de mercado fonográfico. Olha o nível, antes o que se tinha como prodígio, era o Michael Jackson nos tempos de Jackson 5, Stevie Wonder em sua adolescência. Agora está valendo tudo mais do que nunca, já chamam o jogador Dentinho de ator, o Neymar também, a Paris Hilton também chamam de artísta, de cantora... What a woderful world!
E mais uma vez o monopólio televisivo esfrega na cara da população e goela abaixo o que determinam. Mais uma vez Regina Casé se presta ao papel de que é bonito ser "feio", no seu programa que "é a cara do povo", assim contribuindo para os poucos neurônios da população trabalhar menos ainda. Afinal é domingo, né? Quem quer saber de cultura, arte, reflexão, crítica e auto-crítica em pleno domingão? Não são todos filhos de Deus? Já não chega a massacrante rotina da labuta semanal? O povo quer curtir, relaxar, beliscar um petisco e tomar uma geladinha, em frente da telinha... plim, plim... evil has no boundaries!
E o que chamam de elite cultural não está imune à essa contaminação. Até no gueto da música improvisada, do free jazz, da arte de vanguarda, já se manisfestam os embustes artísticos, que produzem uma massaroca sonora ou visual, camuflada com um "release" conceitual recheado de citações alheias e referências, como fazem os publicitários, mas o conteúdo é oco como uma árvore infestada de cupins. E a platéia chama para o encore... maravilha! Mas quem se importa? E daí? So what?


So What - Ministry

Die! die! die! die!
Scum sucking depravity debauched!
Anal fuck-fest, thrill olympics
Savage scourge supply and sanctify
So what? so what?
Die! die! die! die!

Die! die! die! die!
You said it!
Sedatives supplied become laxatives
My eyes shit out lies
I only kill to know i'm alive
So what? so what?
Die! die! die! die!

Die! die! die! die!
So what, it's your problem to learn to live with
Destroy us, or make us saints
We don't care, it's not our fault that we were born too late
A screaming headac
he on the brow of the state
Killing time is appropriate
To make a mess and fuck all the rest, we say, we say
So what? so what?
Die! die! die! die!

Die!
Now I know what is right
I'll kill them all if I like
I'm a time bomb inside
No one listens to reason,
It's too late and i'm ready to fight!
So what? now i'm ready to fight!

quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Youth Of Today - We're Not In This Alone (1988)

Me lembro do dia em que meu amigo Marcos recebeu pelo correio o lp do Youth Of Today, no fim dos anos 80. A facção denominada straight edge do hardcore punk ainda dava seus primeiros passos e mesmo que anteriormente Ian Mackaye declarava abertamente sua escolha pessoal em uma letra na canção entitulada Straight Edge, no início dos anos 80 com o Minor Threat, sobre o alcool, drogas e sexismo no meio punk, o Youth Of Today foi o principal ícone desta nova ideologia. O emblemático "X" na mão dos straight edgers foi tirado de um procedimento comum nos clubes em que se realizavam shows de hardcore, para evitar que as bebidas alcoólicas fossem consumidas por menores de idade. O Y.O.T. não tem nada de espetacular em termos de música. Seu pioneirismo reside apenas na ousadia e convicção de adolescentes que expressaram suas opiniões e condutas em uma época em que não ser junk, era considerado uma atitude retrógrada, coisa de nerd, etc. O lance é ser loucão, beber até cair, fazer sexo como uma animal, etc e etc... Os liberais de plantão entraram num paradoxo, pois não podiam aceitar alguém ser livre e feliz sem usar algum aditivo, seja uma droga ilícita, ou uma simples cerveja. Claro que esse negócio saiu de controle, chegando à misturar religião e exageros, contradizendo o preceito de escolha pessoal. Mas não quero debater este assunto e sim a música.
O que mais gostei quando ouví este disco, foi a espontaneidade, a energia, com o mínimo de recursos técnicos em termos de música. Nada de novo, apenas o frescor da vontade de fazer um som rápido e expressar suas idéias. O Y.O.T. mudou a vida de um número considerável de jovens, mais para o bem do que para o mal e foi mais útil do que muitas coisas que gozam um status de cool por aí. We're Not In This Alone é um capítulo importante na história do punk e quem gosta do som rápido, urgente, característicos do estilo hardcore punk, vale conferir, clicando na imagem e acessando o arquivo.

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Música em São Paulo, vai pensando que tá bom...

