sábado, fevereiro 12, 2011

Cultura brasileira ou seria curtura brazuca? (Nunca fomos tão provincianos no pior sentido da frase...)

Nesta bela manhã de sábado, leio o jornal de bairro e me deparo com uma reportagem sobre projeto urbanístico no bairro em que resido à quase 40 anos: Projeto de fazer um boulevard (Termo em francês que designa um tipo de via de trânsito, geralmente larga, com muitas pistas divididas nos dois sentidos, projetado com preocupação paisagística) na Rua dos Pinheiros. A tal rua só possui duas pistas de tráfego com um único sentido, consequentemente inviabilizando o projeto.
Bem, mais uma vez o uso indevido das palavras é usado e aqui nesta terrinha, a tal da descontração brazuca trata de transfigurar as coisas e numa liberalidade tal, que promove a inutilização do dicionário da língua portuguesa e o que dirá sobre a estrangeira. O jeitinho brasileiro faz tudo à seu modo, não importando o que seja realmente correto. Como diria Homer Simpson, "Dane-se Flanders!, ou melhor, dane-se, dicionário!".
Como morador do bairro, seria beneficiado em muitos termos neste projeto, mas na verdade o que me incomodou foi uma observação no projeto, que segundo os idealizadores, é inspirado nos boulevards europeus. Aí reside o cancro sócio-cultural brazuca, o desespero de se equiparar com algo supostamente superior, chic, sofisticado, etc. Uma convulsão violenta tenta empurrar para debaixo do tapete as mazelas de uma cidade em crescimento desordenado,
tomando conta de tudo e de todos. Quando não é possível maquiar a cidade com uma fachada de pretenso primeiro mundo, tenta-se justificar com um cenário vintage (Estilo que resgata a estética de décadas passadas) que nunca existiu, como por exemplo, a onda de botecos que assolou a Vila Madalena, ou a propaganda recente da cerveja Bohemia. Até parece que o brasileiro tomava a birita ao som do swing ou ragtime, nas primeiras décadas do séc.XX, num boteco na Rua Boa Vista...
A realidade é bem diferente, o cidadão toma cerva de pouca qualidade num bar de azulejos genéricos ao som estridente de música de péssima qualidade, como pagode, sert
anejo e axé, com a possibilidade de haver uma briga, um assalto, alguém vomitar no seu pé, regado à fumaça preta e carregada de poluentes dos ônibus e o cheiro de óleo velho da máquina de frituras.
Do outro lado, temos um pequeno trecho da Rua Oscar Freire, onde fizeram o tal do boulevard, onde os pobres(no sentido espiritual) paulistanos abastados tentam se sentir em Champs-Élysées ou numa parte de Manhattan.
Só aqui em Pinheiros, brotaram alguns bistrôs e é muito triste observar os frequentadores e seu comportamento soberbo. Mais uma vez, vamos ao dicionário:
Bistrô: restaurante ou bar pequeno e simples, porém muito aconchegante. Muito populares na França, onde se servem bebidas alcoólicas, café e outras bebidas. Servem também comidas simples a preços acessíveis.
Quem sabe alguém tem a má idéia ( suspeito que existem alguns estabelecimentos que já tiveram esta brilhante idéia) de tornar em algo elegante o famoso PF de bar. Aí meu caro, pra comer barato, só no Bom Prato...

Um comentário:

Vanderlei Prado disse...

Viva a ilha da fantasia!

 
 
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