Hoje em dia, com as facilidades tecnológicas, a conjuntura mundial, etc., não temos aquela defasagem colonial que durou até o fim dos anos 80. Sempre tivemos bons músicos, mas faltava material de estudo, ferramentas. Não sei o que acontece, mas aqui no Brasil, se tem o péssimo costume de importar cultura, hábitos, filosofias e fazermos à nossa maneira. É como montar um kit de aeromodelo sem ler o manual. Não que tudo tenha manual. Mas dificilmente se obtém o resultado esperado. As vezes acontece de aparecer um resultado positivo, se criando algo original que funciona bem. Mas muitos e muitos casos são de aberrações culturais que causam danos. É só lembrar dos grupos de jovens ligados à música, como Heavy Metal, Punk, HipHop, etc. Todos eles sem exceção distorceram seus princípios originais e vemos um cenário de muitos grupos fragmentados, competindo entre sí e obtendo poucos resultados, pois, já dizia o velho ditado, a união faz a força. Mas o que tudo isso tem haver com o Jazz no Brasil?
Devido a ingrata herança colonial neste país, a música em termos mais amplos foi confinada à uma elite arrogante e de certa forma ignorante. Criou-se uma falsa aura de sofisticação em torno do Jazz. Pessoas que simplesmente tinham dinheiro para comprar discos, livros e instrumentos, se tornaram autoridades no assunto. Meros colecionadores que não tem conhecimento suficiente escrevendo textos em jornais, revistas e até livros. O que temos hoje é um bizarro panorama onde predominam cantoras de música pop camufladas pela "sofisticação" do "Jazz". Um pouco fora dos holofotes, em pequenas casas noturnas, temos algo mais próximo do Jazz, mas um tanto mórbido. Músicos e apreciadores que determinaram o congelamento criogênico do chamado Jazz ao Hard Bop no máximo. A sua evolução natural apartir do fim dos anos 50 não é considerado Jazz. E ainda temos mais um caso, das chamadas bandas de Jazz tradicional, tão bizarras e artificiais como um pavilhão sobre a Amazônia no Epcot Center na Disney. Mas boa parte dos músicos brasileiros não tiveram escolha, estudaram em conservatórios musicais. Como o nome já diz, está alí para preservar. E o Jazz é bem diferente disso, convive com suas tradições criando algo novo sempre. O jazz diz muito mais à maneira que se faz música, não tem haver com um estilo musical que se encaixa num padrão. Quantas vezes ouví a bobagem de que se o músico não soubesse tocar Stella By Starlight, não saberia o que é o Jazz? Esta é uma canção popular norte americana, que os músicos resolveram tocar à sua maneira. Alí não reside a essência do chamado Jazz. Ornette Coleman é um ótimo exemplo do que quero dizer sobre a maneira de fazer música, de fazer Jazz. Mesmo com sua estética similar à música erudita de vanguarda, com o rock, mesmo com guitarras distorcidas de efeitos eletrônicos, com DJ's, sintetizadores, alì está presente suas raízes que repousam nas águas do Mississipi, das ruas de New Orleans, do Texas, sua terra natal. Quando o músico brasileiro entender isso de verdade, teremos boas surpresas por aqui. Como disse uma vez B.B. King, não é necessário trabalhar de escravo numa plantação de algodão para ter capacidade de fazer um Blues.
sábado, janeiro 06, 2007
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2 comentários:
lembrei de um grupo de "jazz" brasileiro: Os Legais.
esse deve ser interessante, me passa o link
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