quarta-feira, julho 18, 2007

Crise cultural



Pra quem não conhece, o Tonic era um clube em New York que abrigou a música experimental, o Jazz de vanguarda, a arte na sua forma mais livre e criativa. Neste primeiro semestre de 2007, depois de quase 10 anos, o Tonic fecha suas portas por não suportar a pressão financeira do aluguel, uma tática legal e nada ética bem conhecida para atender os interesses econômicos dominantes. Mas o que os brasileiros tem haver com isso? Talvez seja um sintoma universal que a cultura passa hoje em dia. New York tem o apelido de "Big Apple", mas pouco se fala porquê. Na verdade, significa a grande maçã podre que consome o orçamento dos outros estados unidos da america do norte. New York sempre foi um foco de criatividade cultural, uma cidade extremamente rica e contrastante, mas que possibilitava todas as minorias, fossem culturais, civis, etc, existissem. Mas nestes últimos anos a cidade vem sofrendo um processo de "higienização", onde não deve permanecer tudo que vai de certa forma contra a nova ordem econômica mundial, das grandes corporações, da minoria com excessivo poder financeiro, da massificação social. A maioria da população tem que se limitar apenas como mero combustível do mecanismo das elites, como carvão para fornalha ou engrenagens de uma grande máquina. Mas desde muito tempo, já se usa uma estratégia para manter uma grande opressão e exploração, sem causar uma revolução das massas. A minoria no poder sabiamente permitiu a existência de uma liberdade artificial, dando uma falsa sensação de livre escolha, livre expressão. Aqui no Brasil, um exemplo razoável sobre isso, é a existencia de inúmeras marcas dos mesmos produtos, várias opções de lojas e supermercados, só que se observar a letrinha miúda, são pertencentes ao mesmo grupo empresarial. Enquanto o contingente paulistano se maravilha com a nova fase de efervecência cultural, promovida por grandes empresas, shoppings culturais, cinemas, centros culturais patrocinados por bancos, temos a nossa "higienização" se consumando paralelamente. Vendedores de livros usados sendo expulsos na paulada para o benefício das grandes bookstores. Artesãos expulsos das vias públicas em favorecimento das grifes, dos shopping centers. Artístas de rua perdendo sua liberdade de expressão em público em favorecimento de um clã artístico e seus mecanismos, sejam casas de espetáculo com preços de ingressos elevados, sejam gratuitos e financiados pelo comércio, maquiando o seu real mecanismo, que funciona pelo consumo direto de produtos e impostos implícitos. O que não é interessante para a elite, deve ser banido de locais que foram escolhidos por ela, afinal não dá pra ficar confinado em um apartamento de luxo ou condomínio particular. Qualquer pessoa com um mínimo de atenção, informação e sensibilidade sabe da analogia de New York com São Paulo. Só que São Paulo é um rascunho de New York, com menos orçamento, mais selvageria dos impulsos da elite dominante. Quando há injustiça da maioria oprimida, tirando meros detalhes superficiais, cultura e afins, sim, São Paulo é como New York. Os E.U.A. tem a sua grande maçã com seu Bronx e Times Square, e nós o grande abacaxí com os Jardins e o Glicério.

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