quinta-feira, março 09, 2006

Dossiê Hardcore em SP nos anos 90 pt.1

Bom, eu resolví relatar este período do jeito mais sincero e imparcial possível, pois fiz parte disso e percebí que tem muita gente construindo mitos, se aproveitando da falta de documentação jornalística séria. E outra, não me importo o que as pessoas vão achar, é um simplório blog que poucas pessoas vão ler. Não busco nenhum reconhecimento pessoal. Se na época que eu estava na ativa, tocando, não ligava pra essas bobagens, não vai ser agora que vou buscar uma coisa tão futil.
Tudo começou depois de 1987, quando eu tinha desencanado do Heavy Metal e tava andando de skate, escutando vários sons. Conhecí o Ronaldo, que trampava numa oficina de motos perto da minha casa. Ele tinha me visto com estojo de baixo-elétrico e perguntou se eu estaría afim de tocar com ele. Então conhecí o Marcelinho que cantava, o Marcos na bateria. Naquela época era muito difícil ter acesso a bandas mais atuais de Hardcore. Com eles eu aprendí a trocar correspondência no exterior e obter discos bem mais baratos e impossíveis de ter por aqui. Não tinha internet e cd, era tudo por carta. Tinham pouquíssimas bandas mais atuais, que fugiam do modelo europeu punk. Lógico que tinham as bandas à frente de seu tempo, como o Colera e Olho Seco, mas estas já não tinham tanta atividade depois do boom do punk no Brasil. As poucas bandas que heróicamente tocavam por aqui em casas direcionadas ao público Dark(antes do termo gótico), eram o Síndrome de Down, Hatred, mais sintonizadas com o HC americano. As outras bandas, mesmo que novas, ainda tinham laço com o HC europeu, divulgado pelo selo New Face em SP. Entrei na banda, mas nunca chegamos a tocar em público ou gravar uma fita k-7 de ensaio que fosse. Mas nossa atividade com o intercâmbio no exterior e aquisição de discos e publicações foi muito intenssa. Posso afirmar que o Marcos foi o pioneiro do Straight Edge no Brasil. Lembro quando ele recebeu o LP do Youth Of Today pelo correio, o "We´re not in this alone", e as primeiras bandas que compuseram o cenário Straight Edge. Marcos queria que nossa banda fosse assim e o Marcelinho não quis participar. Então nossa banda, o Energy Induction, nunca saiu de poucos ensaios em estúdio. No começo dos 90, tentei montar uma banda com meu amigo Francisco, que andava de skate comigo. Então coloquei um anúncio na galeria do rock, na loja do Quinha, a "Tok-Entre", uma das únicas lojas da galeria que tinha LP's usados importados de HC americano, como 7 Seconds, Suicidal, Minor Threat, etc. Mas queria gente que curtísse coisas como Mudhoney, Sonic Youth, Chili Peppers, etc. Detalhe, o Marcelinho foi um dos pioneiros do som de Seattle por aqui, comprou o "Bleach" do Nirvana, em 1990, por minha indicação. O André(que posteriormente se tornaria um grande amigo e parceiro de banda) também, pois tinha viajado pro exterior e comprado os primeiros cd's do Mudhoney. Então apenas duas pessoas responderam nosso anúncio. O Luís, que estava mais afins de tocar o chamado som "Guitar" e "Garage", tinha influências do Stooges, Television, e não HardCore e Skate Rock. Mais tarde ele tocaría no Slugmen. O outro que respondeu nosso anúncio foi o Marcelo Fusco, que estava mais sintonizado com a gente, andava de skate e tocava bateria na banda que tinha com seu irmão, o Torture Squad, de Thrash Metal. Mas essa banda nem teve tempo de ter nome, pois o Franciso começou a devorar a guitarra e quería tocar mais na linha do Led Zeppelin, Black Sabbath, Iron Maiden. Nas amizades de bairro, conhecí o André e ficamos amigos. Papo vai, papo vem, resolvemos transformar em uma banda só as que tínhamos pela metade. Incentivei o André a cantar mais e seu amigo Carlinhos, o Gaúcho, a tocar guitarra, pois ele tocava baixo e violão, mas não levava muito à sério. Assim montamos a banda, mas sem nome ainda. Lembrando do nome do disco do Mudhoney, "Superfuzz Bigmuff" que era o nome de pedais de efeito para guitarra, ví o pedal que meu irmão tinha em casa, um Ibanez "Tube Screamer" e achei legal. Falei com o pessoal e toparam adotar como nome da banda. Nascia o "Tube Screamers". Nos meu rolês pelas galerias do centro, na galeria do rap como é conhecida hoje, tinham as lojas Final Solution, London Calling e Bizarre que tinham LP´s e alguns poucos cd's de Punk e Hardcore, onde eu ia gravar fitas k-7 dos LP's, que eram muito caros. E a Final Solution do Gino e Beto, foi a pioneira nos sons de Seattle e coisas ligadas à cena de New York, como o Sonic Youth, Dinosaur Jr, etc. Depois de um tempo o Zé Antonio do Pin Ups começou a trabalhar na Final Solution. Eu gostava do Pin Ups, que só tocava em lugares como o Espaço Retrô do Roberto Cotrin, reduto de góticos pessoal do EBM, alguns punks, etc. E o Pin Ups fazia uma barulheira infernal, no estilo do Jesus & Mary Chain, My Bloody Valentine, mas tocavam sons do Stooges. O Pin Ups era mais na onda de Guitar bands, o pessoal da Inglaterra. Aí fiz amizade com o Zé, falei que tinha curtido os shows do Pin Ups, falei que tava começando o Tube Screamers, que curtíamos o novo som de Seattle, o Sonic Youth e tal. Aí ele achou legal uns moleques tarem fazendo uma parada assim. E paralelamente o Carlinhos Gaúcho, que era figura presente nas baladas do rock, conhecia muita gente, falou da nossa banda pra Alexandra, que era baixista do Pin Ups. Ela iria comemorar seu noivado com o João Gordo do Ratos de Porão no Der Tempel do Gigio, com um monte de bandas tocando. Aí ela quis que a gente tocasse, por ser amiga do Carlinhos. Mas a banda tava muito recente e não tinha dado tempo de fazer nem 3 músicas próprias. À um mês da nossa primeira apresentação, montamos às pressas, um repertório com vários "covers", como "Mote" do recém lançado "Goo" do Sonic Youth e "Hate the Police", do Dickies, na versão do Mudhoney. Mais de 10 bandas querendo tocar, muita briga pra quem iria tocar primeiro, pois o pessoal tava com receio de não ser visto e tal. Acabou que tocamos pra lá das 4 da madrugada, mas foi muito legal e emocionante, nosso primeiro show

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