Mesmo que muitos tenham a nítida impressão de uma melhoria no cenário musical paulistano, a realidade não é tão animadora. Sim, temos a Virada Cultural, mais locais públicos e privados oferecendo música em comparação à décadas atrás, a world wide web como ferramenta que tirou o monopólio e restrição de acesso à informação, etc. Mas na equação que engloba a criatividade e qualidade, os números decresceram consideravelmente. Talvez alguns coloquem a culpa nos grupos de barzinho que tem repertório de covers para animar o happy hour paulistano, mas isso não tem vínculo com a queda de qualidade artística. Alías, os grupos cover até que melhoraram suas performances, e muitos chegam perto de um clone, que atende a demanda de consumo.
Mas o cenário independente é que perdeu muito do que era dos anos 80 até hoje. Sim, as bandas podem contar com instrumentos de qualidade e até um equipamento de som satisfatório para as apresentações, assim como os locais, pois eu me lembro que assistí muitos shows de heavy metal que eram efetuados de forma amadorística em colégios da rede municipal e estadual, e depois os de hardcore, invadindo as pistas de dança dos night clubs undergrounds que tinham um público alvo diferente.
Até podemos contar com apresentações esporádicas de improvisação livre, situação que era impossível até então. Mas infelizmente, não relatamos um crescimento significativo e apenas a variação dos mesmos músicos nos mesmos espaços. Ainda não se formou um cenário coeso de improvisadores e nem de jazz aqui em São Paulo, que muitos insistem de forma constrangedora de sermos comparados às grandes metrópoles no mundo. Só em contingente populacional, pois em termos de infra estrutura e cultura, continuamos capengando de forma vergonhosa, mesmo com uma linha de metrô que opera sem condutor(eita que maravilha esta tecnologia, hein?).
Mesmo que por vez ou outra faraós e orquestras intergalácticas nos visitem, ainda nos encontramos numa em situação em que se reinicia(restart) o sistema...

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Einstürzende Neubauten - Stahlmusik (1980)


Não sei se é por conta do nome em alemão de difícil pronúncia, que atrapalha o reconhecimento deste grupo, mas suspeito que seja por outros motivos injustos (isto se encaixa em nível de Brasil). Einstürzende Neubauten significa Novos Edifícios em Colapso, ilustrando um conceito artístico do grupo, sobre a arquitetura alemã pós Segunda Guerra Mundial, em que os novos edifícios construidos depois de 1945 eram de material mais frágil, mais barato e com menos atrativos estéticos.
Talvez alguém se lembre do guitarrista e vocalista Blixa Bargeld pela sua participação nos grupos Birthday Party e Bad Seeds de Nick Cave, ou da apresentação no sesc Belenzinho nos anos 90 à R$ 5,00, ou do lançamento em vinil do disco Haus Der Lüge nos anos 80, o famoso disco de capa preta com o cavalo vermelho. Aliás esta saudosa época, a indústria fonográfica nacional, por conta de contrato que obrigavam à lançar alguns ítens de catálogo como condição de vender os títulos mais famosos, podíamos acessar o mais variado tipo de música em simples lojas de disco de bairro. Eu mesmo me deparava com lp's do Laibach, 45 Grave em lojas populares do meu bairro.
Bem, vamos ao Neubauten. O grupo ficou conhecido pelo chamado estilo industrial, que juntava os elementos do punk rock, com os ruídos de elementos não musicais, como furadeiras, britadeiras, canos e chapas de metal, enfim, de ferramentas industriais e de construção em sua música. Quando se fala em experimentalismo musical, Eintürzende Neubauten é um nome obrigatório e fundamental, como o conterrâneo Kraftwerk é para a música eletrônica.
Stahlmusik foi gravado dentro de um pilar da ponte Stadtautobahn em Berlin. Clique na imagem para acessar o arquivo e se você ainda não conhece o trabalho do Neubauten, este é o convite para adentrar neste especial capítulo da música mais ousada feita no fim do séc.XX.
Para saber mais:

http://neubauten.org/

sábado, fevereiro 12, 2011

Cultura brasileira ou seria curtura brazuca? (Nunca fomos tão provincianos no pior sentido da frase...)

