terça-feira, janeiro 31, 2006

Produtores gringos, arte ou publicidade?

Tenho notado uma tendência na produção musical brazuca: contratação de produtores e engenheiros de som estrangeiros. Xenofobismo de minha parte? Não mesmo ! Mas pra quê se temos mão de obra altamente qualificada e até de exportação? Ora, para o trabalho ter a mesma "qualidade" que os "gringos". Cena comum : uma banda vai gravar e leva o cd da banda preferida e pede ao engenheiro de som ou produtor, que fique parecido e tal. Quem pode, já contrata o técnico de som que o ídolo trabalhou. Fato bizarro : Na febre comercial do "Grunge", chamam o Jack Endino(gravou Nirvana e Mudhoney entre outros) para produzir rock nacional...
Me lembrei de um trabalho em publicidade, tinha que fazer uma ilustração e design de um produto, ai me veio o diretor de arte com um monte de livros e revistas e disse pra fazer tipo esse e aquele. Pensei : Isso é ser diretor de arte? Bom, a diferença é que cada um fez seu trabalho e ninguém ficou achando que fez "Guernica" ou "La Pietá". Mais uma vez... mais uma vez, segue-se o histórico de humilhação no rolê. Os "artistas" pegam a oportunidade de serem originais e jogam fora junto com a água do balde. Será que é tanta vontade de sucesso garantido? Não acreditam na própria capacidade? Ter a marca "gringa" torna mais "chic"?
Olha, genérico só é bom quando é remédio mais em conta pois vai comprar um isqueiro "Byc" e ele não explode na sua mão, ou pilhas "Dubacell" que podem vazar e danificar seu aparelho... ô vidinha mais ou menos!

terça-feira, janeiro 24, 2006

John Coltrane: A Love Supreme

Desde o ano passado nas revistas especializadas, consta o lançamento das gravações de Trane pela Impulse, sob o título de "One down, one up". Não há muito o que dizer sobre o chamado quarteto clássico formado por Jimmy Garrison, McCoy Tyner e Elvin Jones. Todas músicas são conhecidas dos fãs de Trane, como a versão de "Afro Blue" de Mongo Santamaria e "My Favourite Things" de Rodgers e Hammerstein, composta para o filme musical "The Sound of Music", conhecido aqui como "A noviça rebelde". Esta é provavelmente sua música preferida, tocando até sua última apresentação registrada no cd "Olatunji concert", totalmente transformada, como também ocorreu no album "Village Vanguard Again!" de 1966 com Alice Coltrane, Jimmy Garrison, Pharoah Sanders e Rashied Ali.
A Love Supreme é um marco da fase espiritual de Trane que, segundo suas palavras, em 1957 teve uma revelação que acarretou uma jornada sem retorno, de elevação espiritual. É uma suíte gospel de uma beleza divina, que reside na intenção de cada músico envolvido e não apenas na música composta em sí. Agora temos uma reedição nacional mais justa, com a capa original, que é a foto preferida de Trane, pois segundo ele, retrata melhor sua pessoa, uma foto clara e simples. Já tivemos o prazer de ter ao alcance esta obra em cd e vinil no final dos anos 80, lançado num pacote da MCA, com as capas alteradas e lançamento na midia um tanto quanto tímido.

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Rap "underground"? Faça-me o favor...

Continuando a idéia sobre rótulos, não podia deixar de falar sobre o "rap underground". Em lugares como E.U.A., onde a competição é muito mais feroz, os artístas usam estratégias de marketing para ter alguma chance de destaque. E como sempre, os brazucas abraçam qualquer novidade com as vinte sem questionar. E ainda distorcem a idéia original, criando uma parada muito diferente que, por um lado é positivo, cria algo original. Mas criam monstros, como por exemplo, skinheads que ouvem ska mas não gostam de negros, punks que defendem o lema "Do It Yourself" (faça você mesmo), mas suas bandas querem assinar com uma grande gravadora, anarquistas que ditam regras, etc. O HipHop alcançou a popularidade no mundo no começo dos anos 80 e isso é maravilhoso, pois é uma alternativa para o jovem estar em contato com a arte numa linguagem atual e acessível. Música e poesia: rap; pintura: grafitti; dança: break. Até uma novela da Globo tinha uma vinheta de abertura com dançarinos de break ou b-boys. Agora no Brasil, alguns se apossaram desta manifestação cultural baseada na liberdade de expressão, impondo regras de quem pode ser do "movimento", que roupa vestir, que som curtir, o que é e o que não é, etc. Então surgem pessoas com maior poder aquisitivo, que possuem meios de estar sintonizados em tempo real com o que acontece lá fora, e impõem o que é "certo". Me vem com essa de "rap underground"... Faça-me o favor né? Sería underground se buscassem divulgar seu trabalho nas ruas e lugares carentes. Montariam seus equipamentos na rua e fariam shows de graça pro pessoal, não ficariam fazendo pseudo-grafittis em areas nobres da cidade. O que vemos é o contrário, só querem assinar com grandes gravadoras, se apresentar em lugares com uma bela infra-estrutura e que paguem um bom cachê. Isso tudo não teria mal nenhum se não pagassem de humildes. Mas fazer o que, né? Liberdade de expressão é isso, cada um faz o que quer e, pode ou não, dormir bem com isso...

