sexta-feira, abril 30, 2010

Hardware - Third Eye Open (1992)

Você gosta de hard rock? Talvez venha em sua mente aquelas bandas dos anos 70 com um bando de cabeludos e barbudos empunhando suas guitarras. Esqueça. Hardware foi um projeto de Bill Laswell com nomes inusitados para o hard rock, como Bootsy Collins, que foi baixista do JB's de James Brown e Parliament de George Clinton. Buddy Miles é um velho conhecido do rock, afinal foi membro do primeiro trio de rock negro, o Band of Gypsys, ao lado de Billy Cox e Jimi Hendrix. Steve Salas se tornou um dos principais guitarristas de George Clinton e trabalhou com Rod Stewart, Stevie Vai, além de Bootsy.
Digamos que o projeto Hardware é funk rock, black rock, dando continuidade à série criada por Laswell, a Black Arc. Conta com a participação de George Clinton, Gary 'Mudbone' Cooper, ex companheiros de Bootsy no P-Funk e Bernard Fowler, que participou de inúmeros projetos, com Rolling Stones, Herbie Hancock, Material, James Blood Ulmer, Duran Duran, Yoko Ono, entre muitos outros.
Clique na foto da capa para acessar o arquivo.

quarta-feira, abril 28, 2010

Albert Ayler Quintet - Truth Is Marching In (01/05/1966)

Alguns anos se passaram após um certo destaque da mídia especializada sobre o saxofonista Albert Ayler. O lançamento de uma caixa de cd's com muitas gravações inéditas e principalmente a gravação de Ayler tocando no funeral de John Coltrane. Depois o lançamento de um documentário em video de Ayler, que conta com raríssimas imagens de Ayler também colocaram-no em evidência.
Pouco se comenta que Ayler foi grande influência no direcionamento musical de John Coltrane em sua chamada última fase, de 1965 à 1967, assim como a gravação Ascencion foi inspirada na gravação Free Jazz de Ornette Coleman. Mas Ayler também foi influenciado por Trane, numa fase anterior, quando Trane se destacava no hardbop. Mas logo no início dos anos 60, Ayler já começava a solidificar seu próprio estilo, como pode ser constatado em sua primeira gravação como líder em 1962.
Quando se trata de jazz spiritual, sempre vem a tona a suite A Love Supreme de Coltrane. Sim, é uma belíssima obra que foi dedicada como um louvor à Deus. Mas Ayler manteve o foco nesta espiritualidade, enquanto Trane foi para campos místicos, como se pode notar em títulos como Om, Interstellar Spaces, etc.
A maioria das composições de Ayler tem títulos ligados ao Espírito Santo, Deus, Jesus, etc. Inclusive Ayler gravou o disco Goin' Home, só com versões de hinos das igrejas protestantes cristãs e mais tarde seu discípulo, o saxofonista David Murray gravou o disco Spirituals, da mesma maneira.
Uma forte característica na música de Ayler são os temas que tem a sonoridade das marchas militares, talvez tenha sido influência de seus tempos na banda da escola e no serviço militar, como Ghosts, Bells e Spirits por exemplo.
Albert Ayler é um nome fundamental na história do free jazz e sempre é válido comentar sobre sua arte, que continua contemporânea e emocionante. Clique na imagem acima para acessar o arquivo.

