Neste segundo sábado de Fevereiro de 2012, estava conversando brevemente online com meu irmão de fé que é autor do weblog Farofa Moderna e ele estava numa audição de gravações de Dolphy e lembrei que já fazia quase um ano que não escutava um disco inteiro de Eric Dolphy.
Meu primeiro contato com a música de Dolphy foi forte, se deu através de um documentário sobre John Coltrane, que foi ao ar a mais de dez anos no canal de tv estatal de São Paulo, onde haviam takes de uma apresentação do conhecido quarteto de Trane composto por McCoy Tyner, Elvin Jones e a fase de transição entre o contra-baixista Reggie Workman e Jimmy Garrison, tendo a participação de Dolphy. O programa ao vivo foi gravado na Europa e não tenho dados precisos da data e local, mas creio que Dolphy participou do grupo de Coltrane que estava em tournée e ele fixara residência no velho continente como fizera sua geração anterior, para obter melhores condições de desenvolver sua arte. Foi intenso ver e ouvir Dolphy no saxofone alto com sua sonoridade única, que parecia uma mistura de certa parte da fase cubista de Picasso com expressionismo alemão, como os cenários dos filmes de Friedrich Wilhelm Murnau, mas é claro que só ponderei nestas analogias muito tempo depois de digerir a música de Dolphy. Também escutei várias fábulas e lorotas sobre Eric Dolphy, pois em terra brasilis naquela época, ainda era difícil o acesso à internet e publicações sérias e fundamentadas que tinham origem estrangeira. Mas Eric Dolphy ganhou importância efetiva para mim quando estava me aprimorando na bateria e pesquisava e apreciava muito a minha maior influência no instrumento percussivo: Max Roach. Quando comprei o disco Percussion Bitter Sweet de 1961, foi e é até hoje o maior impacto no jazz para mim. E lá estava Dolphy incendiando as ousadas composições de Roach em compassos ternários com um instrumento de sopro o qual desconhecia a existência, o clarinete-baixo. Aquele som grave e incomum que se transformava em tons elevados que Dolphy fazia soar como um violino me despertaram o desejo de tocar o clarinete-baixo e estou me desenvolvendo com ele até hoje. E o principal motivo de não ouvir tanto as gravações de Dolphy foi não me influenciar por ele no clarinete, pois Dolphy consolidou o que posso dizer, o clarinete-baixo como instrumento solo no jazz. Claro que já haviam músicos que faziam uso do clarinete-baixo, como Harry Carney e Buddy DeFranco, mas nunca da maneira que Dolphy o fez. Depois vieram outros que levaram o instrumento em outros níveis de evolução como Anthony Braxton, John Surman e Willen Breuker. A minha estratégia deu certo para não absorver clichês e soar um rascunho mau traçado de Dolphy (graças à Deus!).
Bem, depois da conversa com meu amigo, bateu a saudade de ouvir Dolphy e resolvi compartilhar este momento com esta gravação, que não é tão comentada como Out To Lunch, mas lá estão os clássicos Hi-Fly, composição de Randy Weston onde Dolphy mostra a influência dos pássaros ao tocar flauta transversal e God Bless The Child, conhecida pela voz de Lady Day, que se tornou marca registrada de Dolphy num solo de clarinete-baixo, assim como For Alto de Braxton. O trompetista Benny Bailey pode não ser lá muito lembrado entre os nomes do trompete, mas teve uma carreira sólida desde 1959 e boa parte dela foi na Europa. Pepsi Auer é um pianista alemão e há pouca informação sobre suas atividades, mas é possível perceber a influência de Bud Powell e Horace Silver em sua musicalidade. George Joyner mudou seu nome para Jamil Nasser, tocou com B.B. King, gravou em 1956 no disco de Phineas Newborn, tocou Sonny Rollins, Randy Weston, Al Haig, Ahmad Jamal, Lou Donaldson, Red Garland, entre outros.
Earl "Buster" Smith foi baterista na Arkestra de Sun Ra por um longo período entre as décadas de 80 e 90. Clique na imagem para acessar o arquivo e relembrar como eu ou se ainda não ouviu o suficiente para entender porque Eric Dolphy é ERIC DOLPHY.
2 comentários:
Grande post, Rubens...
Tou desenvolvendo um podcast monstro do monstro dolphy! Ja gravei quatro blocos, acho que será preciso mais dois: falando só do Out to Lunch e falando de "Other Aspects" do mestre.
Abraçs!
Valeu, seu Vagner. Aguardo o podcast. abração.
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