sábado, fevereiro 11, 2012

Sorry John Zorn, i can't see you soon...

People say: Ho! Bring the noise! Estou ouvindo um ruído sobre a vinda de John Zorn ao Brasil. Me lembro quando ele veio pela primeira vez no final dos anos 80 e só ouvia falar de um saxofonista de jazz que tocava com a camiseta do Napalm Death. Aquilo me agradou muito, pois a imagem do jazz por aqui naquela época era de um bando de coroas esnobes bebendo whisky e se sentindo no topo do mundo. Naquela época eu era um adolescente que já estava contaminado pelo underground e vibrei com a "afronta" do desconhecido Zorn (para mim), diante dos coroas do jazz. Mas para um moleque era inviável ir à um festival caro patrocinado por uma marca de insalubridade.
Passaram os anos e hoje compreendo a obra musical de John Zorn e ela é relativamente acessível no mundo virtual. Sim, seria um prazer presenciar Zorn em uma apresentação ao vivo. Mas como em boa parte dos casos, existe um considerável porém.
Primeiro lugar, o preço: R$100,00. Muita gente vai me argumentar que no caso é o Zorn, que é uma oportunidade a qual seja possível não ter novamente e blá, blá, blá... Não vem ao caso questionar a qualidade de sua arte, pois é ridiculamente óbvia. O porém reside na confecção desta "grande oportunidade", ou melhor, de oportunismo. O lance nem é de grana, pois Zorn não esbanja simpatia no mercado fonográfico no mundo inteiro. Sim, mesmo no Japão, onde é comum e sólido o circuito de música não convencional, meu amigo sempre consegue comprar discos de Zorn e seu selo Tzadik numa espécie de baciada, a preço de banana. As condições da vinda de Zorn me soam muito mal mesmo, envolve um exclusivismo abominável na noite dita underground paulistana. Alguém vai me dizer que se lasque o local, as pessoas que estão agenciando e o que importa é que Zorn está vindo! Pois é, acho que deixei-me influenciar demais por certas ideologias quando estava mais ativo nos segmentos underground, como heavy metal e hardcore, que impossibilitam-me de abstrair-me de certos poréns e usufruir de certos prazeres. Ainda mais vivendo em um mundo cercado de capitalismo por todos os lados, muitas ideologias, como a do punk, acabam se tornando um tiro no pé.
Mas fazer o que? Na minha escolha pessoal, eu não vou abrir uma exceção. Numa ilustração mais dramática, eu não vou meter os canos pra pipar uma pedra. É isso mesmo, soa radical demais, não? Eu abro mão. Os straight-edgers preferem não beber, assim como a maioria dos evangélicos, que além disso, abrem mão do desejo por um breve momento e só desfrutam dos prazeres do sexo com uma única pessoa que escolheram para amar até o fim. A vida nos oferece sempre escolhas e muitas vezes elas são cruciais e não há meio termo.
Posso viver sem isso e continuar a ser feliz? Sim! Sem dúvida nenhuma! E outra, creio que possa surgir uma outra oportunidade de ver um show do John Zorn sem ter que compactuar com algo que vai contra minha ideologia, da mesma forma que acabei tocando com Han Bennink e Sabu Toyozumi sem vislumbrar uma possibilidade de isto acontecer e ainda sem ter que deixar de lado minhas convicções sócio-políticas e morais.
Olha só, uma coisa eu concordo com que uma pessoa disse sobre punk e hardcore (mas isso independe de estilo ), que se alguém um dia curtiu punk e hardcore e hoje em dia não curte mais, é porque nunca foi.

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