domingo, janeiro 22, 2006

Black music?!

Mais rótulos... Não entendo como a comunidade Afro-Brasileira deixa as pessoas, mídia, usarem este rótulo indiscriminadamente. Enfrentamos o problema racial grave aqui no Brasil, numa sociedade hipócrita que finge que o racismo não existe. Com o rótulo "Black Music", temos três problemas: o racismo própriamente dito, a americanização e perda de identidade nacional e, banalização da arte.
Não há problema em fazer música de origem Afro-Americana, pois a música é uma linguagem universal. Mas colocá-la num rótulo desses? Porquê não se usa a nossa língua portuguesa pra denominá-la? Melhor Musica Afro-americana ou Música Negra, não é? Fora que os estilos diferem estética e históricamente, como o Gospel,Rap,Funk,Soul, etc. Fora que muita gente discriminava tudo isso, como som de "maloqueiro"... Agora que tá na moda, "black music" nos Jardins, Vila Olímpia, etc. Temos um ponto positivo, pois os herdeiros da burguesia racista e elitista, querem ser como Tupac. Mas sinceramente, é um caminho torto e perigoso...

sábado, janeiro 21, 2006

Jazz, Bebop? Não é bem assim...

A necessidade de rotular gêneros musicais nem sempre ajuda a esclarecer as coisas. Ainda mais se for de forma equivocada. Bom, já é fato constatado que o termo "Jazz" é pejorativo, de "música profana" executada pelos afro-americanos. Agora sobre o "Bebop": Aqui no Brasil, inúmeras publicações afirmam que o nome do "gênero" musical é uma onomatopéia dos malabarismos com a voz q os músicos faziam para imitar os instrumentos. Certo? Mais ou menos, pois "Bebop", é o nome de uma composição de Dizzy Gillespie. Pergunte à Max Roach e ele contará sobre uma noite num clube, quando executaram tal composição e, os jornalistas maravilhados com a novidade, queriam saber como se chamava aquele tipo de música tocada tão rápido. Dizzy, não sabendo como definir a música que estava sendo criada, disse "Bebop".
Mais tarde, Duke Ellington lhe deu um puxão de orelha dizendo para tomarem cuidado ao dar nome aos bois, pois isso gera muitos equívocos. Max Roach não usa termos como "Jazz, Bebop, Free jazz". Ele apenas define tudo isso como MÚSICA.

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Martinho da Vila não é só samba!

Ontem à noite, conversando com meu amigo André e escutando o belíssimo disco de Martinho,"Maravilha de Cenário"(1975), comentamos a riqueza musical deste grande artísta. E notamos uma grande falha na mídia especializada: No geral, tratam-no apenas como sambista...
Que injustiça! Pois Martinho é um eclético e criativo compositor, trabalhando com o folclore, inúmeros ritmos brasileiros como ciranda, côco, frevo, samba de roda, capoeira, bossa nova, calango, samba-enredo, toada e sembas africanos. E ainda mais, em seu trabalho de 2000,"Lusofonia", fez uma brilhante pesquisa musical reunindo música de todos os países de língua portuguesa. No mesmo ano, executa no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, o "Concerto Negro", em conjunto com o maestro Leinardo Bruno, que enfoca a participação da cultura negra na música erudita.
Agradeço ao site oficial de Martinho, pelas informações. http://www.martinhodavila.com.br/

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Cosplay não é só no Anime e RPG...