terça-feira, abril 27, 2010

O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento

A frase acima é um trecho do livro do profeta Oséias, no Antigo Testamento. O texto especificamente fala sobre o povo israelita que rejeitou a lei de Deus e ficaram à sua própria sorte, tendo que arcar com a consequência de seus atos e sua cidade foi destruída por outros povos.
A manipulação da palavra causa muitos males e a ignorância mais ainda. A religião fundada pelo profeta Mohammed, não se baseia em homens-bomba, violência e fanatismo, fala de paz. A maioria dos praticantes que entram nestas questões radicais, são manipuladas pelos seus lideres que não tornam acessível o conhecimento das palavras contidas em seu livro sagrado. Só divulgam de forma isolada algumas frases que são o suficiente para causar graves danos. O Vaticano fez a mesma coisa com a Bíblia, tudo era em latim(língua morta e complexa), que só os líderes tinham domínio. As missas também eram conduzidas da mesma forma, o povo ficava a mercê dos padres, bispos e papa. Foi instaurado um clima de medo e obscuridade, de castigo, etc. Promoveram massacres a outros povos que não compartilhavam de sua opinião religiosa, como fizeram com os muçulmanos. Mas a questão não é essa.
Podemos usar esta frase em nosso cotidiano, livre de questões religiosas. O conhecimento é um ítem que realmente tem a capacidade de nos poupar de situações adversas. Por exemplo, se tivermos o conhecimento básico aprendido numa escola pública, ao comprarmos algum produto no mercado e lermos as especificações no rótulo, saberemos se poderemos consumí-lo sem nos causar dano. Minhas aulas de química não eram das melhores(estudei em escola pública, em meio a muitas greves), mas o pouco que aprendi me ajuda no dia a dia, ao comprar alimentos, produtos de limpeza, etc. Compreender as clausulas de um contrato ou um documento evitam problemas posteriores, tanto que existe um dito popular: "Escreveu e não leu, o pau comeu".
O que me motivou a escrever este post, foi o uso indevido da palavra apocalipse em muitos textos e frases que tenho lido e escutado por aí. E isso não vem de pessoas que foram privadas do ensino básico, muito pelo contrário, tiveram acesso ao chamado nível superior de ensino, como USP, PUC, etc. Alguns deles trabalham no jornalismo, onde é essencial um certo domínio do conhecimento das palavras. Afinal publicam textos tanto via impressa como virtual para o público. São pessoas que leram muito mais livros que eu lí, escrevem a muito mais tempo do que eu. Eu apenas gostava de fazer redações na escola e depois de muito tempo, comecei a escrever neste blog.
Vamos lá:
Apocalipse(
αποκάλυψις): palavra de origem grega que significa revelação.
Como se pode perceber, há uma enorme diferença entre o verdadeiro significado e o que as pessoas supõem que signifique. Apocalipse não significa o fim do mundo. Talvez por não ter se traduzido o título do último livro da Bíblia(em grego, conjunto de livros), tenha gerado esta distorção do significado. Sim, o conteúdo de Apocalipse trata sobre o fim do mundo, mas não é só sobre isso. Talvez por pré-conceito, ignorância, preguiça ou outros motivos, as pessoas reproduzem uma informação sem averiguar realmente do que elas falam(E olha que no jornalismo é regra examinar as fontes de informação).
Mas em tempos de escrever palavras como: "vc", "naum", "aki", "xego", "flei", que importância tem? Deixe a forma correta de escrita da língua portuguesa para os fósseis da Academia Brasileira de Letras...
Oséias 4.14: "...pois o povo que não tem entendimento será transtornado."

ps.: Diz aê professor Pasquale!

quarta-feira, abril 21, 2010

Token Entry - From Beneath The Streets (1987)

Entre 1989 e 1990 meu amigo recebeu pelo correio um lp do Token Entry, se tratava de Jaybird, o segundo album do grupo de New York que havia sido lançado recentemente. Produzido por Dr.Know, guitarrista do Bad Brains, deu uma sonoridade mais pesada, mais heavy metal. Token Entry fazia parte do cenário do chamado NYHC, que estava em plena ebulição, com bandas como Agnostic Front, Gorilla Biscuits, o surgimento do estilo straightedge com o Youth Of Today, Bold, etc. O Token tinha uma grande afinidade com o que se chamou de Skate Rock, que era o título das compilações que a revista Thrasher Skate Magazine lançava periodicamente, com a maioria das bandas do estilo punk hardcore. Era a trilha ideal para as sessions nas ruas e skateparks, som rápido, radical e cheio de adrenalina. O Token Entry se tornou uma de minhas bandas preferidas logo na primeira audição do Jaybird na casa de meu amigo, em seu pequeno quarto em um conjunto habitacional na zonal sul e mais 4 amigos se apertando entre o armário a cama e o aparelho de som. Foi contagiante.
Eu tinha postado aqui sobre o primeiro compacto ainda com o vocalista que foi para o Killing Time(outro nome conhecido do NYHC) e agora, este é o primeiro lp, com o vocalista Tim Chunks, que se tornou o definitivo. Lançado pela Positive Force Recs em grande estilo, com a capa sempre feita pelo baterista Ernie, com a linguagem do graffiti estilo hihop e a banda na contra-capa na estação de metrô Times Square(os Warriors tinha que passar por ali), já preparava o conteúdo musical. Revelation, Antidote e Latent Images são inesquecíveis, clássicos do skate rock. A gravação é um tanto peculiar, mas em nada compromete. Digo isso por conta da diferença entre From Beneath e Jaybird. Parece que o grave estava mais baixo no Beneath e foi aumentado no Jay. É a mão pesada de Dr. Know que fez a diferença, dando mais densidade na gravação, principalmente nas guitarras. Token Entry é um capítulo importante do hardcore dos anos 80. Clique na imagem acima para acessar o arquivo.
"...grab your board try again its not just a game

