Estamos encerrando a primeira década do século XXI e ainda se perde tempo com os rótulos e nichos de mercado. É um assunto abordado à exaustão pelos críticos de música, que em sua maioria, argumentam segundo suas fontes de pesquisa e estudo, segundo suas teorias e interpretações sobre teorias alheias. Muitos usam do argumento que sabem que isso não é importante, mas se faz necessário como forma didática ao público. Aí é que reside o erro. Perpetuam este conceito pobre de rotular com expressões que foram criadas em circunstâncias nem sempre bem esclarecidas. West Coast Jazz, por exemplo, o que isso quer dizer? Ah, o estilo de Jazz feito na costa oeste dos EUA, mais cool, diferente da costa leste, do ritmo duro e estressante das grandes cidades, de New York... Então o Ornette é o que então, se seu primeiro disco foi lançado por um dos principais selos "West Coast" que é a Contemporary Records, sob a indicação do baixista Red Mitchell? E o Herman Blount (Sun Ra), é o que, "Saturn style"?
Isso definitivamente já era, meu caro. O perfil de consumo musical mudou drasticamente nestes últimos 20 anos, já não se vai à uma loja e nem se encontram tais com os compartimentos de gravações separados por estes sub-gêneros e as pessoas não consomem música desta maneira.
Uma vez ou até mais de uma, perguntaram ao Max Roach se ele ouvia Jazz e ele disse que não, que só ouvia música. O Art Ensemble Of Chicago prefere chamar artisticamente seu trabalho de Great Black Music, Peter Brötzmann diz que sua música pode se chamar de Jazz, mas isso ele quer dizer que ele começou a tocar saxofone por conta de músicos como Ben Webster e Coleman Hawkins e a palavra Jazz diz a ele como um estilo de vida, não um rótulo musical, de gênero musical, estilo musical.
Há tantos elementos dentro da obra de muitos artístas que soa muito pobre, deficiente e equivocado rotular desta forma. Se uma pessoa escutasse o Sketches Of Spain, sem saber que era Miles Davis, provavelmente não diria que é um disco de Jazz, assim como diriam que Machine Gun de Brötzmann nem deveria ser considerado como música, devido a sua torrente sonora agressiva fora dos padrões populares de rítmo, harmonia e melodia. Definitivamente isto não funciona da melhor maneira, pelo contrário, cria vícios e limita o espectro de concepção de arte, de música de um indivíduo.
Amigos, não sou melhor do que nenhum ser humano da face da terra, mas como dizem, fiz minha lição de casa. Muita leitura de livros, artigos, entrevistas, audições, prática e estudo musical individual e coletiva. Então eu também fecho com os artístas mais experientes que ignoram a relevância destas denominações como Free Jazz, Cool Jazz, Hard Bop e etc. esta é minha opinião como um simples músico, apenas isso.
É esse tipo de conceito antropológico equivocado que gera conflitos, pré-conceitos, bairrismo, segmentarismo no mau sentido e até racismo e intolerância. Pode soar radical esta observação, mas é só observar os fatos, a história e se pode identificar estes sintomas.
Como Ornette é o assunto em voga em São Paulo recentemente ou a bola da vez, em sua singela simplicidade e sabedoria, ele proferiu: THIS IS OUR MUSIC...
terça-feira, novembro 30, 2010
sexta-feira, novembro 19, 2010
Todo mundo ama o Ornette
Neste último domingo do mês de Novembro o quarteto de Ornette Coleman se apresentou no Sesc Pinheiros num final de tarde quente e ensolarada.
Não pude deixar de observar a mudança ocorrida na rua Paes Leme que hoje abriga o Sesc. Antes, à vinte anos atrás, neste mesmo local e na mesma hora, a rua estaria tomada de outro público, que frequentava o extinto salão Asa Branca, onde rolavam os bailes. Os termos eram diferentes, os bailes, que eram funk, não tinham nada haver com o que se hoje fala do baile funk. Não tinha esse negócio de "baile black" e "manos" e o tal do funk carioca. Vários jovens eram chamados de "função", trajavam camisa polo (ou as famosas camisas de vôlei azul do time Pirelli com gola), calça jeans com a barra alargada com uma tira de couro (as famosas "pizzas") e o cabelo escovinha (corte com máquina bem baixinho e se fazia um vinco no lado esquerdo ou direito no topo, como se fosse uma divisão no cabelo). O pessoal não era tão chegado em rap, no máximo curtiam um Zapp, Kurtis Blow, Whodini. Se o público do Sesc estivesse alí naquele tempo, teriam saído correndo temendo um arrastão. Neste domingo, era um desfile de smartphones, tênis importados e predominância de pessoas "brancas", de classe média.
Bem, vamos ao Ornette. Confesso que não tenho mais aquele frenesi por conta de um show internacional, tanto que já estava tranquilo de não ver o Ornette porquê não tinha dinheiro para comprar o ingresso, que se esgotou rapidamente bem antes. Mas fui abençoado com um par de ingressos e fui com minha amada. Cheguei na hora marcada, afim de não ficar naquela "sala de estar" deste tipo de evento, onde todo mundo "ama" o Ornette. Sim, pois a maioria do público nem dava bola para o que o Ornette andou fazendo nestes últimos anos e se falavam alguma coisa, era de seu passado, do quarteto com Don Cherry, Charlie Hadden e Billy Higgins ou Ed Blackwell, de Lonely Woman ou Free Jazz. Eu não estava afim de ver o mito, o ícone e sim, apenas boa música (This Is Our Music)...