Cosplay: costume player, ou seja, se fantasiar do personagem do desenho ou jogo. A turma "antenada e esperrrta" da música sempre tirou um sarro dos Trekkers, Pokemon, etc. Mas não é o imundo falando do sujo? Gente que nasceu nos anos 80 se vestindo como hippie dos anos 60, ou rockabilly dos 50, playboy se vestindo de "rapper" americano e por aí vai...
Por mim tá valendo, liberdade de expressão. Melhor o cara se vestir de drag queen, do que ser frustrado e sair batendo nos outros por ae. Mas se olhem no espelho antes de julgarem um Trekker ou uma drag.

U2 no Brasil...

E os brazucas seguem o histórico de humilhação no rolê. Olha ae, filas com senha, gente brigando, passando mau, desperdiçando tempo, etc. E tudo isso pra quê? Pra ver uma banda que virou empresa faz muito tempo, que não tem mais aquele impacto mundial de "Sunday bloody sunday", "New years day". E olha que eu gosto dessas músicas do U2. Enquanto Accioly nada numa piscina de Chandon, todos na fila passando mau...
E o preço dos ingressos? Fazer o que, né? Afinal quem é fã da banda tem idade suficiente pra saber o que faz. Como diria um brilhante mc de rap, cada um cada um... cada um cada 2!

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Monk e Trane

No final de 2005, foram descobertas gravações de Thelonious Monk e John Coltrane, que mantiveram uma parceria num curto período, entre a saída de Trane do grupo de Miles Davis e seu regresso. Não há como negar a importancia deste período, o qual ajudou Trane a desenvolver mais seu estilo, devido a complexidade das composições de Monk. É ótimo que estas gravações estejam disponíveis. Mas tenho uma observação a fazer sobre como isto foi abordado na imprensa especializada.
Estamos ainda no final do século passado? Parece que sim, devido ao jeito que isso é tratado. Ou o lançamento em DVD de uma apresentação de Miles nos anos 70. Enquanto isso, um cenário ativo, composto de gente nova e veterana, luta heróicamente para manter a musica viva. Seja na Europa ou América do Norte. Ironico é que mesmo com a Web dispondo tudo em tempo real, nossa mídia insiste em transformar a música em peça de museu, congelada em fotos de Francis Wolf e design de Reid Miles, responsáveis pelo visual da Blue Note nos anos 50. Ou matérias de "medalhões do jazz"(que horror...) que já não oferecem algo diferente à décadas. No máximo, matérias e resenhas copiadas de publicações estrangeiras, sem questionar sua importancia, só porque tem destaque comercial. Aí é que dão com os burros n'água, pois a musica que tinha como característica a improvisação, o inesperado, o movimento, a novidade, se perdem. Lembrei do finado Cazuza, que dizia que via o futuro repetindo o passado e o museu é que tem grandes novidades... o tempo não para, não, não para.

Música em segundo plano

Bem, isso não é novidade, mas é sempre bom lembrar. É muito raro encontrar alguma publicação no Brasil que trate do assunto, sem que o jornalismo esteja comprometido com a opinião pessoal de quem "analisa" o assunto, seja sobre a obra, seja sobre o autor. Críticos esquecem do essencial e partem para a confecção de uma "obra literária", abandonando a análise empírica e muitas vezes, comprometendo o valor da obra e autor em sí. O que temos?
Uma minoria ditando conceitos arbitráriamente sem a menor responsabilidade.
Então estão todos subordinados ao gosto da "mídia especializada". Sempre aparecem novos produtos no mercado, mas é praticamente impossível estar em sintonia com tudo que acontece e, inevitavelmente, se perdem boas oportunidades. Graças a Web, temos algo mais justo, e depende exclusivamente da curiosidade de cada um. Tomara que o senso de curiosidade sempre exista e aumente, pois todos tendem a ganhar com isso. Um exemplo gastronomico para fazer analogia, é o caviar. A vida toda disseram que era a melhor coisa do mundo, etc e etc. Quando experimentei tal iguaria, foi uma grande decepção. Talvez eu não tenha um paladar "refinado" para apreciar, mas o que importa? O que importa é se gostei ou não, certo? E mais certo ainda, é limitar-me a dizer que para mim não foi bem. E isso não quer dizer que o caviar é ruim. Na música de certa forma, não é diferente. A tal da teoria da relatividade não é? Então, o jornalismo musical e em geral, deve cumprir seu papel de informar, tornar acessível os dados e que cada um tire suas conclusões, sem se preocuparem em assinar a matéria. Liberdade de expressão? Sim! Sem a menor dúvida!
 
 
Studio Ghibli Brasil