ollie to tail totally insane all that I wanna do is skate, skate!
"

sábado, abril 17, 2010

John Coltrane - Jupiter Variation

Sinceramente tenho evitado postar algo sobre John Coltrane para evitar a redundância sobre o assunto. Existem bons livros biográficos sobre o músico, pelo menos dois bons videos que são o World According John Coltrane e Coltrane Legacy. Mais recentemente a edição em língua portuguesa sob o foco das gravações de A Love Supreme recolocou Trane nas publicações brasileiras. Como todo ícone artístico, cria-se uma mitologia, para o bem e para o mal. Um dado precioso sobre Trane é o depoimento de um membro de sua família que afirma com autoridade que ele foi uma pessoa simples como muitas outras, não teve acontecimentos extraordinários em sua infância como personagens de fabulas infantis. Mesmo em sua trajetória musical, encontrou barreiras, desafios e dificuldades. A sua técnica que foi batizada de "sheets of sound" foi desenvolvida pela necessidade de superar limitações técnicas em contraponto de suas concepções musicais que se desenvolviam cada vez mais. Em sua chamada última fase, onde sua música ia em direção a total liberdade das convenções de estilo (vide as últimas versões de My Favourite Things), teve fundamental influência de Albert Ayler, que anteriormente foi influenciado por Trane na década anterior, quando Trane ainda passeava pelo hardbop. Ornette Coleman e sua gravação Free Jazz foi a matriz inspiradora do consagrado Ascension. Enfim, como diz o Sonore, No One Ever Works Alone.
Jupiter Variation como o título sugere, é composto de out takes, material que não foi publicado na sua época, no caso o Interstellar Space. Também foram incluidas as inéditas Number One e Peace On Earth, que foram gravadas em sessões na costa oeste dos E.U.A. e posteriormente em 1972, Charlie Haden e Alice Coltrane refizeram as partes de piano e baixo. Clique na imagem acima para acessar o arquivo.

Frank Lowe - Fresh (1975) * refazendo o link

Eu tinha postado no ano passado sobre esta gravação de Frank Lowe e houve um problema com o link de acesso. Por isso, se você aprecia o trabalho de Lowe ou ainda não conhece, é uma gravação essencial do free jazz e inclusive fez parte da serie de gravações criada pelo selo Arista, a Arista Freedom Series.
Clique aqui neste link para acessar o post onde se encontra o acesso ao arquivo:
http://sonorica.blogspot.com/2009/11/frank-lowe-fresh-1975.html

sexta-feira, abril 16, 2010

Charles Gayle Quartet - Always Born (1988)

