segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Limites ou limitações da erudição artística

Neste post o ponto de vista é particular, não é de maneira alguma uma verdade absoluta, a não ser para mim mesmo. Talvez um ou outro concorde, enfim, é apenas um blog.
Foi exatamente em 1982 que iniciei minha jornada musical de modo mais focado, comprando um disco dos Beatles (Hey Jude, aquele com quase todos barbudos em frente à uma porta. Não sei porque escolhí este) aos 9 anos de idade. Quando era criança, gostava de tudo um pouco e no meio disso tudo, veio o HipHop, o breakdance. Mas também pelos mais velhos do bairro, tive contato com o Heavy Metal que me colocou definitivamente no caminho da música como instrumentista, porque as aulas de violão erudito não eram lá muito empolgantes para mim. O universo metaleiro quase me deixou alienado ao restante da música mas fui salvo pelo meu apego ao que sempre gostei desde pequeno. Depois veio o Punk, Hardcore, tudo misturado, nunca deixei de gostar de música "pop" mesmo em tempos de headbanger (claro que tinha que negar isso em frente aos colegas do metal, nossa, era muita rigidez para um garoto essas condutas de grupo que parecem seitas). Paralelamente sempre gostei de desenhar, isso veio até bem antes do interesse musical mais específico, fiz cursos de desenho e pintura, até chegar à faculdade. Já na música, desenvolví um descrédito aos métodos de ensino musical e os evitei (até tentei a ULM). Depois daqueles tempos iniciais em que praticava violão erudito, depois melodias e contrapontos no Metal e coisas mais simples no Hardcore, o rítmo no Funk e derivados, veio a bateria com a libertação dentro do rock (Mitch Mitchell me inspirou muito), depois a fundamentação no dito Jazz, com Max Roach, Billy Higgins entre muitos, até a libertação total com Sunny Murray e Milford Graves. A bateria levei bem a sério, pesquisei sua origem, dos tambores africanos, as caixas medievais com esteira de tripa de animal, Baby Dodds, Sonny Greer até os dias de hoje. Depois veio o clarinete-baixo, pois o som que Eric Dolphy fazia me fascinou. Mais familiarizado com o instrumento, notei que estava presente nos desenhos animados de minha infância.
Estudo: significa pesquisar, praticar exercícios para dominar os intrumentos, tocar com outras pessoas e finalmente a chamada performance ao vivo. A bateria e o clarinete não dispus de aulas com professor (só tive 2 aulas de bateria e infelizmente não me acrescentou nada, sem desmerecer o mestre, simplesmente me passou exercícios que já praticava sozinho), e continuo os meus estudos.
Morton Feldman, Roman Haubenstock-Ramati, Lourié, Mossolov, Protopopov, Roslavetz, Lou Harrison, Cornelius Cardew, Xenakis, Arnold Schönberg, John Cage, Pierre Boulez, Anthony Braxton, Peter Brötzmann, Duke Ellington, Charlie Parker, Ramones, Iron Maiden, Devo, Run DMC, Sun Ra, Sonic Youth, Circle Jerks, The Sisters Of Mercy, Metallica, Mudhoney, etc e etc., tudo tem seu valor, mas não precisa conhecer tudo. Nas artes visuais: Pollock, Renoir, Basquiat, Rothko, Rammelzee, cinema: Bergman, Zemeckis, Lucas, Kitano, Miyazaki, Otomo, Morimoto, Fellini, Von Trier, Almodovar, Lynch, etc e etc. Joyce, Burroughs, Andrade, Camões, Barreto, Lessa, Thompson, Tolkien, etc e etc. Nossa! quantos nomes!
Na arte, quando se opta por ser artísta, é sempre bom conhecer a obra do passado e presente, mas não precisa saber tudo, isso é impossível. O mais importante é saber a essencia dela, o que a produz, o processo, a técnica e prática. Enfim, para ser um artísta no melhor sentido da palavra, é necessário viver a vida como ser humano, a inspiração que oferece os melhores resultados estão na maioria das vezes, na esquina de casa, dentro de um ônibus, uma conversa cotidiana, uma notícia no jornal. E é claro, praticar sempre, seja sozinho seja em grupo. Na música a atividade em grupo ensina muito. Agora se escolher ser um teórico, crítico, prepare-se para uma vida de horas e horas de leitura, audição, inúmeras sessões de cinema e video, exposições, peças e tudo mais. E ainda por cima o crítico tem que abdicar de suas paixões pessoais para não comprometer seu trabalho, produzindo muitas vezes resultados tendenciosos e equivocados. Como diz o Devo: Freedom of choice is what you got, freedom of choice is that you want...

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