O auditório estava cheio e animado, parecia um público de show de rock, com gritos, palmas e assovios inflamados. Num momento, alguém gritou: "Ornette eterno!!!". Alguns ignoram seu valor artístico e apenas enxergam um velhinho negro americano do jazz e suprem suas carências de entretenimento.
Ornette executou várias composições conhecidas de sua carreira, mas de forma diferente do formato original, tornando-as vívidas, vibrantes, emocionantes, com o frescor de sua criação. Bem diferente de ver o Paul cantando Sg. Peppers. Não tinha este aspecto museológico, definitivamente. Ornette continua o mesmo agora com um saxofone alto de qualidade, pois aquele famoso de plástico branco, era por conta da falta de dinheiro para comprar um melhor. Não perdeu sua técnica pelo avanço e limitações físicas da idade, seu som soa tão bom quanto naqueles tempos. Denardo, seu filho, que estreou ao lado com 10 anos de idade na gravação Empty Foxhole e está também em exelente forma e técnica na bateria. Ouve um momento em que acabou a luz na região e eles tocaram Lonely Woman no escuro e sem amplificação, até voltar a energia elétrica. O público foi ao delírio. No final o quarteto ficou um bom tempo recebendo o público à beira do palco.
Mas o que mais me emocionou foi presenciar pai e filho partilhando música com o público, não importava se eram Ornette e Denardo Coleman.
Não pude deixar de observar a mudança ocorrida na rua Paes Leme que hoje abriga o Sesc. Antes, à vinte anos atrás, neste mesmo local e na mesma hora, a rua estaria tomada de outro público, que frequentava o extinto salão Asa Branca, onde rolavam os bailes. Os termos eram diferentes, os bailes, que eram funk, não tinham nada haver com o que se hoje fala do baile funk. Não tinha esse negócio de "baile black" e "manos" e o tal do funk carioca. Vários jovens eram chamados de "função", trajavam camisa polo (ou as famosas camisas de vôlei azul do time Pirelli com gola), calça jeans com a barra alargada com uma tira de couro (as famosas "pizzas") e o cabelo escovinha (corte com máquina bem baixinho e se fazia um vinco no lado esquerdo ou direito no topo, como se fosse uma divisão no cabelo). O pessoal não era tão chegado em rap, no máximo curtiam um Zapp, Kurtis Blow, Whodini. Se o público do Sesc estivesse alí naquele tempo, teriam saído correndo temendo um arrastão. Neste domingo, era um desfile de smartphones, tênis importados e predominância de pessoas "brancas", de classe média.
Bem, vamos ao Ornette. Confesso que não tenho mais aquele frenesi por conta de um show internacional, tanto que já estava tranquilo de não ver o Ornette porquê não tinha dinheiro para comprar o ingresso, que se esgotou rapidamente bem antes. Mas fui abençoado com um par de ingressos e fui com minha amada. Cheguei na hora marcada, afim de não ficar naquela "sala de estar" deste tipo de evento, onde todo mundo "ama" o Ornette. Sim, pois a maioria do público nem dava bola para o que o Ornette andou fazendo nestes últimos anos e se falavam alguma coisa, era de seu passado, do quarteto com Don Cherry, Charlie Hadden e Billy Higgins ou Ed Blackwell, de Lonely Woman ou Free Jazz. Eu não estava afim de ver o mito, o ícone e sim, apenas boa música (This Is Our Music)...
O auditório estava cheio e animado, parecia um público de show de rock, com gritos, palmas e assovios inflamados. Num momento, alguém gritou: "Ornette eterno!!!". Alguns ignoram seu valor artístico e apenas enxergam um velhinho negro americano do jazz e suprem suas carências de entretenimento.
Ornette executou várias composições conhecidas de sua carreira, mas de forma diferente do formato original, tornando-as vívidas, vibrantes, emocionantes, com o frescor de sua criação. Bem diferente de ver o Paul cantando Sg. Peppers. Não tinha este aspecto museológico, definitivamente. Ornette continua o mesmo agora com um saxofone alto de qualidade, pois aquele famoso de plástico branco, era por conta da falta de dinheiro para comprar um melhor. Não perdeu sua técnica pelo avanço e limitações físicas da idade, seu som soa tão bom quanto naqueles tempos. Denardo, seu filho, que estreou ao lado com 10 anos de idade na gravação Empty Foxhole e está também em exelente forma e técnica na bateria. Ouve um momento em que acabou a luz na região e eles tocaram Lonely Woman no escuro e sem amplificação, até voltar a energia elétrica. O público foi ao delírio. No final o quarteto ficou um bom tempo recebendo o público à beira do palco.
Mas o que mais me emocionou foi presenciar pai e filho partilhando música com o público, não importava se eram Ornette e Denardo Coleman.
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terça-feira, novembro 16, 2010
Repressão ao artesanato de rua pela Prefeitura de São Paulo e a Associação de Amigos da Praça Benedito Calixto
Esta situação tem se agravado nestes últimos tempos, quando a velha Feira das Pulgas ou Feira da Benedito Calixto, que ocupa o espaço público situado em uma praça entre as ruas Teodoro Sampaio e Cardeal Arcoverde aos sábados, com o intuito de vender antiguidades, artesanato, discos e livros usados, tem perdido uma parcela de público para a feira de rua que fica na calçada da Teodoro Sampaio, entre as ruas Lisboa e João Moura, composta por artesãos e fica logo na esquina da Pça benedito Calixto, funcionando como uma extensão independente neste pequeno circuito cultural do bairro de Pinheiros.