Charles Gayle tem sido para mim uma fonte de inspiração ao lado de Giuseppi Logan, que tem resistido e sobrevivido aos duros anos no obscuro caminho do free jazz. Gayle mesmo sendo contemporâneo de grandes nomes da música livre, só teve registro fonográfico no fim dos anos 80. Durante muitos anos se alojou em prédio abandonados em New York e segundo ele, o que o manteve vivo foi a Bíblia e a pratica do seu saxofone. Foram tempos difíceis, longos e frios invernos. Mas finalmente Gayle tem um lar, assim como Logan também agora possui e principalmente, retornaram ao cenário musical. Gayle tem tocado na Europa e Logan acaba de lançar um cd depois de décadas de inatividade e anonimato.
Gayle tem uma forte personalidade musical, uma torrente sonora é lançada ao ar pelo seu saxofone. A maioria de suas músicas, que tem como tema as escrituras sagradas e o cotidiano, deixam fluir a linguagem do espírito de forma ininteligível às linguas criadas pelo homem, mas universalmente compreendido pela linguagem espiritual da música.
Always Born conta com a colaboração de John Tchicai nos saxes soprano e tenor. Tchicai participou da gravação de Ascension e foi membro de um dos grupos mais desafiadores da música livre, o New York Art Quartet. O baixista Sirone (Norris Jones) veio de uma longa carreira musical, já trabalhou com Sam Cooke e Smokey Robinson, Ornette Coleman, Sun Ra, Pharoah Sanders, Albert Ayler, entre muitos outros, além de de ser co-fundador do grupo Revolutionary ENsemble, ao lado de Leroy Jenkins e Jerome Cooper. O baterista Reggie Johnson é de Chicago e logo se tornou membro da AACM, desenvolvendo parcerias com Anthony Braxton, Muhal Richard Abrams, Butch Morris, Roy Campbell, entre outros. São 6 músicas sendo que Coming Together são da autoria de Sirone e Nicholson e as demais de Gayle. Em comparação aos registros posteriores, como Repent, Shout!, Precious Soul, etc, Always Born possui uma atmosfera mais serena, mas é claro, não deixando de ter a intensidade do sopro de Gayle. Sem dúvida, uma bela estréia e um registro essencial do free jazz.
Clique na imagem para acessar o arquivo.

quarta-feira, abril 14, 2010

Zillatron - Lord Of The Harvest (1994)

Já faz um bom tempo que o músico e produtor Bill Laswell lançou uma série entitulada de Black Arc Series, que criou uma nova dimensão para o funk com a participação de grandes músicos do gênero, como alguns membros dos grupos Parliament, Funkadelic e JB's como é o caso do multi-instrumentista Bootsy Collins. Segundo o release da gravadora, o projeto Zillatron é o funk desbravando os territórios da ambient music, techno, hardcore e além. Uma mistura de Funkadelic com Napalm Death. Bootsy tem uma personalidade musical marcante e algumas músicas lembram algo de sua Rubber Band, só que futuristica ou como dizem, cyberfunk. Outras como Exterminate e Bootsy And The Beast são a fusão do metal com o funk de fato, não da forma que ficou conhecida sob o famigerado nome de funk'o'metal. Aliás o tal do funk'o'metal apenas se limitou à tecnica de slap no baixo elétrico e vocais com a métrica do rap. Em Lord Of The Harvest, que foi dedicado ao velho companheiro, o guitarrista Eddie Hazel, que faleceu poucos meses antes da gravação, Bootsy conta com a participação do velho parceiro de P-Funk, o tecladista Bernie Worrell, além do guitarrista Buckethead, Bill Laswell e Umar Bin Hassan do Last Poets. Zillatron não é para fundamentalistas do funk e do metal e sim para ouvidos abertos à novas dimensões da música.
Clique na foto da capa para acessar o arquivo.

sábado, abril 10, 2010

Cenário independente paulistano... dividir e conquistar! the vikings are coming!