Nesta bela manhã de sábado, leio o jornal de bairro e me deparo com uma reportagem sobre projeto urbanístico no bairro em que resido à quase 40 anos: Projeto de fazer um boulevard (Termo em francês que designa um tipo de via de trânsito, geralmente larga, com muitas pistas divididas nos dois sentidos, projetado com preocupação paisagística) na Rua dos Pinheiros. A tal rua só possui duas pistas de tráfego com um único sentido, consequentemente inviabilizando o projeto.
Bem, mais uma vez o uso indevido das palavras é usado e aqui nesta terrinha, a tal da descontração brazuca trata de transfigurar as coisas e numa liberalidade tal, que promove a inutilização do dicionário da língua portuguesa e o que dirá sobre a estrangeira. O jeitinho brasileiro faz tudo à seu modo, não importando o que seja realmente correto. Como diria Homer Simpson, "Dane-se Flanders!, ou melhor, dane-se, dicionário!".
Como morador do bairro, seria beneficiado em muitos termos neste projeto, mas na verdade o que me incomodou foi uma observação no projeto, que segundo os idealizadores, é inspirado nos boulevards europeus. Aí reside o cancro sócio-cultural brazuca, o desespero de se equiparar com algo supostamente superior, chic, sofisticado, etc. Uma convulsão violenta tenta empurrar para debaixo do tapete as mazelas de uma cidade em crescimento desordenado,
tomando conta de tudo e de todos. Quando não é possível maquiar a cidade com uma fachada de pretenso primeiro mundo, tenta-se justificar com um cenário vintage (Estilo que resgata a estética de décadas passadas) que nunca existiu, como por exemplo, a onda de botecos que assolou a Vila Madalena, ou a propaganda recente da cerveja Bohemia. Até parece que o brasileiro tomava a birita ao som do swing ou ragtime, nas primeiras décadas do séc.XX, num boteco na Rua Boa Vista...
A realidade é bem diferente, o cidadão toma cerva de pouca qualidade num bar de azulejos genéricos ao som estridente de música de péssima qualidade, como pagode, sert
anejo e axé, com a possibilidade de haver uma briga, um assalto, alguém vomitar no seu pé, regado à fumaça preta e carregada de poluentes dos ônibus e o cheiro de óleo velho da máquina de frituras.
Do outro lado, temos um pequeno trecho da Rua Oscar Freire, onde fizeram o tal do boulevard, onde os pobres(no sentido espiritual) paulistanos abastados tentam se sentir em Champs-Élysées ou numa parte de Manhattan.
Só aqui em Pinheiros, brotaram alguns bistrôs e é muito triste observar os frequentadores e seu comportamento soberbo. Mais uma vez, vamos ao dicionário:
Bistrô: restaurante ou bar pequeno e simples, porém muito aconchegante. Muito populares na França, onde se servem bebidas alcoólicas, café e outras bebidas. Servem também comidas simples a preços acessíveis.
Quem sabe alguém tem a má idéia ( suspeito que existem alguns estabelecimentos que já tiveram esta brilhante idéia) de tornar em algo elegante o famoso PF de bar. Aí meu caro, pra comer barato, só no Bom Prato...

segunda-feira, fevereiro 07, 2011

Funkadelic - Standing on the Verge of Getting It On (1974)

O mais emblemático disco do Funkadelic que sintetiza a fusão do rock com o funk, isso em termos gerais, pois o amálgama desses dois estilos engloba outras vertentes musicais que compõem os principais elementos da música norte americana. Em Standing On The Verge Of Getting It On o grande destaque é o guitarrista Eddie Hazel, que era como um sucessor de Jimi Hendrix. Seu talento ficou registrado para a história da guitarra anteriormente em Maggot Brain de 1971, em seu longo e belíssimo solo. Não existiria Red Hot Chili Peppers sem as músicas Red Hot Momma (alguma semelhança com o título?) e Alice in My Fantasies com todo seu peso e exuberância, influenciados pelo rock psicodélico dos anos 60. Mas também há a releitura de I'll Wait do The Parliaments, I'll Stay, numa linda versão de derreter o coração. A faixa título e Sexy Ways impossibilitam o ouvinte ser apenas ouvinte. Jimmy's Got a Little Bit of Bitch in Him tem a nítida influência dos trabalhos de Frank Zappa and Mothers, tanto na sonoridade, quanto no humor bizarro e Good Thoughts, Bad Thoughts fecha o disco de forma contemplativa e psicodélica, se assemelhando a faixa Maggot Brain, em longos doze minutos. Faço questão de postar sobre o Standing On... aqui, mesmo que haja inúmeros posts, artigos ainda circulando por aí. Clique na imagem para acessar o arquivo e divirta-se.
 
 
Studio Ghibli Brasil