Comandada pela Associação de Amigos da Praça Benedito Calixto, uma organização particular que não é composta por moradores das residências ao redor da praça, que tem violado direitos constituicionais e do espaço público. Esta associação tem agido de forma ilegal e se apropriado indevidamente do espaço público, como se fossem donos do local, como se a praça fosse uma propriedade deles. Sou testemunha deste abuso, pois à alguns anos atrás, executei uma apresentação de bateria solo na calçada em frente ao banco Bradesco, em frente à praça e fui questionado pela segurança particular da associação. Indignado com a atitude, fui buscar esclarecimento na sede da associação, que ocupa um imóvel no local. A responsável me tratou de forma truculenta e ainda me ameaçou em chamar a polícia se eu voltasse a tocar meu instrumento no local. Isso fere o artigo 5, inciso IX - É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
A feira da Benedito comandada por esta associação (que inclusive está sendo investigada pela Justiça por irregularidades) tem perdido público pelo desinteresse de muitos pela falta de inovação dos expositores, da elevação de preços dos produtos, perdendo a característica inicial da feira, como os sebos da região, que vendem livros com preços similares das livrarias?!. O aumento deste custo é provavelmente proveniente da taxa abusiva que a associação cobra dos expositores que estão sujeitos a serem expulsos por coação física e é repassado ao consumidor e também pela ganância de alguns expositores, visando o poder aquisitivo que na maioria é composta pela classe média da região, que é maior em relação à maioria da população paulistana (proletariado).
Então muitos tem procurado a feirinha da Teodoro, que caminha independente da Benedito, mas é extremamente próxima a ela, que pratica preços justos e acessíveis, possui bom atendimento por parte dos artesãos e consequentemente tem ganhado a aprovação dos frequentadores da região.
Em contrapartida, a Associação de Amigos da Praça Benedito Calixto e alguns expositores, tem se comportado como empresas de capitalismo selvagem, que usam dos meios mais abomináveis para eliminar a livre e saudável concorrência, tentando impor uma ditadura, eliminando a oferta e direcionando a procura pelos seus produtos, impondo seus preços e sua "lei". Ora, isso se chama Cartel, Máfia ou coisa parecida. Usando de suas influências, tem acionado a Guarda Civil Metropolitana, a Polícia Militar e fiscais da Sub-Prefeitura para oprimir e confiscar o material dos artesãos, como se eles fossem contrabandistas e membros da pirataria de produtos, que é um notório problema da região central da rua 25 de Março.
Se você tiver interesse nesta questão de cidadania, procure o blog do Wanderlei, habilidoso artesão e cidadão articulado, que pode lhe esclarecer com mais precisão esta vergonhosa situação. Exerça sua cidadania e apoie a liberdade de expressão!
http://wanderart.blogspot.com/
Comandada pela Associação de Amigos da Praça Benedito Calixto, uma organização particular que não é composta por moradores das residências ao redor da praça, que tem violado direitos constituicionais e do espaço público. Esta associação tem agido de forma ilegal e se apropriado indevidamente do espaço público, como se fossem donos do local, como se a praça fosse uma propriedade deles. Sou testemunha deste abuso, pois à alguns anos atrás, executei uma apresentação de bateria solo na calçada em frente ao banco Bradesco, em frente à praça e fui questionado pela segurança particular da associação. Indignado com a atitude, fui buscar esclarecimento na sede da associação, que ocupa um imóvel no local. A responsável me tratou de forma truculenta e ainda me ameaçou em chamar a polícia se eu voltasse a tocar meu instrumento no local. Isso fere o artigo 5, inciso IX - É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
A feira da Benedito comandada por esta associação (que inclusive está sendo investigada pela Justiça por irregularidades) tem perdido público pelo desinteresse de muitos pela falta de inovação dos expositores, da elevação de preços dos produtos, perdendo a característica inicial da feira, como os sebos da região, que vendem livros com preços similares das livrarias?!. O aumento deste custo é provavelmente proveniente da taxa abusiva que a associação cobra dos expositores que estão sujeitos a serem expulsos por coação física e é repassado ao consumidor e também pela ganância de alguns expositores, visando o poder aquisitivo que na maioria é composta pela classe média da região, que é maior em relação à maioria da população paulistana (proletariado).
Então muitos tem procurado a feirinha da Teodoro, que caminha independente da Benedito, mas é extremamente próxima a ela, que pratica preços justos e acessíveis, possui bom atendimento por parte dos artesãos e consequentemente tem ganhado a aprovação dos frequentadores da região.
Em contrapartida, a Associação de Amigos da Praça Benedito Calixto e alguns expositores, tem se comportado como empresas de capitalismo selvagem, que usam dos meios mais abomináveis para eliminar a livre e saudável concorrência, tentando impor uma ditadura, eliminando a oferta e direcionando a procura pelos seus produtos, impondo seus preços e sua "lei". Ora, isso se chama Cartel, Máfia ou coisa parecida. Usando de suas influências, tem acionado a Guarda Civil Metropolitana, a Polícia Militar e fiscais da Sub-Prefeitura para oprimir e confiscar o material dos artesãos, como se eles fossem contrabandistas e membros da pirataria de produtos, que é um notório problema da região central da rua 25 de Março.