A coletânea de bandas punk da escandinavia não tem nada haver com o post, mas esta capa é tão emblemática que a usei para ilustrar a situação. Dividir e conquistar é a tática do império romano e outros impérios para expandir seus domínios. Veja o que aconteceu com as nações da Africa, se fragmentou pela mão do pessoal da pesada que se encontra no continente acima, a Europa. A Europa se auto-proclamou como o centro do mundo e até como berço da civilização... tá bom...
Enquanto o pessoal "selvagem" do Oriente Médio já usava o sistema numérico que usamos e comia com talheres, o "velho mundo" se consumia em peste bubônica e outras mazelas nos seus chamados burgos.
Bem, vamos ao assunto em sí. Apesar de haver uma revitalização do cenário cultural, principalmente o musical independente em São Paulo, depois do grunge, que não podemos negar, causou uma boa movimentação, criando novas bandas e gravadoras, inspirado na pequena Sub Pop, que era apenas uma sala num prédio comercial em Seattle, cidade portuária longe dos centros culturais na California e New York. Até o consagrado grupo Titãs se aventurou nessa barca, convidando o produtor Jack Endino e cada membro se arriscando em projetos paralelos ("Será que isso o que eu necessito?!" - nome da música do disco Titanomaquia).
Mesmo o setor de música comercial se encontra numa situação não muito diferente do meio da música autoral independente. E as bandas que tocam covers, bandas intérpretes, de tributo, etc, adotaram uma técnica de sobrevivência no escasso mercado de bares, casas noturnas e happy hours da cidade. Elas fecham o cerco, limitam as opções às outras bandas, porque se não for desta maneira, fica sem trabalho. Ainda mais neste meio, onde sempre aparece alguém melhor e muitas vezes que cobra menos pelo trabalho e isso também gera uma degradação ao real valor do músico. O proprietário não está nem aí com essa qualidade, ele quer seu estabelecimento cheio e consumindo muito, mesmo que o som não seja feito lá com muito esmero (se for com criatividade e sentimento, esquece!). Se fazem as "panelinhas", que são tão fechadas e resistentes de fazer inveja a Panex, Rochedo e Clock. Mas o meio autoral não deveria ter este tipo de comportamento, pois vale é justamente a característica individual de cada artísta. A diversidade é extremamente benéfica ao meio artístico autoral.
Vamos fechar mais o foco. No caso do chamado cenário punk/hardcore, onde o brasileiro em sua maioria não entendeu que tudo era mais o conceito do que o estilo e sonoridade, acabou limitando tudo nos famosos "one, two, three, four" e 3 acordes. Não há muito o que fazer se o padrão musical foi limitado. Poeticamente, não é diferente, usar de ironia e revolta político social, mais ligada ao relacionamento entre população e orgãos políticos e ideologias. Isso migrou para o hiphop, com o tal do rap denúncia, que narra a injutiça social. Mas a maioria fica só reclamando e não tem uma atitude de efeito contra este mal. E pior quando algum artísta membro da periferia consegue alguma notoriedade e upgrade financeiro, passa a agir como seus opressores burgueses. Tá aí essa cultura do ouro, do "bling", numa atitude exibicionista de "provar" que venceu na vida. Mas na verdade se prostituiu e perdeu seus valores, se é que teve em algum momento.
Com o tempo, o hardcore também se enveredou por outros caminhos além do que era uma alternativa à cultura do consumo descartável. Muitos deste meio estão preocupados em estar "style", tênis tal, guitarra tal(e isso as vezes nem tem haver com a qualidade do instrumento), de serem vistos em lugares de prestígio do cenário, de estar com tal fulano, etc. O cenário musical do punk era estruturado na coletividade e união. Ainda bem que tudo não homogêneo e existem pessoas que fazem pela arte, pelo ideal. Mas coisa poderia ser bem melhor.
Vamos ajustar o microscópio no foco mais fechado: o free jazz e improvisação livre. Aí a coisa fica muito mais difícil. É um tipo de música que não agrada a maioria, pois está oposta ao modelo geral de música como forma de entretenimento. É um tipo de música desafiadora, que o ouvinte tem de parar suas atividades costumeiras para apreciar um terreno que ele não tem controle. O músico Ken Vandermark me disse que as pessoas preferem um papel de parede musical, uma música que seja apenas pano de fundo para suas atividades diárias e não querem ser desafiadas e surpreendidas pela música. E o número de músicos dispostos a se aventurar em um terreno destes, que conta com um reduzido número de apreciadores, também causa uma falta de contingente. Existe até a visão errônea e pré-conceituosa de quem faz este tipo de música, é porque não sabe tocar direito. Mas aí nem se perde tempo com este tipo de pensamento.
Em São Paulo quase não existem músicos que tocam free jazz e improvisação livre, e muito menos lugares para se prestigiar. Ainda bem que SP, seguiu a tendência internacional e este tipo de música encontra espaço em lugares como centros culturais, galerias de arte. Mas o pensamento provinciano coloca em xeque o crescimento deste setor musical. Nestes poucos anos em que surgiram poucas manifestações da música mais radical, já ocorreu a setorização do minúsculo meio. Houveram dois eventos coletivos de improvisação que não foram capazes de criar uma orquestra de improvisação, como é a tendência nos países consolidados no estilo. E isso não tem haver com o número de músicos. Os interesses pessoais, vaidade, ego, sempre prevalecem e emperram o progresso, a evolução musical. No curto espaço de tempo, escutei uma série de falácias neste reduzido meio. Um tal de um não falar com outro, de depreciar as habilidades alheias. Teve caso de parecer que se reinvindicavam um título de pioneiro do free jazz ou coisa parecida. Eu me descuidei e me encontrei no meio desta sujeira, mas pela misericórdia de Deus, rapei fora. A música é importante para mim, mas não ocupa o primeiro lugar em minha vida. Não adiantou muita coisa o Phil Minton, Veryan Weston e Peter Brötzmann tocarem por aqui. Se tornou apenas um evento social, não um aprendizado de humildade e respeito ao próximo. No caso do Brötzmann, o qual conversei rapidamente da vez que esteve aqui, me passou muita serenidade, simpatia e humildade, em contraste à sua arte, que é audaz, selvagem e em alto volume. Se deveria tomar como exemplo a se praticar, o título da gravação do Sonore, trio formado por Peter Brötzmann, Mats Gustafson e Ken Vandermark:
No One Ever Works Alone.
E assim as coisas por aqui caminham com uma dificuldade um tanto quanto desnecessária. E olha que tem gente falando em "energia positiva", "luz", "muito amor"...

"Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os hipócritas também o mesmo?
E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os
hipócritas também assim?"

Evangelho de Mateus capítulo 5, versos de 44 a 47.

sexta-feira, abril 09, 2010

David S. Ware está de volta

Em Janeiro de 2009 o compositor e saxofonista David S. Ware se encontrava em um delicado estado de saúde, precisando urgentemente de um transplante de rim.
Mas as boas novas chegaram e ele está de volta:

"I’m Back !The expression is flying !The practice has the serpent’s tongue.The dexterity is effortless. I’ll perform as much as
karma allows. There may even be some timely surprises. So keep those third ears wide open.
Being a son of Arjuna I continuously contemplate “Be Without the 3 gunas” Yes there’s much action to be engaged in. Father time marches on. Namaste"

David Spencer Ware

quinta-feira, abril 08, 2010

Bomb The Bass - Beat Dis (1988)

Bomb The Bass é o trabalho do músico e produtor inglês Tim Simenon, filho de imigrantes da Malasia. No final dos anos 80 o acid house, um sub-gênero da house music de Chicago, se espalhou pelas pistas de dança e rádios com vários artístas e um deles que emplacou um hit foi o Bomb The Bass com Beat Dis. Beat Dis se tornou um ícone do acid house assim como "Pump Up The Volume" do M.A.R.R.S.
Aqui no Brasil o Bomb The Bass chegou quase que simultaneamente por conta de dj's de pequenas casas noturnas. Eu e meus amigos de bairro nos divertimos muito ao som de Beat Dis, Megablast e Don't Make Me Wait na pista da falecida Phoenix, que ficava na Av. Henrique Schaumann e o logotipo da casa era declaradamente acid house, com o símbolo "smile". Lá era um lugar onde se encontravam muitos amigos e o som era bem variado, onde tocava EBM e hiphop. Inclusive um dos pioneiros do hiphop, o falecido Jr. Blow do Stylo Selvagem, chegou a se apresentar por lá.
Beat Dis foi um sucesso instantaneo não só nas pistas de dança, mas também nas skate sessions nas pistas de skate e ruas de São Paulo.
O single de Beat Dis em vinil se tornou um ítem disputado entre os novos dj's depois do advento do breakbeat no fim dos anos 90. Originalmente são 3 versões diferentes das 2 que estão no lp Into The Dragon, uma versão extendida, uma dub (praticamente a base sem os samplers de voz) e outra remixada.
Clique na foto da capa para acessar o arquivo que além do single original, possui a versão Beat Dat, que está no lp Into The Dragon e a Radio Edit.

