quinta-feira, setembro 25, 2008

Jaca, Schiavon e suas mitologias

Eis que esta semana foi aniversário de um bom amigo. Uma comemoração simples, do tipo que eu gosto. Como recomendou o apóstolo Paulo, "não seja pesado à ninguém", realmente o que me contentou foi desfrutar de uma boa conversa. Definitivamente a qualidade não é a quantidade, como muitas festas badaladas onde a música do Minutemen serve bem: "Shit You Hear At Parties", festas cheias de pessoas, os famosos "bicões", "os amigos dos amigos que trouxeram um amigo" e a festa de aniversário desvia seu foco para os alheios se divertirem às custas do aniversariante que muitas vezes nem são amigos.
Eis que se encontra o amigo de meu amigo aniversariante, o autor da arte acima, sim, o Jaca. Muito conhecido no meio dos quadrinhos, de leituras como a finada revista Animal, as publicações Tonto ou como muitos dizem, o mito dos quadrinhos underground. Até meu amigo recebeu esta denominação, por conta de suas personagens, como a Vesga, Morsa, Tomate Ladrão(o meu preferido).
O que me chamou a atenção sobre o Jaca, foi o qu
e escreveram à respeito dele recentemente, numa matéria generosa em uma boa revista inclinada a chamada arte. Sobre esta questão do que chamam de "dom artístico" e "injustiça do universo"(será que se refere ao bom e justo Deus?), vamos desmitificar: Thomas Alva Edison disse com autoridade e sabedoria uma frase que meu professor de desenho, pintura e história da arte na faculdade nos repassou: "Na arte, é 99% de esforço e 1% de talento".
Pois é, a arte produzida por M.C. Escher, Ornette Coleman, John Coltrane, Pablo PIcasso, Jaca, Schiavon, Hayao Miyazaki, Katsuhiro Otomo, Osamu Tesuka, são feitas para as pessoas apreciarem e também incentivarem, não para nutrirem um dos mais baixos sentimentos humanos como a inveja.
O que comprova a frase do inventor da lâmpada incandescente, era o que Trane fazia, praticava saxofone mais de 10 horas por dia, Otomo, Tesuka e Miyazaki debruçavam em suas pranchetas de manhã até a madrugada e por aí vai. Sei que a intenção era elogiar, mas isso não justifica nutrir, mesmo que sem intenção, tal sentimento abominável. Ora, a questão é simplesmente tomar vergonha na cara e se esforçar e mesmo que não se alcance o mesmo nível destes artístas, terá criado algo de valor. Exemplo? Ramones, muita gente fala que é música de retardado, que qualquer um pode fazer igual e blá, blá, blá... Os Ramones não se comparam ao que Mozart fez, mas fizeram história, influenciaram milhares de pessoas, sua música toca nas rádios e tv's até hoje e principalmente, emocionam!
Voltando ao Jaca, não posso dizer que o conheço, afinal poucas palavras em cerca de duas horas não dá pra conhecer ninguém de verdade. Mas a impressão que ficou foi de uma boa pessoa, agradável e simples, nada haver com o que escreveram sobre ele. Um cara que tem prazer em comer um simples bolo de boteco, sim aqueles que sempre ficam no balcão do bar e só os tiozinhos do povão comem, conversar sobre coisas comuns, como animais de estimação num bate papo sereno.
O mesmo posso dizer do meu amigo Schiavon. Muito escutei à seu respeito, talvez baseado em seus personagens cortando a cabeça de alguém ou ateando fogo em algo. Mudei completamente a impressão que me passaram, quando ele disse que gostava do personagem Nekobasu(o gato ônibus do filme Tonarino Totoro, de Miyazaki), quando em suas épocas difíceis, contou as parcas moedas e repartiu o pão de torresmo comigo. Pode parecer um exemplo sem importância, mas na verdade aí reside a verdadeira generosidade, repartir algo quando este algo faz falta. É muito fácil oferecer um rango quando a geladeira está cheia.
Os jornalistas pensam que estão prestando um bom serviço, deixando suas imaginações criarem textos romantizados sobre muitos fatos e pessoas e muitas vezes acham que é uma boa homenagem. Um artísta de bom caráter não quer se colocar em um nível superior, ele não acha que sua arte é mais importante que um pão francês de padaria. A sua arte é consequência de sua vida, seu cotidiano, mesmo que baseado em um mundo onírico. O bom artísta só quer compartilhar o fruto do seu trabalho, como se compartilha um pão de torresmo.

Um comentário:

Schiavon disse...

Muito obrigado, irmão.
O recado para os bobocas é que o medo é o oposto da fé.

 
 
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