Se você tiver interesse nesta questão de cidadania, procure o blog do Wanderlei, habilidoso artesão e cidadão articulado, que pode lhe esclarecer com mais precisão esta vergonhosa situação. Exerça sua cidadania e apoie a liberdade de expressão!
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segunda-feira, novembro 15, 2010
Hakim Bey - T.A.Z. (1994)
Hakim Bey: voice(readings)
Wu Man: biwa(pipa)
Buckethead: guitar
Nicky Skopelitis: guitar
Bill Laswell: bass, sampler, technician(treatments), producer, arranger
Hakim Bey, é o pseudônimo de Peter Lamborn Wilson que nasceu em Maryland nas proximidades de Baltimore no ano de 1945. Historiador, escritor e poeta, pesquisador do Sufismo bem como da organização social dos Piratas do século XVII, teórico libertário cujos escritos causaram grande impacto no movimento anarquista das últimas décadas do século XX e início do século XXI.
A idéia sobre uma Zona Autônoma Temporária é de como um grupo, um bando, uma coagulação voluntária de pessoas afins não-hierarquizadas podem maximizar a liberdade por eles mesmos numa sociedade atual. Em linhas gerais é uma organização para o desenvolvimento de atividades comuns, sem controle de hierarquias opressivas. Para Hakim Bey, uma TAZ é uma aglutinação de pessoas que se encontra em tamanha complexidade que se pode dizer que toda uma sociedade está dentro da TAZ. As idéias são semelhantes as apresentadas pelo grupo teórico Bolo Bolo e pelo autor Ivan Illich. Embora Hakim Bey escreva um livro inteiro sobre TAZ, não é seu intuito definir e fixar formas, ou padrões de como seria uma destas zonas. O máximo que faz é circundar o assunto, lançando algumas explicações gerais. O que chamamos de TAZ desenvolve-se como um levante, algo excepcional na história , que, apesar de muitos classificarem como uma revolução que fracassou, eleva o grau de intensidade da vida e da consciência. Libertar-se, revolucionar pode partir de um indivíduo, ou de um bando. E é isso que poderiamos colocar como um princípio e possível objetivo da TAZ: liberdade independente e autônoma. Por tais características, a TAZ se assemelha muito ao comunalismo intencional e ao comunalismo libertário, chamados por Kenneth Rexroth, simplesmente, de comunalismo.
O livro T.A.Z. (Zona Autônoma Temporária) foi escrito em 1985 foi traduzido para vários idiomas Nele, a partir de estudos históricos sobre as utopias piratas, descreve a criação e propagação de espaços autônomos temporários como tática de resistência e esvaziamento do poder.
Clique na imagem para acessar o arquivo.
"The T.A.Z. is like an uprising which does not engage directly with the state, a guerrilla operation which liberates an area (of land, of time, of imagination) and then dissolves itself, to re-form elsewhere/else when, before the state can crush it." - Hakim Bey.
Wu Man: biwa(pipa)
Buckethead: guitar
Nicky Skopelitis: guitar
Bill Laswell: bass, sampler, technician(treatments), producer, arranger
Hakim Bey, é o pseudônimo de Peter Lamborn Wilson que nasceu em Maryland nas proximidades de Baltimore no ano de 1945. Historiador, escritor e poeta, pesquisador do Sufismo bem como da organização social dos Piratas do século XVII, teórico libertário cujos escritos causaram grande impacto no movimento anarquista das últimas décadas do século XX e início do século XXI.
A idéia sobre uma Zona Autônoma Temporária é de como um grupo, um bando, uma coagulação voluntária de pessoas afins não-hierarquizadas podem maximizar a liberdade por eles mesmos numa sociedade atual. Em linhas gerais é uma organização para o desenvolvimento de atividades comuns, sem controle de hierarquias opressivas. Para Hakim Bey, uma TAZ é uma aglutinação de pessoas que se encontra em tamanha complexidade que se pode dizer que toda uma sociedade está dentro da TAZ. As idéias são semelhantes as apresentadas pelo grupo teórico Bolo Bolo e pelo autor Ivan Illich. Embora Hakim Bey escreva um livro inteiro sobre TAZ, não é seu intuito definir e fixar formas, ou padrões de como seria uma destas zonas. O máximo que faz é circundar o assunto, lançando algumas explicações gerais. O que chamamos de TAZ desenvolve-se como um levante, algo excepcional na história , que, apesar de muitos classificarem como uma revolução que fracassou, eleva o grau de intensidade da vida e da consciência. Libertar-se, revolucionar pode partir de um indivíduo, ou de um bando. E é isso que poderiamos colocar como um princípio e possível objetivo da TAZ: liberdade independente e autônoma. Por tais características, a TAZ se assemelha muito ao comunalismo intencional e ao comunalismo libertário, chamados por Kenneth Rexroth, simplesmente, de comunalismo.
O livro T.A.Z. (Zona Autônoma Temporária) foi escrito em 1985 foi traduzido para vários idiomas Nele, a partir de estudos históricos sobre as utopias piratas, descreve a criação e propagação de espaços autônomos temporários como tática de resistência e esvaziamento do poder.
Clique na imagem para acessar o arquivo.
"The T.A.Z. is like an uprising which does not engage directly with the state, a guerrilla operation which liberates an area (of land, of time, of imagination) and then dissolves itself, to re-form elsewhere/else when, before the state can crush it." - Hakim Bey.
