sexta-feira, junho 19, 2009

Disco de vinil: o culto à anti-cultura

Mais uma vez este assunto está em pauta. Ontem mesmo havia um programa de debate em um conhecido canal de UHF que é direcionado ao mercado do produto musical. A grade de programação é dedicada em grande parte na promoção destes produtos no formato conhecido como video clip. Existem programas que pretenciosamente são ditos como culturais, mas qualquer pessoa que tenha uma real noção do que um dia foi denominado cultura, como livros, artes em geral, sabe que o conceito se deteriorou.
Mas voltando ao foco sobre a tentativa da indústria fonográfica de recuperar a grande margem de lucros através de um formato de mídia ultrapassado, muitas pessoas supostamente
especialistas tem dado declarações que meramente são opiniões pessoais sem nenhum fundamento sólido.
Recentemente também foi publicado uma matéria em um jornal provinciano paulistano, um artigo com ares de pesquisa científica sobre a suposta qualidade superior do disco de vinil em relação as atuais midias digitais. Produtores de música eletrônica, músicos de rock e dj's que foram e são expostos à uma quantidade abusiva de decibéis que um aparelho auditivo humano pode suportar, foram usados como referência para constatar esta diferença. Você confiaria na opinião de alguém assim? Levando em conta que o ser humano já começa perder gradativamente sua precisão auditiva desde o seu nascimento sem contar com a exposição de decibéis abusiva.

A tabela ao lado mostra os níveis e limites de exposição.
Bem, então é óbvio que estas pessoas não poderão detectar com precisão a diferença nos cortes de frequência no processo digital de gravação. 90% das pessoas que se submeteram aos testes de diferenças entre o cd e o lp só notaram a diferença por conta do ruído do atrito da agulha do toca-discos nos sulcos do vinil. Não vou me alongar nesta questão técnica, uma pequena parte já tinha comentado num post anterior e a maioria das pessoas acaba se influenciando por este tipo de comentário que na maioria das vezes não tem fundamento seguro em termos científicos.
Então chegamos em outro ponto: a preferência pessoal que supera a apreciação da obra artística principal: a música. Muitos defensores do vinil alegam também que perdem o prazer de desfrutar da capa, do encarte, num típico sintoma da cultura material, do tamanho. A maioria dos projetos gráficos não exige um formato de 12 polegadas para apreciar os detalhes da capa. Existe a questão da limitação de duração das faixas que já tinha comentado sobre os horríveis fade-in e fade-out nos discos de John Coltrane e Pharoah Sanders.
Mas tudo isso é uma questão inútil, um enfado, pois as pessoas querem acreditar em suas próprias opiniões, mesmo que algum dia elas se arrependam de certas decisões tomadas de forma radical, como tatuar o nome de uma pessoa que se apostou num relacionamento duradouro, mas não durou mais que 3 meses. Ainda bem que a cirurgia estética à laser está aí, imagine se fosse vinil...

Nenhum comentário:

 
 
Studio Ghibli Brasil