quinta-feira, abril 01, 2010

O retrato da cultura do paulistano, do brasileiro

Nesta última terça me encontrei com um amigo que está de mudança para Curitiba. Ele me convidou para tomar um café na rede Starbucks. Sempre que aparece este tipo de coisa, fico um tanto quanto arisco, pois aqui nesta cidade, uma coisa corriqueira se torna fonte de status. E lá fomos ao Starbucks localizado no cruzamento da Alameda Campinas e Alameda Santos, um endereço "nobre"(blergh!) de sampa. Primeiro o lado bom, o local é agradável, ar condicionado um tanto quanto frio, mas os produtos são bons. Tomamos um café com baunilha acompanhado de pão de queijo e muffin de blueberry. Tudo com um ótimo sabor, tamanho satisfatório, o café foi servido naqueles copos grandes com tampa, como se vê nos filmes norte americanos e o muffin era de massa úmida e boa quantidade de fruta como recheio e o pão de queijo crocante por fora e macio por dentro. Não é como boa parte de lugares em São Paulo que servem estas iguarias com preço alto e o muffin parece um bolinho da Seven Boys com prazo de validade vencido e o pão de queijo como aqueles instantâneos de supermercado.
Bem, vamos ao assunto do post. Algumas pessoas agem de modo mais saudável, estão desfrutando apenas de um serviço gastronômico de boa qualidade, apenas isso. Mas a maioria se deixa levar pelas suas própias ambições e acreditam que estão se elevando socialmente. Querem ser vistas nestes locais e se sentirem especiais, mais nobres. Mas numa rede fastfood? Isso ocorre na loja de alfajores Havana, Häagen-Dasz, Burguer King. Como se este tipo de atitude pudesse proporcionar um upgrade intelectual e de status. Passamos na loja da Fnac, que tinha como intuito inicial, ser um megastore mais voltado à cultura. Mas o povo vai lá é para folear semanário e paquerar produtos eletrônicos. A variedade de cd's caiu mais de 65% e deu lugar a prateleiras forradas de dvd's da Ivete, Claudia e etc. Livros? Costuma ser o carro chefe da Fnac, mas a maioria dos exemplares são livros são de um tipo de literatura um tanto quanto, o que posso dizer, Paulo Coelho? Dan Brown? Crime e Castigo? Ora, Dostoievski eu encontro numa maquina de livros pocket na estação de metrô.
Aí fomos ao outro extremo. Descemos a rua Augusta, onde a modernidade jovem voltou a habitar, junto das casas de strip tease degradantes. Um fim de feira livre tem uma aparência mais digna. Vistamos amigos, isso já ao lado do edifício Copan e fomos numa churrascaria com sistema de rodízio, que fica na praça da República. A Trilha Gaúcha, é o oposto do Starbucks. Quem está na churrasqueira é o "Ceará", o piso está sempre seboso, as carnes nem sempre estão no ponto, as vezes salgadas demais, as vezes queimadas e endurecidas. Mas as pessoas que frequentam o Trilha não ligam pra isso, o negócio é a quantidade. O sistema de rodízio lhes permitem se empanturrar de carne, pois não podem gastar tanto dinheiro com carne em seus lares. Ou se come uma costela em casa ou deixa de pagar umas das 20 pretações da tv de lcd comprada nas Casas Bahia.
Isso tudo já não é novidade, pois em São Paulo, sempre foi assim. Então se torna um tanto quanto alienígena escrever sobre jazz, afrobeat, volta dos discos de vinil para colecionadores. Ainda bem que isto aqui é só um blog.
 
 
Studio Ghibli Brasil