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T.A.Z.
sexta-feira, novembro 12, 2010
A morte do Hardcore Punk
Estamos no final da primeira década do séc.XXI e mais um óbito de uma cultura é presenciado: A morte do Hardcore. Não? Bem, se você faz parte dos envolvidos neste movimento e estilo cultural, político e musical, que ainda frequenta apresentações (gigs), lê ou publíca zines, tem uma banda ou coisa semelhante, sugiro que faça um panorama reflexivo, sem paixões sobre o Hardcore Punk hoje em dia. Ah, o Do It Yourself Never Dies... Mas isso não é uma invenção do HC e sim de culturas e movimentos que já passaram por este mundo. Mas você tem toda a liberdade de discordar (dischord) e dizer que a chama ainda queima (flame still burns). Então não perca tempo lendo este post. Este não é um blog segmentado.
O Hardcore Punk viveu sua "época de ouro" nos anos 80 e uma parte dos 90 com a proliferação de bandas, zines, programas de rádio, midia em geral através do mundo. Aqui no Brasil, as coisas sempre chegaram com um certo atraso e distorção de valores, que hoje em dia não acontece como antes, devido à era digital e a world wide web, que permite o acesso direto à fonte. Eu posso falar sobre boa parte do que ocorreu aqui em São Paulo, pois participei desta cultura, portanto não sou um pesquisador de laboratório que nunca foi à campo, teórico ou alguém que só leu algo na net ou outro veículo de informação. Mas não estou aqui para fazer uma autobiografia e nem uma biografia sobre o Hardcore Punk paulistano neste reduzído espaço digital.
A intenção aqui é avaliar o que existe e resiste hoje em dia. Existem algumas casas noturnas que abrigam apresentações de bandas estrangeiras periodicamente, há alguns poucos espaços que são direcionados ao HC, algumas lojas de discos, alguns zines, muitos blogs e sites, alguns festivais, etc. Mas o que era concebido como cenário HC já não existe mais, as coisas mudaram, ou melhor, sofreram uma mutação e não uma evolução, infelizmente. O HC teve o mesmo fim que o movimento Flower Power dos anos 60, que ainda deixa resquícios ou sequelas de seu impacto, mas a sua força e autonomia já se foi, sinto muito.
Os remanescentes praguejam contra produtos como NX Zero, CPM 22, etc, mas isso nunca foi novidade em movimento musical que já existiu. Sempre a indústria, os empresários ou pessoas que são carentes de pertencerem à um grupo e portar algum rótulo se infiltraram em qualquer que seja a denominação coletiva musical e cultural.
E de pensar que o termo emocore (emotional hardcore) veio de grupos de Boston como Rites Of Spring, Embrace, etc, iria desembocar em coisas como Fresno e afins, realmente é trágico (como diria o sr. Omar, do seriado "Todo Mundo Odeia o Chris").
Hoje já vemos jovens na faixa dos 30 anos relembrando das gigs noturnas na metrópole paulistana, das saudosas lojas de discos na Galeria do Rock, que eram o ponto de encontro deste segmento. Alguns se assemelham aos punks quarentões que vivenciaram o início do Punk nos anos 80 e lamentam seu declínio entre goles de cerveja ou outro goró mais forte. Decline of the western civilization... Mas alguém ainda grita: "This is not the end!" (citação de uma música do Agent Orange).
O Hardcore se auto destruiu, deu o famoso tiro no próprio pé, seu radicalismo sufocou a sí mesmo. Nem os diamantes são eternos, tudo passa na história da humanidade. Mas não precisava ser assim, uma morte sem dignidade, uma morte agonizante e desapercebida, como morre um indigente debaixo de um viaduto. As coisas poderiam ter evoluído, se aprimorado e se adaptando aos tempos contemporâneos, assim como ocorre felizmente com o chamado free jazz na Europa e EUA. Nestes continentes o Hardcore Punk ainda encontra um espaço com dignidade, mesmo que bem mais reduzido, por manter o bom senso, sem levar em conta que preservou certas colunas de sustentação básicas para existirem, sem distorcer de forma bizarra sua criação.
Bem, alguns aqui até que estão tentando fazer alguma coisa, outros fazendo documentários (ou seriam obituários?) e não posso dizer com exatidão os seus fins e suas reais intenções.
Aquele côro do Youth Of Today que dizia: Keep it up!, soa tão distante agora...
O Hardcore Punk viveu sua "época de ouro" nos anos 80 e uma parte dos 90 com a proliferação de bandas, zines, programas de rádio, midia em geral através do mundo. Aqui no Brasil, as coisas sempre chegaram com um certo atraso e distorção de valores, que hoje em dia não acontece como antes, devido à era digital e a world wide web, que permite o acesso direto à fonte. Eu posso falar sobre boa parte do que ocorreu aqui em São Paulo, pois participei desta cultura, portanto não sou um pesquisador de laboratório que nunca foi à campo, teórico ou alguém que só leu algo na net ou outro veículo de informação. Mas não estou aqui para fazer uma autobiografia e nem uma biografia sobre o Hardcore Punk paulistano neste reduzído espaço digital.
A intenção aqui é avaliar o que existe e resiste hoje em dia. Existem algumas casas noturnas que abrigam apresentações de bandas estrangeiras periodicamente, há alguns poucos espaços que são direcionados ao HC, algumas lojas de discos, alguns zines, muitos blogs e sites, alguns festivais, etc. Mas o que era concebido como cenário HC já não existe mais, as coisas mudaram, ou melhor, sofreram uma mutação e não uma evolução, infelizmente. O HC teve o mesmo fim que o movimento Flower Power dos anos 60, que ainda deixa resquícios ou sequelas de seu impacto, mas a sua força e autonomia já se foi, sinto muito.
