sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Inviabilidade só porque não é swinging London? Nem pensar!

Tenho reparado no fascínio do meio cultural paulistano em relação ao exterior. É certamente contraditório, paradoxal, entre tantos outros adjetivos. Um país sem pátria, sem raízes, sem tradições (no bom sentido). Uma capital que se proclama a mais evoluida em termos econômicos e principalmente culturais onde nos deparamos com aberrações como: irish pubs, canadian pubs, bistrôs, cofee shop's, luzes da ribalta. Ao mesmo tempo brotam simulacros de uma São Paulo que nunca existiu que ninguém vivenciou, como botequins de samba da velha guarda ornamentados de petiscos consumidos por pessoas que se recusam cruzar a ponte, onde os corregos com esgoto são a nossa Veneza. Antes, o temor e a repulsa de ir ao centro da capital, lugar de assaltos, gente feia e pobre. Hoje é "sofisticado e cultural" comer um sanduíche de mortadela e pastel de bacalhau no mercadão(ué, mas não era coisa de pobre?). Poucos anos atrás tudo isso era repudiado e encoberto com acordes tristes do rock inglês, suposta debilidade do heavy metal, punk, depois o embuste grunge, hardcore, post-rock, emo, underground rap, dub, roots reggae, entre tantos gêneros importados. Tudo bem, São Paulo antes da ponte nunca foi Brasil, não tem nenhum mal nisso, é o preço de ser uma metrópole, mesmo que capenga. O rap e o samba eram ignorados pela classe média(tudo bem, já sabemos disso). Um pouco antes o forró através do baião, xote, etc., veio por meios acadêmicos, no micro-cosmos chamado campus da USP. Ahá, a USP é depois da ponte! O forró universitário moldado num imaginário que deixou de existir a muitas décadas, onde os teclados e melodias do pop americano, bebida barata e roupas made in china são a realidade. O samba não podia ser diferente, ou até o chorinho(muitos podem e vão discordar, mas é um gênero moribundo). O verdadeiro samba paulistano é tocado com cavaquinho amplificado, pele de pandeiro de plástico espelhado, tênis Nike AirJordan e relógios Timex. O rap também sofreu suas mutações, a São Bento não existe mais em termos ideológicos, aquele frescor mesmo que com pouquíssimos recursos, se foi. Agora que um dj pode ter uma MK da Technics, aquela atmosfera não pode mais voltar, isso é impossível.
Mas mesmo assim, tudo caminha, vai adiante com seus progressos, uns chamam de evolução para soar melhor. E segue a tradição nociva herdada dos grupos, segmentos, idolatria em vários níveis perceptíveis ou não. Até os chamados coletivos artísticos se comportam como clãs medievais, só que não se usam clavas, espadas e flechas no sentido literalmente material. Mas tem o mesmo objetivo em termos ideológicos, através de atitudes verbais, hermetismo, soluções heterogeneas num grande recipiente em comum que é a capital paulistana.
Eu sei, este assunto já foi abordado, é um assunto recorrente e exaustivo, mas é que a cada novo momento surgem dados em conversas longe dos holofotes, em que cada vez mais se aprofunda o panorama disso tudo, como se com um microscópio se visualize melhor a trama de retalhos que é composta a nossa rede cultural. Uma rede frágil, cheia de emendas e muitas delas muito mau executadas, que não se congregam.

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