terça-feira, agosto 21, 2007

Max Roach no Freejazz festival de 2000 em São Paulo

Foi realmente uma noite inesquecível do dia 20 de Dezembo de 2000. Era praticamente improvável eu poder ver Max Roach aqui em São Paulo, pois ele já se apresentara aqui em 1989 e a organização do festival que o trouxe, tinha o protocolo de não repetir as atrações. Mas por milagre, resolveram trazê-lo novamente, sabendo só depois de um bom tempo, que fora a última chance de vê-lo ao vivo. Com Odean Pope no saxofone tenor, Cecil Bridgewater no trompete e Tyrone Brown no contra-baixo, abriram logo de cara com "It's Time"... Uma homenagem à seu parceiro Clifford Brown em "I remember Clifford", e à um de seus mestres, Papa Jo Jones, no seu famoso solo de chimbal. Odean, Cecil e Tyrone acompanham Max à décadas, mesmo não sendo muito citados por aí, estão no mesmo patamar dos que já tocaram com Max e ficaram mais conhecidos. Os três continuam na ativa, dá pra conferir seus trabalhos pelo selo C.I.M.P. que faz parte da Cadence Jazz Records. Não há palavras para descrever a sensação de ouvir a bateria de Max ao vivo. Eu também tive o privilégio da última chance de ver e conhecer pessoalmente outro mestre dos tambores que me ensinou muito, Billy Higgins, mas essa é uma outra história...
A noite em que fui abençoado pelo mestre

Eu tinha feito uma pintura de Max à anos atrás e meu amigo iría a New York assistir uma apresentação do mestre. Pedí a ele pra levar o quadro e dar-lhe de presente. Ele não conseguiu encontrá-lo por conta do cancelamento do show. Então uma surpresa, Max estaría no Free jazz festival. Pensei, vou lhe entregar pessoalmente. Bom depois da metade do show, a maioria tinha ido embora e no final, consegui junto com meus amigos, ver seu famoso solo de chimbal, a um metro de distância! Quando ele foi dar autógrafos, eu lhe entreguei o retrato e, ele começou a assinar. Aí eu pus a mão em cima da dele e disse, "No, it´s for you!" Ele não acreditou, ficou por alguns segundos me olhando. Então pedí pra ele autografar meu vinil do Plus Four, aquele que gravou logo depois da morte de Clifford Brown, e dei um cd do Batucada Fantástica pra ele. E ele saiu com meu retrato em direção ao camarim. Mas não para por aí, meu amigo conseguiu que eu fosse sozinho no hall de saída pra falar com ele. Antes disso, eu e meu amigo, conversando com seu roadie particular, pedí um par de baquetas, disse que também era baterista. Aí ele perguntou se eu tinha alguns milhares de dólares, mas tudo na brincadeira. Então ele falou o seguinte: "Não vou te dar um par de baquetas e sim apenas uma, pois se eu der o par você vai tocar e quebrar depois. Pegue esta baqueta e coloque em um lugar especial, pois isso é um conhecimento. Vai e pede para ele autografar para você". Fiquei esperando o elevador descer e ele aparece. Pedí para autografar a baqueta. Ele pediu para alguém arrumar uma caneta de tinta permanente, mas ninguém tinha, então pediu um papel , perguntou meu nome e fez um desenho de uma bateria e pos meu nome. Falei pra ele que seu disco Percussion Bitter Sweet tinha mudado minha vida, minha concepção de jazz e ele abriu um sorriso e disse: "really?" Antes de ir embora, pois a produtora queria levá-lo ao hotel, pedi pra ele me abençoar. Ele ficou meio sem ação, surpreso, então dei um abraço nele. Quando ele entendeu, também me abraçou e suspirou de emoção, como um avô. Então apertei sua mão e disse, "I love you, mr. Max!" Saí dalí tão feliz que nem falei com Odean Pope, Cecil Bridgewater e Tyrone Brown. Aí eu o adimirei muito mais, pois o mestre era uma história viva da música, uma lenda, mesmo cansado depois do show, foi muito atencioso e simpático comigo, por ele, ficaria batendo papo comigo, um garoto qualquer.

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