sábado, setembro 15, 2012

Wuthering Heights, o rádio e a infância

Pois é, graças a um simples post sobre esta canção composta e interpretada por Kate Bush, que um amigo publicou no facebook, me veio a tona um sentimento de muito tempo atrás, de minha infância.
Wuthering Heights foi baseada no livro de Emily Brontë, escrito entre Outubro de 1845 e Junho de 1846, sobre o trágico romance entre Catherine Earnshaw e Heathcliff, um pequeno orfão adotado pelo patriarca da família Earnshaw.
Na canção de Kate Bush, ela interpreta Catherine ou o fantasma de Cathy, que chama por Heathcliff e pede para deixá-la entrar pela janela de sua casa. O video feito no fim dos anos 70 evidentemente não dispunha dos infindáveis recursos digitais de hoje em dia mas é melhor do que dezenas de videos super produzidos atualmente. Isso pelo fato da música ser consistente, bela e a interpretação de Kate é impecável, não é uma coreografia que tem mais cunho estético, que não diz muita coisa, como são os videos de Beyoncé, Britney Spears e Lady Gaga, onde há uma coreografia extremamente precisa e profissional.
Wuthering Heights foi sucesso na minha infância e por isso era executada nas rádios fm muitas vezes durante a programação.
O sentimento do qual eu disse no início, era de quando eu não tinha alcance aos lp's e k7's, só viria a comprar meu primeiro lp (Hey Jude - The Beatles) em 1983, aos 9 anos de idade. Então eu escutava o rádio e não havia também um programa de videoclips na época, já que a MTV foi ao ar em uma canal de tv à cabo em New York no dia 1º de Agosto de 1981.
O rádio era um mundo mágico onde as músicas despertavam muito a minha imaginação, pois não sabia de quem eram as vozes e o que eram os instrumentos que produziam aqueles sons. Cada música era um momento único e especial, pois não sabia se voltaria a ouvi-las novamente, então estava sempre atento para captar cada momento e guardar em minha memória. Eu escutava o rádio no carro do meu pai e muitas audições se davam quando íamos visitar minhas primas, na zona leste de São Paulo, perto do ABC e também na região da rodovia Raposo Tavares. Ora, para uma criança, esses trajetos eram uma grande viagem, uma aventura em que se contemplava cenários longe do alcance, afinal naquela idade, não podia nem andar até o extremo do meu próprio bairro. E as músicas do rádio eram a trilha sonora dessas minhas viagens.
Até mesmo depois, no meio dos anos 80, quando eu era um pivete headbanger de 13 anos, que já me aventurava em ir de ônibus ao centro de São Paulo, para ir à Woodstock discos e Grandes Galerias, era ouvinte dos programas de heavy metal e punk da época. Também escutava com atenção cada música, pois também não sabia se as ouviria novamente e se teria acesso ao lp. Então meu pai comprou um rádio gravador portátil para mim e meu irmão e deu início a minha vida de pesquisa musical. Gravava as músicas do rádio e compilava seleções em fitas k7 virgem. Gravava discos de amigos e outras fitas também. No centro da cidade se faziam gravações dos discos importados e a maioria dos títulos até hoje não foram lançados no mercado brasileiro.
Fui crescendo e até tive a oportunidade de assistir ao vivo o que só podia ouvir em casa. Outros tive até algo mais inesperado, como conhecer pessoalmente o baterista e compositor Max Roach. E depois muito mais do que poderia imaginar, tocar ao lado de Han Bennink e Sabu Toyozumi.
Até outro dia, não me interessava pela música de Kate Bush, só tinha em minha memória, uma cantora do fim dos anos 70 com uma voz bem aguda.
Mas depois do post do meu amigo no facebook, escutei com atenção a música e assisti novamente o video de Wuthering Heights, que me tornaram a sentir aquelas impressões de minha infância e descobri uma linda música. Não o rádio não é mais o que era e nem voltará a ser. Também o Youtube, Vimeo, Soundcloud, etc, não produzem aqueles sentimentos, hoje, aqueles sentimentos tocam apenas em meu coração. But, the song remains the same

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