sexta-feira, março 05, 2010

Jimi Hendrix, Johnny Alf...

Mais uma vez Jimi é enfoque do jornalismo musical. É sobre o lançamento de gravações póstumas inéditas. A estratégia de marketing das gravadoras não permite que tenhamos acesso rápido ao material, pois faz parte do jogo. Mais uma vez teremos o re-relançamento dos albuns do Experience, só que com ítens adicionados para justificar o preço e relançamento, como out takes, encartes, DVD, etc. Fazer o que? A indústria fonográfica tem de sobreviver. Veja o caso dos Beatles por exemplo, tentam extrair tudo quanto é possível para lançar no mercado, deixando os colecionadores em polvorosa. O ápice foi a discografia completa enclausurada em um pendrive (essa foi uma forma coerente, afinal estamos na era digital) em forma de maçã. O problema é que quando o material substancial se esgota, começam a colocar no mercado ítens dispensáveis. Porque o nome out takes? Ora, o artísta rejeitou o resultado de sua performance de gravação. Mas sabe como é fã, quer acreditar em qualquer coisa para ter mais um pouco de seu artista preferido, como um out take que tem apenas 3 segundos a mais de diferença do que a editada oficialmente.
Eu gosto muito do Jimi, só que quando eu atingi quase 30 lp's em minha coleção, eu percebi q
ue o negócio já estava pra lá de bom e passando disso já seria uma obssessão. Comprar um compacto, sendo que é a mesma versão do lp, isso é fetiche. Mas fora estas coisas de produtos, Jimi é um nome presente na música popular tão óbvio, que dispensa mais comentários. Quer um exemplo atual? Vernon Reid é um músico que se sente esta influência, mas não só de Jimi, mas também de Arthur Rhames. Uma das mais coerentes homengens em minha opinião pessoal são as gravações do P-Funk Guitar Army, no Tribute To Jimi Hendrix, em 2 volumes. Talvez seja um tanto quanto desconhecido para os típicos fãs radicais de rock, que geralmente ignoram e odeiam na ignorância outros nomes da música. Eddie Hazel que foi guitarrista do Funkadelic e Parliament é herdeiro direto de Hendrix, sua influência é 100% audível. Mas Hazel não sobreviveu tempo suficiente para participar desta homengem e ficou nas mãos de seus companheiros sucessores no mundo P-Funk, como Michael Hampton, Gary 'Mudbone' Cooper, Blackbyrd McKnight, etc.
Bem, porque Johnny Alf? Eu encontrei uma ligação entre ele e Jimi e isso não tem haver com a arte de cada um simplesmente por serem caminhos diferentes. A morte tem um ponto em comum, só que os casos são opostos. Jimi morreu no auge de sua carreira, muito jovem, nem completou 30 anos de idade. Johnny Alf morreu com 80 anos com uma longa carreira. Talvez Alf passe por um processo parecido com o de Hendrix, talvez relancem seus discos, artístas gravem um tributo, novos artístas e novo público "redescubra" sua obra. Mas é claro que não será da mesma forma que Jimi, que teve um impacto na arte mundial. Alf quase não é citado em seu próprio país, o Brasil. Não teve tanto efeito catalístico na música de uma forma geral, mas isso não tira seu mérito e talento. Eu gostei dele uma vez que o Paulinho da Viola o entrevistava e falavam sobre a influência dos músicos do chamado jazz. Paulinho tinha mais interesse por pianistas como Thelonioius Monk e Johnny já preferia algo mais tradicional, como Nat King Cole. Também gostei da sensação de uma pessoa amável tranquila que Alf me passou. Meu amigo estava de alguma forma envolvido com sua atividade musical no Japão, onde poucos mas fiéis admiradores extrapolaram as fronteiras do hemisfério Sul. Eu até assinei um cartão coletivo que seria entregue ao Johnny, junto ao nome de editores, apreciadores, amigos, críticos japoneses. Mas eu nunca fui muito chegado no trabalho de Johnny. Mesmo hoje em dia, que não fico mais só ouvindo Heavy Metal. Tem uma coisa e outra que eu gosto, mas a bossa não me diz muita coisa. Muitos dizem que a bossa é o supra sumo da música brasileira, mas isso é algo tão particular, que esse tipo de afirmação não reflete a verdade. Quando falam que os gringos "piraram" com a bossa, isso não quer dizer muita coisa. Veja o caso do Stan Gets, Archie Shepp. O jazz já não era uma unanimidade em seu próprio país de origem, o rock vindo da Inglaterra é que dominava em popularidade. A bossa ficou conhecida entre os músicos, pois o público americano, europeu, preferia outro tipo de música. Recentemente falam da suposta febre da bossa no Japão. É uma grande ilusão, pois o público japonês tem preferencia pela música local, como o JPop e o Pop norte americano. Há um nicho específico que gosta de bossa no Japãp, mas é bem restrito, como o público que aprecia jazz em São Paulo.
A verdade é que Johnny Alf estava meio que jogado para escanteio nestes últimos anos, queiram acreditar ou não. Ele quase não se apresentava, por falta de interesse mesmo. E gravar um disco então? Não recebia a atenção e destaque que tinha direito. Agora com sua morte vão falar uma coisa ou outra e tudo mais que eu escreví acima. Mas logo mais vai voltar à penumbra. Estou errado? Espero que sim, pois veja o caso do maestro Moacir Santos. Fizeram homengens,
relançaram gravações, mas não passou do terrritório restrito. O povo quer é ser "chicleteiro" mesmo.
Música como forma de arte é um artigo de luxo, um ítem dispensável na cesta básica. Hoje o momento é do entretenimento musical, que sempre é confundido com a arte musical. Hoje em dia não sobra muito espaço para o refinamento musical de Johnny Alf, talvez também não sobrasse para Jimi Hendrix se estivesse vivo.

Obrigado Jimi, obrigado Johnny, vocês fizeram música, apenas música.

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