Os remanescentes praguejam contra produtos como NX Zero, CPM 22, etc, mas isso nunca foi novidade em movimento musical que já existiu. Sempre a indústria, os empresários ou pessoas que são carentes de pertencerem à um grupo e portar algum rótulo se infiltraram em qualquer que seja a denominação coletiva musical e cultural.
E de pensar que o termo emocore (emotional hardcore) veio de grupos de Boston como Rites Of Spring, Embrace, etc, iria desembocar em coisas como Fresno e afins, realmente é trágico (como diria o sr. Omar, do seriado "Todo Mundo Odeia o Chris").
Hoje já vemos jovens na faixa dos 30 anos relembrando das gigs noturnas na metrópole paulistana, das saudosas lojas de discos na Galeria do Rock, que eram o ponto de encontro deste segmento. Alguns se assemelham aos punks quarentões que vivenciaram o início do Punk nos anos 80 e lamentam seu declínio entre goles de cerveja ou outro goró mais forte. Decline of the western civilization... Mas alguém ainda grita: "This is not the end!" (citação de uma música do Agent Orange).
O Hardcore se auto destruiu, deu o famoso tiro no próprio pé, seu radicalismo sufocou a sí mesmo. Nem os diamantes são eternos, tudo passa na história da humanidade. Mas não precisava ser assim, uma morte sem dignidade, uma morte agonizante e desapercebida, como morre um indigente debaixo de um viaduto. As coisas poderiam ter evoluído, se aprimorado e se adaptando aos tempos contemporâneos, assim como ocorre felizmente com o chamado free jazz na Europa e EUA. Nestes continentes o Hardcore Punk ainda encontra um espaço com dignidade, mesmo que bem mais reduzido, por manter o bom senso, sem levar em conta que preservou certas colunas de sustentação básicas para existirem, sem distorcer de forma bizarra sua criação.
Bem, alguns aqui até que estão tentando fazer alguma coisa, outros fazendo documentários (ou seriam obituários?) e não posso dizer com exatidão os seus fins e suas reais intenções.
Aquele côro do Youth Of Today que dizia: Keep it up!, soa tão distante agora...
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quarta-feira, novembro 10, 2010
FIIL 2010 FESTIVAL INTERNACIONAL ABAETETUBA DE IMPROVISAÇÃO LIVRE
Dias 13 e 14 de Novembro no CCSP sala Ademar Guerra, entrada franca:
John Edwards - contrabaixo (Inglaterra);
Saadet Türköz - voz (Turquia);
Raymond MacDonald - saxofone (Escócia);
Ricardo Tejero - clarinete e saxofone (Espanha);
Michelle Agnes - piano (Brasil);
Thomas Rohrer - rabeca/saxofone (Suiça/Brasil);
Panda Gianfratti - percussão (Brasil).
Apresentações:
Sábado: às 20:00h;
Domingo: às 19:00h.
Oficinas:
Sábado: dia 13, às 12:00h com Ricardo Tejero e às 15:00h com Saadet Türköz;
Domingo: dia 14, ás 12:00h com Raymond MacDonald e ás 15:00h com John Edwards
Clique no Link http://fiil2010.blogspot.com/ e confira todas as informações, releases dos músicos participantes, fotos, videos e textos, ou consulte a programação de novembro do Centro Cultural de São Paulo.
John Edwards - contrabaixo (Inglaterra);
Saadet Türköz - voz (Turquia);
Raymond MacDonald - saxofone (Escócia);
Ricardo Tejero - clarinete e saxofone (Espanha);
Michelle Agnes - piano (Brasil);
Thomas Rohrer - rabeca/saxofone (Suiça/Brasil);
Panda Gianfratti - percussão (Brasil).
Apresentações:
Sábado: às 20:00h;
Domingo: às 19:00h.
Oficinas:
Sábado: dia 13, às 12:00h com Ricardo Tejero e às 15:00h com Saadet Türköz;
Domingo: dia 14, ás 12:00h com Raymond MacDonald e ás 15:00h com John Edwards
Clique no Link http://fiil2010.blogspot.com/ e confira todas as informações, releases dos músicos participantes, fotos, videos e textos, ou consulte a programação de novembro do Centro Cultural de São Paulo.
terça-feira, novembro 09, 2010
Pede pra sair, 02!!! (Tropa de Elite 2) - A polêmica, os devaneios teóricos e a realidade
"Pede pra sair, 02, você é um fraco..." - Assim fala um dos instrutores do curso de operações especiais da polícia do Rio de Janeiro ao corrupto capitão Fábio, que tentou entrar no Bope para não ser executado, no primeiro episódio do filme que gerou grande polêmica no Brasil.
