Polêmica Zorn:
"Para começar, esta historia de genio multifacetado não existe, não passa de um mito. Unico, historico e ultimo genio multifacetado q conheço é Da Vince. Até o Picasso, considerado o genio da pintura seculo 20, vá ver as esculturas dele. não passa de lixo. Exemplos mais proximos, vá ver os moveis do Oscar Niemayer, lixo. Atualmente em exposição no Rio, pinturas e tapeçarias do Burle Max, considerado genio do paisagismo. Concordo, mas as pinturas, tapeçarias e paineis do B Max não passam de lixo, chega a ser constrangedor olhar os trabalhos, do tipo qq professor primario daria 0 nos trabalhos. Acho q qq artista deveria ter um minimo de senso critico. Gravou uma experimentação, não ficou bom, guarda como registro pessoal. Não quero, e não tenho saco para ficar ouvindo 50 gravações de um determinado musico para garimpar alguma coisa q preste. Esta tarefa é do musico. Quando baixo qq material do Parker, Powel, C Brown, Coltrane, McLean, H Silver, Monk, M Davis, Mingus, A Shepp tenho a certeza da qualidade do "selo", no mínimo é bom, podendo ser genial. O sujeito, no minimo, precisa de humildade para dicernir. E não lançar qq merda achando q a gente vai engulir aquela porra."
Perdão, essa não podia deixar escapar, como eu disse no post anterior sobre os anos 80, precisei refletir sobre estas declarações acima, que estão numa comunidade de discussão sobre Jazz no orkut. Ainda bem que certas coisas só circulam como opiniões pessoais periféricas na vasta rede digital, pois se isso vira ítem até de wikipedia (que é imprecisa), algum desinformado vai acreditar que é verdade.
1. É um tanto descabido comparar o Da Vinci neste contexto, pois o que está sendo debatido é sobre a genialidade(chega desse troço de gênio, por misericórdia!) multifacetada dentro dos músicos de jazz, sim independente de opiniões estritamente pessoais, Zorn tem formação no jazz, ele pode tocar o chamado "straight-ahead jazz" com emoção e maestria se ele quiser. Sobre Picasso, o objetivo de muitas de suas esculturas, não é o aspecto formal, como a cabeça de touro com peças de bicicleta, o ready-made. Seria enfadonho só existirem obras renascentistas. Sobre o arquiteto de Brasília, se observarmos a arquitetura no espectro mundial, ele está longe de ser a cereja do bolo. Quanto ao Burle Marx, pode ser lixo para muitos e outros tantos podem achar bom, isso é uma questão de gosto pessoal;
2. Onde está a liberdade de expressão? Quem disse que a experiência não ficou boa? Só porque alguém não apreciou o resultado, isso não quer dizer que o objetivo não foi alcançado. E outra, o Zorn gravou suas experimentações pela sua própria gravadora e não ameaçou ninguém com uma metralhadora israelita Uzi a ninguém consumí-las.
3. Mesmo grandes artístas do Jazz, como Bud Powell gravaram material dispensável, por questões contratuais. Vejam o caso de Archie Shepp, que gravou pela Denon discos que são fracos em comparação a sua obra. O aclamado Ballads de Coltrane e o disco com Johnny Hartman foram gravados por obrigação contratual e não por vontade de Trane e isso não quer dizer que sejam discos ruins. Mas no contexto artístico, da criação, são dispensáveis e não expressam o melhor do artísta. Miles Davis então, mesmo sendo ótimos discos, muitos deles não há uma sessão que não tenha sido editada por Teo Macero, por conta da debilitação técnica de Miles por conta das drogas, muitos solos inteiros são uma colagem de várias sessões diferentes. Fora que nos anos 80 Miles gravou discos fracos em relação a sua obra, pois precisava se manter no mercado.
4. A verdadeira humildade para dicernir é respeitar a obra, principalmente se a pessoa nem tem a capacidade de fazer algo tão bom ou ruim quanto. Eu me coloco como um mero exemplo disso, o próprio Zorn tem muita coisa que eu acho chato mesmo, mas por meu gosto estritamente pessoal e não acho que seja um lixo, simplesmente não gosto. Milhares de pessoas acham a Ivete Sangalo o máximo e até genial (...), mas eu não vou perder o tempo tentando denegrir o talento da cantora, simplesmente é um universo paralelo para mim.
5. Se a comunidade é focalizada no estudo e crítica do Jazz, no mínimo a pessoa deveria ter mais paciência para fazer uma pesquisa mais profunda, principalmente se fizer uma crítica negativa. É necessário ter uma sólida argumentação para afirmar categoricamente sua análise. Se não fica uma coisa infantil (que um professor primário daria nota zero) do tipo: "Eu não gosto, é feio!". Eu não vou me envolver num debate sobre Javon Jackson enquanto não houver algo no trabalho dele que me desperte interesse. Mesmo quando um debate me leva a pesquisar sobre um artísta que não conheço, como a Anat Cohen, não vou depois sair dizendo que é um lixo, pois isso não é verdade, o mesmo vale para o Frank Aguiar. Eu simplesmente não gosto e o tempo que eu gastaria pensando e falando mau de algo eu uso anunciando as boas novas.