Ontem, segunda-feira, aproveitei o evento Projeta Brasil das salas da rede Cinemark, em que se podia assistir cinema brasileiro à R$ 2,00 e pacote de pipoca de bom tamanho à R$ 4,00. Fazia tempos que não ia ao cinema por falta de orçamento (é meu caro, eu não tenho R$ 15 para ir ao cinema sempre) e ainda mais numa sala de projeção dentro de um shopping center. Por questões práticas, me dirigí ao insólito shopping Iguatemi, que também não entrava fazia muito tempo e constatei um ambiente deprimente. O irônico é que este shopping quando foi inaugurado em meados dos anos 60 do séc.XX, não era um lugar tão cobiçado quanto é hoje e teve muita dificuldade de atrair lojas. Eu pessoalmente frequentei este local entre os anos 70 e 80 com certa regularidade por conta do cinema, lojas e serviços que eram mais acessíveis à população menos abastada economicamente, tanto que se encontravam estabelecimentos como Lojas Americanas, mercado, lanchonetes semelhantes aos botecos (não essas aberrações "chic"da Vila Madalena como Filial, Genésio e Posto 6) de bairro. Hoje se tornou um ícone de ostentação ao luxo, com lojas que são alvo de quadrilhas organizadas (oportuno isso e sugestivo ao post, não é?), por conta de seus artigos caríssimos. Como as salas de cinema são no oitavo andar, ao qual preferí chegar não pelo elevador e sim pelas escadas rolantes do local, pude observar o aspecto transformado dos tempos de minha infância e adolescência. Me deparei com o extermínio de lojas populares para dar espaço à inquilinos de grife e me lembrei que tinham até duas lojinhas de mágica, aquelas bem povão mesmo, que vendiam bala com pimenta e outras traquinagens, duas lojas de discos que podia se comprar um lp do Dead Kennedy's ou Iron Maiden, por exemplo. O mais triste foi o aspecto dos frequentadores do local, membros de uma parcela mínima da população que ganha muito mais do que 10 salários mínimos mensais, e tentam se sentir em um lugar sofisticado, pois eles não podem de fato estar em lugares como Manhattan, Louvre ou um boulevard requintado na Europa. Irônico também é que nos ditos países de primeiro mundo que essas pessoas cobiçam, os shoppings são considerados lugares até cafonas pela elite.
Deprimente também são os frequentadores que não possuem um bom patrimônio econômico, que são formados por exemplo, por recepcionistas, operadores de telemarketing, sub-gerentes de lojas, etc, que almejam se enquadrar neste bizarro cenário de bens materiais e consumo fútil, mesmo que tenham que comprar uma "réplica" de uma bolsa Louis Vouitton na 25 de Março, para se sentirem "iguais" na aparência. Mas só que no final do passeio, alguns poucos se dirigem ao estacionamento e adentram em seus carros que nem sempre são um BMW, enquanto boa parte tem que enfrentar um ônibus lotado em direção à periferia.
Bem, entro na sala de projeção e começa o entretenimento. Eu não sou um cinéfilo, não sou um crítico de cinema, não sou um Rubens Ewald Filho, Leon Cakoff ou Amir Labaki para fazer uma profunda análise crítica do Tropa de Elite 2. Não acho o Godard, Truffaut, Lars Von Trier as cerejas do bolo e também não gosto de bobagens como Velozes e Furiosos, filmes da Pixar studios, Lost, Friends e outros anestésicos de entretenimento em massa.
Então não fui assistir o Tropa com um entuito de prestigiar a "sétima arte", tanto que esperei a oportuna bilhetria à R$ 2,00. Também não esperava ter uma epifania sobre a realidade do país por conta de uma obra de ficçao baseada em fatos reais. Amigos, o Tropa de Elite não é um documentário, é apenas um filme! Existem muitas pessoas ditas cultas que precisaram assistir um Cronicamente Inviável, Ensaio Sobre a Cegueira, Carandirú ou até o Cidade de Deus para ter uma noção da realidade do Brasil?!
Não faltaram debates inflamados promovidos por intelectuais sobre os danos que o capitão Nascimento estava causando na população, que o filme é uma ode a repressão policial, do herói fascista, de direita e outros blá, blá, blás. É só mais um filme...
Eu particularmente gostei do filme, serviu para me entreter numa tarde de muito calor e trânsito caótico na bizarra metrópole paulistana. Alguns aspectos do filme me entristeceram, como a corrupção, a crueldade e injustiça humana, que já me deparei pessoalmente várias vezes, que estão ilustradas no filme de José Padilha. Não reparei se o enquadramento, a fotografia e outros elementos do filme eram bons ou não, inclusive sobre a qualidade do roteiro. Relembrar da realidade cotidiana numa confortável sala com ar condicionado e sistema de som Dolby, Surround ou DTS numa enorme projeção é algo bem peculiar. Mais impactante é sair após a sessão e deparar com aquele cenário surreal do shopping Iguatemi, atravessar a avenida Faria Lima, esperar pela van que vêm lá da periferia da zona sul em rumo ao Hospital das Clínicas e me dirigir ao culto de ensinamento bíblico na Assembléia de Deus num humilde salão em Pinheiros, onde tenho comunhão com pessoas que em sua maioria, sequer cogita em comentar algo sobre arte, como Truffaut enquanto come algo no América.
Ontem, segunda-feira, aproveitei o evento Projeta Brasil das salas da rede Cinemark, em que se podia assistir cinema brasileiro à R$ 2,00 e pacote de pipoca de bom tamanho à R$ 4,00. Fazia tempos que não ia ao cinema por falta de orçamento (é meu caro, eu não tenho R$ 15 para ir ao cinema sempre) e ainda mais numa sala de projeção dentro de um shopping center. Por questões práticas, me dirigí ao insólito shopping Iguatemi, que também não entrava fazia muito tempo e constatei um ambiente deprimente. O irônico é que este shopping quando foi inaugurado em meados dos anos 60 do séc.XX, não era um lugar tão cobiçado quanto é hoje e teve muita dificuldade de atrair lojas. Eu pessoalmente frequentei este local entre os anos 70 e 80 com certa regularidade por conta do cinema, lojas e serviços que eram mais acessíveis à população menos abastada economicamente, tanto que se encontravam estabelecimentos como Lojas Americanas, mercado, lanchonetes semelhantes aos botecos (não essas aberrações "chic"da Vila Madalena como Filial, Genésio e Posto 6) de bairro. Hoje se tornou um ícone de ostentação ao luxo, com lojas que são alvo de quadrilhas organizadas (oportuno isso e sugestivo ao post, não é?), por conta de seus artigos caríssimos. Como as salas de cinema são no oitavo andar, ao qual preferí chegar não pelo elevador e sim pelas escadas rolantes do local, pude observar o aspecto transformado dos tempos de minha infância e adolescência. Me deparei com o extermínio de lojas populares para dar espaço à inquilinos de grife e me lembrei que tinham até duas lojinhas de mágica, aquelas bem povão mesmo, que vendiam bala com pimenta e outras traquinagens, duas lojas de discos que podia se comprar um lp do Dead Kennedy's ou Iron Maiden, por exemplo. O mais triste foi o aspecto dos frequentadores do local, membros de uma parcela mínima da população que ganha muito mais do que 10 salários mínimos mensais, e tentam se sentir em um lugar sofisticado, pois eles não podem de fato estar em lugares como Manhattan, Louvre ou um boulevard requintado na Europa. Irônico também é que nos ditos países de primeiro mundo que essas pessoas cobiçam, os shoppings são considerados lugares até cafonas pela elite.
Deprimente também são os frequentadores que não possuem um bom patrimônio econômico, que são formados por exemplo, por recepcionistas, operadores de telemarketing, sub-gerentes de lojas, etc, que almejam se enquadrar neste bizarro cenário de bens materiais e consumo fútil, mesmo que tenham que comprar uma "réplica" de uma bolsa Louis Vouitton na 25 de Março, para se sentirem "iguais" na aparência. Mas só que no final do passeio, alguns poucos se dirigem ao estacionamento e adentram em seus carros que nem sempre são um BMW, enquanto boa parte tem que enfrentar um ônibus lotado em direção à periferia.
Bem, entro na sala de projeção e começa o entretenimento. Eu não sou um cinéfilo, não sou um crítico de cinema, não sou um Rubens Ewald Filho, Leon Cakoff ou Amir Labaki para fazer uma profunda análise crítica do Tropa de Elite 2. Não acho o Godard, Truffaut, Lars Von Trier as cerejas do bolo e também não gosto de bobagens como Velozes e Furiosos, filmes da Pixar studios, Lost, Friends e outros anestésicos de entretenimento em massa.
Então não fui assistir o Tropa com um entuito de prestigiar a "sétima arte", tanto que esperei a oportuna bilhetria à R$ 2,00. Também não esperava ter uma epifania sobre a realidade do país por conta de uma obra de ficçao baseada em fatos reais. Amigos, o Tropa de Elite não é um documentário, é apenas um filme! Existem muitas pessoas ditas cultas que precisaram assistir um Cronicamente Inviável, Ensaio Sobre a Cegueira, Carandirú ou até o Cidade de Deus para ter uma noção da realidade do Brasil?!
Não faltaram debates inflamados promovidos por intelectuais sobre os danos que o capitão Nascimento estava causando na população, que o filme é uma ode a repressão policial, do herói fascista, de direita e outros blá, blá, blás. É só mais um filme...
Eu particularmente gostei do filme, serviu para me entreter numa tarde de muito calor e trânsito caótico na bizarra metrópole paulistana. Alguns aspectos do filme me entristeceram, como a corrupção, a crueldade e injustiça humana, que já me deparei pessoalmente várias vezes, que estão ilustradas no filme de José Padilha. Não reparei se o enquadramento, a fotografia e outros elementos do filme eram bons ou não, inclusive sobre a qualidade do roteiro. Relembrar da realidade cotidiana numa confortável sala com ar condicionado e sistema de som Dolby, Surround ou DTS numa enorme projeção é algo bem peculiar. Mais impactante é sair após a sessão e deparar com aquele cenário surreal do shopping Iguatemi, atravessar a avenida Faria Lima, esperar pela van que vêm lá da periferia da zona sul em rumo ao Hospital das Clínicas e me dirigir ao culto de ensinamento bíblico na Assembléia de Deus num humilde salão em Pinheiros, onde tenho comunhão com pessoas que em sua maioria, sequer cogita em comentar algo sobre arte, como Truffaut enquanto come algo no América.
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segunda-feira, novembro 01, 2010
Napalm Deah - F.E.T.O. demotape (1986)
From Enslavement To Obliteration é o mesmo nome do lp que o Napalm Death lançaria em 1988 com Lee Dorrian nos vocais. Nesta demotape ainda formada pelo trio com Jus na guitarra, Nik nos vocais e baixo e Mickey na bateria, encontram-se músicas que foram re-gravadas no lp Scum, o marco do estilo grindcore, com seus blast beats e músicas com duração de segundos, que influenciariam um dos mais criativos músicos surgidos no final do século XX, John Zorn e seu projeto Naked City. Clique na imagem ao lado para acessar o arquivo.
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